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Esforço Tecnológico

No documento UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (páginas 79-93)

PARTE I FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE INOVAÇÃO EMPRESARIAL

4. ABORDAGENS ACTUAIS DE REFERÊNCIA SOBRE INOVAÇÃO EMPRESARIAL

5.1. RECURSOS E CAPACIDADES TECNOLÓGICOS

5.1.1. Esforço Tecnológico

A utilização dos gastos em I&D, como a única medida explicativa do esforço tecnológico realizado por uma empresa, poderia gerar resultados parciais e pouco exaustivos, dado que o processo de inovação é mais amplo do que a mera realização de actividades de I&D. A partir destes factos, neste trabalho, propõe-se analisar o esforço tecnológico, considerando outras actividades de inovação que podem ser realizadas pela empresa, como também as actividades geradas externamente e que a empresa adquire.

Assim, o esforço tecnológico, também designado por alguns investigadores como esforço

inovador, reflecte o volume de recursos que a empresa dedica à realização de actividades inovadoras por período de tempo. Compreende um conjunto de actividades de inovação cuja

Quadro 5.1 – Esforço Tecnológico

Esforço Tecnológico

Origem interna Origem externa

Investigação e desenvolvimento realizados na empresa (I&D interna)

Aquisição de serviços de I&D (I&D externa)

Formação Interna Formação externa

Actividade contínua de I&D na empresa Aquisição de conhecimentos externos Aquisição de maquinaria e de equipamento Actividades de marketing e outras, internas à empresa,

orientadas para a introdução no mercado de produtos novos ou significativamente melhorados

Actividades de marketing e outras, externas à empresa, orientadas para a introdução no mercado de produtos novos ou significativamente melhorados

Fonte: Elaboração própria

Como se pode constatar no Quadro 5.1, o esforço inovador abarca um leque de actividades de inovação, definidas de uma forma sucinta e consistente no CIS II (1999:5) que aqui se toma como referência:

• Actividades de Investigação e Desenvolvimento (I&D) compreendem todo o trabalho criativo empreendido numa base sistemática com vista a aumentar a reserva de conhecimento da empresa, assim como a utilização dessa reserva no desenvolvimento de novas aplicações, tais como produtos ou processos novos ou significativamente melhorados.

- I&D Interna diz respeito as actividades de I&D realizadas no seio da empresa. - I&D Externa abrange a aquisição de serviços de I&D a empresas, entidades públicas

e privadas.

De acordo com a revisão da literatura efectuada, a medida mais utilizada para avaliar o esforço inovador é a actividade em I&D. No entanto, sendo o processo de inovação mais amplo do que a realização formal de actividades de I&D, consideram-se as actividades complementares às actividades de I&D que permitem à empresa melhorar a sua capacidade inovadora. Relativamente a estas actividades destacam-se:

• Formação - corresponde à formação interna e externa especificamente orientada para a introdução e/ou desenvolvimento de inovações.

• Aquisição de outros conhecimentos externos - abrange a aquisição de conhecimento no exterior sob a forma de patentes licenças, know-how, marcas, software, e outros tipos de conhecimento externo para implementar na empresa.

• Aquisição de maquinaria e de equipamento - corresponde à aquisição de maquinaria avançada, hardware ou outros equipamentos ligados especificamente a produtos ou processos novos ou significativamente melhorados.

• Actividades de marketing e outras -internas ou externas, orientadas para a introdução no mercado de produtos novos ou significativamente melhorados (pode incluir estudos de mercado, testes de mercado, publicidade de lançamento).

• Actividade contínua de I&D na empresa - evidencia se na empresa existe uma preocupação contínua de desenvolvimento deste tipo de actividades ou se porventura é meramente ocasional, ou até mesmo inexistente.

