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Abordagem neo-schumpeteriana de sistema de inovação

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Ageitec Agência Embrapa de Informação Tecnológica

2.1. Abordagem neo-schumpeteriana de sistema de inovação

A inovação é fundamental para o capitalismo introduzir mudanças técnicas, gerar dinamicidade na economia e promover vantagens competitivas para as empresas, por intermédio do ingresso de um novo bem ou novo método de produção ou pela abertura de um novo mercado (SCHUMPETER, 1942).

Schumpeter (1942) destacou as inovações como sendo o impulso fundamental que mantém em funcionamento a máquina capitalista e força dinâmica capaz de promover o desenvolvimento econômico. Este autor considerava como inovações7 os novos bens de consumo, novos métodos de produção ou transporte, os novos mercados e as novas formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista.

Por meio da distinção entre invenção, inovação e difusão, Schumpeter (1942) proporcionou a primeira tentativa de definição de mudança tecnológica, apontando a inovação como resultante do caráter das instituições econômicas e sociais. A mudança destas instituições em resposta às inovações implica num relacionamento endógeno entre sociedade e inovação. O desenvolvimento econômico, a partir das mudanças técnicas, é gerado pela ruptura do fluxo em determinado momento e pelo incentivo ao início de um novo ciclo contido na inovação tecnológica (CÁRIO E PEREIRA, 2002). Para Schumpeter (1942), os ciclos econômicos estão submetidos a uma lógica de “destruição criadora”,

engendrada na inovação, posto que a estrutura econômica é constantemente

modificada, através da substituição de antigos produtos e hábitos de consumo por novos.

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Aqui, cabe uma distinção conceitual da inovação radical e da incremental. A primeira é um processo de desenvolvimento e introdução de novo produto, processo ou forma de organização da produção e pressupõe uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior. Por seu turno, a inovação incremental caracteriza-se pela melhoria introduzida num produto, processo ou organização da produção dentro de uma empresa, sem que ocorra qualquer alteração na estrutura industrial (LEMOS, 2000).

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A “destruição criadora” analisa como o capitalismo administra as estruturas existentes e, principalmente, como ele cria e destrói tais estruturas.

As mudanças técnicas passam por saltos descontínuos e desequilibrados, ocasionados pelo “empurrão tecnológico” e funcionando como forças que impulsionam o desenvolvimento. As mudanças técnicas acontecem porque a atividade econômica apresenta movimentos cíclicos, em que o processo de desenvolvimento não ocorre de forma linear e contínua, mas sim por intermédio de interrupções que vão alternar situações de crescimento e de depressão (IGLIORI, 2002).

A partir da teorização de Schumpeter (1942), surgiu a abordagem neo- schumpeteriana que identifica na atividade inovadora da firma o elemento central de

análise do progresso técnico. Tal abordagem emergiu no contexto do debate quanto à

capacitação tecnológica das nações mais industrializadas, a partir de meados da década de 1970. Dentre os fatos históricos8 que intensificaram as discussões sobre o assunto estão: i) o baixo crescimento econômico nos países industriais avançados, no início da década de 1970, e, por outro lado, o desenvolvimento do Japão com grande poder econômico e tecnológico; ii) a aceleração do progresso técnico em alguns países em desenvolvimento, como a Coréia do Sul e Taiwan, que conseguiram diminuir o hiato- tecnológico em relação aos países líderes após a Segunda Guerra Mundial (SBICCA E PELAEZ, 2006).

A abordagem neo-schumpeteriana passou a tratar a inovação sob o enfoque de

sistemas, enfatizando a importância das ações coordenadas de diversos atores

institutos de PD&I, universidades, iniciativa privada, governo, órgãos de financiamento e fomento – para promoverem o desempenho tecnológico dos países. Dentre os autores que apresentam o quadro analítico de sistemas de inovação, destacam-se Lundvall (1985) que descreveu o sistema de inovação, num primeiro momento sem adicionar o termo “nacional”, e, mais tarde, em sua obra Lundvall (1992), enfatizou a aprendizagem na análise do sistema inovativo”; Freeman (1987) que incorporou o termo “nacional” na análise dos sistemas inovativos e estabeleceu um nexo causal entre as diferentes taxas de crescimento da economia e a relação com a inovação tecnológica entre países; Dosi et

8 Outro fato histórico anterior, relacionado ao processo de capacitação tecnológica de países, é o caso dos Estados Unidos que, no final do século XIX, conseguiram alcançar a Inglaterra e se consolidaram na liderança econômica e tecnológica em nível mundial após a Primeira Guerra (SBICCA E PELAEZ, 2006).

