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Pouco tempo antes da chegada da Família Real em solo colonial, José da Silva Lisboa passou a integrar órgão de extremo relevo para o comércio exterior do Brasil e de Portugal: a Mesa de Inspeção de Tabaco e Açúcar na Bahia. A atividade do Visconde de Cairu como funcionário da Coroa na Mesa em que assumiu o cargo, criado especialmente para ele, de deputado e secretário, teve início com a nomeação por D. Rodrigo de Souza Coutinho em 27 de julho de 1798,276 o mesmo que mais tarde nomearia Cairu para ser diretor e censor da Junta Administrativa para a Impressão Régia, em junho de 1808.277 Criada em 1751,278 a Mesa herdou as atribuições da extinta Superintendência do Tabaco, devendo se centrar no controle do açúcar e tabaco exportados da capitania, fiscalizar os preços e combater o contrabando.279

A Mesa era composta de sete membros: um presidente, um desembargador, que simultaneamente era o Intendente Geral do Ouro, dois inspetores ou deputados para representarem, cada um, o setor fumageiro e açucareiro, dois deputados homens de negócio, um deputado oficial régio que acumulava a função de secretário, sendo este último o ocupado pelo Visconde de Cairu. Os cargos para homens de negócio foram criados em 1757 e o de oficial régio, em 1797. 280

A importância do comércio do tabaco remete à época anterior à União Ibérica. Antes da União, Portugal construíra fortalezas na costa da África, com interesse no ouro. Durante a União Ibérica, os holandeses atacaram as possessões portuguesas devido à guerra então travada com a Espanha: a costa africana e o nordeste brasileiro. Mais tarde, com a mineração no Brasil, já extinta a União Ibérica e finda a guerra com a Holanda, o objetivo de Portugal na

276 KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-

brasileiro. São Paulo: Alameda, 2009, p. 79.

277 Ibid., p. 154. 278 Ibid., p. 83. 279 Ibid., p. 86.

África era trazer escravos para trabalharem nas minas. Porém, os holandeses não desocuparam a costa africana e foram constituídos diversos tratados com os portugueses a fim de viabilizar a atividade portuguesa na África: limitaram-se os portos onde navios de Portugal poderiam atracar (Popo, Ajudá, Jaquin e Apá, na Costa de Daomé); o produto a ser comercializado (somente tabaco) e o preço para tanto (deveriam deixar 10% do carregamento no Castelo de São Jorge). Dessa forma, o tabaco servia de instrumento para traficar escravos para o Brasil:

A obrigação imposta aos portugueses de comerciar apenas tabaco na Região da Costa da Mina favoreceu os negociantes da Bahia e tornou, na prática, o tráfico nessa região da África de difícil acesso, para os negociantes do reino e de outras regiões da colônia americana que não produziam aquela planta. Em menor escala, a capitania de Pernambuco traficava escravos na Costa da Mina, utilizando-se do tabaco baiano.281

A baixa qualidade do tabaco apreciado na Costa da Mina foi outro fator importante para a rentabilidade dos produtores e comerciantes da Bahia, já que não atendia aos padrões de qualidade exigidos pela Mesa de Inspeção para envio à Europa. É que aquela específica região da África preferia o refugo ou soca, um tabaco de segunda classe, porque, devido às folhas serem pequenas ou quebradas, se aumentava a quantidade do melado para a enrola, resultando em aroma diferenciado.

Apesar de outros comerciantes do reino, brasileiros e portugueses, demonstrarem interesse em participar do negócio, os baianos buscavam manter o controle e excluí-los, razão pela qual as trocas de tabaco por escravos na Costa da Mina permaneciam concentradas na Bahia. A restrição imposta chegou a impedir, com o apoio de ingleses, a criação de companhia monopolista para controle das trocas com a África, conforme já existia no Pernambuco e no Maranhão.282 O projeto de criação de uma companhia baiana chegou a ser repensado e mesmo almejado quando o comércio com a Costa da Mina foi autorizado por meio do Alvará de 17 de janeiro de 1757, “que limitou a taxa de juros a 5%, quando o investimento no comércio africano rendia entre 16% e 18% [...].”283 A ideia, porém, não

restou frutífera devido à relutância dos baianos em aceitarem portugueses na participação do lucrativo mercado.

Ciente de tais negociações, que incluíam o tráfico de ouro das minas brasileiras, a Coroa portuguesa tentou desviar o tráfico negreiro da Costa da Mina para Guiné, Angola ou

281 KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-

brasileiro. São Paulo: Alameda, 2009, p. 89.

