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Abordagem de Cluster Industrial

No documento UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (páginas 50-54)

PARTE I FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE INOVAÇÃO EMPRESARIAL

4. ABORDAGENS ACTUAIS DE REFERÊNCIA SOBRE INOVAÇÃO EMPRESARIAL

4.2. ABORDAGEM DE REDES E DAS RELAÇÕES INTER-ORGANIZACIONAIS

4.2.1. Abordagem de Cluster Industrial

Antes de focar a importância da análise da inovação em termos da abordagem de cluster industrial é conveniente definir o conceito de cluster. Cluster industrial traduz-se por “cachos” de empresas industriais, significando um aglomerado de empresas que se situam muito juntas. Este significado revela-se muito restritivo, pelo que, ao longo deste trabalho, utilizar-se-á o vocábulo em inglês - cluster - para se perceber mais claramente que se trata de um conceito técnico que se define como “uma concentração geográfica, numa área específica, de empresas interligadas e instituições” (Porter, 1998: 78). A noção de cluster permite captar as interacções entre agentes económicos interdependentes (incluindo nestes não só as empresas, como também as instituições públicas e outras com acção no campo económico) geradas num quadro espacial definido (local ou regional).

Na abordagem dos clusters industriais, o estudo da inovação mereceu particular destaque no Modelo do "Diamante da competitividade" de Porter (1990) e, mais recentemente, no Modelo da capacidade inovadora nacional (Stern, Porter e Furman, 2000; Porter e Stern, 2001; Furman, Porter e Stern; 2002). Este modelo considera que os factores determinantes da capacidade inovadora nacional englobam os seguintes elementos gerais: a infra-estrutura comum de inovação, o ambiente de inovação específico de um cluster para a inovação e a qualidade das ligações entre estes dois elementos gerais, como se apresenta na Figura 4.2.

Figura 4.2- Factores Impulsionadores da Capacidade Inovadora Nacional

A infra-estrutura comum de inovação é o “conjunto de factores fundamentais que suportam a inovação no conjunto da economia” (Porter e Stern, 2001:29). Segundo estes autores, a infra-estrutura comum de inovação compreende os recursos humanos e financeiros que um país dedica aos avanços tecnológicos e científicos, o nível de sofisticação tecnológica da economia e as políticas de apoio à inovação. Estas políticas devem incluir medidas de protecção à propriedade intelectual e incentivos fiscais às actividades inovadoras. Deste modo, a infra-estrutura comum de inovação impõe as condições básicas para a inovação, mas são as empresas que produzem e comercializam inovações.

O ambiente de inovação específico dos clusters é evidenciado no modelo de diamante introduzido por Porter (1990). Este autor defende que o ambiente no qual as empresas estão inseridas, estimula a inovação nessas mesmas empresas. De acordo com o mesmo autor o ambiente pode sintetizar-se em torno de quatro atributos que, de forma integrada, formam o Modelo de “Diamante” de Porter. Os quatros atributos são: as condições dos factores; as condições da procura; as indústrias relacionadas ou de suporte; a estratégia, a estrutura e a rivalidade empresarial.

Nas condições dos factores incluem-se a disponibilidade e o custo de acesso ao capital, mão- de-obra, terra, recursos naturais e também o acesso a matérias-primas, tecnologia, existência de infra-estruturas especializadas e recursos humanos qualificados. Porter assinala a importância do factor ligado às habilidades e capacidades técnicas de mão-de-obra de um país relativamente aos restantes.

Relativamente às condições da procura interna de produtos e serviços de uma indústria, Porter assinala a importância da qualidade desta procura, mais do que a sua quantidade. Analisa questões como a composição da procura, a existência de compradores exigentes e entendidos, a dimensão do mercado e seu crescimento e a capacidade de antecipar as preferências do mercado internacional. Porter (1990) salienta que a presença de clientes locais exigentes exerce uma pressão motivadora sobre as empresas incentivando-as a inovar.

A existência de indústrias relacionadas e de suporte afirma-se muito importante quer pela qualidade e inovação que os fornecimentos induzem, quer pelo estímulo à inovação que a circulação de informação e concorrência proporcionam. Neste elemento, Porter realça a importância das relações das empresas com os parceiros externos e a sua implicação nos processos de inovação.

