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Observado esse contexto, a insatisfação reinante no comércio baiano no final do Século XVIII chegou ao conhecimento de D. João VI assim que desembarcou em Salvador, em janeiro de 1808, por meio de representação do Conde da Ponte - então governador da Capitania da Bahia - em que a abertura de portos era uma das reivindicações.309 Isso porque os navios portugueses estavam proibidos de sair dos portos brasileiros desde o final de 1807, em virtude dos acontecimentos em Portugal. No dia seguinte à correspondência do governador, foram abertos os portos às nações amigas. Logo, é possível que Cairu tenha opinado por tal providência, de tamanha significação, porquanto era importante membro da Mesa de Inspeção, cuja influência se fazia sentir em diversos setores da economia, tanto na Colônia, como na Metrópole.

307 KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-

brasileiro. São Paulo: Alameda, 2009, p. 138.

308 Cf. LISBOA, José da Silva (Visconde de Cairu). Principios de Direito Mercantil e leis da Marinha. Rio de

Janeiro: Ministério da Justiça e Negócios Interiores, 1963.

A abertura de portos às nações amigas310 prepara a colônia para a própria independência. Inicia a dissolução do pacto colonial e começa a gestar o Estado nacional e o sentimento de nação, a surgirem a partir de 1822. Empurrados por Napoleão Bonaparte, os membros da Família Real portuguesa de fato transferem a sede da metrópole para a colônia, que, assim, passa a ter enorme destaque e chega à condição de Reino em 1815 devido justamente à sua importância econômica: “A união não tinha realidade: à supremacia de Portugal, vigorante até 1808, sucedera a supremacia do Brasil, com a quebra do estatuto colonial e dos instrumentos de sucção fiscal, agora concentrados no Rio de Janeiro.”311 Eram

estas as circunstâncias:

O desembarque na Bahia traz a primeira conseqüência da transmigração: fechados os portos da metrópole, a monarquia não podia exportar sua produção e adquirir os bens necessários à sua subsistência. A abertura dos portos, repelido o alvitre de um empório inglês localizado e exclusivo da Grã-Bretanha, quebra o pacto colonial,

inútil a reserva de provisoriedade inscrita na carta de 28 de janeiro de 1808.

Conquista na verdade ferida com as tarifas preferenciais de 1810, que garantem o mercado brasileiro às manufaturas inglesas por quinze anos. A outra conseqüência, esta caracterizada com o desembarque no Rio de Janeiro, a 8 de março de 1808, teria profunda projeção interna: as capitanias, dispersas e desarticuladas, gravitariam

em torno de um centro de poder, que anularia a fuga geográfica das distâncias.312

Enquanto o Brasil passa a ser aparelhado em todos os sentidos para acomodar a abrupta mudança, Portugal resta amedrontado sob a ameaça das tropas napoleônicas e de uma forte crise econômica, que culmina na Revolução Liberal do Porto, em 1820,313 bem como a independência do Brasil em 1822:

A situação criada com a fixação da Corte no Brasil traduzia-se numa ruptura política em Portugal, com consequências econômicas num reino que ficara à mercê das invasões francesas. Geraram-se conflitos com o exacerbamento dos partidarismos consequentes da Revolução Francesa. A emancipação do Brasil teve muito a ver com esses conflitos gerados numa metrópole assoberbada com dificuldades e em que as novas tendências liberais irão procurar modificar estruturas arcaicas.314

Os reflexos, portanto, do que aparentava ser mera modificação de endereço, terminam por atingir o contexto político mundial, envolvendo principalmente Portugal, Inglaterra e Brasil.

Abandonado à própria sorte, Portugal viveria os piores anos de sua história. Nos sete anos seguintes, mais de meio milhão de portugueses fugiriam do país, pereceriam de

310 Cf. GODOY, José Eduardo Pimentel de. O comércio internacional do Brasil antes de 1808. In: Tributação em revista. Ano 14, n. 53, jan-mar 08, p. 26-32.

311 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3. ed. rev. Rio de

Janeiro: Globo, 2001, p. 303.

312 Ibid., p. 283, grifo nosso.

313 Cf. LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006.

314 VICENTE, António Pedro. Política exterior de D. João VI no Brasil. In: Estudos avançados. vol. 7. n. 19.

fome ou tombariam nos campos de batalha numa seqüência de confrontos que se tornaria conhecida como a Guerra Peninsular.315

Isso porque a referida tríade já estava acertada antes mesmo do embarque da Família Real rumo ao Brasil. As negociações para transferência da Corte tiveram início em agosto de 1807 e incluíram o logro aos franceses e a assinatura de sigilosas tratativas com os ingleses.

