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2.2 ANÁLISE DO DISCURSO

2.2.1 Observações sobre o comércio franco no Brasil

Aos vinte e oito dias de janeiro de 1808 foi editada a Carta Régia de acentuado reconhecimento na História do Brasil: a abertura dos portos brasileiros, destacando a presença da então colônia portuguesa no comércio internacional. Visconde do Cairu não se demora e publica, no mesmo ano, o livro em que tece suas observações acerca do inovador fenômeno.

Na primeira parte das “Observações sobre o comércio franco no Brasil”, Cairu discursa no sentido da inevitabilidade da abertura dos portos, apresentando-a mesmo como uma necessidade política derivada da presença da Família Real em solo colonial e do estado rudimentar em que a indústria brasileira se achava, vista como destituída de inumeráveis artigos de uso dos civilizados e ignorante138 das formas de extração e produção (por causa do sistema colonial direcionador de braços para agricultura e mineração). Desse modo, a aquisição de bens requintados seria impossível, não fosse a autorização de importação. Alia- se, ainda, o caráter arrecadatório ali explícito, que é apresentado como uma forma de proteção do Estado, uma vez que a abertura de portos se efetuaria “tomando-se as medidas necessárias para a segurança dos direitos de importação, e exportação, e prevenção dos abusos.”139 Assim,

informa, de maneira aliciadora, que “É tempo de se desempobrecer a nação, abrindo-se as suas fontes de riqueza.”140

Portugal, durante do Século XVIII, vivenciava um período de dificuldade econômica decorrente da dissolução da União Ibérica, associada à assinatura do Tratado de Mtehuen com a Inglaterra. Encontrar ouro nas minas coloniais, nesse contexto, apareceu como a grande solução econômica para a metrópole.141 No entanto, a mineração por si só não bastava: fazia- se imprescindível aprimorar a legislação para amoldar a nova arrecadação. Daí veio, então,

138“Pode sem exagero dizer-se que ignorávamos o comércio do mundo. As nossas amizades e correspondências

mercantis limitavam-se a poucas pessoas, a quem se dava às vezes forçada, indiscreta e ilimitada confiança. Por isso agora nos achamos em tão grandes embaraços, que só se podem remover com a franqueza do comércio estrangeiro”. LISBOA, José da Silva. Observações sobre o comércio franco no Brasil. In: ROCHA, Antonio Penalves (org.). Visconde de Cairu. Coleção Formadores do Brasil. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 71.

139 LISBOA, José da Silva. Observações sobre o comércio franco no Brasil. In: ROCHA, Antonio Penalves

(org.). Visconde de Cairu. Coleção Formadores do Brasil. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 67.

140 Ibid., p. 70.

141 AMED, Fernando José; NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos. História dos tributos no Brasil. São

em 1702, o já mencionado “Regimento dos Super-intendentes, Guardas-mores e oficiais Deputados para as Minas do Ouro.”142 Findaram juntos: o Século XVIII e o auge da

mineração, razão pela qual buscavam-se soluções arrecadatórias. Nesse cenário é que se concretizou a Carta Régia que ampliou o comércio exterior brasileiro às nações amigas.

Os aspectos liberal e iluminista de Adam Smith na abertura de portos são enaltecidos por Cairu na assertiva de que o equilíbrio de preços seria instantâneo e garantidor da sonhada felicidade geral:

[...] todos os gêneros tendem ao mais aproximado, senão exato nível, e equilíbrio de valores, isto é, ao seu preço central e natural, que é de bem comum a todos que trazem ao mercado a sua prosperidade, para a disporem em modos convenientes.143

[...]

Com razão se lamenta o celebrado Adam Smith, na sua eminente obra Da riqueza

das nações, que devendo o comércio naturalmente ser entre as nações, bem como

entre os indivíduos, o vínculo de união, e amizade, tem vindo a ser o mais fecundo manancial de discórdia, e animosidade. Talvez o tempo inste, em que a Europa, que já aprendeu dos portugueses a navegação do mundo inteiro, que despertou em todos os espíritos o desejo de participar no comércio universal, veja no Brasil

realizadas as sólidas lições de filantropia, e regime social, que deu aquele grande mestre. Em agradecimento do ensino que achei no seu livro de ouro, o

chamei Estrela Polar, Sacerdote da Justiça Civil, e homem que faltava à Terra para

pôr ordem aos negócios da sociedade, e dar aos impérios sua firmeza, e esplendor.

