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Fonte: FECAM, 2012.

Esses índices, que "salvam” o quadro ambiental catarinense de uma situação ainda pior, podem ser vistos, em grande medida, como resultado de um trabalho de articulação e parcerias liderado pelo Ministério Público de Santa Catarina, por meio, sobretudo, do programa Lixo Nosso de Cada Dia. Em 2001, início do Programa, apenas 37% dos

municípios catarinenses destinavam seus resíduos a locais licenciados (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2012). Dez anos depois, em dezembro de 2010, esse percentual estava em 94%.

Isso revela a importância, tanto da articulação interinstitucional, especialmente com parceiros locais, quanto a necessidade de que órgãos coercitivos como o Ministério Público continuem a se utilizar de instrumentos de sanção como os Termos de Ajuste Conduta, as multas, processos etc. para que os recursos naturais não sejam completamente escasseados. Enquanto a consciência ambiental se faz pouco presente entre gestores públicos e sociedade, a saída coercitiva ainda é o caminho mais seguro. Esta é uma importante experiência a ser observada e replicada em outros campos.

Por fim, quanto a variável Acesso da população à rede geral de água, registra-se, no estado, um percentual de 81,95% de domicílios atendidos por rede pública. É o melhor índice da dimensão ambiental depois de destinação adequada do lixo. No entanto, os 18,05% descobertos significam 369.056 casas cujo acesso à água se dá por outros meios que não a rede pública.

Os maiores núcleos de municípios com baixa sustentabilidade neste indicador estão na região não-litorânea da Mesorregião Grande Florianópolis, claramente os pequenos municípios de perfil rural. Essa linha continua até mais embaixo do mapa, nas cidades de Armazém e Gravatal, já no Sul. Outro núcleo, com bastante coloração vermelha está no Planalto Norte, nos arredores de Taió, núcleo central do estado. No Oeste não há linhas contínuas, mas há uma série de municípios com índices muito baixos de cobertura de água. Domicílios ou comunidades que captam sua própria água não são, necessariamente, um problema. Mas, representam risco, sobretudo, face ao incerto controle e combate aos abusos cometidos contra a natureza. A destruição da mata ciliar nas áreas de mananciais de abastecimento público causam grandes problemas de poluição e prejudicam a qualidade da água servida à população, o que merece dos órgãos públicos de proteção ambiental uma ação mais coordenada. (MP/SC, 2012).

Assim, este indicador foi incluído a partir do entendimento de que o acesso à água encanada e tratada é uma das condições básicas do desenvolvimento humano e da sustentabilidade e que as redes gerais de tratamento e distribuição de água são atualmente a melhor forma de garantir esse bem de forma coletiva. No entanto, ainda é significativo o numero de domicílios, notadamente na área rural, que têm acesso à água por meio de dispositivos alternativos como poços e fontes naturais, captados pelos próprios moradores. Embora o acesso à água por fontes alternativas ao sistema público (rede geral) não seja

indicado, não se pode inferir que os domicílios que se utilizam de poços e fontes naturais tenham acesso restrito ou água de má qualidade, mesmo porque sabemos que algumas prefeituras cuidam deste controle nas vilas rurais. No entanto, também não se pode garantir o contrário.

Em pequenas comunidades e vilas é comum a existência dos chamados Sistemas de Abastecimento Individuais e Sistemas de Abastecimentos Coletivos, baseados em poços de captação (geralmente de nascentes de rios ou lençóis freáticos). A Vigilância Sanitária tem a competência de fiscalizar a qualidade e condições de captação desta água, mas não se pode precisar a cobertura e periodicidade dessa fiscalização. Juntando a isso o risco de contaminação dos lençois freáticos e nascentes de rios existente pelo uso indevido de poços de captação, entendemos que universalizar o acesso à rede pública de distribuição de água é uma forma de aumentar o uso sustentável desse bem126. O abastecimento público de água potável é um dos pilares do saneamento básico definidos pela Lei nº 1.445/2007 (Lei do Saneamento Básico) em seu Artigo 3º, que determina a progressiva universalização do acesso.

