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1.2 A CULTURA NO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

1.2.2 Abordagem estrutural

Segundo Viana (2003), há duas grandes abordagens que norteiam o ensino de línguas: a estrutural34 e a comunicativa. De acordo com o mesmo autor, a abordagem

estrutural compreende a língua como um sistema de regras, cujos objetivos são voltados à memorização de vocabulário e domínio de princípios gramaticais, característica observável em alguns dos métodos baseados nela: o método gramática e tradução, o método direto e o método audiolingual, sobre os quais tratamos a seguir.

1.2.2.1 Método gramática e tradução

O método gramática e tradução se ocupava do ensino das línguas clássicas, latim e grego, e foi incorporado ao ensino de línguas estrangeiras modernas entre 1840 e 1940. Na opinião de Sánchez Pérez (2008), pretendia-se que o aluno fosse capaz de ler e traduzir textos literários, considerados como modelo de língua. As aulas eram ministradas na língua materna dos estudantes e o objetivo consistia na tradução de textos e fragmentos de textos de autores consagrados, bem como na memorização de regras da língua escrita. A assimilação de vocabulário se baseava em listas de palavras apresentadas nos materiais didáticos, de acordo com Paiva (2005), em duas

34 Cabe aqui distinguir o caráter estrutural dessa abordagem e o da concepção de Thompson (1995).

A primeira compreende a língua como um sistema de regras que se forma de acordo com estruturas gramaticais e o objetivo do ensino de línguas é dominá-las, conhecendo os elementos que a compõem como verbos, pronomes, adjetivos e a sua organização. Na segunda, o termo estrutural não é de cunho normativo, não implica o estudo de regras ou normas, e sim se refere à estrutura social, onde se desenvolvem os campos de interação e as intituições sociais, em que as formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas e com as quais estabelecem relação de dependência quanto ao sentido e valor.

colunas: uma em LE e outra com a respectiva tradução. A autora aponta também que nesses materiais havia explicações gramaticais e atividades de tradução e versão compostos por frases que se relacionavam com o tópico da lição. O primeiro livro produzido no Brasil voltado para o ensino e aprendizagem de E/LE foi a Grammatica da lingua espanhola para uso dos brasileiros, de Antenor de Veras Nascentes, publicada em 1920 e escrita toda em português seguindo o método gramática e tradução (GUIMARÃES, 2013).

Conforme esclarece Sánchez Pérez (2008), o ensino por esse método era restrito e, por isso, voltado apenas a grupos selecionados que tinham interesse em valores intelectuais. A cultura nessa perspectiva liga-se à concepção clássica, pois, segundo indica Galisson (1993), tornou-se sinônimo de literatura e de belas-artes como a pintura, a música, a escultura etc.

1.2.2.2 Método direto

Sánchez Pérez (2008) afirma que no método direto, surgido no início do século XX, priorizava-se a expressão oral e, assim, a língua era considerada um instrumento para a comunicação. Segundo o mesmo autor, a sistematização das regras gramaticais ocorria de modo indutivo, por meio do contato com diálogos situacionais cotidianos e frases consideradas úteis na comunicação. Não era permitido empregar a língua materna dos alunos, pois a aprendizagem deveria ocorrer mediante uso exclusivo da LE. Portanto, não se consentia a tradução e a explicação de vocabulário era realizada com o apoio em gestos e gravuras (SÁNCHEZ PÉREZ, 2008). Conforme Paiva (2004), nos manuais, o léxico era apresentado pela associação direta entre as imagens dos objetos e as palavras, que eram contextualizadas em frases e não mais por meio de listas como no método gramática e tradução. Em 1944, Julio do Amaral publicou Lecciones de Español: para el estudio de la lengua española en los cursos clásico y científico, escrito em espanhol e fundamentado no método direto (GUIMARÃES, 2013).

Do ponto de vista de Oliveira, A. (2007), a exposição da cultura meta se fundamentava na forma de história dos povos e estudo da geografia dos países falantes da língua-alvo e pelas informações incluídas nos diálogos que tinham a

intenção de refletir o cotidiano, evidenciando a aproximação à concepção descritiva, pois se restringia à ideia de costumes, modo de vida.

1.2.2.3 Método audiolingual

O método audiolingual, de acordo com Leffa (1988), surgiu da necessidade de falantes fluentes em um curto espaço de tempo para atuar no exército americano, em plena Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, o método foi incorporado e adaptado por universidades e outras instituições escolares e perdurou, com grande ênfase, até o início da década de 1970 (LEFFA, 1988). Conforme Sánchez Pérez (2008, p. 679), nesse método, a língua é considerada como sendo um “conjunto de estruturas hierarquicamente organizadas”35, dividida nos níveis fonológico, morfológico e

sintático, sendo o nível semântico o menos relevante.

O ensino da LE prioriza a oralidade em detrimento da leitura e escrita e consiste em processo mecânico de estímulo e resposta, baseado na teoria behaviorista de Skinner (1904-1990). A repetição contínua e insistente pauta tanto a prática oral, com memorização mecânica de frases de diálogos artificiais, quanto a assimilação das regras gramaticais de forma indutiva (SÁNCHEZ PÉREZ, 2008). Há uma grande preocupação em evitar erros, assim, as respostas corretas são reforçadas pelo professor enquanto os erros são corrigidos imediatamente.

Paiva (2004, 2005) afirma que os manuais didáticos que seguem esse método apresentam muitos exemplos artificiais de recombinação de frases pela troca de vocábulo ou sintagma, em que o nível de dificuldade é progressivo e as estruturas são repetidas diversas vezes até que o aluno as automatize.

No período em que o método audiolingual viveu seu apogeu, Robert Lado (1915-1995) manifestou interesse pelo ensino de cultura, publicando em 1957 a obra Introdução à Linguística Aplicada, na qual tratou de demonstrar que a comparação entre as línguas e culturas materna e estrangeira era a forma mais eficiente para a aprendizagem da LE. Lado (1957/197136) entendia a cultura como os costumes de um

povo, um sistema estruturado de comportamento padronizado, o qual o linguista listou

35 No original: “conjunto de estructuras jerárquicamente organizadas”.

em sua análise com o objetivo de conhecer as diferenças em relação a comportamentos de falantes e de aprendizes da LE, a fim de cultivar hábitos de tolerância e evitar mal-entendidos.

Apesar da importância que Lado outorgou ao conceito de cultura, este ainda foi estudado pelo autor de forma dissociada do ensino de língua, o que se evidenciou na estrutura de seu livro que, de seis capítulos, reservou apenas o último para a comparação das culturas, apartado da análise dos aspectos linguísticos.

Observa-se, assim, que tanto no método direto quanto no audiolingual a ênfase na exposição a situações cotidianas como tentativa de demonstrar comportamentos e modo de vida do estrangeiro evidenciou a concepção descritiva de cultura.

Apresentadas as devidas considerações sobre a abordagem estrutural, a seguir discorremos sobre os estudos preliminares do conceito de competência, para, em seguida, introduzir noções relativas à abordagem comunicativa.