[...] Ele fez justiça à nossa nação; e até por este motivo, me comprazo de seguir as suas pisadas, e propagar, quanto puder, as suas nobres doutrinas.144

Em relação ao Liberalismo, o Visconde se posiciona de modo a legitimar a participação do Estado como ativo propiciador do Capitalismo nascente. Em fase de conformação simultânea do Capitalismo e do Estado nacional, este se imiscui naquele de modo que o discurso de absenteísmo necessário não se encaixa no contexto. Observa-se que a protrusão advinda do Capitalismo trouxe diversos reflexos sociais que vão além de sua filosofia legitimadora: o Liberalismo. Tais reflexos incluem um cenário de pobreza degradante que tornou imprescindível a participação do Estado:

A ascensão do capitalismo, sendo um processo histórico de ruptura, requereu e promoveu mudanças expressivas, personificada pela multiplicação dos mercados, pelo redimensionamento das relações comerciais, pelo surgimento de estabelecimento de crédito, bancos e bolsas de valores, pela vinculação da moeda nacional à moeda internacional – o ouro –, pela separação de trabalhadores e meios de produção, pela interdependência de tarefas e atividades segundo a divisão do trabalho, pela concentração fabril e urbana da classe operária e pela apologia dos economistas em relação ao caráter e às possibilidades da ordem burguesa emergente. Os reflexos sociais desta transformação levaram numerosos contingentes demográficos ao mais explícito pauperismo ambulante, forçando o produtor da segurança classista, isto é, o Estado, a intervir neste âmbito com as poor laws, para

142 Ibid., p. 100.

143 LISBOA, José da Silva. Observações sobre o comércio franco no Brasil. In: ROCHA, Antonio Penalves

(org.). Visconde de Cairu. Coleção Formadores do Brasil. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 71, grifo nosso.

desagrado de mais de um dos economistas clássicos, obcecados por despesas geradoras de receita, questionável a sua concepção dos investimentos produtivos.145

Visconde do Cairu, ao considerar a presença da Coroa no mercado que se organizava, alinha-se ao Liberalismo ao mesmo tempo em que sopesa a auto-regulação do mercado. Tais meditações são usadas para justificar a abertura de portos e erguê-la ao patamar de acontecimento que servirá, em tese, de caminho certo ao enriquecimento do Brasil. Nota-se que a construção discursiva segue na esteira de que o Príncipe concretizara um dos maiores bens imagináveis de realização para a então colônia. Isso de forma completa, sem que os privilégios concedidos à Inglaterra, credora de Portugal, fossem exceção a tamanha bondade, conforme aborda o Visconde na segunda parte da obra em análise.

A desvelação do Iluminismo em Cairu é notada nas abordagens anunciadoras da chegada de um novo tempo em que a felicidade é geral e constante de maneira que o bem comum em todos os recantos pode ser encontrado. A paisagem iluminista tudo critica em nome do estabelecimento de uma razão que cessa todas as crises da humanidade e que traz consigo a felicidade instantânea.146 Assim é que se notam as sucessivas menções que o Visconde faz em relação à moral e ao bem comum, os quais igualmente se prestam a ilustrar os alegados profundos laços de amizade que ligam Brasil-Portugal-Inglaterra:

Se a franqueza do comércio com todas as nações é útil no Brasil, ela é imprescindível com os ingleses, por necessidade, interesse, política, e gratidão nacional. Nas circunstâncias atuais, a necessidade de comerciarmos com os ingleses é de intuitiva evidência, e de irresistível força das coisas. Que pessoa cordata o

poderia contestar, vendo o geral interdito do comércio da Europa?147

[...]

