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^montais com maior estrutura e complexidade,

2.7. Modelos internos dinâmicos

O conceito de modelos internos dinâmicos (working models) ou modelos representacionais das figuras de vinculação e do self é fundamental na teoria da vinculação, permitindo a compreensão das relações de vinculação ao logo do ciclo vital e das diferenças individuais na segurança. Bowlby inspira-se nos trabalhos de Craik em 1943 e aprofunda este conceito no seu volume Separation: anxiety and anger (Bowlby, 1978b). Craik utiliza o conceito de working model para significar as estruturas internas mentais que mantêm as sequências temporais e causais dos acontecimentos do mundo (Bretherton, 1992, 1996). De acordo com Bretherton (1996), Bowlby utiliza a palavra working para ilustrar a natureza dinâmica da vinculação e a palavra model para significar que as representações da realidade podem predizer situações futuras. Assim, Bowlby (1961/91) designa de modelos internos dinâmicos ou modelos representacionais o conjunto de expectativas acerca do self, dos outros e do mundo que a criança desenvolve a partir da qualidade das interacções entre ela e as figuras de vinculação nos primeiros anos de vida. Deste modo, um modelo interno dinâmico tem sido definido por diversos autores (Bowlby, 1978b; Bretherton, 1985, 1992, 1996; Collins, 1996; Collins & Read, 1990; Kobak & Sceery, 1988; Marrone, 1998; Mikulincer, 1995) como uma representação mental ou uma estrutura interna do self, da figura da vinculação e do mundo relacional. Os modelos internos dinâmicos são, segundo Berman & Sperling (1994) esquemas mentais cognitivos-afectivos-motivacionais construídos a partir das experiências relacionais do indivíduo. Estes modelos internos

dinâmicos resultam, como já foi dito, da qualidade das interaçcções entre a criança e as figuras de vinculação e incluem sentimentos, crenças, expectativas, estratégias de comportamento, regras de conduta, atenção, interpretação da informação e organização da memória (Collin, 1996; Main et al., 1985). Incluem duas dimensões importantes: a percepção de si próprio como possuindo valor e sujeito merecedor (ou não) de amor e de atenção, desencadeando na figura de vinculação a sensibilidade e disponibilidade para responder às suas necessidades (modelo do self) e a percepção dos outros como acessíveis e responsivos (ou não) no fornecimento de apoio e de protecção (modelo do outro) (Bowlby, 1978b; Lopez & Brennan, 2000). Vão ter, portanto, um efeito modelador das cognições, afectos e comportamentos em relações interpessoais futuras.

O facto de estes modelos internos serem dinâmicos tem inerente a sua capacidade de se transformarem e adaptarem face a novos contextos e períodos de desenvolvimento bem como face a experiências relacionais cuja qualidade os desconfirma, acomodando-se às novas situações (em vez do processo de assimiliação que ocorre na maioria dos casos). Assim sendo, um modelo interno dinâmico que não se constitui como adequado às experiências que o indivíduo está a viver, pode ser activado, modificado e reformulado de modo a se adequar às novas situações (West & Sheldon-Keller, 1994). Quando não acontece esta modificação, o sujeito poderá estar a utilizar uma grelha de leitura que lhe fornece uma visão distorcida da realidade (Marrone, 1998). A dominância do processo de assimilação ao processo de acomodação justifica-se pelo modo inconsciente e involuntário e automático de operar dos modelos de representação.

Bowlby (1978b) salienta a relevância das experiências precoces, propondo que os modelos mentais de representação das figuras de vinculação são constituídos durante a primeira infância moldando a construção de relações interpessoais futuras.

De acordo com Berman e Sperling "os estilos de vinculação referem-se a um modelo interno dinâmico em particular que determina as respostas comportamentais a uma separação ou reunião real ou imaginária da sua figura de vinculação" (1994, p. 11).

Ainsworth e colaboradores (1978), identificaram três padrões de interacção correspondentes a diferentes organizações comportamentais da vinculação resultantes dos estudos conduzidos no Uganda e em Baltimore: o seguro, o inseguro-ambivalente/resistente e o inseguro-evitante. Resultante ainda destes estudos é o procedimento laboratorial estandardizado de avaliação da vinculação designado de Situação Estranha. Este procedimento é constituído por uma sequência de oito episódios com a duração aproximada de três minutos cada, pretendendo a criação de condições para a activação do comportamento de vinculação e da exploração de bebés com aproximadamente um ano de vida.

As crianças classificadas como seguras, cerca de 60% dos casos, reagem emocionalmente à separação da figura de vinculação, mas em seguida envolvem- se em comportamentos de exploração do meio, manifestando contentamento perante o seu regresso. As figuras de vinculação das crianças seguras são sensíveis às necessidades da criança de modo consistente existindo reciprocidade nos seus comportamentos.

As crianças ansiosas/ambivalentes, cerca de 15% dos casos, demonstram elevados níveis de ansiedade quando a figura de vinculação se ausenta, sendo difícil aclamarem-se, não explorando o meio, e face ao regresso da figura de vinculação exibem comportamentos ambivalentes (choro e desejo de proximidade e revolta dando pontapés e tentando o afastamento). A vinculação ansiosa surge quando existe uma preocupação acentuada relativamente à acessibilidade e não responsividade das figuras de vinculação.

O terceiro padrão de interacção, o grupo das crianças ansiosas-evitantes, correspondem a 25% dos casos, aparentemente não se incomodam com a separação da figura de vinculação, prestando atenção aos brinquedos da sala (mas sem o contentamento das crianças seguras) e quando a figura regressa não procuram activamente o contacto, podendo exibir comportamentos de evitamento,

tais como ignorar, tentar afastar-se ou olhar para o lado. As figuras de vinculação deste grupo de crianças não são sensíveis às suas necessidades, evitam manifestações de afecto e de contacto físico e exprimem poucas emoções, podendo verificar-se negligência e hostilidade.

São muitos os estudos na vinculação adulta que adoptam estes três padrões de Ainsworth, avaliados através da Entrevista da Vinculação no Adulto (Adult Attachment Interview; AAl) de Main e colaboradores (1985).

Sperling (Sperling & Berman, 1991) referem quatro estilos de vinculação definidos através da dimensão segurança-insegurança e que se caracterizam por diferentes níveis de segurança: o dependente, o évitante, o resistente ou ambivalente e o hostil.

Bowlby (1980) refere um padrão seguro (indivíduos que apresentam as dimensões cognitivas e afectivas da vinculação integradas) e quatro padrões de vinculação inseguros: o prestador de cuidados compulsivo ou ansioso (indivíduos muito preocupados com a tristeza dos outros e fazem tudo para os ajudar), o que procura os cuidados compulsivamente ou ansioso/ambivalente (necessita da proximidade da figura de vinculação constantemente), os auto-confiantes compulsivos ou évitantes (apresentam pouca autonomia e uma auto-confiança inconsistente) e o que se encontra emaranhado nas suas relações ou inseguro/resistente (lutam para agradar mas também apresentam irritação para com os pais e não gostam do seu afastamento).

Por seu lado, Bartholomew e Horowitz (1991) distinguem quatro estilos de vinculação resultantes da imagem que o indivíduo tem de si (positiva ou negativa) e dos outros (positiva ou negativa): o seguro (modelo positivo de si e modelo positivo dos outros), o desinvestido (modelo positivo de si e modelo negativo dos outros), o preocupado (modelo negativo de si e modelo positivo dos outros) e o amedrontado (modelo negativo de si e modelo negativo dos outros). Abordaremos esta concepção mais pormenorizadamente no ponto 4.3 deste capítulo.