• Nenhum resultado encontrado

Tecnologias: definição, tipologia e proteção à propriedade intelectual Os estudos sobre inovação, principalmente os de recorte neo-schumpeterianos,

Política Agrícola

2.5. Tecnologias: definição, tipologia e proteção à propriedade intelectual Os estudos sobre inovação, principalmente os de recorte neo-schumpeterianos,

também contribuíram para o esforço de sistematização de dados sobre o processo inovativo. Um destes esforços é o da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)17 que publica manuais que auxiliam a medição de atividades científica e tecnológica, bem como diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. Dentre os manuais, destaca-se o de Oslo (OCDE, 1997), uma das principais referências conceituais utilizadas para tipificação das tecnologias.

17

A OCDE é uma organização internacional de 34 países membros. Apesar do Brasil não ser membro da OCDE, isso

não obsta a utilização de seus manuais em pesquisas nacionais sobre inovação. Um exemplo disso é a Pesquisa de Inovação (Pintec) – que a partir de 2008 deixou de chamar Pesquisa de Inovação Tecnológica –, desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o IBGE (2011), é utilizada como referência conceitual e metodológica da Pintec a terceira edição do Manual OSLO (OCDE, 1997).

69

Antes de apresentar os tipos de tecnologias, de acordo com a OCDE (1997), cumpre definir alguns termos iniciais.

Primeiro, a palavra “tecnologia”, que segundo Sabato (1972, p. 15), é definida como sendo o “conjunto ordenado de conhecimentos científicos ou empíricos utilizados na produção de bens ou serviços na atividade econômica organizada”. A tecnologia é a expressão material de um processo que se manifesta por meio de instrumentos, máquinas, dentre outros, cuja finalidade é melhorar a vida humana. Em geral, o vocábulo tem dimensão instrumental de possibilitar o aumento de produtividade e competitividade. Segundo Vargas (1994), a tecnologia é o estudo ou tratado das aplicações de métodos, teorias, experiências e conclusões das ciências ao conhecimento dos materiais e processos utilizados pela técnica. Zawislak (1995) avança no conceito de tecnologia apresentando que ela é o resultado de um estoque de conhecimento cuja aplicação pode requerer a teoria (princípios abstratos), as leis científicas e as observações empíricas.

Recuperando o conceito apresentado na introdução da tese, a inovação18 é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Seu requisito primordial é a introdução no mercado do novo produto, processo ou método (OCDE, 1997).

Quanto à tipologia de inovações – objeto de ações de transferência de tecnologias – segundo o Manual de Oslo elas podem ser de produtos ou de processos, sendo que o termo “produto” é usado para tanto para bens como para serviços, de marketing e organizacionais, como ilustra a Figura 2.7 (OCDE, 1997).

18

A lei de inovação brasileira também utiliza esta definição prescrevendo que a inovação é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços. A criação, por sua vez, é definida como abrangendo a invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, software, topografia de circuito integrado, cultivar (nova ou derivada) e qualquer outro desenvolvimento tecnológico que acarrete ou possa acarretar o surgimento de novo produto, processo ou aperfeiçoamento incremental (BRASIL, 2004).

70

Figura 2.7 - Tipos de inovações

Fonte: elaboração própria a partir de OCDE (1997, p. 57-61).

É considerada a inovação de produto a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características funcionais ou usos previstos. O termo “produto” abrange tanto bens como serviços. Entre os melhoramentos incluem-se especificações técnicas, componentes, materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou características funcionais. Para a geração de inovações de produtos podem ser usado tanto conhecimento ou tecnologias novas, bem como pode incluir novos usos ou combinações para conhecimentos ou tecnologias existentes (OCDE, 1997).

Por seu turno, a inovação de processo é definida como sendo a implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. Dentre estas inovações inserem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares. Os objetivos da inovação de processo é a redução de custos de produção ou distribuição, a melhoria da qualidade e/ou a produção de produtos novos ou significativamente melhorados. Tal inovação pode envolver mudanças substanciais nos equipamentos e nos softwares utilizados em empresas orientadas para serviços ou nos procedimentos e nas técnicas que são empregados para os serviços de distribuição. A implementação de tecnologias da informação novas ou melhoradas é considerada uma

In

o

vações

PRODUTO (bem ou serviço) novo ou melhorado PROCESSO (método de produção ou distribuição)

novo ou melhorado MARKETING (método)

design e promoção do produto

ORGANIZACIONAL (método) práticas de negócios, relações

71

inovação de processo caso ela tenha por finalidade a melhoria da eficiência e/ou da qualidade de uma atividade auxiliar de suporte (OCDE, 1997).

Já a inovação de marketing é a implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços. Os objetivos desta inovação são a melhoria no atendimento às necessidades dos consumidores, a abertura de novos mercados e/ou o reposicionando do produto de uma empresa no mercado (OCDE, 1997).

Por último, a inovação organizacional é a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do seu local de trabalho ou nas relações externas da empresa. Os objetivos desta inovação abrangem a melhoria do desempenho – via redução de custos de administração e de suprimento –, aumento da produtividade do trabalho e/ou o acesso a conhecimento externo não codificado, via parcerias institucionais.

Inovações tecnológicas – em especial de produtos e processos – podem ser

objetos de proteção à propriedade intelectual como uma etapa do processo de difusão

e transferência tecnológica.

