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Visconde do Cairu, em “Estudos do bem comum”, apresenta a Economia Política como parte do Direito no que tange à organização civil, compreendendo-a como a solução para, por meio do estudo das leis naturais, instituir e manter o “Reino da justiça universal”, em que todos, em todos os lugares, teriam emprego e conforto:

O transcendente destino desta Ciência é o firmar e estender o Reino da Justiça Universal, exterminando a violência e indigência da Sociedade, substituindo fiel convenção à força; e promover a correspondência da humanidade em todos os países, para os homens recriprocarem [sic], em franco ajuste, seus bens e conhecimentos; a fim de poder cada indivíduo ter o mais convinhável emprego, e a maior possível abundância do necessário, cômodo e grato à vida, que as suas circunstâncias admitam. 225

Apesar de não fazer parte do Plano Geral de Educação, seu estudo seria imprescindível aos que pretendessem laborar na área, razão por que a Ordenação do Reino presumia que os homens bons da terra entendessem desse assunto. O reinado de D. José teria chegado a implantar medidas para estimular a meditação sobre a Economia Política, mas não obtivera sucesso porque, segundo o Visconde, a valorização e divulgação dos princípios desta ciência, por Adam Smith, foi posterior. Crê o Visconde que a razão das diferentes formas de valoração da Economia Política reside na ausência de ensinamentos acerca dos seus princípios fundamentais, eis, portanto, a razão que o levou a escrever sobre Economia Política:

[...] os comerciantes sabem perfeitamente em que maneira eles se enriquecem; é seu negócio sabê-lo: mas o saber em que maneira a Nação se enriqueça, não faz parte de seu negócio. Por isso têm sempre requerido e sugerido aos Governos e Regulamentos restritivos na competência do mercado, não só contra os estrangeiros,

224 LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu). Estudos do bem comum e economia política ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do estado. Série “Pensamento econômico brasileiro” n. 1. Rio de Janeiro: IPEA, 1975, p. 58.

mas ainda contra os naturais, em estritas vistas do interesse particular, sem compreensiva polícia do bem geral.” 226

Informa, o Visconde do Cairu, sua inspiração em Malthus, Smith e Ricardo,227 que convergem no entendimento de que “tudo depende de Leis constituídas pela inteligência infinita.” 228 Cairu alerta que objetiva examinar se é o trabalho ou a inteligência que mais

contribui para a riqueza das nações e, desde logo, manifesta opinião no sentido de dar maior importância à inteligência. Acredita que a análise das leis naturais deve levar à substituição do trabalho humano pelo trabalho da natureza, de modo que os homens adquiririam maior riqueza com menor trabalho. Concorda com Smith quando este afirma que pela extensão do mercado a ‘mão invisível reguladora do mercado’ extraía o bem comum.

A riqueza nacional se constituiria, para Cairu, de uma porção dos produtos da geral indústria. Grande parte dessa riqueza deve pertencer ao Estado, que a empregará nos serviços públicos (segurança, emprego) e na criação de novas fontes de riqueza. Eis a razão apontada pelo Visconde para se estudar Economia Política: perquirir as causas e os meios de melhorar a indústria de todas as classes para enriquecer ao povo e ao Soberano.

Onde a geral indústria é conduzida com inteligência, a moral também aflora. Como prova dessa argumentação, Cairu aponta que assim é na Inglaterra, que nessa obra continua sendo exemplo preferencial do Visconde: “A comparação dos Impérios antigos e modernos, em que, mais ou menos, prevaleceram a inteligência e observância das ditas Leis, manifesta proporcionais resultados de sua relativa civilização, riqueza, potência e estabilidade.” 229 As

causas morais, o sistema econômico e a sabedoria dos governos é que seriam determinantes para a riqueza de seu povo, e não o clima, vegetação ou origem bárbara:

Essa teoria é com especialidade interessante nesta parte do Mundo Novo; pois, ainda que a Natureza seja benigna aos habitantes dos Trópicos, ajudando muito ao trabalhador com a fertilidade da terra, e frescura das vibrações; contudo, estando na Região do Sol, não lhes dá a robustez corporal dos países frios, em que os homens melhor suportam os trabalhos duros. Cumpre-lhes pois adquirir superiores forças intelectuais, para usarem mais do império do ânimo que do serviço do corpo, tendo sempre por si a Natural Obreira, para os suprimentos e gozos da vida.230

Cada lugar apresentaria algum produto natural passível de comércio. Assim é que há lugares onde se encontram só pedras preciosas, ou somente matérias primas de utensílios, ou ainda especiarias e outros onde se acham mantimentos. Para Cairu, essa distribuição favorece grandemente o comércio.

