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* IV Hiperligações e Referências bibliográficas

I. Introdução I Objectivos

III. Resumo

1. Enquadramento jurídico

1.1. Regime jurídico das intercepções telefónicas

1.1.1. Conceito de intercepção telefónica e respectiva garantia constitucional 1.1.2. Pressupostos de admissibilidade

1.2. Do conhecimento de factos provenientes das intercepções telefónicas 1.2.1. Conhecimentos fortuitos 1.2.1.1. Pressupostos de valoração a) Crime do catálogo b) Delimitação subjectiva c) Indispensabilidade investigatória d) Breve síntese 1.2.2. Conhecimentos da investigação

1.2.2.1. Critérios de distinção entre conhecimentos fortuitos e conhecimentos da investigação 2. Prática e gestão processual

2.1. Documentos hierárquicos do Ministério Público

2.2. Prática e gestão processual no âmbito dos conhecimentos fortuitos IV. Jurisprudência e referências bibliográficas

I. Introdução

O presente trabalho centra-se na problemática da valoração do conhecimento dos factos não investigados no processo, obtidos no âmbito de uma intercepção telefónica, ou seja, os designados, doutrinária e jurisprudencialmente, conhecimentos fortuitos.

Quanto à estrutura, o mesmo encontra-se organizado em dois títulos: enquadramento jurídico, por um lado, e prática e gestão processual, por outro.

O primeiro diz respeito ao enquadramento jurídico da intercepção telefónica enquanto meio de obtenção de prova, porquanto não faria sentido discorrer acerca dos conhecimentos dos factos obtidos no âmbito de uma escuta telefónica sem, a priori, se proceder à sua contextualização.

Assim, procuramos explanar o conceito de intercepção telefónica, bem como os seus respectivos pressupostos de admissibilidade, abordando este tema sob o ponto de vista constitucional, maxime enquanto diligência restritiva dos direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagrados.

De seguida, a fim de dar resposta ao objectivo a que nos propusemos, expomos as considerações doutrinárias e jurisprudenciais acerca da temática em apreço, tomando posição face às várias interpretações existentes.

VALORAÇÃO DO CONHECIMENTO DE FACTOS, NÃO INVESTIGADOS NO PROCESSO, OBTIDOS NO ÂMBITO DE UMA INTERCEPÇÃO TELEFÓNICA

2. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

Por último, no segundo título, no qual se configura uma vertente mais prática, atendendo ao objectivo e aos destinatários do presente trabalho, decidimos expor um exemplo de uma possível promoção do Ministério Público, nos termos do disposto no artigo 187.º, n.º 7, do Código de Processo Penal.

II. Objectivos

O objectivo deste trabalho, elaborado no âmbito do 2.º ciclo de formação inicial de Magistrados – Magistratura do Ministério Público, é, de forma clara e eficiente, permitir à comunidade jurídica em geral, e aos Magistrados do Ministério Público e Auditores de Justiça, em particular, compreender o conceito de conhecimentos fortuitos, distinguindo-os dos conhecimentos da investigação, assim como a utilização e valoração, num outro processo criminal, da gravação de conversações, das quais resultem crimes não investigados no âmbito do processo onde foi autorizada a intercepção telefónica, enquanto meio de prova ou notícia de crime.

III. Resumo

As escutas telefónicas encontram-se previstas nos artigos 187.º a 190.º, do Capítulo IV, do Código de Processo Penal (doravante, CPP) e constituem um meio de obtenção de prova, atenta a sua inserção sistemática no aludido diploma legal. No entanto, podem ser também consideradas um meio de prova imediata, relativamente ao registo/gravação de palavras, as quais poderão ser reproduzidas nos termos do disposto no artigo 167.º do CPP.

Atendendo a que as intercepções telefónicas afectam direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagrados, representando uma intromissão na reserva da intimidade da vida privada, a sua admissibilidade carece de previsão legal expressa, nos termos do disposto no artigo 26.º, n.º 4, da Constituição da República Portuguesa (doravante, CRP), tendo como finalidade a salvaguarda de outros interesses, nomeadamente, o interesse público de administração da justiça penal (artigo 34.º, n.º 4, da CRP), sempre em conformidade com o princípio da proporcionalidade consagrado no artigo 18.º, n.º 2, da CRP.

Aquando da intercepção telefónica podem ser obtidos conhecimentos fortuitos, os quais dizem respeito a factos não investigados no âmbito do processo de inquérito para o qual foi obtido o despacho de autorização judicial de realização da mencionada diligência.

