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Mapa 23 Mapa de Santa Catarina segundo o Índice de Desenvolvimento Municipal

2 DO GLOBAL AO LOCAL: A TRANSIÇÃO PARA NOVOS ESTILOS DE

2.2 RUMO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA VISÃO

2.2.1 A Vastidão Epistemológica do Desenvolvimento Sustentável: entre o

Os autores que se empenham no estudo da sustentabilidade são uníssonos na compreensão de que estão tratando de um campo vasto. Não há uma definição única nem hegemônica de “desenvolvimento sustentável”. Em termos de consenso, o que mais se destaca é o conceito disseminado pelo Relatório de Brundtland, “Nosso Futuro Comum”, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD),

48 Para Vieira, Raud e Moraes (2011), Sachs pode ser considerado um dos autores pioneiros no

reconhecimento de que a crise do meio ambiente constitui uma expressão particularmente virulenta das contradições fundamentais embutidas nos estilos de desenvolvimento contemporâneos. Toda a sua obra de economista aberto a diferentes tradições disciplinares no campo das ciências humanas e sociais conflui no sentido de ressaltar a multidimensionalidade do fenômeno do desenvolvimento e questionar as modalidades usuais - rígidas, reducionistas e tecnocráticas - de se pensá-la e considerá-la no contexto das políticas públicas.

lançado em 1987, que alcançou ampla capacidade de aceitação e “entrada” no discurso e agenda internacional.

No Relatório, sustentabilidade é definida como a “capacidade de satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991). Junta-se a isso uma série de medidas estruturantes para promover esse desenvolvimento, como a redução do consumo de energia, a garantia do atendimento às necessidades básicas da população (água, alimentos, energia, saúde, escola e moradia), a limitação ao crescimento populacional, a preservação dos ecossistemas e o fomento às tecnologias limpas.

Embora tenha sido um conceito amplamente aceito, o conteúdo de Brundtland é “considerado por diversos autores como menos transformador, em termos ideológicos, e como mais coerente com a nova ordem econômica internacional” (ANDION, 2007, p.78). Além disso, pode ser visto como uma amenização da concepção de um conceito anterior criado por Mauricie Strong49 e aperfeiçoado Ignacy Sachs, denominado Ecodesenvolvimento, orientado, sobretudo, para responder aos dilemas da desigualdade social e dos limites ambientais evidenciados nos relatórios internacionais. No Ecodesenvolvimento as esferas social, econômica, política e ambiental são pensadas em consonância e de forma interdependente. A crítica central a Brundtland está justamente na não-mudança paradigmática. Segundo os autores citados, o paradigma econômico, algoz da sustentabilidade e responsável maior pelas ameaças socioambientais, não é suficientemente questionado e enfrentado no seu conteúdo (ANDION, 2007).

Renunciando à tarefa de um tratamento analítico extenso das divergências entre as diferentes acepções, esse estudo se concentra em reconstruir o caminho histórico da abordagem do Ecodesenvolvimento, elaborada no contexto de preparação para a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente (1972) e como parte das iniciativas de criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). (VIEIRA, 2001). Mas, a fim de demonstrar a vastidão epistemológica que circunda o Ecodesenvolvimento, utilizamos a classificação realizada por Andion (2007), BOX 2, onde são identificados três grandes orientações no debate da sustentabilidade, que refletem visões distintas

relacionadas a aspectos como o meio-ambiente50, relação ser humano-natureza, relação entre desenvolvimento e crescimento, entre outros.

As categorias levantadas por Andion (2007) diferenciam-se, inicialmente, por sua visão em relação ao nível necessário de sustentabilidade incorporado pelos modelos. Há abordagens como a deep ecology, mais radicais em relação ao meio ambiente, que defendem a interferência mínima ou nula ao meio ambiente (abordagens da sustentabilidade forte, biocêntricas), as abordagens menos restritivas em relação à questão ambiental (abordagens da sustentabilidade fraca, antropocêntricas) e as abordagens coevolutivas, que defendem a preservação ambiental aliada à não-submissão do homem à natureza, resultando em um desenvolvimento equilibrado entre homem e ecossistema. As correntes coevolutivas também são classificadas como de sustentabilidade forte. Nela se enquadra o Ecodesenvolvimento, que promove uma relação simbiótica entre homem e ecossistema.

BOX 2 – Orientações das Correntes de Desenvolvimento Sustentável

(i) Orientação de limitação ao crescimento econômico: representada pelas propostas do Clube de Roma (MEADOWS et al., 1972) e da deep ecology, expressando os ideais mais críticos ao paradigma econômico por conta das ameaças ambientais sem precedentes (no caso do Clube de Roma) e embasado em uma visão de não-hierarquia e não-domínio entre o homem e as outras formas de vida;

(ii) Orientação do ser-humano-no-ecossistema: representada pelas abordagens do Ecodesenvolvimento (SACHS, 1980, 1986, 1997, 2000 e VIEIRA, 2001), do Desenvolvimento Durável (PASSET, 1979, 1992), complementada pelos estudos mais recentes no campo das ciências ambientais (VAILLANCOURT, 1995, JOLLIVET; PAVÉ, 1997, BERKES; FOLKES, 1998, BERKES; COLDING; FOLKE, 2003), que advogam uma relação coevolutiva entre homem e meio ambiente ao entenderem que o homem é parte integrante e dependente da natureza. Essa orientação não propõe o não-crescimento, mas um desenvolvimento social, ambiental e politicamente equilibrado, visando, sobretudo, a reversão do quadro global de destruição ecológica e desigualdade social apresentado nos relatórios socioambientais das últimas década. O cerne do debate se desloca do crescimento econômico para a qualidade de vida; (iii) Orientação do crescimento econômico sustentável: representada de forma extrema pelas propostas dos autores neoclássicos (PEZZEY, 1989) e de forma mais branda pela escola de Londres (PEARCE; MARKANDYA; BARBIER, 1989) e pelo conceito de desenvolvimento sustentável divulgado pelo Relatório Bruntland. Essa orientação insere os dilemas da ameaça climática e da desigualdade social, mas suas propostas são consideradas incrementalistas pelas demais orientações, já que não propõe ajustes e mudanças paradigmáticas nas concepções de desenvolvimento. Essa orientação é a que possui maior entrada nos discursos políticos e corporativos e o conceito de Brundtland é o mais popular.

Fonte: Andion (2007, p.61).

50 Jollivet & Pavé (1992) conceituam Meio Ambiente como o conjunto de componentes físico-químicos e

biológicos, associado a fatores socioculturais suscetíveis de afetar, direta ou indiretamente, a curto ou longo prazos, os seres vivos e as atividades humanas no âmbito globalizante da ecosfera.