Os direitos de propriedade intelectual são um conjunto de ideias, invenções e expressões criativas — constituindo-se em ativos intangíveis — resultantes da atividade privada que por interesse público recebem status de propriedade (SHERWOOD, 1992). Estes direitos estão divididos em três campos de proteção: a propriedade industrial, o direito autoral e a proteção sui generis19. Os campos de proteção jurídica são um conjunto de estatutos e leis que regulamentam a propriedade intelectual. A Figura 2.8 apresenta os mecanismos protetivos dos direitos de propriedade intelectual20.

19

Para mais informações sobre os campos protetivos da propriedade intelectual, ver Mendes (2006), capítulo 1.

20

Os mecanismos de proteção à propriedade intelectual são particulares a cada País signatário do Acordo Trips (Acordo

sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio). Numa visão ampla, Trips abrange mecanismos jurídicos de proteção tais como patentes, marcas, desenhos industriais, indicações geográficas, direitos autorais, topografias, circuitos integrados e informações confidenciais. O Acordo prescreve que todos os membros da Organização Mundial do Comércio protejam a propriedade intelectual em conformidade com a Convenção de Paris e os acordos internacionais correlatos.

72

Figura 2.8 - Mecanismos protetivos de propriedade intelectual

Fonte: INPI E CNI (2010).

Quanto à apropriabilidade dos direitos de propriedade intelectual, ela pode ser classificada como forte ou fraca dependendo da natureza da tecnologia e da eficácia do sistema legal em conceder e proteger os direitos de propriedade intelectual: i) forte: quando é difícil replicar a inovação tecnológica e o sistema de PI proporciona barreiras legais à imitação; ii) fraca: quando a tecnologia é fácil de imitar e os ativos complementares – tais como marketing, manufatura, suporte pós-transferência e o estabelecimento de parcerias institucionais – tornam-se críticos e necessários (TEECE, 1986).

As dimensões mais importantes no regime de apropriabilidade são: a natureza da tecnologia e a eficácia dos mecanismos legais de proteção (Quadro 2.11).

Quadro 2.11- Dimensões do regime de apropriabilidade

Instrumentos Legais Natureza da tecnologia

o Patentes o Direitos autorais o Segredo industrial o Produto o Processo o Tácito o Codificado Fonte: Teece (1986, p. 287).

73

No que tange aos instrumentos legais, o autor argumenta que a patente não confere apropriabilidade perfeita embora possa atribuir uma proteção considerável para produtos químicos. A patente é ineficaz para a proteção de inovações de processos, pois são elevados os custos para defender a validade e os requisitos legais desta patente. Em setores nos quais a inovação está inserida em processos, o mecanismo de proteção via segredo industrial é uma alternativa no lugar da patente, desde que a empresa possa colocar o seu produto no mercado e ainda manter o segredo da tecnologia. Quanto à

natureza da tecnologia, o grau do conhecimento tácito ou codificado refletirá na

facilidade ou não da imitação. O conhecimento codificado é mais fácil de ser transmitido, sendo mais exposto à espionagem industrial. O tácito, por sua vez, por definição é mais difícil de transferir. O regime de apropriabilidade será forte quando a tecnologia for relativamente fácil de proteger, e será fraco quando for quase impossível de se proteger a tecnologia (TEECE, 1986).

Avançando na discussão atinente aos instrumentos legais para proteção intelectual da tecnologia com vista a sua transferência, voltado para a dimensão do campo protetivo da propriedade industrial, Assafim (2010) esclarece que a criação técnico-industrial é

o objeto da tecnologia protegida por direitos de propriedade industrial. Dentre os

instrumentos de proteção estão as patentes de invenção e de modelo de utilidade, desenho industrial, o segredo industrial ou know-how, e o programa de computador (este último no campo protetivo autoral). No que concerne à marca, apesar de ser instrumento fundamental para a concorrência econômica e comercialização de produtos e serviços, sua função é exercida fora do âmbito da técnica, pois ela não contém nenhum tipo de tecnologia. A marca contribui para distinguir um produto ou serviço – estes que trazem incorporada a tecnologia empregada em seu processo produtivo e não a marca –, mas não é veículo de transferência de tecnologia.

No que tange ao campo protetivo sui generis, dentre os instrumentos legais encontra-se o certificado de proteção de cultivar21. A lei de proteção de cultivares, que regulamenta a matéria, garante ao obtentor vegetal a remuneração pelo seu trabalho de

21

Segundo a Lei de Proteção de Cultivares do Brasil, Lei no. 9456/1997, artigo 3º, IV, a cultivar é definida como sendo a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por margem mínima de descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos (BRASIL, 1997).

74

melhoramento a partir do direito exclusivo de produção e comercialização das novas variedades obtidas.

A proteção de cultivar se efetua mediante a concessão do mencionado certificado de proteção de cultivar, considerando bem móvel para os efeitos de proteção. Confere o direito de comercialização de plantas ou de suas partes de reprodução ou multiplicação vegetativa no país, por um determinado prazo de tempo. Esta lei possibilita o intercâmbio de germoplasma entre diversas instituições internacionais (BRASIL, 1997).

Como apresenta Silveira (2004), a proteção das novas variedades vegetais fomenta o desenvolvimento tecnológico e econômico do país, na medida em que a obtenção de novas cultivares protegidas contribui para o avanço da agricultura brasileira.

A proteção dos direitos de propriedade intelectual pode ser uma importante etapa preparatória para o processo de transferência de tecnologia. A seção seguinte aborda os aspectos do processo de transferência.