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Adoção de tecnologia da informação na agricultura: condicionantes

Dimensão Difusão e Transferência Tecnológica

4. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO PARA A AGRICULTURA

4.2. Adoção de tecnologia da informação na agricultura: condicionantes

Nos setores econômicos, a adoção da TI não se efetivou de forma homogênea. Ao longo das últimas décadas, os setores de serviço, comércio e indústria promoveram um

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ambiente propício para a sua disseminação mais rápida do que no setor agrícola. A

agricultura, por sua vez – ainda que de forma mais lenta e menos intensiva em relação

aos demais setores –, também iniciou o seu processo de adoção de novas tecnologias da informação (ZAMBALDE ET AL., 2011).

Trabalhos sobre adoção de TI no meio rural brasileiro – tais como Vale e Rezende (1999), Francisco e Martin (1999), Francisco e Pino (2002), Freitas e Albano (2003), Zambalde et al. (2003), Francisco, Pino e Vegro (2005) e Francisco e Caser (2007), Machado (2008), Zambalde et al. (2011), Mendes et. al. (2011) e Figueira-Sampaio e Zambalde (2013) – fornecem indícios dos fatores que interferem na decisão do produtor para usar ou não estas tecnologias.

Fatores demográficos, como idade do proprietário, escolaridade e atividades exercidas fora da propriedade são citados como influenciadores na adoção da informática e internet. Vale e Rezende (1999) observaram esses fatores na agricultura mineira e constataram que 49% dos produtores que usaram estas tecnologias tinham até 40 anos e 73% o nível superior. Os autores observaram que 60% dos produtores agrícolas que utilizavam a internet, em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e na Região Sudeste, tinham entre 30 e 50 anos.

Na agricultura paulista, Francisco e Martin (1999) estudaram a relação entre o uso

de computadores com o tamanho das Unidades de Produção Agropecuárias (UPAs), o nível de instrução do proprietário, região agrícola e atividade agropecuária explorada, no

período de 1995 a 1996. Neste estudo, verificou-se que apesar de em apenas 3,7% das UPAs os proprietários utilizarem o computador nas atividades agropecuárias, estes cultivavam cerca de 19,7% da área rural do Estado. Identificou-se que a concentração no uso de computador ocorreu nas culturas de produção de grãos, cana-de-açúcar e citrus. No tocante ao nível de instrução, 56% dos que utilizavam o computador possuíam nível superior. O trabalho também diagnosticou uma associação direta entre o uso de computadores e a utilização de técnicas de manejo agrícola.

Avançando no trabalho de Francisco e Martin (1999), Francisco e Pino (2002) analisaram o impacto do uso de computadores na agricultura em São Paulo por intermédio de um levantamento amostral no período de novembro de 2000 e junho de 2001. Foram utilizados dados do Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária 1995/96, realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pela

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Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada (Cati), órgãos da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do estado paulista.

Francisco e Pino (2002, p. 82) demonstraram que no período de quatro ou cinco anos houve acréscimo de 89% na adoção dessa tecnologia entre os proprietários rurais e, por outro lado, em sete meses, aumentou 47% a aquisição de um computador e 82% o acesso à internet. Verificou-se uma concentração do número de computadores em

propriedades de grande porte e empresariais, inclusive entre os proprietários de nível superior de escolaridade, e os que não residem na propriedade rural. Quanto aos objetivos da utilização, os mais comuns foram a contabilidade agrícola, administração

rural, na criação de gado, na colheita e gestão de máquinas. A internet, por sua vez, foi usada para obtenção de notícias do setor agrícola, acessar dados do mercado agropecuário, adquirir informações para extensão rural e ajuda técnica para o comércio eletrônico da agroindústria.

Francisco e Caser (2007) avançaram na análise sobre os níveis de uso de computador e acesso à internet no rural paulista por meio de informações e do levantamento de campo. As conclusões apontaram para a ampliação significativa no período de 2000 a 2006, principalmente para internet, onde em 17% das UPAs os proprietários que cultivavam cerca de 33% da área rural de São Paulo acessaram a internet. A maior concentração ocorreu em unidades produtoras de grãos, cana-de-

açúcar, citros, café e as de grande tamanho. Os maiores acessos foram por notícias do

setor, cotação de preços e análise do mercado agrícola. A pesquisa concluiu que os índices de acesso para assistência técnica e extensão rural vêm apresentando crescimento.

A adoção da TI na cafeicultura de São Paulo foi analisada por Francisco, Pino e Vegro (2005) por intermédio de um modelo logit. O estudo mostrou que as chances de

adoção eram maiores na região mais dinâmica da cafeicultura estadual, a Alta

Mogiana, e seguida pelas regiões da Baixa Mogiana e Sudoeste-Centro. Os autores demonstraram que a renovação da cafeicultura também se relaciona com essa utilização, o que é representado pelo percentual da área com plantas novas sobre o total e pela crescente densidade de cultivo. Fatores coadjuvantes de adoção foram a qualidade de emprego de cooperativas, associações e sindicatos; a estratégia comercial; o nível de escolaridade e o tamanho da exploração.