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al. (1988) que elucidaram melhor o conceito acerca das mudanças técnicas; Nelson (1993) e Edquist (1997) analisaram as diferenças entre os sistemas nacionais de inovação de países.

Aqui, cabe a definição de elementos centrais mencionados: sistema, inovação e

nacional.

Um sistema é constituído por um conjunto de elementos relacionados ou conectados entre si, sendo capaz de formar uma unidade, é um complexo de elementos em interação. A inovação, segundo Nelson e Rosenberg (1993), é um processo no qual as firmas apreendem e introduzem novas práticas, produtos, desenhos e processos. A inovação precisa ter um caráter interativo entre os diversos elementos (ou atores) relacionados. No caso de sistema de inovação, os diversos atores – institutos de PD&I, universidades, iniciativa privada, governo, órgãos de financiamento e fomento – correspondem os elementos do sistema, cujas instituições (interações entre os elementos) contribuem para o desempenho inovativo do conjunto (SBICCA E PELAEZ, 2006).

Assim sendo, um sistema de inovação é composto por elementos e relações, os quais interagem na produção, difusão e utilização de novos conhecimentos economicamente úteis (LUNDVALL, 1992). Freeman (1987) define um sistema de inovação como sendo a rede de relações de instituições, do setor público e privado, cujas atividades e interações modificam e difundem as novas tecnologias. Para Nelson e Rosenberg (1993), o sistema de inovação é formado por um conjunto de instituições, cujas interações determinam o desempenho inovador das empresas.

Nota-se que os elementos comuns na definição destes autores (Lundvall, 1992; Freeman, 1987 e Rosenberg, 1993) são as instituições, sendo públicas ou privadas, e a sua interação profícua com o objetivo central de produzir, difundir e usar novos conhecimentos. Em conformidade com esta abordagem, a inovação é vista como sendo um fenômeno fundamental e inerente à economia nacional e à competitividade das firmas. O sistema de inovação é compreendido como um processo que conta com a participação de atores e instituições, cujas interações geram importantes informações sobre os caminhos percorridos para o desenvolvimento.

O “nacional” de “sistemas nacionais de inovação” refere-se aos limites

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entre si compartilham da mesma cultura, história, instituições políticas e sociais (LUNDVALL, 1992). As fronteiras nacionais delimitam os sistemas de inovação focando os setores de atividades e as tecnologias.

A abordagem dos sistemas nacionais de inovação teve como consequência o acirramento do debate sobre a melhor forma da ciência e da tecnologia promoverem a inovação. No centro da discussão estão duas visões distintas: a) visão linear que defendia que a pesquisa científica era o principal motor da inovação para criação de novos conhecimentos e tecnologias que podem ser transferidas e adaptadas para diferentes situações; b) reforçava a importância da pesquisa e reconhecia a inovação como um processo interativo, envolvendo a interação de indivíduos e organizações que possuem diferentes tipos de conhecimentos levando-se em conta os fatores social, político, institucional e organizacional (BANCO MUNDIAL, 2006).

Na primeira visão, do modelo linear de inovação (Figura 2.1), acreditava-se que a ciência básica levava à ciência aplicada, que tinha como consequência a inovação e a geração de riqueza para os países. Partia-se da premissa que para se obter maior desenvolvimento econômico, dever-se-ia financiar mais a ciência. Também pela perspectiva linear, desenvolveu-se um modelo no qual as forças do mercado para a inovação passaram a ser consideradas, bem como sua demanda. Neste modelo, as instituições de pesquisa eram vistas trabalhando isoladamente (BANCO MUNDIAL, 2006).

Ciência Impulsionando (Science Push) Ciência

básica Engenharia Produção Marketing Venda

Mercado Demandando (Market Pull) Necessidades

do Mercado Desenvolvimento Produção Venda

Figura 2.1 - Modelo linear de inovação

Fonte: Arnold and Bell (2001).

Na segunda visão, nota-se uma ampliação da definição de sistema nacional de inovação. Para Edquist (2001), neste sistema importantes fatores – como econômicos,

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sociais, políticos, organizacionais e institucionais – influenciam o desenvolvimento, a difusão e o uso de inovações. O sistema de inovação foi proposto para contrapor o modelo linear, com a premissa que a inovação depende tanto do desempenho individual dos atores, como também da performance das interações entre todos eles. Portanto, a interação entre os atores é um fator chave para o bom êxito deste modelo (BANCO MUNDIAL, 2006).

A inovação passa a ser entendida não mais como um processo linear (da pesquisa básica para a aplicada e para o desenvolvimento e implementação na produção), mas sim como um processo de relações interativas (que envolve a ciência, a tecnologia, o aprendizado, a produção, a política e a demanda). Geração e difusão da tecnologia estão inseridas num contexto completo do sistema, se sobrepõem e fundem-se para incentivar ou obstar os processos de aprendizagem e de inovação (SBICCA E PELAEZ, 2006).