Só observarei, que negar absolutamente o direito de comércio até aos amigos de fidelidade experimentada, repugna aos instintos da humanidade, e é próprio a irritar os ânimos com o mais exasperado ressentimento. 148

A imagem que Cairu desenha da Inglaterra é recheada de cargas valorativas de linguagem, nos termos em que Warat149 as descreve: rica, industriosa, insuperável, sábia, dotados de espírito de empresa naval e mercantil, sabem comerciar tratando sempre com a verdade, investigam os inumeráveis artigos de produção; consideram o mercado estrangeiro fundamental e têm seu governo subordinado ao comércio. Deixam-se os defeitos para serem apontados por Smith. Afirma, Cairu, que a Inglaterra maiores benefícios deu a Portugal que os proporcionados pela própria colônia, cujo interesse pela nação amiga deve ser recíproco e de

145 CORRÊA, Rossini. Liberalismo no Brasil: José Américo em perspectiva. Brasília: Senado Federal, 1994,

p. 87.

146 Cf. HAZARD, Paul. O pensamento europeu no século XVIII. Lisboa: Editorial Presença, 1989. 147 LISBOA, José da Silva. Observações sobre o comércio franco no Brasil. In: ROCHA, Antonio Penalves

(org.). Visconde de Cairu. Coleção Formadores do Brasil. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 75, grifo nosso.

148 Ibid., p. 76.

149 WARAT, Luis Alberto. O direito e sua linguagem. 2ª Versão. 2. ed. aum. Porto Alegre: Sergio Antonio

abundante proveito. A importância internacional da Inglaterra também possui forte apelo no discurso de Cairu: nem Napoleão dela conseguiria ver-se completamente livre porquanto necessitava do aço que só de lá provinha. Ademais, o estreitar de relações com os ingleses, para Cairu, se refletiria até mesmo nos comportamentos e no aspecto moral do Brasil:

[A Inglaterra conseguiu instituir um fluxo comercial que a torna] centro da grande órbita e movimento comercial do universo.150

[...]

Enfim, à pátria dos Bacons, Newtons, Lockes, Smiths, Jenners, pertence a glória de ter, mais que alguma outra nação, contribuído pelas viagens dos seus circunavegadores do Orbe não só ao progresso do comércio, e maiores gozos da

sociedade, mas também das ciências, e civilização, que estas promovem.151

[...]

Mas eu não me propus fazer elogios, mas indicar o que está aos olhos de todo o mundo para convencer que era do nosso interesse comerciar, principalmente com os ingleses, a fim de porfiarmos na mesma carreira de opulência, e potência marítima, a que nos possibilita a imensidade dos nossos meios se bem os aproveitarmos sob os

benefícios de uma legislação iluminada, e administração firme; que consagre

em máxima de Estado o crescermos pelo comércio franco, e legal.152

[...]

A semelhança, e o exemplo são os maiores estímulos das ações humanas. Estando em maior contato com os povos mais civilizados, é impossível que não nos emparelhemos à sua indústria.153

[...]

[A] franqueza em admitir não só a importação de bens e mercadorias dos estrangeiros, e também a de suas pessoas e indústrias úteis (que fazem essencial parte do comércio franco) por serem os braços e engenhos dos homens habilidosos e morais um dos mais produtivos capitais das nações.154

Assim segue o Visconde, afirmando que a Inglaterra sempre respeitou a Coroa portuguesa e nunca tentou influir no governo lusitano, e que, inclusive, chegou a agir contra os interesses comerciais dos ingleses... O Tratado de Methuen,155 em que Portugal se obrigava a comprar panos de lã e a admitir a instalação de mais fábricas da Inglaterra, que compraria os vinhos portugueses, teria beneficiado ambas as partes, promovendo a agricultura e o comércio do Reino. A lista de benefícios que a amizade dos ingleses concedera ao Brasil e a Portugal se estende no mesmo diapasão, no esforço por tornar plausíveis e isentas de críticas as concessões feitas pela metrópole com envolvimento da colônia.