Genericamente, pode-se dizer que todas estas actividades de inovação são susceptíveis de influenciar o resultado inovador da empresa, ou seja, a capacidade inovadora empresarial, dado que estão orientadas para a introdução e desenvolvimento de produtos (bens/serviços) ou processos novos ou significativamente melhorados. Contudo, a empresa só pode usufruir dos efeitos destas actividades se tiver a capacidade de absorver inputs tendo em vista gerar

outputs. Esta capacidade denomina-se capacidade de absorção.

Nos últimos anos, o corpo da literatura sobre o processo de inovação empresarial tem dedicado particular atenção à capacidade de absorção definida como a capacidade que a

empresa tem em identificar o novo conhecimento externo relevante, assimilá-lo e aplicá-lo para um fim empresarial (Cohen e Levinthal, 1989, 1990). Para avaliar empiricamente a

importância da capacidade de absorção na capacidade inovadora empresarial, Cohen e Levinthal (1989, 1990) utilizaram o indicador denominado Intensidade de I&D que se expressa pelo rácio entre as Despesas de I&D sobre as Vendas. Deste modo, os investigadores, ao considerarem o montante de recursos dispendido em actividades de I&D relativamente ao volume de vendas, pretenderam expressar e quantificar a capacidade da empresa para identificar e usar conhecimento externo relevante nas actividades inovadoras internas.

Cohen e Levinthal (1990) argumentam que uma empresa com maior capacidade de absorção tem maior capacidade em aprender; apresenta uma competência superior para realizar I&D interno e conduzir a colaboração em I&D com outras organizações; evidência maior

capacidade de assimilar e reproduzir o novo conhecimento obtido por fontes externas e, consequentemente, de produzir mais inovações.

Tsai (2001) afirma que as empresas não são idênticas na captação de conhecimento, não só porque diferem no acesso ao novo conhecimento, como também diferem na capacidade de aprendizagem e de assimilação desse mesmo conhecimento. Acrescenta que as empresas sem capacidade de absorção não podem aprender ou transferir conhecimento, logo não absorvem

inputs tendo em vista gerar outputs.

Estudos empíricos sublinham em particular o papel da capacidade de absorção no processo inovador (Vengelers, 1997; Cantner e Pyka, 1998; Tsai, 2001). Segundo Tsai (2001), a capacidade de absorção tem um efeito significativo na capacidade inovadora de uma empresa. Os resultados sugerem que uma elevada capacidade de absorção está associada à oportunidade de melhor aplicar o novo conhecimento em produtos comercializáveis e produzir mais inovações. Também em estudos anteriores (Vengelers, 1997; Cantner e Pyke, 1998) se concluiu que o nível, bem como a qualidade da capacidade de absorção varia de empresa para empresa e de um sector de actividade para outro. A capacidade de absorção de conhecimento externo é especialmente significativa em empresas de alta tecnologia e em indústrias de elevada intensidade de I&D, nomeadamente na indústria informática, electrónica, aeroespacial, de comunicações e farmacêutica.

A capacidade de absorção de uma empresa depende da sua dotação de recursos e de capacidades tecnológicas relevantes (Mowery, Oxley e Silverman, 1996). Deste modo, o investimento em I&D apresenta-se como uma condição necessária à criação de capacidade de absorção, assim como, a existência de recursos humanos qualificados e também de relacionamentos externos com parceiros da inovação. Portanto, a capacidade de absorção depende não só do volume de recursos que a empresa dedica a actividades de inovação, mas também das capacidades tecnológicas próprias da empresa.

5.1.2 – Capacidade Tecnológica

A importância da capacidade tecnológica da empresa para a obtenção de novos conhecimentos, estímulo de aprendizagem e exploração de conhecimento externo relevante é demonstrada nos trabalhos de Cohen e Levinthal (1989, 1990), Mowery, Oxley e Silverman (1996), Hoffman e al. (1998), Tsai (2001) e Romijn e Albaladejo (2002). Segundo estes autores, as empresas possuidoras de maior capacidade tecnológica apresentam maior aptidão para assimilar e reproduzir o novo conhecimento obtido por fontes externas e, consequentemente, têm a capacidade de produzir mais inovações.