226 LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu). Estudos do bem comum e economia política ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do estado. Série “Pensamento econômico brasileiro” n. 1. Rio de Janeiro: IPEA, 1975, p. 59.

227 Cf. RICARDO, David. Princípios de Economia Política e de tributação. 4. ed. Porto: Tip. Bonfim – M. H.

Santos Sousa, 2001.

228 LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu). op. cit., p. 60. 229 Ibid., p. 68.

A Economia Política, segundo Cairu, caminha procurando a geral benevolência e a pacífica união de todas as regiões da Terra através do Comércio Universal. Comunicando-se reciprocamente os homens seus bens e conhecimentos, o resultado seria a oferta de trabalho e a disseminação da paz. Em todos os lugares reconhecer-se-ia o trabalho honesto, o direito de propriedade, a boa-fé e a hospitalidade aos estrangeiros. A atenção do governo para o interesse nacional, e não imediatamente egoísta, seria promotor do bem universal, contra o qual podem ser citadas a ingratidão, malícia, monopólio e pirataria.

Em continuidade à obra, o Visconde assevera que depois da instituição do direito de propriedade privada é que o sistema social ficou complicado e difundiu a desigualdade e os conflitos de interesse. Disso teria surgido o Governo Político, que precisou instituir leis para estabelecer a paz social.

Sobre a liberdade, Cairu afirma que a luta pela mesma é geral e deve o Estado proteger as propriedades e as pessoas. A propriedade seria, para o Visconde, um simples título de senhorio sobre a coisa, que permite dela dispor. Cabe assinalar que, à época, a propriedade era algo bastante discutido, mas nisso não se detém do Visconde em “Estudos do bem comum”, muito embora ao longo do texto deixe claro seu posicionamento pelo caráter sagrado da propriedade. Nesse ponto, interessa observar a aparente contradição de Cairu ao, simultaneamente, apoiar a luta pela liberdade e a possibilidade de que o Estado defenda a propriedade, porquanto grande parte das terras da colônia portuguesa não pertenciam aos particulares e sim ao Soberano. Ademais, conforme já mencionado, na época, o povo iniciava suas revoltas pela independência, como a que houvera em Pernambuco, também relacionada à pesada tributação. Tais revoltas exprimiam a luta do povo pela liberdade, mas o Estado não vinha em defesa das pessoas e das propriedades, mas sim para sufocar a busca pela liberdade. Aqui também se aponta o alinhamento do Visconde de Cairu com as ideias iluministas.231 Isso porque o individualismo e a legitimação da desigualdade pela forte proteção à propriedade eram temas recorrentes entre os filósofos que participavam do Iluminismo.

Ainda na mesma época, em que o Brasil crescia na agricultura, Cairu afirma que sua valorização não é de todo benéfica, pois atrasaria o desenvolvimento mercantil. O comércio, para o Visconde, gera o vínculo da amizade, dissemina a paz e o amor e merece a maior atenção dos reinos ricos e políticos. Sem o comércio nada valeria a grande quantidade de terras e pessoas, além de desvalorizar eventuais produtos. O comércio é que traz riquezas, tanto que lugares há onde a terra nada vale, mas o comércio a enriquece.

A China é apresentada por Cairu como exemplo de boa administração da indústria e polícia. Não só porque seriam estudantes de todas as ciências, naturais e morais, e do modo de lidar com elas, mas também porque seriam cuidadosos com o povo que lá está de forma a assegurar que todos tenham emprego, não haja mendigos e, curiosamente, que as mulheres solteiras vivam fora dos muros para não perturbar os homens... Vê-se, pois, que o Visconde possuía delimitado conceito de povo: ao se referir à felicidade e emprego para todos, não inclui os mendigos, o que reforça seu direcionamento discursivo às elites.

