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Abordagem de Redes Industriais

No documento UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (páginas 64-68)

PARTE I FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE INOVAÇÃO EMPRESARIAL

4. ABORDAGENS ACTUAIS DE REFERÊNCIA SOBRE INOVAÇÃO EMPRESARIAL

4.2. ABORDAGEM DE REDES E DAS RELAÇÕES INTER-ORGANIZACIONAIS

4.2.3. Abordagem de Redes Industriais

A literatura sobre redes de empresas desenvolveu-se principalmente a partir da década de oitenta. Os principais centros de investigação desta abordagem situam-se nos países escandinavos, sendo de destacar a escola sueca de Uppsala pelo seu contributo inicial. Nesta abordagem foca-se a importância dos relacionamentos externos para a inovação; por este motivo nesta secção descreve-se resumidamente o modelo das redes industriais.

Segundo Axelsson e Easton, (1992:xiv) uma rede pode definir-se em termos genéricos como “um modelo ou metáfora que descreve um número, normalmente elevado, de entidades ligadas entre si”. Os mesmos autores acrescentam que, numa rede industrial, “as entidades são actores envolvidos no processo económico, os quais convertem recursos em produtos acabados e em serviços para os utilizadores finais, sejam eles indivíduos ou organizações. As ligações entre os actores são usualmente definidas em termos de transacções económicas, que se realizam dentro de um quadro de relações duradouras. A existência de tais relações é a razão de ser da rede industrial” (Axelsson e Easton, 1992:xiv).

O modelo de redes industriais proposto por Hakansson (1987) é constituído por três componentes: actores, actividades e recursos, conforme se representa na Figura 4.3:

Figura 4.3 - Modelo de Redes Industriais

Fonte: Hakansson (1987)

Actores

Diferentes níveis, desde indivíduos a grupos de empresas. Recursos Heterogéneos, físicos e humanos, inter-dependentes Actividades de transformação e de transferência. Os actores controlam os recursos e dispõem de conhecimentos sobre esses

recursos.

Os actores desenvolvem actividades e dispõem de conhecimento sobre essas

actividades

REDE

As actividades interligam os recursos e permitem o

Segundo Hakansson (1987), cada uma das componentes do modelo constitui em si própria uma rede, mas dada a sua interdependência relativamente às outras duas, a essa totalidade denomina-se rede industrial.

Os actores definem-se como aqueles que executam as actividades e/ou controlam recursos. Podem ser indivíduos, empresas ou partes de empresas e outro tipo de instituições (Hakansson, 1987; Hakansson e Johanson, 1992). De acordo com os autores citados, os actores desenvolvem relações entre si através de processos de troca, pelo que cada actor se encontra envolvido numa rede de relações mais ou menos fortes. Através das relações, cada actor tem um controlo indirecto sobre recursos e actividades dos outros. Os actores têm como objectivo principal aumentar o controlo da rede de modo a possibilitar a mobilização de recursos para finalidades específicas (Hakansson e Johanson, 1992).

As actividades são desenvolvidas pelos actores e através delas os actores usam recursos para combinar, desenvolver, trocar ou criar outros recursos. As actividades são fundamentalmente de dois tipos: transformação e de transferência. No primeiro tipo, os recursos estão sob o controlo directo do actor e são alterados de algum modo. No segundo tipo, através das actividades de transferência, o controlo directo do actor é transferido para outro. Estas actividades ligam as actividades de transformação dos diversos actores e criam relacionamentos entre eles (Hakansson e Johanson, 1992).

Os recursos são os meios utilizados pelos actores quando realizam actividades. Estão geralmente classificados em três categorias: recursos físicos (instalações, equipamentos, etc.), recursos financeiros e recursos humanos (força de trabalho, conhecimentos e relações). As possibilidades de utilização de um recurso específico com outros recursos através das actividades são ilimitadas e encontram-se associadas ao conhecimento e à aprendizagem dos actores. A afirmação de Hakansson (1987:195) é disso elucidativa “a única limitação sobre várias possibilidades de combinação de recursos é a criatividade humana”.

O pressuposto base do modelo Actores, Recursos e Actividades consiste no facto de a empresa individual depender de recursos controlados por outras empresas. O acesso aos recursos depende da posição da empresa na rede (Ibarra, 1993).

As empresas não possuem todos os recursos de que necessitam, para o desenvolvimento das suas actividades, têm que efectuar trocas de recursos com outros actores (Easton, 1992; Hakansson e Johanson, 1988). A rede pode ser a melhor forma de as pequenas empresas compensarem a falta de recursos, pois esta pode ser a fonte de recursos de que necessitam (Gibb, 1993 e Premaratne, 2001). A rede também pode incrementar a capacidade dos actores acederem aos recursos, dado que os empresários utilizam os relacionamentos como um meio de obtenção dos recursos de que necessitam (Birley, 1985; Galaskiewicz e Marsden, 1978; Greve, 1995; Ozcan, 1995). Vários trabalhos mostraram que a maioria dos empresários envolvidos numa rede apresenta maior sucesso quer na fase do processo estabelecido (Birley, 1985, Johannisson, 1986, 1988; Greve, 1995; Hansen, 1995), quer na fase inicial de desenvolvimento competitivo (Aldrich, Rosen e Woodward, 1987).

De acordo com Premaratne (2001), através da rede empresarial, as empresas conseguem obter recursos essenciais para a competitividade e sobrevivência no mercado. Outros investigadores corroboram esta afirmação ao considerarem que a competitividade das empresas é determinada não só por recursos internos, mas também através do acesso ao conhecimento e a recursos obtidos através do relacionamento com clientes, fornecedores, organizações de investigação, consultores, e com outros actores da rede (Jarillo, 1989).

Os relacionamentos com os vários actores da rede são particularmente importantes para o processo de inovação (Hakansson e Johanson, 1992). Considerando concretamente o caso da inovação do produto, verifica-se que a fabricação de um produto dificilmente se faz por um só actor; geralmente recorre-se à colaboração de vários actores dentro da rede. Deste modo, os relacionamentos entre os vários actores da rede possibilitam o conhecimento e os recursos necessários ao desenvolvimento de novos produtos.

Uma empresa beneficia de várias vantagens ao pertencer à rede. Para além das já apresentadas, existem outras. Castro (2002) sistematizou as seguintes:

• partilha de recursos e informação específica; • partilha de riscos;

• criação de valor conjunto, com base em competências distintas;

• facilitar a transmissão e geração de informação conhecimento e, consequentemente, inovação.

Na abordagem de rede industrial, os relacionamentos caracterizam-se pela estabilidade e duração, pelo que a confiança e a reputação assumem papéis fundamentais na formação dos relacionamentos entre os actores e, consequentemente, impedem a ocorrência de comportamentos oportunistas (Johnson et al. 1996; Nooteboom et al, 1997).

Nesta abordagem considera-se que, em condições de turbulência e de incerteza as empresas necessitam de se relacionar com os vários actores da rede tendo em vista a redução dessa mesma incerteza (Johanson e Mattson, 1991).

No documento UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR (páginas 64-68)