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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 177 6.1 CONCLUSÕES

2.4 GESTÃO DO CONHECIMENTO

2.4.1 Abordagem Conceitual

As intensas transformações na sociedade global consolidam o conhecimento como recurso da mais alta relevância para a competitividade dos indivíduos e das organizações. Nesse contexto, a gestão do conhecimento ganha em notoriedade por potencializar esse importante ativo, por meio de processos de sistematização,

Condições Promotoras Intenção Autonomia Flutuação/Caos criativo

Redundância

Variedade de requisitos Conhecimento explícito na organização Conhecimento tácito

na organização

Internalização

Socialização Externalização Combinação

Compartilha- mento do conhe- cimento tácito Criação de conceitos Justificação de conceitos Construção de um arquétipo Nivelação do conhecimento Mercado

Internalização pelos usuários Conhecimento tácito

dos usuários De organizações

colaboradoras

Conhecimento explícito como propaganda, patentes,

armazenamento, disseminação, enfim, aplicando técnicas e métodos que permitem às empresas identificar fatores facilitadores e/ou limitadores na geração, nas estratégias de uso e na retenção do seu conhecimento.

A importância conferida à produção acadêmica sobre, por exemplo, a gestão do conhecimento, foi corroborada com os dados resultantes da revisão sistemática, por onde se constatou que apesar do primeiro registro publicado na base de dados Scopus datar de 1966 e na Web of Science em 1974, é a partir do ano de 2005 que ocorre a maior intensidade de produção científica, alcançando nesses últimos seis anos 77% do total dos registros encontrados nessas bases. É possível destacar que nas outras áreas pesquisadas tal incremento ocorreu a partir do mesmo período, entretanto, em menor intensidade.

No campo do debate teórico, observa-se que não há significativas distinções entre uma definição e outra, contudo há sim diferentes contextos, baseados nos quais, foram concebidas. É Importante reter que no âmbito do desenvolvimento organizacional é comum que as organizações e seus gestores, incluindo também os teóricos do tema, ofereçam maior ênfase para alguns aspectos, como por exemplo, em dado momento a infraestrutura teve total atenção, em outro, foram os recursos tecnológicos, mais recentemente as pessoas e também fatores externos às organizações, como as transformações desencadeadas a partir da globalização econômica. Por certo, como ressaltam, entre outros, Drucker (2002), Soini et al. (2007), Nonaka e Takeuchi (2008), Vasconcelos (2008), King (2009), Yu e Ji (2011), o conhecimento é o recurso que contribui significativamente para sustentar a competitividade organizacional, emanado das pessoa, que consistem na sua verdadeira fonte.

Probst et al. (2002, p.29) estudaram uma série de condicionantes voltados à gestão do conhecimento, definindo o termo conhecimento, da seguinte forma:

“Conhecimento é o conjunto total incluindo cognição e habilidades que os indivíduos utilizam para resolver problemas. Ele inclui tanto a teoria quanto a prática, as regras do dia-a-dia e as instruções sobre como agir. O conhecimento baseia-se em dados e informações, mas, ao contrário deles, está sempre ligado a pessoas”.

Sob o ponto vista histórico, Wiig (1997) afirma que o conceito de gestão do conhecimento surgiu, pela primeira vez, em 1986. O autor menciona que a definição de “Gestão do Conhecimento” foi introduzida em um discurso durante a abertura da Conferência Européia de Gestão, patrocinada pela Organização Internacional do

Trabalho - OIT, das Nações Unidas. Wiig argumenta que a adoção de práticas de gestão do conhecimento por empresas teve seu início em 1975, com a Chaparral Aço, uma das primeiras organizações a adotar práticas de gestão do conhecimento.

Wiig (1997) pondera que a gestão do conhecimento possui como finalidade entender, focar e gerir de forma sistemática, explicitar para deliberar a construção de conhecimento, sua renovação e aplicação. Para Schultze e Leidner (2002), a Gestão do Conhecimento diz respeito ao ato de gerar, representar e estocar o conhecimento. Esse processo também contempla: transferência, transformação, aplicação, incorporação e sua proteção.