Sobre tributação, Cairu diz apenas que a taxação e os diversos modos de negociar influem de modo determinante na composição do preço e segue discorrendo sobre monopólio. Conforme já mencionado em laudas passadas, Cairu era veementemente contra a concessão de monopólio sob o argumento de que apenas prejuízos trariam. Apresenta a história do monopólio do cravo ordenado por D. Manoel como um exemplo das más consequências da instituição de exclusividade estatal. Assim que divulgada tal ordem, insurgiu-se o povo, que agora perderia o lucro obtido em virtude da necessidade de comprar o produto diretamente dos oficiais do Rei, ao preço arbitrariamente estipulado. Disso, Cairu informa, adveio aumento de preço e especulação, além de rivalidade, guerra e morte.

Em relação à instauração de um governo liberal, afirma o Visconde que a ausência do governo do Rei em seu reinado deixa-o à mercê de seus oficiais. Depreende-se, pois, que mesmo favorável à intensificação do comércio exterior e ao crescimento da indústria, Cairu permanece posicionando-se pela manutenção do Estado. Nova contradição aparente, pois, vem à tona: apesar de dizer crer na ‘mão invisível reguladora do mercado’, desaconselha a abstenção estatal...

A ideia liberal presente em David Hume, segundo o Visconde, consiste na inconveniência de obstar a circulação do ouro e da prata nas nações vizinhas, restringindo-o ao estado possuidor. Sobre o comércio de metais, Cairu, em diversas passagens, afirma que não são estes que enriquecem a nação e, portanto, não devem os estados preocuparem-se em poupá-los a todo custo, mas sim em efetivamente trocá-los por produtos que não possuem ou cuja produção seja inviável. Tal atitude, justifica Cairu, além de fomentar o aquecimento do mercado, torna possível que os diversos bens sejam adquiridos em lugares onde, talvez, fossem inimagináveis.

Os estudos de Economia Política devem abranger os Sistemas Econômicos e não apenas seus princípios gerais ou melhoramento da agricultura, pois condicionam o bem viver dos povos e são tão importantes quanto as ciências exatas. A Inglaterra, para o Visconde, é a pátria da Economia Política, mas também difundiu errôneos princípios dessa ciência, como o

monopólio e a restrição aos produtos estrangeiros em defesa de uma balança comercial. Afirma, ainda, que Bacon foi o primeiro dos escritores ingleses a valorizar a Economia Política, embora sem a devida justiça e equivocadamente exaltando as leis restritivas de comércio de Henrique VII. Também diz o autor que Hume manifestou-se contrariamente ao monopólio, disseminado pela Rainha Isabel e concedido com facilidade, porque seria fator de miséria e pobreza. 232

Em continuidade a discorrer sobre os diversos autores que se manifestaram sobre economia nos Séculos XVII e XVIII, prossegue Cairu e se demora no assunto, procurando abordar grande quantidade dos influenciadores que ali apresentavam. Locke escreveu as “Considerações sobre os meios de abaixar o interesse dos capitais, e levantar o valor da moeda”, que o Visconde considerou original, embora cheio de erros. Newton colaborou na elaboração do sistema monetário. Hume, com “Ensaios econômicos”, demonstrou ser mito a história da balança comercial de Davenant e alicerçou o sistema liberal, sendo precursor de Adam Smith. Hume também afirma que os Soberanos devem governar em observância à felicidade de seus vassalos porque aumentam a sua própria. James Stewart se opôs ao conceito de sistema, implicando conclusão de que se opõe aos economistas, que falam de sistema mercantil, e valoriza a política interna, inclusive a ideia da balança comercial. Apesar disso, Stewart trata de várias questões econômicas, o que o torna recomendável. Adam Smith é o proto-economista da Europa, foi o primeiro a mostrar que a Economia Política é ciência regular e a apresentar o sistema da liberdade natural, “em que cada indivíduo, enquanto não viola as leis da justiça, possa ter a faculdade de pôr a sua indústria e capital e competência com qualquer outra pessoa e ordem de pessoas, Prestando [sic] o Soberano igual e imparcial proteção a todo o ramo de trabalho útil.”233