A estratégia, estrutura e rivalidade empresarial que molda o ambiente nacional de certa actividade, constitui o determinante do diamante, pela dinâmica que este atributo impulsiona através da rivalidade. Para Porter (1990), a inovação é estimulada pela rivalidade, através da pressão concorrencial que o meio envolvente exerce sobre as empresas. A seguinte afirmação de Porter (1990:60) é disso elucidativa: “A inovação muitas vezes resulta da pressão, da necessidade ou de alguma adversidade. Por vezes o receio de perder confere mais poder do que a expectativa de ganhar”. Acrescenta ainda que “a rivalidade interna, como qualquer outra rivalidade, cria pressões sobre as empresas para que se aperfeiçoem e inovem. Os rivais locais pressionam-se reciprocamente para a redução de custos, a melhoria da qualidade e dos serviços, e para a criação de novos produtos e processos” (Porter, 1990:137).

Porém, regista-se que a forma como, em 1990, Porter equaciona o papel da rivalidade no estímulo do processo inovador se revela limitado, ao restringir a inovação a algo comandado pela pressão. Esta limitação foi suplantada pelo recente modelo da capacidade inovadora nacional de Porter e Stern (2001), no qual se realça o papel de outros factores impulsionadores da capacidade inovadora nacional, associados a cada um dos elementos do diamante, como se apresenta no Quadro 4.1:

Quadro 4.1 - Factores Impulsionadores de Inovação num Cluster Industrial

Elementos do "Diamante" Factores impulsionadores de inovação

Condições dos factores

- Recursos humanos altamente qualificados, nomeadamente de cariz técnico, científico e de gestão.

- Sólida infra-estrutura de investigação básica nas universidades - Infra-estrutura de informação de alta qualidade

- Amplo fornecimento de capital de risco

Condições da procura - Clientes locais sofisticados e exigentes - As necessidades dos clientes locais devem antecipar as necessidades dos consumidores de outras regiões

Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas

- Contexto local que fomente o investimento numa actividade relacionada com a inovação

- Concorrência forte entre rivais na mesma localização Indústrias relacionadas e de

apoio - Presença de bons fornecedores e de indústrias relacionadas e de apoio - Presença de clusters como alternativa a indústrias isoladas Fonte: Adaptado de Porter e Stern (2001), pág.30

Assim, o ambiente de inovação específico dos clusters é obtido pelas interacções entre os quatro elementos do "diamante" e pelos factores impulsionadores de inovação associados a cada um desses elementos.

No modelo de capacidade inovadora nacional, a competitividade do cluster e a sua capacidade inovadora dependem da infra-estrutura comum de inovação, do ambiente de inovação específico do cluster e da qualidade das ligações que se estabelecem entre eles. As ligações estabelecidas entre estes dois elementos determinarão até que ponto o potencial de inovação fomentado pela infra-estrutura comum de inovação se traduz em resultados inovadores específicos para os clusters industriais.

A ligação entre os dois elementos gerais do modelo pode ser feita por uma variedade de organizações e de redes formais e informais, que os investigadores denominam instituições de colaboração. Neste âmbito, Porter e Stern (2001) focam em particular a importância do sistema universitário nacional que fornece uma ponte entre a tecnologia e as empresas.

No processo de difusão da inovação é fundamental fomentar fortes ligações entre a infra- estrutura comum de inovação e as empresas de um cluster industrial. Na realidade, essa infra- estrutura determina um conjunto de recursos de apoio à inovação disponíveis numa economia, mas são as empresas a introduzir e comercializar essas inovações, pelo que é necessário estabelecer uma ponte entre os elementos da infra-estrutura comum de inovação e as empresas do cluster industrial.

Porter e Stern (2001) apresentam os efeitos de clusterização, isto é, as principais vantagens de que as empresas situadas num cluster podem usufruir. Assim, as referidas empresas têm vantagens potenciais na percepção de necessidades e oportunidades para a inovação. Revela- se igualmente importante a flexibilidade e a capacidade dos clusters para rapidamente converterem em realidade as novas ideias. A empresa que se situa num cluster tem possibilidade de obter mais rapidamente as novas componentes, serviços, maquinaria e outros elementos necessários à implementação de inovações. No cluster, os fornecedores e os parceiros locais podem estar mais envolvidos no processo de inovação e os relacionamentos necessários à inovação são mais fáceis de encontrar através dos participantes próximos (Porter e Stern, 2001).

A abordagem de Cluster Industrial realça que as empresas não inovam isoladas do seu contexto envolvente e que a inovação resulta de um processo de interacção das empresas com outras empresas e instituições, geradas num quadro espacial definido.

No documento UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (páginas 50-54)