No que se refere às questões então existentes em torno dos benefícios e malefícios consequentes da Carta Régia de 1808, Cairu apresenta um rol sobre o qual disserta pontualmente no sentido de rebater cada argumento, dentre os quais: os estrangeiros levarão todo o dinheiro e metais preciosos; farão o monopólio do comércio do país, ou nociva

150 LISBOA, José da Silva. Observações sobre o comércio franco no Brasil. In: ROCHA, Antonio Penalves

(org.). Visconde de Cairu. Coleção Formadores do Brasil. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 81.

151 Ibid., p. 82, grifo nosso. 152 Ibid., p. 83, grifo nosso. 153 Ibid., p. 84.

154 Ibid., p. 92.

155 AMED, Fernando José; NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos. História dos tributos no Brasil. São

concorrência aos comerciantes nacionais; será aniquilada a nossa navegação e indústria; ficará a Metrópole sacrificada às colônias, com ruína das fábricas estabelecidas, reduzindo-se muita gente à miséria por falta de obra e subsistência; é absurdo admitir todas as fazendas e mercadorias das outras nações, sem que estas se comprometam a igual reciprocidade de também receberem todos os gêneros do nosso território. Assim como o fizera em relação à legitimação dos privilégios aos ingleses, Cairu aprofunda suas refutações de modo a, em suma, apresentar os críticos como inimigos do progresso que acenava à colônia portuguesa:

Confesse-se a verdade: os comerciantes que argúem aos estrangeiros no projeto de monopólio são os que desejam que o governo lhes faculte esse monopólio contra os interesses da soberania, e em dano de todos os concidadãos; pois o verdadeiro e pernicioso monopólio é o privilégio de vender e comprar sem os possíveis concorrentes, removidos por lei, ou autoridade pública, os que poriam, a bem do país, a sua indústria e capital em competência com os privilegiados.156

[...]

A verdadeira proteção que os comerciantes têm direito de implorar do governo é: 1) a reta e pronta administração da justiça em causas do comércio; 2) a segurança e facilidade na circulação interior, removidos os obstáculos e vexames fiscais; 3) a fatura de úteis estradas, pontes e demais obras de rios e canais navegáveis; 4) o bom acondicionamento e fidelidade nos depósitos das mercadorias nas Casas Públicas de Arrecadação; 5) a brevidade dos despachos dos gêneros; 6) avantajados tratados de comércio para a extensão do mercado nacional. Pergunte-se aos oficiais de fazenda

se as alfândegas têm atualmente um rendimento a que nunca chegaram: todos dirão que a livre importação estrangeira tem salvo o Estado, muito provendo às suas despesas.157

Nota-se, não apenas no trecho acima, mas em todo o discurso de Cairu, a forte presença de cargas valorativas da linguagem. Tais cargas se ligam ao uso emotivo da linguagem e aproximam o receptor das concepções do emissor. É o que acontece, por exemplo, quando Cairu se refere ao monopólio como sendo pernicioso. O emprego de cargas valorativas, além da dita aproximação, torna oculta a opinião do emissor, que a traz como mera descrição a fim de facilitar sua aceitação pelo receptor da mensagem. Vislumbra-se, ademais, o foco persuasivo a que se destina. “Em suma, sob a influência de definições empíricas, as definições persuasivas encobrem juízos de valor”.158

Sobre a objeção, Cairu fala de aniquilação de nossa navegação e indústria devido ao baixo preço do frete dos navios estrangeiros, que fariam o tráfego dos bens daqui, tornando os nossos navios em inutilidades, informa que a navegação da colônia realmente sofrerá, mas devido à guerra que impôs o interdito à Europa e que tais circunstâncias desfavoráveis, portanto, não se fundam na abertura de portos. Aqui, Cairu traz à tona a benevolência real em conceder incentivos tributários a fim de amenizar tal contexto. “Acresce a graça de s. a. r., que

156 LISBOA, José da Silva. Observações sobre o comércio franco no Brasil. In: ROCHA, Antonio Penalves

(org.). Visconde de Cairu. Coleção Formadores do Brasil. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 135-136.