Capacidade tecnológica define-se como o conhecimento, capacidades e aptidões necessárias às empresas para assimilar, adaptar, e modificar as tecnologias existentes e/ou desenvolver novas tecnologias (Lall, 1992; Romijn e Albaladejo, 2002). Vários investigadores (Hoffman e

al, 1998, Bougrain e Haudeville, 2002, e Romijn e Albaladejo, 2002) defendem que as empresas possuidoras de maior nível de pessoal qualificado evidenciam maior capacidade tecnológica interna.

Segundo Hoffman e al. (1998) e Romijn e Albaladejo (2002), as empresas que possuem uma força de trabalho qualificada estão mais aptas para assimilar e ajustar as novas tecnologias existentes e para criar e desenvolver novas tecnologias. Hoffman et al. (1998) acrescentam ainda que a falta de pessoal qualificado pode ser um constrangimento sério ao desenvolvimento do processo de inovação empresarial.

Para Bougrain e Haudeville (2002), o nível de qualificação do pessoal influencia a receptividade às fontes externas e a abordagem a problemas de inovação. Segundo estes investigadores, se as empresas confrontadas com problemas complexos tiverem pessoal com alto nível de qualificação estão mais aptas a resolver esses mesmos problemas; não só porque o nível de conhecimentos é superior, como também, esse mesmo pessoal tem a capacidade de reconhecer se é ou não capaz de resolver o problema em questão e, se não o for com as suas próprias competências, procura parceiros que ajudem a resolver.

Assim, as capacidades tecnológicas da empresa dependem dos seus recursos humanos qualificados, mas também do aproveitamento das interacções externas com outros parceiros, uma vez que estas interacções podem permitir a obtenção de informação sobre tecnologias e

mercados e também outros inputs complementares ao processo de aprendizagem interno, que a empresa só por si mesma não consegue desenvolver (Edquist, 1997; Hotz-Hart, 2000; Romijn e Albaladejo, 2002).

5. 2 – DIMENSÃO EMPRESARIAL

O debate em torno da importância da dimensão empresarial na capacidade inovadora permanece até a actualidade. De acordo com a revisão da literatura efectuada, os estudos sobre esta temática apresentam conclusões muito contraditórias. Torna-se, portanto, necessário aprofundar conhecimentos que permitam clarificar se existe alguma relação entre a dimensão da empresa e a sua capacidade inovadora.

O papel das grandes empresas na promoção da inovação foi evidenciado a partir das teses de Schumpeter. Segundo Schumpeter (1942), as grandes empresas apresentam capacidades internas de I&D apropriadas para o desenvolvimento sofisticado de inovações tecnológicas. Posteriormente, as abordagens da inovação “technology-push” e “market-pull” apresentam as razões reveladoras da maior capacidade de inovação das grandes empresas. Na abordagem de “technology-push”, a razão sustentadora desta ideia consiste no facto de que uma grande empresa possuir um maior número de empregados, pelo que supostamente terá equipas de trabalho que lhe permitam detectar as oportunidades oferecidas pelos conhecimentos científicos e transformá-los em possíveis aplicações comerciais. Também a abordagem “market-pull” apresenta argumentos que fundamentam a maior capacidade inovadora das grandes empresas. Segundo esta abordagem, as inovações surgem primordialmente de oportunidades de mercado, em que os relacionamentos entre o pessoal da produção e de marketing condicionam a capacidade de resposta às solicitações de mercado, na procura de soluções e oportunidades de negócio. Neste sentido, as grandes empresas estarão em melhores condições para atender às solicitações do mercado, assim como, para procurar soluções e oportunidades de negócio, pelo que apresentam vantagens relativamente às pequenas empresas.