Malthus, para Cairu, ocupou-se das razões da pobreza e concluiu que a rapidez com que os humanos se reproduzem é incompatível com a velocidade de produção de alimentos, razão por que o excesso de população é o maior mal da sociedade para a qual o único remédio seria a restrição moral. Assim também, Malthus justificou sua tentativa de abolir o “Estatuto dos pobres” por entender que só agravava a situação. Bentham atacou as Leis da Usura. David Ricardo apresentou plano para facilitar a circulação do comércio interno em difíceis épocas pós-guerras.

232 Cf. LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu). Estudos do bem comum e economia política ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do estado. Série “Pensamento econômico brasileiro” n. 1. Rio de Janeiro: IPEA, 1975.

Sobre os que influenciavam a Itália, afirma Cairu que Maquiavel nada dispôs sobre economia e de forma maléfica influenciou os governos. Galiani, porém, destacou-se com a exaltação da exportação de grãos como forma de torná-los abundantes e com bom preço interno. Já na França, crê que Bodin foi o primeiro autor de merecimento em matérias políticas e econômicas com a obra “Da República”, em que dedicou capítulo às finanças. A política francesa cresceu com os projetos de Henrique IV e seus ministros Sully e Colbert, que trouxeram indústria, riqueza e prosperidade nacional. Sully se empenhou no sistema agrário e foi liberal. Colbert concentrou-se nas manufaturas e comércio ao sacrifício da agricultura, cujos produtos foram taxados e proibidos de saírem. O Tratado de Utrecht, abordado nas memórias de Colbert, estabeleceu o sistema colonial como direito público da Europa. Assim o comércio e indústria das colônias eram restritos à respectiva metrópole. Colbert também possibilitou a polícia regulamentária do Marquês de Pombal. Fenelon atacou os sistemas militar e mercantil, apresentou as vantagens do comércio estrangeiro e da liberdade de comércio, com preferência para a agricultura, sem perceber, pois, que todas as indústrias se interligam para trazer a prosperidade.

Diz o Visconde que, para Montesquieu, a preguiça e o trabalho resultam respectivamente do orgulho e da vaidade; a preguiça e escravidão são mais comuns em países de clima quente enquanto a indústria e liberdade melhor se propagam em lugares frios. Todavia, a liberdade dos índios na América do Sul é notável e nos “climas frios do Norte e Sul, só se acharam (e ainda continuam a existir) hórridos selvagens.”234 Montesquieu

mostrou-se contraditório com relação aos instrumentos de trabalho e à liberdade de comércio, já que elogiou atitudes monopolizadoras da Inglaterra. Manifestou-se pela liberdade, no sentido de que o que se faz livremente, se faz melhor. Quesnay difundiu a fisiocracia e reconheceu que as leis econômicas devem ser conformes às leis sociais. Turgot e Mirabeau foram discípulos de Quesnay. Canard sustentou o sistema liberal de Smith e que “o equilíbrio das três fontes de renda da sociedade civil (terra, trabalho e capital), é a base da Economia Política: a este princípio se reduzem todas as questões desta ciência importante.”235 Canard

enxerga a lei de mercado de forma bastante hostil, uma guerra de todos contra todos, em incompatibilidade com a teoria da franqueza de comércio. Migneret discorreu sobre a importância da religião como base da prosperidade das nações. Baptista Say crê que o trabalho escravo é mais produtivo que o livre, em oposição a Montesquieu: “Regra geral:

234 LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu). Estudos do bem comum e economia política ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do estado. Série “Pensamento econômico brasileiro” n. 1. Rio de Janeiro: IPEA, 1975, p. 135.

podem-se coletar impostos mais fortes em proporção da liberdade dos vassalos; e é forçoso moderá-los è medida que a escravidão aumenta.”236

Dos escritores de Economia Política de Espanha, segue o Visconde do Cairu afirmando que as leis e instituições do feudalismo ainda intimidam. Jovellanos escreveu sobre a riqueza das nações, embora o tenha feito com espírito fisiocrático para promover a agricultura e reformar a legislação para a remoção dos seguintes obstáculos: estagnação das herdades em poucas mãos; taxa dos preços de seus produtos, que ataca o direito de propriedade e impossibilita aos lavradores obter o devido fruto do seu trabalho; Alcavala: que exige grandes esforços e ônus para cobrança “visto que tal imposto surpreende os frutos desde seu nascimento”,237 Baldios das câmaras e a Economia rural defeituosa a ser melhorada pela

educação dos camponeses.