Em meados de outubro, a decisão de transferir a corte para o Brasil já estava tomada de forma definitiva. Por intermédio de seu embaixador em Londres, D. João tinha assinado um acordo secreto com a Inglaterra, pelo qual, em troca da proteção naval durante a viagem para o Rio de Janeiro, abriria os portos do Brasil ao comércio com as nações estrangeiras.316

Para sustentar a falsa aceitação dos termos napoleônicos, chegou-se a ordenar a prisão de ingleses em Portugal em 5 de novembro de 1807.317 No dia seguinte, a proteção inglesa aparece sob o comando do almirante Sir Sidney Smith que “tinha duas ordens aparentemente contraditórias. A primeira, e prioritária, era proteger o embarque da Família Real portuguesa e escoltá-la até o Brasil. A segunda, caso a primeira não acontecesse, era bombardear Lisboa.”318

A abertura de portos, conforme dito no Capítulo anterior, não inaugura o comércio exterior brasileiro, que se encontrava apenas suspenso; mas, certamente, insere Brasil e Portugal num ritmo político e comercial ditado pela nação amiga: a Inglaterra. “Integrando-o [o núcleo brasileiro] e envolvendo-o, o capitalismo industrial, conduzido hegemonicamente pela Inglaterra, fizera da ex-colônia num elo internacional de um movimento econômico irreversível, indestrutível.”319 A Inglaterra era o epicentro:

Para a história portuguesa e brasileira dessa época, é sintomática a relação de dependência para com os britânicos, uma vez que as riquezas coloniais afluíam seguramente para a grande ilha ao norte da Europa. Num sentido, o desfecho realizado a sete de setembro de 1822, lido novamente através desta história, pode ser tomado como um dos resultados de ajuste das relações portuguesas e brasileiras para com a principal nação do século XIX no mundo.320

Contudo, vale mencionar que as circunstâncias políticas não deixavam muitas opções de nações comerciantes aos portugueses, cuja relação com a Inglaterra remetia aos momentos de guerra com a Espanha, que mantinha suas ameaças aos lusitanos, e a Holanda, em que Portugal teve o apoio inglês. O comércio do Brasil com o resto do mundo nitidamente dependia de navios: na costa marítima se concentrava a população. O bloqueio continental imposto por Napoleão à Europa agravava o quadro. Logo, aliar-se à Inglaterra era uma das

315 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil,

2007, p. 78.

316 Ibid., p. 51. 317 Ibid., p. 52. 318 Ibid., p. 53.

319 FAORO, Raymundo. op. cit., p. 304.

320 AMED, Fernando José; NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos. História dos tributos no Brasil. São

poucas alternativas viáveis de sobrevivência da monarquia portuguesa, pois “naquele momento nenhum outro país europeu tinha condições de comercializar com o Brasil.”321

Além disso, a Inglaterra sabidamente era uma potência:

[o] volume monumental de comércio [inglês] era protegido pelos 880 navios de guerra que a Marinha Real Britânica mantinha espalhados pelo mundo. Tratava-se da mais poderosa e eficiente força naval da época, 147 vezes maior do que a dos Estados Unidos, recém-independentes, cuja Armada não tinha mais que seis embarcações.322

A partir de então, a Inglaterra – frequentemente resguardada pelo Visconde do Cairu – participa e usufrui enormemente na continental colônia portuguesa. A metrópole com frequência contrai empréstimos e assina tratados de altos lucros para os ingleses, que se mantêm na História do Brasil até a independência, a qual intermedeia e também procura nela auferir vantagem pecuniária.

Os Tratados assinados em 19 de fevereiro 1810 com a nação amiga são comumente apresentados como demonstração dos privilégios comerciais a ela concedidos. Num deles, o Tratado de Comércio e Navegação, os produtos ingleses são beneficiados em detrimento dos portugueses, porquanto os primeiros pagariam a taxa de 15% ad valorem, e sobre os últimos recairia alíquota 1% mais cara, significando, assim, que a Inglaterra recebera o pleno domínio do mercado brasileiro. Todavia, tal dispositivo foi mais tarde alterado pelo Decreto de 18 de outubro de 1810, em que igualaram-se as alíquotas para 15%, tanto para lusitanos, como para britânicos, apesar de não ter causado grandes transtornos aos produtos da Inglaterra:

Estando estabelecido no art. 15 do Tratado do Commercio de 19 de Fevereiro do corrente anno, celebrado entre a minha Real Corôa, e o meu antigo e fiel Alliado El- Rei da Grande Bretanha, que todos os generos, mercadorias e artigos da producção, manufactura, industria ou invenção dos dominios, e dos vassallos Brittanicos, paguem por entrada somente 15% de direitos; e não sendo conforme nem à razão e nem à justiça, nem à igualdade que convém haver nas transacções mercantis, que os meus vassallos paguem pelos mesmos generos e mercadorias, o que impediria o augmento e prosperidade do commercio nacional, que muito desejo adiantar e promover em benefício da riqueza e felicidade publica: sou servido ordenar, que os sobreditos generos e mercadorias de produção, manufactura, industria ou invecção Ingleza, que por conta dos meus fieis vassallos forem importados nas Alfandegas do Reino, deste Estado do Brasil e Dominios Ultramarinos em navios nacionaes ou estrangeiros, paguem por entrada 15% somente [...].323

É certo que foi estipulada a reciprocidade formal dos ingleses em relação aos produtos portugueses. Porém, na realidade, Portugal não se beneficiaria desta cláusula uma vez que o poderio marítimo e comercial da Inglaterra era incomparavelmente maior, o que culminava na

321 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil,

2007, p. 204.

