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A teoria do desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson Uma das teorias orientadoras deste trabalho é a teoria de desenvolvimento

Estádio 5 Identidade vs confusão da Identidade

Para Erikson, a construção da identidade que tem lugar na resolução da crise subjacente a este estádio ocupa um lugar central no desenvolvimento psicológico. Este estádio, também designado pelo autor como "crise da adolescência" surge face às diversas mudanças (físicas - maturação genital-, cognitivas, sociais) com que o indivíduo se confronta na adolescência. Agora é o momento para o indivíduo integrar todos os elementos que já adquiriu nos estádios anteriores. Assim, no primeiro estádio (confiança vs. desconfiança básica) adquiriu uma confiança em si próprio e no outro; no segundo estádio (autonomia vs. vergonha e dúvida) um sentido independência e vontade para escolher as suas acções e o seu futuro; no terceiro estádio (iniciativa vs. culpa) um sentido de propósito para a realização de tarefas; e no quarto estádio (indústria vs. inferioridade) um sentido de competência e capacidade para aprender.

A construção da identidade é a tarefa fundamental deste estádio. O adolescente começa a preocupar-se com a imagem que transmite aos outros e com a incerteza de papéis que poderá assumir na idade adulta. Neste período, o adolescente procura alternativas e toma decisões que contribuem para a definição de si próprio. A identidade constrói-se através da experimentação de vários papéis possíveis, o que vai permitir ao adolescente reconhecer-se como pessoa única e distinta de todos os outros. Erikson (1976, 1980) refere um período de moratória psicossocial em que o adolescente pode experimentar uma variedade de identidades, sem investir ou assumir a responsabilidade por qualquer delas. A moratória consiste numa pausa para que o indivíduo tenha a possibilidade de poder explorar alternativas relativamente a si próprio e à realidade. Também neste período, a sociedade pressiona o adolescente para a tomada de decisão, nomeadamente no que se refere às áreas escolar e profissional. É, pois, esta procura activa de alternativas resultantes da moratória psicossocial que possibilita ao indivíduo estabelecer mais tarde investimentos depois de conhecer melhor o que se quer e o que não se quer (Erikson, 1976). Por outro lado, se o indivíduo não consegue definir os papéis que pode ou quer desempenhar, experimenta uma confusão de identidade e de papéis.

A construção da identidade é a aquisição de um sentido de unidade (sentida pelo indivíduo e reconhecida pelos outros) e de continuidade ao longo do tempo (o que permite que o indivíduo se reconheça no presente, no passado e no futuro). Este processo de aquisição da identidade é um fenómeno simultaneamente pessoal, em que o indivíduo constrói um sentido de si próprio como único e contínuo, e interpessoal, baseando-se no modo como os outros percebem o indivíduo e na manifestação da sua identidade através de comportamentos que os outros avaliam. Erikson salienta o modo como se sente um indivíduo que resolveu com sucesso a tarefa da construção da identidade da seguinte forma: "Um sentimento óptimo de identidade é experimentado como uma sensação de bem-estar psicossocial. Os seus mais óbvios concomitantes são o sentimento de "estar em casa" em nosso próprio corpo, um sentimento de saber para onde se vai e uma certeza intima de reconhecimento antecipado por parte daqueles que contam" (Erikson, 1976, p.166).

Na definição do conceito de identidade de Erikson estão presentes três características fundamentais: (1) um sentido de continuidade espacio-temporal do Eu; (2) a configuração de elementos positivos e negativos da identidade (auto- conceitos) que dão unidade às experiências de si próprio na interacção com o mundo social; (3) a mutualidade ou sentido da independência entre o conceito de si próprio e a realidade.

A questão base deste estádio pode ser enunciada do seguinte modo "Quem sou e o que serei?". A força vital que consiste no resultado da resolução balanceada desta crise é a fidelidade aos investimentos da identidade o que fornece direcção e significado à vida.

Podem identificar-se três tipos de factores que influenciam o processo de construção da identidade:

(1) Os sistemas de valores das moratórias institucionalizadas.