Gudas (2009) compreende que a gestão do conhecimento tem por objetivo, a criação de um contexto organizacional visando efetivar a geração, o armazenamento, a disseminação e o uso do conhecimento como fator essencial à competitividade organizacional em um ambiente em constante mudança. Para King (2009) as organizações adotam a gestão do conhecimento, procurando adquirir, criar e reter conhecimentos potencialmente úteis, disponibilizando-os no ambiente, criando um ciclo virtuoso baseado no uso e reuso desse ativo, favorecendo o comportamento organizacional na direção da competitividade.

Enaltecendo a relevância do conhecimento no âmbito das organizações, Sveiby (1998) já considerava que a gestão do conhecimento deixara de ser um modismo sobre a eficiência organizacional, tratando-se de um importante elemento na estratégia das organizações. Para ele, a gestão do conhecimento “[...] não é mais uma moda de eficiência operacional, faz parte da estratégia organizacional”.

Vasconcelos (2008) argumenta que a gestão do conhecimento aborda inúmeros aspectos da organização, tendo na sua amplitude de análise e atuação as principais diferenças em relação a outras áreas do conhecimento. Para a autora existe uma distância de visão focada racionalmente nas organizações e as questões de como lidar com o poder, conflitos, influência e cultura organizacional, que consistem em objetos de análise da gestão do conhecimento.

Para Bhatt (2001), a gestão do conhecimento não é uma simples questão de capturar, estocar e transferir informação, mas requer interpretação e organização da informação em múltiplas perspectivas.

Shannak (2009) considera que à gestão do conhecimento, no seu início, foi atribuída uma relação muito estreita com a abordagem tecnológica para a solução dos problemas organizacionais, contudo, percebe-se que o problema da gestão está

muito além dos recursos tecnológicos, residindo na complexidade das pessoas. Cabe mencionar que enquanto a tecnologia da informação e comunicação foi introduzida na indústria por volta de 1950, a gestão do conhecimento é inserida no contexto organizacional a partir de 1990, sendo assim, os recursos de tecnologia da informação e comunicação figuram como importantes elementos facilitadores da mobilidade do conhecimento na organização, contudo, servem apenas de suporte para a gestão do conhecimento.

Para Fialho (2007, p. 114), a gestão do conhecimento consiste no “[...] gerenciamento inteligente, ordenado, sistematizado e eficaz de tudo aquilo que a empresa sabe e agrega valor ao negócio”. Sabbag (2007) afirma ser a gestão do conhecimento um sistema integrado, que busca o desenvolvimento do conhecimento e da competência coletiva para ampliar o capital intelectual e a sabedoria das pessoas e das organizações. Angeloni (2002, 2008) define a gestão do conhecimento organizacional como o conjunto de processos que governa a aquisição, a criação, o compartilhamento, o armazenamento e a utilização de conhecimento no âmbito das organizações.

Para Yu e Ji (2011), no escopo das atividades de gestão do conhecimento, a coleta e o armazenamento de dados são fundamentais, pois o processo de aquisição do conhecimento é o mais básico e fornece relevantes recursos às organizações. Por outro lado, o armazenamento é extremamente importante, consistindo na base para a gestão do conhecimento, pois é a partir dessa fase que as organizações passam a acumular conhecimentos.

North (2010, p. 4) destaca que “a gestão do conhecimento não se restringe aos limites da empresa, mas abrange clientes, fornecedores, sócios e outros usuários externos. A gestão do conhecimento significa, portanto, uma abertura simultânea para fora e para dentro”.

Em meio a complexidade que envolve o conceito de gestão do conhecimento e que consistem as organizações, Kulkarni et al (2007) consideram a gestão do conhecimento como um conceito caracterizado pela multidisciplinaridade, que utiliza aprendizagem, comportamento e estratégias organizacionais, a sociologia, antropologia, economia, administração, entre outros, como fontes teóricas para sua base conceitual.

Rossetti (2009) acrescenta que apesar de ter alguns aspectos facilitados pelos instrumentos tecnológicos, a gestão do conhecimento está, em alto grau,

associada à cultura e às práticas organizacionais, uma vez que o conhecimento encontra-se distribuído por toda a organização.