Como a aprendizagem está intrinsicamente relacionada à capacidade de inovar, ela é fator relevante para a acumulação da capacidade tecnológica das firmas. A aprendizagem, segundo Cimoli e Dosi (1992), pode ocorrer: (i) com investimento em pesquisa e desenvolvimento (PD&I); (ii) por processos informais de acumulação de conhecimento tecnológico dentro das firmas; e (iii) pela difusão de informação, serviços especializados e mobilidade de mão-de-obra. O processo de difusão de novas tecnologias é relevante neste contexto, com estratégias empresariais variadas, para promover um processo de aprendizagem decorrente do acúmulo de conhecimentos e capacidades tecnológicas que envolvem as firmas, as instituições e o ambiente em que operam.

As inovações são advindas de vários fatores inter-relacionados, que se diferenciam de acordo com a estrutura e o tipo da firma, dos setores, da região e do país em questão. A ideia da inovação pressupõe a combinação entre pesquisa básica (teorias, descobertas) e aplicada (testes e adaptações) –, desenvolvimento e sua integração com as condições econômicas presentes em cada espaço (DOSI ET AL., 1988).

Além da aprendizagem como relevante para o sistema de inovação, Roseboom (2004) e Edquist (2001) apresentam outras características do sistema de inovação: i) a interdependência e a não linearidade do processo inovativo, superando a visão linear de pesquisa-difusão-aplicação, evoluindo para uma visão interativa; ii) os atores – públicos e privados – não inovam isoladamente, mas por meio de interações entre si; iii) a

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importância que as instituições assume no contexto de relações entre os atores, entendendo por instituições as normas, regras, políticas e padrões de comportamento relacionados ao sistema de inovação); iv) incorpora todos os tipos de inovação (tecnológicas, de produtos – bens e serviços, de processos, organizacionais e de marketing).

Em relação ao papel dos atores, Roseboom (2004) classificou as principais funções de um sistema de inovação em: i) funções predominantemente de governo: formulação de políticas, regulação, alocação de recursos públicos; ii) governo e demais atores relacionados à inovação: financiamento, pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologia, capacitação de recursos humanos. Para Edquist (2001), uma das questões a ser esclarecida em termos de políticas refere-se ao estabelecimento com clareza de quais funções devem ser executadas pelo Estado e quais devem ser atribuídas para outros agentes.

A Figura 2.2 apresenta o mapa teórico do sistema brasileiro de inovação.

Figura 2.2 - Mapa teórico do Sistema Brasileiro de Inovação

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O Quadro 2.1 apresenta uma síntese dos elementos e funções do SNI.

Quadro 2.1 - Sistema Nacional de Inovação: elementos, funções e características Sistema Nacional de Inovação

E

lemen

-

tos

 Diversidade de atores (públicos e privados): institutos de PD&I, universidades, iniciativa privada, governo, órgãos de fomento

 Interação entre os atores: produzir, difundir e usar conhecimentos

Funções

 Do governo: formulação de políticas, regulação, alocação de recursos  Do governo e demais atores relacionados à inovação: financiamento,

pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologia, capacitação de recursos humanos C aracter íst ica s

 Superação da visão linear de pesquisa-difusão-aplicação, evoluindo para uma visão interativa de inovação

 Influência de fatores econômicos, sociais, políticos, organizacionais e institucionais para a geração, a difusão e o uso de inovações

 Atores públicos e privados inovam conjuntamente

 As instituições – normas, regras, políticas e padrões de comportamento – interferem nas relações entre os atores

 Abrangência de todos tipos de inovação Fonte: adaptado de Chaves (2010).

Surgiram estudos para analisar outros níveis de desagregação do SNI (Figura 2.3).

Figura 2.3 - Dimensões de análise do sistema de inovação

Fonte: Elaboração própria.

I

N

O

V

A

Ç

Ã

SISTEMAS DE INOVAÇÃO SUPRANACIONAL NACIONAL SETORIAL REGIONAL SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO AGRÍCOLA

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Como apresenta a Figura 2.3, os níveis de desagregação estudados no sistema de inovação são: supranacional (como o estudo da União Europeia ou da América Latina); âmbito nacional, dentro da fronteira do país, como apresentado até aqui; regional (como o do vale do silício nos Estados Unidos); setorial (como é o caso da agricultura) (SBICCA E PELAEZ, 2006).

A próxima seção aborda os desdobramentos do marco teórico do sistema de inovação com sua aplicação na agricultura.