282 Cf. CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís: SIOGE,

1993; MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico-geográfico da província do Maranhão. 3. ed. Rio de Janeiro: Cia da Editôra Fon-Fon e Seleta, 1970; VIVEIROS, Jerônimo de. História do comércio do Maranhão:

1612 -1895. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992, 4 v. (Reedição Fac-similar); 283 KIRSCHNER, Tereza Cristina. op. cit., p. 93.

Congo, até porque o pagamento da taxa aos holandeses aumentava o preço dos escravos. Novamente os baianos se opunham porque o tabaco de segunda classe era de apreço restrito à Costa da Mina:

Os negociantes da Bahia sempre reagiram à ordens da Coroa, alegando que naqueles portos não havia mercado para o seu tipo de tabaco. Argumentavam, também que a proibição do negócio acarretaria a ruína de pequenos agricultores e prejuízos para a Fazenda Real. Em meados do século XVIII, o grupo mercantil da Bahia exercia praticamente um monopólio no comércio de tabaco com a Costa da Mina.284

Ainda assim, com quase exclusividade, os negociantes de tabaco não estavam satisfeitos, já que os holandeses passaram a cobrar, além dos 10% já ditos, “uma quantia em ouro ou tabaco para o chefe da companhia holandesa, rolos de tabaco e açúcar para os fiscais e ainda um valor muito elevado pelo uso de canoas e pelos gêneros necessários ao abastecimento de navios.”285 Tais fatos, levaram os baianos a reclamarem ao Soberano em

1781.

Eis, portanto, a importância do tabaco da Bahia para Brasil e Portugal. Tal fato não passou despercebido pelo Marquês de Pombal, que criou a referida Mesa de Inspeção justamente para controlar o comércio de tabaco e eliminar abusos na classificação das mercadorias brasileiras:

Ao criar a Mesa da Inspeção da Bahia em 1751, o objetivo de Pombal era exercer maior controle sobre o comércio da capitania e, particularmente, o do tabaco. Ao mesmo tempo, pretendia restaurar a confiança na qualidade dos produtos da colônia por meio da eliminação de abusos na sua classificação.286

Note-se que no período em que Visconde do Cairu ocupou a função de secretário da Mesa da Inspeção da Bahia, eram baianos 36,3% do valor total de produtos coloniais remetidos ao reino, contra 27,2% do Rio de Janeiro e 22,6% de Pernambuco. Na Bahia, 61,6% das exportações era de açúcar, cujo preço estava valorizado, seguido do tabaco, que representava 22,5%, algodão com 8,5% e couro com 5,6%.287 Logo, a Mesa da Inspeção assumia relevante posto, já que intervia diretamente em área significativa do comércio brasileiro.

José da Silva Lisboa exerceu o secretariado de forma parcialmente coerente ao que doutrinava: os juros deveriam ser moderados por serem indissociáveis da moral e por ser condenável a “insaciabilidade mercantil”;288 primava pela aplicação da lei,289 incentivava a

284 KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-

brasileiro. São Paulo: Alameda, 2009, p. 90.

285 Ibid., p. 93. 286 Ibid., p. 90.

287 Tais dados referem-se ao período de 1796 a 1799, conforme noticiado em KIRSCHNER, Tereza Cristina. op.

cit., p. 96.

288 KIRSCHNER, Tereza Cristina. op. cit., p. 82. 289 Ibid., p. 101.

introdução de novas técnicas agrícolas,290 pautava-se pelo bem comum, que “No fim do século XVIII, incluía, além da idéia de justiça e bem-estar dos vassalos, enfim, do bom funcionamento da res publica, a idéia de progresso e riqueza.”291 e buscava conciliar a

liberdade de comércio com a fixação de preços.292 Vale dizer que, para Cairu, a liberdade de comércio implicava parcela de intervenção estatal, razão pela qual se mostra, em parte, contraditório neste particular por, simultaneamente, se manifestar pela crença na ‘mão invisível’ reguladora, propagada por Adam Smith.293 Vale mencionar que a quantidade de

intervenção e regulação proferidas pela Mesa de Inspeção foi bastante considerável, chegando a pôr Cairu em risco de perda do cargo e, até, de extinção da referida Mesa, conforme se expõe adiante. Outro paradoxo do Visconde foi proclamar a necessidade de equilíbrio na tributação do comércio exterior e de parcimônia na instituição de impostos, mas agir de forma oposta no cargo de secretário. Diga-se, porém, que tais incoerências podem ser arrazoadas pela obediência de Cairu à Corte: o Visconde, mesmo tendo opinião diversa, tentava fazer valer os Alvarás e Decisões régias.