Ichijo (2008) argumenta que a criação do conhecimento é um processo frágil, que não é passível às técnicas da administração tradicional devido às características do conhecimento em si, portanto, esse processo é potencializado pela moderna gestão do conhecimento, uma vez que o conhecimento é um produto social, gerado pela interação entre as pessoas.

A complexidade em gerir o conhecimento organizacional está refletida na citação de Levinson (2008, p. 1) ao apresentar sua visão de gestão do conhecimento, que apesar de parecer simples, no contexto organizacional, em função de uma série de fatores internos e externos, torna-se significativamente complexa. Para esse autor, gestão do conhecimento significa:

O processo pelo qual uma organização gera valor de recursos baseados em conhecimento e intelectualidade. Geralmente a geração de valor destes recursos envolve a codificação do conhecimento de colaboradores, parceiros, clientes e o compartilhamento destas informações entre colaboradores, departamentos e também outras empresas com o intuito de desenvolver melhores práticas (LEVINSON, 2008, p. 1).

De acordo com Ruggles (1998) a gestão do conhecimento consiste em um modelo interdisciplinar de negócio. Nessa perspectiva é possível afirmar que a gestão do conhecimento tem natureza interdisciplinar, pressupondo a integração de conhecimentos de diferentes disciplinas, por esse motivo, dentre outros, que a gestão do conhecimento organizacional depende da interação entre diferentes departamentos nas organizações, uma vez que a fração dos conhecimentos criados em cada unidade compõe o conhecimento integral de uma organização.

Com esse mesmo viés, cabe citar a abordagem de Demo (2000) acerca da pesquisa interdisciplinar, sobretudo ao enaltecer sua necessidade a partir de dois aspectos, conforme segue: (i) o processo de captação da realidade não é linearmente lógico, é sempre incompleto e, em parte, deturpa a realidade; (ii) a realidade, sendo complexa, apresenta-se multifacetada, extremamente prismática e escorregadia.

Pelo apresentado pode-se afirmar que o conhecimento é contextual e por isso mesmo não explica a realidade na plenitude, uma vez que a realidade é composta pela subjetividade dos diferentes atores que a formam.

Essas abordagens são pertinentes à investigação científica em ambientes cuja dinâmica social determina os fatos. O meio rural apresenta sua face

interdisciplinar em sua complexidade, influenciando e sendo influenciado por fatores internos e externos, dentre outros, culturais, políticos, econômicos, naturais, sociológicos, exigindo pesquisa e ação multidisciplinar visando para seu melhor entendimento.

Figueiredo (2005) considera que a gestão do conhecimento tem por função criar mecanismos e procedimentos procurando estimular a formação de competências e ampliar de forma generalizada o conhecimento organizacional. O autor destaca objetivos tais como:

 Promover a criação, acesso, transferência e a utilização do conhecimento em benefício dos negócios;

 Encontrar as melhores formas de mobilizar e alavancar o conhecimento individual, para que possa se tornar parte integrante do conhecimento organizacional;

 Sedimentar a memória da organização, criar instrumentos de respostas, fortalecer processos produtivos, melhorar produtos e serviços, alavancar a inovação e a competitividade;

 Melhorar o atendimento ao cliente, aos acionistas, atrair e reter os melhores talentos, elevar a autonomia dos colaboradores, facilitar e incentivar a aprendizagem em todos os níveis da organização, aproveitar o conhecimento humano, melhorar a tomada de decisão;

 Criar e potencializar redes de conhecimentos, unir conhecimentos dispersos em unidades de negócios, estimular o trabalho cooperativo e a solução de problemas em equipes, realizar trocas de experiências, contatos sociais, proteger o conhecimento e ampliá-lo;

 Habilitar os gestores para a proatividade, a obtenção do conhecimento pelo benchmarking, a criação de um clima organizacional à criatividade e ao monitoramento do conhecimento.

Os aspectos levantados por Figueiredo (2005) são relevantes e explicitam a complexidade do conhecimento e do ambiente organizacional e o quanto a gestão desse ativo pode oferecer de diferencial competitivo às organizações.

