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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 177 6.1 CONCLUSÕES

2.4 GESTÃO DO CONHECIMENTO

2.6.1 Aspectos Históricos: surgimento e desenvolvimento

É provável que desde o início das atividades com a agricultura, a extensão rural venha sendo praticada. Segundo Oliveira Jr. (1989, p. 10) “a agricultura começou a ser desenvolvida no período chamado neolítico, há aproximadamente 10.000 anos”. A agricultura como outras atividades não surgiu repentinamente, mas fruto de uma série de condições históricas e socioeconômicas reunidas em determinado contexto, permitindo a passagem da sociedade de um status para outro.

Para Caporal (1991, p. 33), “a extensão rural surge embrionariamente com as transformações das relações advindas do modo de produção capitalista”. O autor ressalta que isso não significa que em períodos anteriores não tenha havido processos de transferência de informações. Mesmo em um período onde as técnicas de plantio, armazenagem irrigação e outras, pareciam rudimentares, havia a necessidade da aprendizagem, da transmissão de conhecimentos, da orientação, da capacitação, enfim, da execução de atividades características da extensão rural.

Jones (1989), Freitas (1990) e Simon (1996) ponderam que a Carta de Clarendon (séc. XIX), consiste em um dos primeiros e mais relevantes documentos prescritivos das atividades da extensão rural. O documento traz em seu corpo a sugestão de ações com o objetivo de educar, capacitar e aconselhar os agricultores, possibilitando a adoção de práticas agrícolas mais racionais, capazes de livrar a Irlanda dos males causado pela crise da ferrugem da batata. Jones (1989) e Silva Filho (2010) consideram esse como um dos clássicos documentos que relata os primórdios da história da extensão rural no mundo. Para ambos, a Carta de Clarendon, exibe farta riqueza na prescrição das atividades de extensão, apresentando o perfil dos técnicos, o público-alvo, entre outros elementos que permitem, ainda hoje compreender e identificar o contexto do seu surgimento, o cenário de atividade da extensão rural, bem como a complexidade do meio rural.

Silva Filho (2010, p. 39) apresenta o texto integral da Carta de Clarendon, da qual, foi extraído o seguinte trecho:

[...] com esse objetivo tomo a liberdade de sugerir a Vossa Excelência que um grupo de pessoas deve ser escolhido, possuidoras de sólido conhecimento prático dos sistemas aperfeiçoados de agricultura aplicáveis a Irlanda e de uma educação geral que as permita comunicar oralmente

aquela informação de modo satisfatório e que tais pessoas sejam empregadas para visitar certos distritos, para fazer preleções sobre práticas agrícolas à população rural. Para essa população, um pequeno número de preleções em cada localidade seria suficiente. Vossa Senhoria pode possivelmente considerar três preleções respectivamente as vantagens de: drenagem e aração; rotações e colheita; adubação racionalizada, sendo essas informações de grande utilidade prática para a agricultura. Vossa Senhoria concordará provavelmente comigo que é muito importante que essas preleções não devam ser concebidas ou proferidas no estilo abstrato ou puramente científico, inadequado aos hábitos de pensamento e estado de educação das classes agricultoras; as mesmas devem ser formuladas numa linguagem simples e clara e podem, em alguns casos, ser ilustradas por demonstrações práticas.

O texto, além de caracterizar algumas atividades da moderna extensão rural ilustra, no seu desenvolvimento, uma clara preocupação com os aspectos educacionais que deveriam ser abordados durante as intervenções da extensão rural, sobretudo, afirmando contundentemente que as atividades necessitavam ser contextualizadas, ter linguagem simples e objetiva.

Segundo Freitas (1990, p. 7), a ideia sugerida pelo Lord Clarendon consistiu em uma extensão rural voltada para a capacitação, para o aconselhamento e persuasão dos agricultores objetivando fazê-los adotar novas práticas agrícolas. O caráter educativo da extensão rural se consolida como uma característica do sistema europeu, que procurava complementar a formação educacional dos jovens.

A partir do texto Carta de Clarendon, Simon (1996) define algumas características do perfil do extensionista europeu. Os extensionistas, no caso irlandês, deveriam ter conhecimentos técnicos e práticos aperfeiçoados à realidade daquele país, tendo como pré-requisito, a boa oralidade, para que a comunicação com o agricultor não tivesse ruídos. Na Inglaterra os extensionistas deveriam ter, além dos conhecimentos práticos em agricultura, conhecimentos nas áreas da filosofia, geografia, e como no caso da Irlanda, ser um bom comunicador.

Freitas (1990) afirma que na Inglaterra a seleção dos extensionistas era criteriosa, pois o objetivo residia em contratar pessoas com perfil indicado para atuar na extensão rural, uma vez que esses técnicos deveriam dominar vários conhecimentos e serem hábeis comunicadores.

Pelo apresentado, a extensão rural assume papel relevante no seu ambiente de atuação, exigindo de seus profissionais conhecimentos variados, afinidade com o meio rural e com o produtor agrícola, capacidade de comunicação, entre outras competências que consolida seu potencial na criação do conhecimento organizacional. Essas competências deveriam também ser encontradas nas

organizações de extensão rural, que em tese, além da definição de ações de campo, teriam para si o resultado das incursões dos técnicos extensionistas e todo o conhecimento agregado a cada nova atividade, como resultado de uma estratégia direcionada à competitividade.

Nesse sentido, cabe citar a caracterização feita por Mattos (2008, p.12) acerca do perfil profissional do extensionista rural exigido no atual momento:

O perfil profissional demandado pelos mercados de trabalho em extensão rural aponta para a formação de profissionais críticos, responsáveis, abertos, reflexivos, sensiveis a realidade local, proativos com conhecimentos diversificados em temas como gênero-urbano, movimentos sociais e políticas públicas.

Esse perfil se coaduna com o modelo de organizações baseadas em conhecimento e com o modelo de extensão rural fundamentado no desenvolvimento sustentável, em que as demandas da sociedade são variadas e complexas, além da exigência dos ators sociais em participar dos processos de tomada de decisão.

Cabe citar Swanson (2010) e Karimi et al. (2011), que definem alguns problemas na extensão rural, sobretudo em países em desevolvimento. Para esses autores, a gestão top-down; a deficiência e lentidão nas mudanças tecnológicas; a falta de ação inovadora; a ausênia de políticas de desenvolvimento humano interno e externo às organizações; a miopia organizacional e de lideranças políticas relativas às mudanças que ocorrem na realidade do meio rural; a falta de inovação adequada e proatividade; a falta de treinamento continuado dos quadros técnicos das organizações de extensão rural, figuram como elementos limitadores ou ocasionadores de problemas á ação de extensão rural, refletindo na sua incapacidade de responder às novas demandas ou prioridades locais, nacionais e globais. Na visão de Karimi et al. (2011), a resolução desses problemas passa necessariamente pela mudança no comportamento das organizações de extensão rural, sobretudo, a partir da definição da ação com foco na inovação, na proatividade, da tomada de decisão baseada no risco e na autorenovação. Além desses aspectos, Karimi et al. (2011) sugerem que a competitividade organizacional no âmbito das instituições de extensão rural passa por mudanças no seu comportamento, facilitadas pela adoção das seguintes medidas: gestão organizacional baseada em fluxos e relações horizontais; redução da formalização e burocracia; flexibilidade e autonomia na tomada de decisão; sistemas de controle menos formais; sistema de recompensas baseado em competências; política de

motivação para os colaboradores; melhoria do serviço e satisfação do cliente; processos de comunicação dinâmicos, eficientes e eficazes; melhores relações entre o corpo gerencial e os funcionários.