Também as abordagens de redes industriais e dos recursos e capacidades salientam que as grandes empresas dispõem dos recursos e das capacidades necessárias e apropriadas para desenvolver inovações, enquanto que as pequenas empresas possuem capacidades e recursos limitados, podendo consistir numa condicionante importante ao processo de inovação.

Com estas abordagens, constata-se que uma grande parte da literatura defende a existência de uma relação positiva entre tamanho e inovação, uma vez que argumentam que a capacidade de inovação é superior nas grandes empresas relativamente às pequenas e médias empresas. Evidenciam a dimensão enquanto um factor impulsionador da capacidade inovadora empresarial. Investigações empíricas, realizadas em empresas portuguesas, confirmam igualmente que existe uma associação positiva entre a dimensão empresarial e a capacidade inovadora (Martins, 1999; Conceição e Ávila, 2001).

Contudo, Veciana (2002:8) defende tratar-se de um mito afirmar que “inovar é algo próprio da grande empresa”, porque “as PME são superiores na inovação empresarial”. Também investigações empíricas apresentam a existência de uma relação negativa entre dimensão e a capacidade inovadora empresarial. Na investigação empírica realizada nos EUA, por Acs e Audretsch (1991), concluiu-se que as PME (empresas até 500 empregados) apresentam uma taxa de inovação superior às grandes empresas, sendo a taxa de inovação calculada a partir do número de inovações a dividir pelo número de empregados. Destaca-se esta investigação não só pelos resultados apresentados, como também pelo suporte quantitativo de dados. Com efeito, nesta investigação utilizaram dados de 8.074 inovações introduzidas em 1982.

Outros estudos defendem que as pequenas empresas, pelas suas próprias características, têm maior capacidade inovadora. A literatura sobre os distritos industriais revela que as pequenas empresas evidenciam maior capacidade inovadora porque detêm grande flexibilidade e grande capacidade de absorção, adaptação e melhoramentos das novas tecnologias para satisfazerem as necessidades específicas do mercado (Sengenberger e Pyke, 1992). Paralelamente a estes factos, estas empresas mantêm-se em contacto permanente com as necessidades dos seus clientes, pelo que introduzem pequenas alterações para poderem satisfazer essas mesmas solicitações. Assim, a necessidade de dar resposta às mudanças da procura resultará num processo contínuo de inovações incrementais. Também Rothwell e Dodgson (1994) afirmam que, relativamente à inovação, as pequenas empresas possuem vantagens comportamentais resultantes do seu dinamismo empresarial, flexibilidade interna e capacidade de resposta às

mudanças. Por outro lado, as grandes empresas apresentam vantagens materiais dado que detêm recursos tecnológicos e financeiros superiores aos das pequenas empresas.

Desta forma, constata-se que existe uma grande ambiguidade relativamente ao papel da dimensão na capacidade inovadora empresarial. Se, por um lado, as grandes empresas dispõem de recursos e capacidades necessárias e apropriadas à criação, desenvolvimento e implementação da inovação, por outro lado, são as pequenas empresas que, pelas suas características, se revelam como o principal veículo de introdução das novas ideias no mercado.

A tudo isto acrescentam-se ainda dois estudos que merecem destaque pelos resultados obtidos. O primeiro realizado por Grandstrand e Sjölander, (1990) mostrou que a introdução de produtos bem sucedidos pelas grandes empresas resultou das inovações criadas pelas pequenas empresas. Outro estudo considera que não existe qualquer associação entre a inovação e a dimensão empresarial (Simões, 1997). Por outras palavras, a dimensão da empresa não influencia o seu posicionamento no plano da inovação.

Apesar de toda esta problemática, é indiscutível que a dimensão empresarial constitui um factor importante e muito utilizado nas investigações empíricas que analisam os factores influenciadores da capacidade inovadora empresarial. Assim, neste trabalho analisar-se-á se a dimensão empresarial é um factor que influencia ou não a capacidade inovadora das empresas.