Dos escritores de Economia Política da Suíça, José da Silva Lisboa apresenta Herrenschwand, cujas ideias seriam impraticáveis. Ivernois dissertou sobre as vantagens de todas as nações comercializarem com a Inglaterra, tal como afirma Cairu em diversas passagens e em mais de uma de suas obras.

Dos alemães, dispôs que lá o comércio é fraco devido aos impedimentos políticos do governo feudal e variedade de estados independentes, embora existam feiras. O sistema mercantil também restringia a importação de manufaturas estrangeiras.

Passa, então, a tratar da relação entre a riqueza estatal e a tributação. Nesse sentido, dispõe:

Como os governos exigiam impostos, percebeu-se que estes só podiam ser mais fácil e seguramente coletados em proporção que os povos fossem mais ricos e de condição próspera. Fixou-se, por isso, a atenção dos estudiosos da prosperidade pública sobre os retos meios de se enriquecerem os Estados. Então os escritores e estadistas deram conselhos sobre os expedientes de aumentarem os Estados as próprias forças, favorecendo-se certas indústrias, e limitando-se outras.238

Na visão de Cairu, o governo econômico pode trazer melhorias à sociedade pela diminuição da miséria e indigência através de leis favoráveis à indústria e contra os monopólios, embora a pobreza seja inexterminável e a extrema pobreza seja mantenedora da selvageria.

Dessa forma, observa-se que o Visconde busca traçar o panorama mundial dos estudos de Economia Política e emite sua opinião acerca de cada autor, de forma a deixar claro o propósito deliberativo de seu discurso, uma vez que se utiliza primordialmente de exemplos

236 LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu). Estudos do bem comum e economia política ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do estado. Série “Pensamento econômico brasileiro” n. 1. Rio de Janeiro: IPEA, 1975, p. 141.

237 Ibid., p. 144. 238 Ibid., p. 148.

de renomes que trataram dos mesmos assuntos por ele abordados e com o intuito de apresentar um painel do futuro, exatamente conforme Aristóteles descreve ao tratar de oradores deliberativos.239

Na sequência, o autor inicia o exame das objeções contra os estudos de Economia Política. Neste ponto, faz um paralelo entre as argumentações recorrentes, que refuta pontualmente e parte em defesa da Economia Política enquanto ciência dotada de princípios fundamentais de incontestável certeza, aplicáveis conforme as circunstâncias de cada Estado, inclusive no que tange à preparação do povo para aceitar as devidas reformas.

Ao argumento de que a moral, e não a riqueza, deve ser o objeto de estudos públicos, rebate Cairu asseverando que os males do luxo e a corrupção dos costumes decorrem da forma pela qual se chegava à riqueza: adquirindo-a mediante conquista e tributação de outros povos, ao invés de produzi-las pela indústria inteligente. Ademais, a Economia Política visa enriquecer o Estado e não os indivíduos. A moral, segundo o Visconde, é mais abundante nos países mais prósperos e a caridade só pode ser feita onde houver riqueza para compartilhar com os mais pobres. O luxo é necessário para impulsionar a indústria, porque faz trabalhar para adquirí-lo. 240

Economia Política significa, segundo Cairu, lei da cidade, busca-se, então, desvelar qual é a “lei da casa da grande família do gênero humano” que deve reger todas as nações. Smith dizia que são dois os objetos da Economia Política: habilitar o Estado a prover a abundante renda e subsistência para o povo pela própria indústria; e prover os réditos ou recursos necessários ao serviço público. Daí a bipartição da Economia Política em: teoria da geral indústria do povo e da influência do governo na sua promoção; e teoria do serviço e