Para Bhatt (2001), os objetivos da gestão do conhecimento são os seguintes: criação do conhecimento; validação do conhecimento; apresentação do conhecimento; distribuição do conhecimento; aplicação do conhecimento. Vale ressaltar que o cumprimento desses objetivos depende da determinação e definição,

por parte da organização, das estratégias a serem adotadas para a retenção do seu capital intelectual e de que forma esse será traduzido em vantagens competitivas.

Segundo Gariba (2010, p. 59):

[...] para que isso ocorra, é necessário que a empresa detecte e rastreie os canais informais, trate, analise e sistematize os conhecimentos dispersos por meio das tecnologias da informação e crie, estimule e ofereça condições propícias para o aprendizado, para a socialização e para a renovação do conhecimento no ambiente organizacional.

Para a gestão do conhecimento se efetivar há necessidade de que as organizações invistam em infraestrutura, criem condições para a aplicação de técnicas, para o armazenamento, a disseminação e outros processos inerentes à construção do conhecimento. Para Nonaka e Konno (1998), Nonaka e Takeuchi (2008) e Wolff (2008), há necessidade das organizações perceberem que investir em conhecimento requer volumes expressivos de capital financeiro, principalmente do ponto de vista em dispor a necessária infraestrutura para as atividades intensivas em conhecimentos de seus colaboradores e demais atores pertencentes ao seu ambiente.

North (2010, p. 5), afirma existir três condições para se cumprir a transferência efetiva de conhecimentos numa empresa, quais sejam:

 Condições básicas: o modelo de empresa, as diretrizes e os sistemas de incentivo devem acoplar o êxito das unidades de negócio e a contribuição ao desenvolvimento da empresa;

 Regras do jogo: deve-se conseguir na empresa um mercado de conhecimentos com oferta e demanda;

 Processos/estruturas: devem ser desenvolvidos suportes e meios eficientes de organização e transferência do saber.

Nessa toada, King (2009) elenca dez fatores a serem pesquisados nas abordagens sobre gestão do conhecimento organizacional. :

 Como usar a gestão do conhecimento para obter vantegem competitiva;

 Como as organizações, especialmente seu corpo diretivo, devem apoiar a implantação e desenvolvimento das ações de gestão do conhecimento;

 Como identificar e manter o conhecimento como principal ativo orgazacional;  Como motivar as pessoas a compartilhar seu conhecimento para a organização;  Como identificar conhecimentos relevantes para a organização;

 Como avaliar os custos e os benefícios financeiros gerados pela gestão do conhecimento;

 Como avaliar a eficácia, legitimidade e relevância da contribuição do conhecimento individual para o conhecimento organizacional;

 Qual a melhor forma de projetar e desenvolver um sistema de gestão do conhecimento;

 Como sustentar o desenvolvimento e progresso organizacional;  Como garantir a segurança do conhecimento organizacional.

De fato é necessário perceber e acreditar que a gestão do conhecimento deve focar inúmeros elementos inerentes ao conhecimento organizacional no seu contexto. Portanto, a gestão do conhecimento organizacional atua em meio à infraestrutura, cultura, processos, pessoas, enfim, fatores internos e externos à organização.

Evanschitzky et al. (2008), Ozmen (2010), Ozmen e Muratoglu (2010) e Verbug e Andriessem (2011) consideram que no âmbito organizacional os conhecimentos são traduzidos em métodos e processos de trabalho, mas somente são materializados dessa forma se as organizações atuarem no sentido de motivar constantemente as pessoas ao compartilhamento de conhecimentos.

Diante do exposto, Winkler e Mindl (2007) consideram que a gestão do conhecimento não deve ser implantada isoladamente na organização, mas sim, introduzida em seu contexto, pelo fato de otimizar os processos negociais.

A criação do conhecimento organizacional consiste em um processo complexo, que depende principalmente dos indivíduos, contudo, é influenciado também pelas condições infraestruturais, culturais, políticas, enfim, pelo ambiente organizacional que oferece fundamentos à sua produção. Dessa forma, a gestão do conhecimento é igualmente complexa, por seu viés multi e interdisciplinar, possibilita às organizações não somente criar, mas adotar estratégias para uso e retenção de seus conhecimentos.