As atitudes de Cairu no exercício de suas atribuições não raro geravam reclamações dirigidas ao Soberano, à Secretaria da Marinha e Domínios Ultramarinos ou à Real Junta de Comércio, em Lisboa. As queixas derivavam principalmente da atenção ao contrabando, que “Na realidade, embora severamente combatido pela Coroa por meio de vasta legislação, o contrabando nunca chegou a ser completamente abolido na colônia.”294 Outros pontos de

desagrado envolvendo a Mesa da Inspeção se referiam: ao açúcar, cujas fraudes se intensificavam no sentido de burlar a qualidade exigida para exportação; e às normas de plantio da mandioca por açucareiros. Ressalte-se que as tensões em torno de mandioca se mantinham em virtude da escassez do produto, com frequentes crises de abastecimento e forte especulação.295 Assim, as providências da Mesa em relação a tais temas chegavam a ser drásticas, como, por exemplo, a instituição da prisão como penalidade:

A Mesa procurava, de diferentes maneiras, solucionar os problemas. Em edital de 1786, ordenou aos caixeiros dos trapiches que apresentassem aos homens de negócio os livros de entrada para informá-los de onde provinham as caixas de açúcar e providenciou para que, na ocasião dos exames, se fizessem diversos furos nas caixas para verificar a qualidade do produto em suas diferentes partes. Com relação ao

290 KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-

brasileiro. São Paulo: Alameda, 2009, p. 115.

291 Ibid., p. 102. 292 Ibid., p. 116.

293 Cf. LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu). Estudos do bem comum e economia política ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria e promover a riqueza nacional e prosperidade do estado. Série “Pensamento econômico brasileiro” n. 1. Rio de Janeiro: IPEA, 1975.

294 KIRSCHNER, Tereza Cristina. op. cit., p. 103. 295 Ibid., p. 101.

peso, as caixas deveriam ser pesadas na entrada e na saída, na presença dos capitães e mestres de navios. Caso houvesse diferenças, a responsabilidade seria atribuída

aos caixeiros e ao proprietário do trapiche, sob pena de prisão. Também foram

tomadas providências com relação ao tabaco; nenhuma dessas medidas, porém, parece ter tido efeito, pois as reclamações continuaram.296

Agricultores, negociantes e donos de trapiches (armazéns para embarque de mercadorias) continuaram a reclamar da Mesa da Inspeção, que perdeu parcela de apoio do governo de Lisboa após a saída de D. Rodrigo Souza Coutinho da Secretaria da Marinha e Domínios Ultramarinos em 1802. Em 1803, a Mesa recebeu uma censura do Conselho Ultramarino, cuja provisão suspendeu medidas e mandou que, inclusive o deputado secretário, fizessem “a reposição do que haviam extorquido, pois que nada se pode inovar sem a minha régia aprovação.”297 O Visconde do Cairu encaminhou relatório ao governador da Capitania,

que o anexou ao Ofício remetido a Portugal em resposta à provisão régia.

No relatório, Cairu expôs que a narrativa dos reclamantes era falsa, que jamais agira fora dos limites da lei, apenas exigindo seu cumprimento; que muitos nada pleitearam à Mesa e foram direto queixar-se ao Soberano, em afronta à normativa para requerimentos e, por fim, que as notícias que a ele chegaram foram feitas “exagerando-se enormemente o que pertence ao desembargador presidente e fugindo-se absolutamente ao que arguiu o secretário, que nunca recebeu emolumento algum [...].”298

As reclamações continuaram e foram seguidas de explicações minuciosas de Cairu acerca do proceder da Mesa da Inspeção, especialmente sobre a qualidade do açúcar enviado a Portugal. Mesmo porque a fraude na indicação do tipo de açúcar refletia na tributação sobre o comércio exterior, ressalvadas as diferenças existentes entre os portos: “O açúcar branco pagava, no Recife, 60 réis por arroba, e o mascavado, 30 réis.”299 A forma de produção é que

distinguia os açúcares, que podiam ser: branco fino, cabucho ou mascavado, macho, batido, cara de fôrma, redondo, macho de baixo ou inferior;300 sendo que as reclamações geralmente derivavam da troca do branco pelo mascavado, cuja inferioridade advinha de ser apenas um aproveitamento do fundo das formas para produção de açúcar.301

Cairu se pronunciou acerca da qualidade do açúcar indicando que era o senhor de engenho quem o classificava, e não a Mesa de Inspeção; que o produto baiano era menos alvo

296 KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-

brasileiro. São Paulo: Alameda, 2009, p. 106.

297 Provisão Régia para a Mesa da Inspeção da Bahia. 19.8.1803. AHU, Manuscritos avulsos da Bahia, PR, cx.

234, doc. 16151 apud KIRSCHNER, Tereza Cristina. op. cit., p. 119.

298 Anexo à Provisão Régia para a Mesa da Inspeção da Bahia. 19.8.1803. AHU, Manuscritos avulsos da Bahia,

PR, cx. 234, doc. 16151 apud KIRSCHNER, Tereza Cristina. op. cit., p. 120.