157 Ibid., p. 141, grifo nosso.

158 WARAT, Luis Alberto. O direito e sua linguagem. 2ª Versão. 2. ed. aum. Porto Alegre: Sergio Antonio

remitiu oito por cento dos ditos direitos em favor dos gêneros transportados nos nossos navios.”159 A abolição da indústria, derivada da admissão de mercadorias estrangeiras, que

inviabilizaria o estabelecimento de fábricas, opina o Visconde que não acontecerá, se adotada a doutrina de Smith:

[A doutrina de Smith] de proteger o governo com imparcialidade a indústria geral, não dando especiais e extraordinários favores a indústrias particulares, salvo quando são indispensáveis à segurança e defesa do Estado.160

Logo, não se deve conceder incentivos fiscais ou proibir a importação de iguais ou forçar a introdução de fábricas, pois, nesse caso, somente haveria desvio de capital. Porém o incentivo a excelentes industriosos e inventores é recomendável:

[...] isentando as obras por alguns anos do imposto, e igualmente as matérias-primas compradas para a nova fábrica. No caso de invenção dita, é razoável conceder por dez anos o monopólio da venda, como é prática na Inglaterra.161

Outros incentivos, como o adiantamento de fundos aos que não os possuem, só podem ser concedidos quando o Estado se acha abastado e, ainda assim, é sujeito a muitos abusos. O Brasil não está preparado para as fábricas de luxos, que, portanto, não devem ser estimuladas e financiadas.

Ainda sobre estímulos tributários, Cairu expõe que os comerciantes portugueses que já adquiriram perfeição e barateza de suas obras não devem temer a concorrência estrangeira e podem contar com os seguintes favores do governo:

1) isenção de direitos de todas as matérias-primas das mesmas fábricas; 2) igual isenção de direitos na saída e entrada de todas as obras ali feitas; 3) a certeza da compra dos produtos de muitas das nossas manufaturas; como de lanifícios e panos de linho [...]. Se além disso, não se agravarem os trigos e outros artigos de subsistência com tributos, taxas de preço e outros encargos que descoroçoam os produtores nacionais, e importadores estrangeiros, e fazem diminuir a quantidade, e conseqüentemente encarecer tais artigos, cuja barateza (não forçada pelos errôneos expedientesde [sic] falsa política econômica que regem muitas partes) influi no preço das manufaturas, e favorece o seu extenso mercado, e bom pagamento; se finalmente se estabelecem as fábricas em lugares oportunos, que facilitem as manobras, transportes e consumos; deve-se esperar que não descaia a geral indústria, antes muito se avive e promova, com feliz introdução de novos ramos, atraindo-se, pela franqueza do comércio, hábeis artistas, e opulentos capitalistas estrangeiros.162

A quinta objeção dispõe sobre a necessidade de reciprocidade para que o Brasil importe mercadorias de outros Estados. Diz o Visconde do Cairu que a falta de reciprocidade não deve servir para que se proíba a importação de gêneros que não podemos fabricar com os mesmos preço e perfeição que os estrangeiros:

A franqueza do comércio que s. a. r. concedeu foi diretamente para o nosso proveito, ainda que indiretamente daí também resulte ganho a todas as nações. O fim foi

convidar as que estivessem em paz e harmonia com a Coroa a nos virem suprir

159 LISBOA, José da Silva. Observações sobre o comércio franco no Brasil. In: ROCHA, Antonio Penalves

(org.). Visconde de Cairu. Coleção Formadores do Brasil. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 147.

160 Ibid., p. 148. 161 Ibid., p. 150-151. 162 Ibid., p. 159.

no Brasil com tudo o que precisássemos; e por este modo também ocasionar a fácil, pronta, e extensa extração dos produtos da terra.163

Por fim, conclui Cairu que a união com a Inglaterra e com a Espanha é ideal para a política mercantil. Tal união aliada à providencial Carta Régia de abertura de portos somente acarretava, na sua visão, benefícios ao Brasil.

2.2.2 Observações sobre a franqueza de indústria e estabelecimento de fábricas no