5. 3 – SECTOR DE ACTIVIDADE

Um factor que surge na maioria das investigações empíricas sobre a capacidade inovadora empresarial é o sector de actividade. Geralmente associa-se a inovação aos sectores que usam e desenvolvem tecnologias mais avançadas e, no entanto, é importante analisar qual o desempenho inovador das empresas dos restantes sectores. Os sectores de actividade são classificados utilizando a nomenclatura da CAE – 2ª Rev. (Classificação das Actividades Económicas – 2ª Revisão, 1993) como se apresenta no Quadro 5.2:

Quadro 5.2 - Sector de Actividade – CAE 2ª Rev.

Código Sector de actividade

15-16 Indústrias alimentares, bebidas e tabaco 17-18 Indústria têxtil e vestuário

19 Indústria do couro e produtos de couro 20 Indústria de madeira cortiça e suas obras

21-22 Indústria de pasta de papel, papel e cartão e seus artigos 23 Fabricação de coque e produtos petrolíferos

24 Fabricação de produtos químicos e fibras sintéticas 25 Fabricação de artigos de borracha e matérias plásticas 26 Fabricação de outros produtos minerais não metálicos 27-28 Indústrias metalúrgicas de base e de produtos metálicos 29 Fabricação de máquinas e equipamentos

30-33 Fabricação de equipamento eléctrico e de óptica 34-35 Fabricação de material de transporte

36-37 Outras indústrias transformadoras 40-41 Electricidade, gás e água

Fonte: CAE 2ª Rev (1993)

A conjugação da classificação anterior com o nível de intensidade tecnológica remete para a taxinomia proposta pela OCDE (1997a), segundo a qual os sectores de actividades são agrupados de acordo com quatro níveis de intensidade tecnológica: A - Alta tecnologia, MA – Média - alta tecnologia, MB – Média - baixa tecnologia e B – Baixa tecnologia. Dado que em Portugal o grupo de A - alta tecnologia (indústrias: aerospacial, computadores, electrónica, de comunicações e farmacêutica) tem pouca expressão e tendo-se optado pela utilização de dois dígitos do código da CAE – 2ª Rev., agrupam-se os sectores de actividade em três níveis de intensidade tecnológica como apresentado no Quadro 5.3:

Quadro 5.3 - Sector por Nível de Intensidade Tecnológica.

Nível de Intensidade

Tecnológica Nível de Intensidade Tecnológica (1993) CAE Descrição dos Sectores de Actividade 30-33 Fabricação de equipamento eléctrico e de óptica 24 Fabricação de produtos químicos e fibras sintéticas 29 Fabricação de máquinas e equipamentos

Elevada Intensidade

Tecnológica Média Alta Alta e

34-35 Fabricação de material de transporte

25 Fabricação de artigos de borracha e matérias plásticas 26 Fabricação de outros produtos minerais não metálicos 27-28 Indústrias metalúrgicas de base e de produtos metálicos Média Intensidade

Tecnológica Média Baixa

36-37 Outras indústrias transformadoras 15-16 Indústrias alimentares, bebidas e tabaco 17-18 Indústria têxtil e vestuário

19 Indústria do couro e produtos de couro 20 Indústria de madeira cortiça e suas obras

21-22 Indústria de pasta de papel, papel e cartão e seus artigos Baixa Intensidade

Tecnológica Baixa

23 Fabricação de coque e produtos petrolíferos Fonte: adaptado de OCDE (1997ª) e CAE – 2ª Rev. (1993)

Estudos anteriores realizados em empresas portuguesas apresentam resultados contraditórios. O estudo do CISEP/GEPE (1992) mostra que determinados sectores de baixa intensidade tecnológica, nomeadamente, têxteis e calçado, introduziram menos produtos novos e que as indústrias eléctrica e electrónica têm uma boa posição na inovação do processo. Também Conceição e Ávila (2001) verificaram que as empresas que mais inovam são de intensidade tecnológica mais elevada e as que menos inovam de baixa intensidade tecnológica. Assim, conclui-se que existe uma relação entre intensidade tecnológica e capacidade inovadora empresarial.