322 Ibid., p. 206-207.

323 BRASIL. Decreto de 18 de outubro de 1810. Manda que só paguem 15% de direitos de entrada os generos e

mercadorias inglesas importadas por conta de portugueses. In: Colecção das Leis do Brazil: cartas de lei

superioridade do número de compra de mercadorias da Inglaterra em relação às vendas a ela efetuadas, refletindo-se na balança deficitária da época. “Não exportou, portanto, o Brasil produtos em quantidades suficientes para pagar o que importava da Inglaterra.”324 Sob

controle da Inglaterra, o comércio brasileiro conviveu com longo déficit na balança comercial:

O comércio brasileiro ficou, de fato, nas mãos dos ingleses e o contrato constituía um sério obstáculo ao estabelecimento de relações comerciais com outros países. [...] Só em 1826 – ano em que venceu o Tratado de 1810 com a Inglaterra – foi estendida à França e Portugal e, em 1828, às outras nações a igualdade de direitos pagos pelas importações inglesas.325

Impende assinalar que as regalias dadas à Inglaterra não ser resumiam à seara comercial. A liberdade ofertada era ampla o suficiente para determinar a instituição de um Judiciário exclusivo, então existente em Portugal desde 1654. Eles é que elegiam seus juízes: “Na prática, passavam a existir duas justiças no Brasil: uma para portugueses e brasileiros, outra só para ingleses, estes inalcançáveis pelas leis locais.”326 Além disso, havia a liberdade

de: entrar e sair da colônia, constituir residência, se fazerem proprietários de imóveis, edificar templos religiosos, possuir cemitérios próprios e, até, de cortar e extrair madeira das florestas brasileiras.

O prazo de vigência do Tratado era indeterminado e ratificava as disposições referentes aos panos ingleses e vinhos portugueses, dantes negociada no já mencionado Tratado de Metheun.327 As disposições dos Tratados de 1810 seriam mais tarde retomadas, quando da independência do Brasil, conforme se abordará no Capítulo próximo.

Pode-se dizer que as imediatas consequências dos Tratados de 1810 foram, além do nítido aumento na movimentação dos portos,328 a chegada de grande número de manufaturas a baixo preço, o que refletia na diminuição do custo de vida. Todavia, das mesmas razões advieram: a balança deficitária, que, num segundo momento, fazia oscilar o custo de vida; insuficiência de exportações, atraso na indústria manufatureira e redução do poder aquisitivo.329

Embora sejam geralmente destacados como prejudiciais a Portugal, os Tratados de 1810 também trouxeram benefícios ao Brasil. É com os olhos sobre as benesses que Visconde do Cairu se manifesta frequentemente favorável às atitudes da Coroa de buscar apoio e alianças com os britânicos, conforme apresentado no Capítulo anterior, uma vez que Portugal

324 SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-1820. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 505. 325 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil,

2007, p. 182.

326 Ibid., p. 209.

327 SIMONSEN, Roberto C. op. cit. p. 509. 328 GOMES, Laurentino. op. cit., p. 210. 329 SIMONSEN, Roberto C. op. cit., p. 515.

se fazia cada vez mais dependente da Grã-Bretanha, constantemente ampliando suas dívidas, com empréstimos, por exemplo.

Considerada isoladamente da de Portugal, a situação comercial do Brasil lucraria com qualquer acordo mercantil que se tornasse o complemento da profícua abertura dos seus portos ao tráfico estrangeiro. À colônia egoisticamente pouco importava que com tal tráfico enriquecessem ingleses como portugueses da Metrópole, e estes eram os que verdadeiramente sofriam com a perda do antigo monopólio, cuja conservação razoavelmente consideravam vital.330

As exclusividades inglesas permaneceriam por algum tempo, já que, apesar das tentativas feitas por diferentes países, apenas em 1826 é que se amplia significativamente o comércio brasileiro: “Só em 1826 foi estendida à França, em 1828, a outras nações, a igualdade de direitos pagos pelas importações inglesas.”331

Não obstante as questões de comércio exterior, as circunstâncias políticas da colônia envolviam, conforme dito no primeiro Capítulo: a ampliação de fronteiras mediante conquista de novos territórios na América Latina, o aperfeiçoamento das comunicações e o aumento e distribuição populacional. A política expansionista que se tenta instalar com a chegada de D. João VI confere papel de destaque a duas personalidades opostas: a esposa espanhola de D. João VI, D. Carlota Joaquina, e o Ministro da Guerra e Negócios Estrangeiros, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, o Conde de Linhares.

