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Influências desenvolvimentais da família

5. A vinculação aos pais

Um resultado robusto no âmbito da literatura da vinculação é de que a natureza da qualidade das relações íntimas dos indivíduos difere em função dos seus estilos de vinculação (Collins & Read, 1994).

Ducharme, Doyle & Markiewicz (2002) sugerem que, durante a adolescência, a segurança na vinculação à mãe e ao pai podem influenciar diferencialmente o comportamento interpessoal dos adolescentes e a qualidade afectiva das suas relações com ambos os pais e com os pares. Efectuaram um estudo com 105 adolescentes de 15-16 anos para compreender as

associações entre a segurança da vinculação à mãe, a segurança da vinculação ao pai e o seu afecto e comportamento nas interacções sociais com pais e pares. Os adolescentes cotaram a segurança da vinculação à mãe e ao pai e expressividade emocional e completaram um diário durante uma semana descrevendo as interacções positivas ou negativas com os pais e com os amigos íntimos. Os resultados revelaram que os sujeitos seguros na vinculação à mãe descrevem menos interacções emocionalmente negativas com os pais. Os sujeitos desinvestidos utilizam mais o desinvestimento na resolução de conflitos com os pais. Os adolescentes com uma vinculação segura cotam-se como mais expressivos emocionalmente do que os inseguros. Na vinculação ao pai, os indivíduos seguros reflectem menos conflitos nas suas relações com os pares. Os adolescentes que têm uma vinculação segura a um ou a ambos os pais referem interacções significativamente mais positivas e menores interacções negativas com os seus pais do que os adolescentes que têm uma vinculação insegura a ambos os pais.

Vários estudos referem a existência de uma associação positiva entre a vinculação aos pais e a identidade (Anderson & Fleming, 1996; Kendis & Tan, 1978; Quintana & Lapsley, 1987; Kroger & Haslett, 1988; Helsen, Volleberg & Meeus, 1999; Meeus, Oosterwegel & Vollebergh, 2002; Matos, Barbosa, Almeida & Costa, 1999).

Hill, Mullis, Readdick & Walters (2000) num estudo intergeracional cuja amostra consistiu em 170 tríades, compostas por uma filha adolescente, a sua mãe e a sua avó, obtiveram resultados para as três gerações de uma maior vinculação à mãe do que ao pai. Ainda neste estudo A vinculação à mãe foi maior para as adolescentes do que as mães e maior para as avós do que as mães, não se verificando diferenças significativas nas três gerações na vinculação ao pai.

Becker-Stoll, Delius & Scheitenberger (2001) obtiveram resultados de que a segurança na vinculação está relacionada com uma expressão de emoções positiva e aberta enquanto que o estilo de vinculação desinvestido estava associado a um comportamento inibitório da comunicação.

Mikulincer & Florian (1999) estudaram a associação entre os estilos de vinculação de casais e as suas percepções das dinâmicas familiares, mostrando que os indivíduos com um estilo de vinculação seguro percebem níveis mais elevados de coesão e adaptabilidade familiares; os indivíduos com o estilo de vinculação ansioso-ambivalente obtiveram níveis elevados de coesão familiar mas níveis baixos de adaptabilidade, e os indivíduos com o estilo de vinculação évitante revelaram níveis baixos em ambas as dimensões familiares.

Os estudos indicam que o estilo de vinculação se encontra relacionado com a qualidade das relações conjugais. O estudo de Cohn, Silver, Cowan & Cowan (1992) revelou que os maridos classificados como seguros mostraram interacções mais positivas com as suas mulheres do que os maridos inseguros. Também Kobak & Hazan (1991) e Feeney, Noller & Callahan (1994) encontraram resultados de que a segurança da vinculação de maridos e mulheres está associada com a utilização menos frequente de respostas destrutivas ao conflito conjugal.

Sloman, Atkinson, Milligan & Liotti (2002) defendem que a vinculação e os sistemas de classificação sociais ("social rank systems") são biológicos- evolucionários e servem de modelos para a conceptualização das interacções familiares. Ao explorar o modo como têm impacto na regulação dos afectos, podemos diferenciar entre processos que promovem o crescimento saudável e os que conduzem à psicopatologia individual.

Liddle & Schwartz (2002) ilustraram a utilidade da investigação das relações de vinculação para a terapia baseada na família com adolescentes (terapia familiar multidimensional).

Pederson, Gleason, Moran & Bento (1998) realizaram um estudo com 60 díades mãe -filho, onde avaliaram as crianças aos 13 meses em casas mediante o procedimento da Situação Estranha e entrevistaram as mães utilizando a Adult Attachment Interview, encontrando uma forte associação entre estas duas classificações. As mães autónomas eram mais sensitivas em casa do que as mães não-autónomas. As mães em relações seguras eram mais sensitivas em casa do que as mães em relações não seguras. A

sensitividade materna explica 17% da relação entre as classificações da mãe na AAI e do filho na Situação Estranha.

Belsky, Campbell, Cohn & Moore (1996) avaliaram a estabilidade da segurança da vinculação pais-filhos, efectuando classificações da vinculação filho-mãe aos 12 e 18 meses de idade e classificações da vinculação filho-pai aos 13 e 20 meses, não se verificando uma estabilidade significativa, obtendo uma percentagem de estabilidade oscilando entre 6-55%.

Harvey & Byrd (2000) examinaram a relação entre as percepções da vinculação familiar de estudantes universitários e a maneira pela qual as famílias lidam com as dificuldades da vida. Os resultados revelam que os indivíduos com elevados níveis de vinculação segura percepcionam as suas famílias como usando estratégias de coping mais activas; os indivíduos com altos níveis de vinculação ansiosa/ambivalente percebem as suas famílias como usando uma estratégia de coping de avaliação passiva, possivelmente para evitar a confrontação por temerem a perturbação do acordo familiar.

Recorrendo ao modelo de determinantes da parentalidade de Belsky, Belsky (1996) examinou 126 díades pai-filho, avaliando o filho através da Situação Estranha sendo o pai avaliado 3 meses depois ao nível dos constructos do modelo dos determinantes da parentalidade ( por exemplo, a personalidade do pai, o temperamento da criança, a qualidade conjugal, o apoio social relações trabalho-família). Os resultados revelam que os pais de crianças seguras são mais extrovertidos e agradáveis do que os pais de crianças inseguras, tendem a ter casamentos mais positivos e experienciam a relação trabalho-família mais positiva em termos emocionais. Concluiu que quanto maior forem os recursos cumulativos que caracterizam a ecologia das relações mãe-criança, maior é a probabilidade de ter uma vinculação segura com a mãe.

Kenny & Gallagher (2002) obtiveram dados de que os filhos (quer rapazes quer raparigas) cotam o pai como promovendo mais a autonomia do que a mãe.