299 SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-1820. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 527. 300 Ibid., p. 138.

e não chegava a ser mascavado. Ademais, a facilidade de deterioração do produto nos portos, bem como o errôneo acondicionamento certamente diminuía a qualidade e deveria responsabilizar-se o proprietário da mercadoria por não se tratar de atribuição da Mesa. Ainda assim, não cessaram as queixas.

Contudo, em 1807 o Príncipe Regente solicitou parecer do governador da Bahia sobre a conveniência de manter aquele órgão. O governador, visando atender à solicitação, encaminhou um questionário à Câmara de Salvador, a qual, por sua vez, chamou os principais agricultores e negociantes da região para se manifestarem. Os senhores de engenho, como esperado, defenderam a liberdade de comércio, fundamentando-se nas ideias em voga: Adam Smith e Jean-Baptiste Say. Vários pareceres foram enviados à Câmara e abordavam diversos temas concernentes ao comércio: lamentavam a necessidade do plantio de mandioca, cujo fundamento era a escassez e especulação; afirmavam serem atormentados pela Mesa de Inspeção, a qual, pois, em virtude do excesso de intervenção na liberdade de comércio, deveria sim ser extinta a fim de deixar a regulação a cargo dos negociantes.

Os pareceres retratam a insatisfação dos diferentes setores produtivos baianos com a política da monarquia. Curiosamente José da Silva Lisboa, o dedicado funcionário da Mesa da Inspeção, não discordava das opiniões expressas nesses pareceres. O deputado cumpria rigorosamente as ordens régias, porém tinha suas próprias idéias a respeito do comércio da colônia, a ponto de escrever sobre temas considerados subversivos no contexto português, como as vantagens da liberdade comercial.302

A Câmara, então, redigiu ofício ao governador expondo “apenas a reclamação do recrutamento de filhos de lavradores de mandioca para as tropas de linha e alguns abusos [...]”,303 sem nada dizer acerca da considerada excessiva regulação da Mesa. Porém, a resposta

do governador da Bahia à Secretaria da Marinha não seguiu o mesmo sentido e opinou pela manutenção, já que seria a melhor autoridade para exercer a jurisdição a ele atribuída, além de intervir com o objetivo de obstar o monopólio. O órgão resistiu até 1827.

Na época em que esteve na Mesa de Inspeção, Cairu publicou duas obras de grande relevo: “Princípios de Direito Mercantil”304 e “Princípios de Economia Política”.305 A

primeira delas é extensa (cerca de oitocentas páginas) e representou um marco por se tratar de única referência sobre o assunto, na época.306 A segunda era mais uma forma de propagar o Liberalismo da época e o ódio de Cairu contra os monopólios.

302 KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso-

brasileiro. São Paulo: Alameda, 2009, p. 129.

303 Ibid., p. 131.

304 Cf. LISBOA, José da Silva (Visconde de Cairu). Principios de Direito Mercantil e leis da Marinha. Rio de

Janeiro: Ministério da Justiça e Negócios Interiores, 1963.

305 Cf. Id.. Princípios de Economia Política. Rio de Janeiro: Pongetti, 1956

306 Cf. LIMA, Alceu Amoroso. Época, vida e obra de Cairu. In: LISBOA, José da Silva (Visconde de Cayrú). Princípios de Economia Política. Rio de Janeiro: Pongetti, 1956, p. 15-43.

Acreditando ser a economia política a ciência por excelência do homem público, - do estadista ou do legislador, nas palavras de Adam Smith -, Silva Lisboa preocupava-se em divulgá-la e, por isso, seu livro tinha um caráter pedagógico. Princípios de economia política, apesar de endossar o moderno discurso dessa ciência, conservava, ainda que de forma atualizada, algo dos antigos textos sobre aconselhamento aos príncipes e relativos à arte de governar.307

Retoma-se, neste ponto, a análise de discurso efetuada nos Capítulos anteriores. O Visconde do Cairu variava os tipos de discurso, adaptando-os às suas intenções, ora de justificativa da Economia Política aplicada, ora de elaboração doutrinária sobre o mesmo tema. O trabalho de Cairu em “Princípios de Direito Mercantil”,308 conforme opina Tereza

Kirschner na transcrição acima, é feito de discurso demonstrativo, tal qual evidenciado nas suas já analisadas “Observações”. Em “Princípios de Economia Política”, o discurso migra para o tipo deliberativo de Aristóteles, isto é, para o nível de aconselhamento e, assim, guarda semelhança com “Estudos do bem comum”, em que se vê a preocupação pedagógica e aconselhadora de Cairu.