Buscamos complementar essa análise com dados que não puderam ser incluídos no IDMS, mas que estão presentes na Pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros – meio ambiente (2002), na qual são consideradas, por meio de declaração dos gestores, as alterações ambientais relevantes que tenham afetado as condições de vida da população local.

Segundo De Marco e Trevisol (2007), a percepção de 40% dos gestores é de que as pressões e impactos sobre o meio ambiente nas últimas décadas provocaram alterações nas condições de vida local. Entre as alterações que mais afetaram a população figuram o esgoto a céu aberto, a contaminação de rios e baías, a escassez de água e o desmatamento.

O problema da escassez de água é grave no Oeste, sendo citado por 17,4% dos municípios. O mesmo para a contaminação de rios e baías na região. Na Serra, os impactos mais graves foram os esgotos a céu aberto e as queimadas. No Vale do Itajaí, se destacam igualmente os esgotos a céu aberto e as inundações. Norte e Sul; esgotos e contaminação de rios e baías. E, na Grande Florianópolis, os problemas mais evidenciados foram desmatamento, deslizamento de encostas, inundações e esgotos a céu aberto.

126 Essas informações foram decorrentes de consultas realizadas junto aos engenheiros ambientais da

Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (ARIS), afiliada da FECAM, que trabalha na regulação das empresas prestadoras de serviços de saneamento aos municípios, o que inclui os serviços de fornecimento de água. Essas consultas não fizeram parte da pesquisa, mas integram a construção do SIDMS, tendo constituído uma fonte oficial para este.

Finalmente, a única variável relacionada à preservação ambiental, referente às

Áreas de Matas e Florestas Preservadas, apresenta um índice estadual baixo, de 0,567,

entrando na classificação Médio Baixo. A situação dos municípios é ilustrada no Mapa 5. Como mostra o mapa, a situação de não-preservação de coberturas naturais aparece de forma mais grave no Oeste Catarinense, notadamente no Extremo Oeste, a partir da região de Xanxerê, mantendo-se o mesmo padrão no Litoral Sul, a partir de Imbituba, seguindo o mesmo padrão até a divisa, Passo de Torres. Em ilhas mais isoladas verificamos quadros preocupantes na região de Campos Novos e arredores de Otacílio Costa.

Também apresentam quadros muito problemáticos alguns municípios do Vale do Itajaí, especialmente na faixa litorânea, como é o caso de Balneário Camboriú e Bombinhas, que aparecem na pesquisa com percentual de 0% de território coberto por matas e florestas naturais127. Embora o Oeste tenha o maior número de municípios no vermelho, os piores colocados nesta variável, aqueles com cobertura o inferior a 5%, que totalizam 38 municipalidades, estão basicamente na mesorregião Sul (47%) e Vale do Itajaí (16%).

Todos os dados elencados acima, nos permitem afirmar que a dimensão ambiental, com índice 0,592, o mais baixo entre as dimensões, ainda é pouco considerada nas dinâmicas de desenvolvimento do estado e que esta dimensão não é prioritária nas agendas municipais, o que se reflete na falta de estruturas de gestão adequadas e ativas e de políticas de uso, gestão, preservação e conservação dos recursos naturais efetivas. Percebe- se que os problemas ambientais estão influenciando diretamente a vida dos munícipes e que, infelizmente, os melhores quadros apareceram nas variáveis que claramente tiveram fiscalização rígida e ameaça jurídica para o cumprimento dos ordenamentos ambientais.

127 O Censo Agropecuário traz a seguinte nota: "Os dados das Unidades Territoriais com menos de 3

(três) informantes estão desidentificados com o caracter X". Informantes, no contexto do Censo Agropecuário, são proprietários de estabelecimentos agropecuários tanto urbano quanto rural. O caracter X, apareceu nas seguintes cidades e foi substituído por zero:

- Balneário Arroio Silva; - Balnéario Camboriú; - Bombinhas; - Capivari de Baixo; - Governador Celso Ramos.