Segundo Erikson as duas moratórias institucionalizadas proporcionadas aos jovens na sociedade norte-americana caracterizam-se por dois sistemas de

valores: a orientação tecnológica e a orientação humanista. A orientação tecnológica é a fornecida pelas promessas do progresso cientifico e tecnológico e

pela sociedade de consumo. Os jovens que aceitam esta ideologia têm a sua crise de identidade facilitada na medida em que não desenvolvem uma análise e crítica profunda do mundo e de si próprio e os seus investimentos são apoiados pela maioria social tecnológica (Erikson, 1975, 1976). Segundo Erikson (1968, 1975), os lemas subjacentes a este sistema de valores são "o que funciona é bom" e "eu sou aquilo que faço". A orientação humanista implica uma renuncia da tecnologia (Erikson, 1963) e uma preocupação e adesão a valores humanos. O facto da sociedade não oferecer a experimentação de papeis institucionalizados, com valores humanistas, contribui para uma maior dificuldade na construção da identidade (Erikson, 1975) e o prolongamento da crise de identidade.

(2) Orientação para os valores e luta entre ego e super-ego.

Esta orientação para os valores processa-se através de três estádios: o moral, o ideológico e o ético (Erikson, 1975). O primeiro (orientação moral) é característico da criança e prende-se com uma "lógica primitiva, categorial e egocêntrica" não sendo capaz de apresentar razões que justifiquem; o segundo (orientação ideológica), característico do adolescente (que adquiriu competências cognitivas e é capaz de tomar a perspectiva social), define-se por um aumento da consciência do mundo e dos outros acompanhado da diminuição do egocentrismo e aceitação de uma multiplicidade de perspectivas; o terceiro (orientação ética), característico do adulto, define-se por uma perspectiva universal, com aumento de responsabilização pessoal pelo sistema de crenças. Esta progressão do indivíduo através dos estádios de orientação para os valores acompanha e influencia o desenvolvimento e adequação das instâncias psíquicas.

(3) Factores sociais relacionados com as práticas de socialização, a estratificação social (raça, religião, classe social) e o momento histórico (guerra, epidemia) também interferem com o processo de aquisição da identidade na medida em que não é possível separar o desenvolvimento pessoal da organização social e das mudanças históricas.

Quando a resolução desta crise não é bem sucedida, o adolescente não é capaz de construir a identidade permanecendo num estado de confusão e difusão de identidade. Este estado pode ser caracterizado por uma espécie de

descomprometimento com a vida, não existem objectivos nem direcção encontrando-se o adolescente inibido face às experiências que implicam a escolha, o investimento e o comprometimento. Neste caso, o adolescente possui representações contraditórias acerca de si próprio e dos seus papéis. Este tipo de resultado está ligado ao modo como o indivíduo resolveu as crises anteriores. Em geral, o indivíduo que não conseguiu construir a sua identidade revela uma falta de confiança em si próprio, nos outros e no futuro. A sua incapacidade para o trabalho conduz ao desenvolvimento de um sentimento de vergonha face aos outros. A falta de iniciativa leva-o a evitar a experimentação de novos papeis e a desenvolver sentimentos de culpa. A sua incapacidade para a execução e concentração nas tarefas conduz a um sentimento de inferioridade e a uma inibição para a participação no trabalho.

Segundo Costa (1991, p. 37) alguns factores têm sido referidos na literatura como responsáveis pelo desenvolvimento da difusão da identidade, nomeadamente: (1) o processo de separação emocional na criança das suas figuras de ligação não foi bem sucedido; (2) o indivíduo não desenvolveu novas ligações e não conseguiu uma definição de si próprio; (3) dificuldades em lidar com as mudanças não só ao nível do Eu como das circunstâncias de vida; (4) conflito entre as expectativas parentais e sociais e as do grupo de pares; (5) perda de laços familiares e falta de apoio no crescimento do indivíduo.

A confusão da Identidade surge muitas vezes acompanhada por sintomas neuróticos ou quase psicóticos (Erikson, 1976, 1980).