A problemática da utilização da gravação de conversações telefónicas que permitem provar outros crimes, no âmbito de um outro processo-crime, em curso ou a instaurar, situa-se no domínio da valoração da prova, encontrando-se prevista no artigo 187.º, n.º 7, do CPP.

Relativamente à articulação do artigo 187.º, n.º 7, com o artigo 248.º e artigo 188.º, n.º 6, alínea a), todos do CPP, várias interpretações têm sido defendidas.

VALORAÇÃO DO CONHECIMENTO DE FACTOS, NÃO INVESTIGADOS NO PROCESSO, OBTIDOS NO ÂMBITO DE UMA INTERCEPÇÃO TELEFÓNICA

2. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

A posição por nós assumida segue o critério da identidade do escutado em relação ao crime objecto dos conhecimentos fortuitos, segundo o qual o escutado deve ser uma das pessoas elencados no artigo 187.º, n.º 4, do CPP, relativamente ao crime objecto dos conhecimentos fortuitos, o crime deve constar do catálogo e, por fim, tem de verificar-se o pressuposto da indispensabilidade, em conformidade com o disposto no artigo 187.º, n.º 1, do CPP.

Em contraposição aos conhecimentos fortuitos encontram-se os conhecimentos de investigação, os quais têm uma conexão com o objecto do processo, respeitando ainda à investigação em curso, não se enquadrando na previsão do artigo 187.º, n.º 7, do CPP. A importância de tal distinção prende-se com a delimitação negativa do conceito de conhecimentos fortuitos, na medida em que, se os factos não puderem integrar o conceito de conhecimentos da investigação, então serão considerados fortuitos.

Nesse sentido, são expostos, neste trabalho, alguns critérios doutrinários e jurisprudenciais que permitem a distinção entre conhecimentos fortuitos e conhecimentos da investigação. Por último, relativamente aos conhecimentos fortuitos e no que concerne a uma vertente mais prática da temática, caso o Magistrado do Ministério Público, titular do inquérito onde os mesmos foram obtidos através das escutas telefónicas validamente realizadas, verificar que se preenchem os pressupostos do artigo 187.º, n.º 7, do CPP, deve requerer ao respectivo Juiz de Instrução Criminal a transferência das concretas gravações (os autos de transcrição e o respectivo suporte digital), a fim de serem utilizadas no âmbito de um outro processo criminal, devendo, para o efeito, expor os fundamentos que legitimam a valoração da prova, ao abrigo do disposto no aludido preceito legal.

1. Enquadramento Jurídico

1.1. Regime Jurídico das Intercepções Telefónicas

1.1.1. Conceito de intercepção telefónica e respectiva garantia constitucional

I. As intercepções telefónicas encontram-se previstas nos artigos 187.º a 190.º, do Capítulo IV, do Código de Processo Penal (doravante, CPP) e constituem um meio de obtenção de prova, atenta a sua inserção sistemática, uma vez que o referido capítulo se insere no Título III – Dos meios de obtenção de prova, do aludido diploma legal.

Os meios de obtenção de prova são os instrumentos que permitem a recolha de prova, no âmbito da investigação criminal. Estes distinguem-se dos meios de prova, na medida não constituem prova, ou seja, não se tratam de instrumentos de demonstração do thema

probandi, mas antes possibilitam a obtenção dos elementos probatórios de que a autoridade

VALORAÇÃO DO CONHECIMENTO DE FACTOS, NÃO INVESTIGADOS NO PROCESSO, OBTIDOS NO ÂMBITO DE UMA INTERCEPÇÃO TELEFÓNICA

2. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

instrução e de julgamento) se pode servir para formar a sua convicção acerca de determinado facto.1

Fazendo apelo a GERMANO MARQUES DA SILVA, os meios de prova caracterizam-se pela aptidão de serem, por si próprios, fonte de conhecimento, ao contrário dos meios de obtenção de prova que são instrumentos para atingir aqueles meios ou elementos de prova.2

Assim, através dos meios de obtenção de prova, os quais são utilizados, por regra, na fase do inquérito do processo-crime, é possível obter meios de prova de diferentes espécies, os quais permitem a recolha de informações com vista ao apuramento dos factos.

Por esse motivo, a intercepção e gravação de conversações telefónicas constitui um meio especialmente vocacionado para o combate à criminalidade organizada ou de mais difícil investigação.

Por outro lado, tal como refere SANTOS CABRAL, a intercepção telefónica “também se pode considerar como meio de prova “imediata” no sentido de registo/gravação de palavras que possa ser reconvertido/produzido (nos termos do artigo 167.º do CPP) em meio de prova de factos juridicamente relevantes”.3

II. Ora, quando um meio de obtenção de prova ou um meio de prova afecta de forma directa e

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