Pelo contrário, Martins (1999:195) afirma que “a inovação é independente dos sectores de actividade”, portanto não se pode aceitar que o nível tecnológico seja determinante da inovação. No entanto, o mesmo investigador considera que é importante considerar em que medida os níveis de intensidade tecnológica influenciam o modelo proposto no estudo. Verificou que as variáveis que explicam o desempenho inovador variam segundo os diferentes níveis de intensidade tecnológica. Enquanto para níveis de baixa intensidade a inovação é influenciada pelo nível da procura e pelo nível de competitividade, para níveis superiores de intensidade tecnológica surgem como importantes origens da inovação a aquisição de equipamento, a cooperação e a I&D nos sectores de alta intensidade tecnológica. Deste modo, o sector de actividade é um factor a ter em conta no estudo da capacidade inovadora empresarial.

5. 4 – MERCADO

O modelo interactivo da inovação e a abordagem de market-pull, apresentados respectivamente nos pontos 3.4 e 3.3 deste trabalho, colocam a ênfase nos estímulos provocados pelas condições da procura, designadamente demonstram que a satisfação de necessidades do mercado impulsiona a inovação.

Mais recentemente, o modelo Porteriano (ver ponto 4.2.1.) evidencia a importância da procura, ao referir que a presença de clientes locais exigentes e sofisticados exerce uma pressão motivadora sobre as empresas, incentivando-as a inovar. Perante um elevado nível de sofisticação dos clientes, as empresas são pressionadas a inovar tendo em vista a satisfação

das necessidades dos clientes locais, proporcionando a capacidade de antecipar necessidades de clientes de outras regiões e países (Porter e Stern, 2001).

Em Portugal, o nível de sofisticação da procura interna é fraco, sendo apontado como uma desvantagem no relatório de Porter, Monitor (1994), dado que os clientes não exercem um incentivo para as empresas portuguesas inovarem. Contudo, as empresas portuguesas que acedem a mercados internacionais exigentes e contactam com clientes sofisticados sentem essa pressão motivadora para inovar. A afirmação de Simões (1997:141) é disso elucidativa: “existe uma forte associação entre o empenhamento activo na internacionalização e o comportamento inovador das empresas estudadas”. Também Conceição e Ávila (2001) constataram que as empresas inovadoras analisadas têm mais do dobro do volume de exportação do que as empresas não inovadoras.

Portanto, a orientação de mercado pode ser um factor importante e influente na capacidade inovadora empresarial. A orientação de mercado é entendida como “as escolhas estratégicas efectuadas em termos de aposta nos mercados” (Simões, 1997:138). Deste modo, a orientação de mercado consiste na opção estratégica tomada pelas empresas quanto ao seu posicionamento no mercado. As empresas podem optar por posicionamentos muito diversos. Com o CIS II (1999) é possível tipificar esse posicionamento em termos geográfico através do rácio entre o volume de exportações sobre o volume de vendas da empresa. Este rácio indica qual a percentagem do volume de vendas que a empresa direcciona para o mercado externo, bem como para o interno.

A análise da orientação do mercado pode ser um factor importante na capacidade inovadora empresarial, principalmente porque as empresas portuguesas vivem num contexto competitivo, marcado pela internacionalização e globalização, que deve pressionar essas mesmas empresas a modernizarem-se quer em termos de bens tangíveis, quer na aplicação e melhoria de aspectos intangíveis, tais como: design, qualidade, prazos de entrega, serviços pós-venda, entre outros.

5. 5 – RELACIONAMENTOS EXTERNOS

Neste trabalho, a inovação não é entendida como algo de esporádico e fruto do acaso, nem como algo que resulta da acção isolada de um único actor. A inovação é vista como um resultado de um processo de aprendizagem interactiva, envolvendo quer a interacção entre

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