Carlota Joaquina, mesmo tendo passado apenas a sua primeira década de vida na Espanha, dava sinais de que não se esquecia de suas raízes. Não se tratava de uma mulher sem ambições políticas. Procurou exercer influência demonstrando-se astuta e culta. “Quem a conheceu de perto, caso do Embaixador espanhol no Rio, em 1808 – o marquês da Casa Irujo -, considera-a pessoa dotada e capaz de dirigir um estado.”332

O Conde de Linhares, por sua vez, foi um dos ministros mais influentes. Participou das negociações dos Tratados de 1810 e evidenciava sua simpatia pelos ingleses, no Brasil representados por Strangford, o embaixador acreditado junto à Corte, no Rio de Janeiro. “Obediente ao Embaixador inglês e defensor da antiga aliança sem reticências, era um inimigo declarado da Espanha e, naturalmente, dos planos de Carlota Joaquina, em todos os negócios em que esta demonstrava sua defensora.”333

Apresentadas as peças-chave que circundavam D. João VI em sua política expansionista, nota-se, de pronto, a animosidade existente entre ambos. Carlota intentava manter as colônias espanholas sob o poder de sua pátria amada, já o Conde de Linhares e

330 SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-1820. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 514. 331 SIMONSEN, Roberto C., loc. cit.

332 VICENTE, António Pedro. Política exterior de D. João VI no Brasil. In: Estudos avançados. vol. 7. n. 19.

Set/Dez, 1993, p. 193-214, São Paulo: USP, p. 202.

Strangford possuíam interesses na independência das colônias. Isso porque temia-se que as conquistas napoleônicas na Europa se projetassem na América, no caso de vitória francesa:

Embora, na metrópole espanhola, os ingleses fossem aliados e colaborantes na luta anti-napoliónica, na América do Sul, e no que dizia respeito às colónias desse país, apoiava os movimentos revolucionários pro-independentistas. Efectivamente, era fácil para ele [Strangford] convencer alguns governantes coloniais de que, no caso de sair vencedora a França logo esse país exigiria o cabal reconhecimento dos mesmos a seu favor e, portanto, o caminho da independência era a melhor forma de se alhearem de tutelas afrancesadas.334

Ocorre que havia um ponto onde Linhares e Strangford não se encontravam: o objetivo de anexar as colônias espanholas ao Brasil. Tanto que Strangford “Contrariando Linhares, evitava qualquer política de anexação em relação a territórios limítrofes.”335 O que fazia

sentido, já que a Inglaterra tinha altos interesses em ampliar seus mercados consumidores. Apesar de evitar tais políticas, fato é que Strangford auxiliou D. João VI em sua política de “proteção” ao Rio do Prata. Linhares chegou a enviar nota a Buenos Aires para oferecer a tal proteção para evitar provável conquista por Napoleão, o que foi repelido devido à interpretação de objetivos de anexação.336

A política expansionista de D. João VI buscava evitar ataques franceses à colônia de Portugal. Isso poderia acontecer caso Napoleão conquistasse as metrópoles europeias e reivindicasse as respectivas colônias, que faziam fronteira com o Brasil. Daí a vislumbrada vulnerabilidade. Carlota Joaquina, mesmo ciente dos desígnios de seu marido, pôs-se a divulgar seu posicionamento de manutenção das colônias espanholas ligadas à respectiva metrópole. Exsurge, então, um movimento simpático à princesa e chega-se a cogitar seu coroamento em Buenos Aires. Carlota chega a solicitar autorização Real para viajar a Buenos Aires, mas D. João a nega e a princesa fracassa em suas tentativas de manutenção das extensões espanholas.337

Esse, portanto, é o retrato das circunstâncias políticas que envolviam o Brasil nos idos de 1808: a atenção tanto para assuntos externos, como as guerras e a Revolução Industrial, quanto para assuntos internos, como a organização jurídico-administrativa do mais importante território português exportador. Ambos os temas, apresentam a tributação como ponto de intersecção: reflete-se tanto interna como externamente, conforme se poderá observar no tópico que avança.

334 VICENTE, António Pedro. Política exterior de D. João VI no Brasil. In: Estudos avançados. vol. 7. n. 19.

Set/Dez, 1993, p. 193-214, São Paulo: USP, p. 203.

335 VICENTE, António Pedro., loc. cit. 336 Ibid., p. 205.

337 Cf. VICENTE, António Pedro. Política exterior de D. João VI no Brasil. In: Estudos avançados. vol. 7. n.