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O conjunto de trabalhos citados com foco na agricultura paulista – Francisco e Martin (1999), Francisco e Pino (2002), Francisco, Pino e Vegro (2005) e Francisco e Caser (2007) – apresentam indícios dos seguintes fatores condicionantes à adoção de TI: tamanho da propriedade (predomínio em propriedade de grande porte e empresarial), nível de instrução do proprietário. Como fatores coadjuvantes estes autores apontaram: a qualidade de emprego de cooperativas, associações e sindicatos, a estratégia comercial e o tamanho da exploração agrícola. Os estudos também apontaram a concentração no uso nas culturas de produção de grãos, cana-de-açúcar e citrus e café, esta última com chance de adoção maior na região mais dinâmica da cafeicultura estadual, a Alta Mogiana, e seguida pelas regiões da Baixa Mogiana e Sudoeste-Centro. As finalidades de uso de computador e internet foram tanto para a gestão como para a produção agrícola.

O uso de TI no cooperativismo agrícola também foi objeto de algumas pesquisas – Zambalde et al. (2003) e Freitas e Albano (2003). Em trabalho com 21 cooperativas de

café do Estado de Minas Gerais, Zambalde et al. (2003) estudaram o uso e impacto da

tecnologia da informação no cooperatismo, relatando experiências para auxiliar as organizações a monitorar, organizar e captar as informações vitais para sua melhor administração interna e adequado posicionamento estratégico. A pesquisa concluiu que nas cooperativas: i) a TI é geralmente utilizada como instrumento para conquista e/ou

concentração de poder; ii) a relação entre o aumento de competitividade depende da

abrangência e adequação do seu uso em vários níveis da organização (operacional, administração e estratégico); iii) o uso da TI facilita e amplia o controle sobre estoques, processos e pessoas cooperadas.

Na mesma linha temática, Freitas e Albano (2003) pesquisaram 55 cooperativas

agropecuárias do Rio Grande do Sul e o uso de TI em suas atividades. Constataram que

a utilização ainda é voltada às aplicações tradicionais e operações internas para automatizar processos. A adoção da internet ainda é incipiente no uso voltado para as atividades fins. As organizações, na sua maioria, não possuem setor de TI, não havendo preocupação com a qualificação de seus profissionais; os problemas enfrentados estão relacionados à aquisição de tecnologia e não ao treinamento, à produtividade e a preocupação com a integração da tecnologia à estratégia e à cultura da cooperativa; e que as maiores organizações denotam mais importância à TI em comparação às de menor porte.

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O uso das tecnologias da informação na formulação de um conhecimento aprofundado sobre o território brasileiro, analisando a produção do zoneamento agrícola de riscos climáticos a partir de bases técnico-científicas modernas, foi tema de trabalho de Biudes (2005), que analisou a cultura da soja. O trabalho inferiu que o zoneamento agrícola de riscos climáticos, instrumentalizado com a TI, trouxe segurança razoável a um ambiente marcado por incertezas e exposto às intempéries climáticas.

O trabalho de Machado (2008) analisou a utilização de TI na cadeia bovina. Segundo Machado (2008), o uso de software na agropecuária brasileira é maior na

produção animal do que no cultivo vegetal e cita que em 2004 dos 77 softwares

existentes na área de produção animal, 34 referiam-se ao gerenciamento de rebanho bovino representando 44% do total.

Machado (2008) avançou no estudo sobre o uso e a difusão da TI na pecuária de corte, descrevendo os recursos, procedimentos e ações necessárias para o funcionamento da mesma, segmentando os empreendimentos rurais a partir do nível tecnológico. Dentre as conclusões, foi destacado como benefícios o avanço na prática

gerencial a partir da adoção da TI, e, de modo geral, os processos foram aprimorados e

facilitados com reflexos em várias áreas da unidade produtiva, tais como recursos humanos e imagem do empreendimento no mercado.

Machado (2008), ainda, apontou as principais variáveis determinantes da adoção de tecnologia são: tamanho da propriedade; área destinada a atividade; mercado; idade; sexo (gênero); renda anual; grau de instrução; atividade; acesso à informação; comportamento de adoção no passado; experiência; comportamento de risco financeiro; infraestrutura e regulamentação governamental.

Alguns destes fatores – e outros novos – são indicados por Zambalde et al. (2011) como determinantes para adoção e uso da tecnologia da informação no agronegócio: tamanho da propriedade; área de produção; dinâmica do mercado; retorno financeiro ou renda; idade, sexo e grau de instrução; experiência anterior com tecnologia; infraestrutura local e regional de transporte e telecomunicações; e apoio ou influência governamental, de cooperativas ou associações.

Segundo estudo de Mendes et al. (2011), um fator limitante para a adoção de TI na agricultura é o fato do agricultor desconhecer os potenciais benefícios da informática e não estar preparado para utilizá-la. O produtor ainda encontra muitas dificuldades em

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entender questões básicas relacionadas à informática e não há uma cultura em relação à gestão empresarial. Também foram indicados pelos autores pontos desfavoráveis ao uso de TI pelo produtor rural, como fatores culturais e falta de preparo para gerir sua propriedade com uma visão de negócios.

Figueira-Sampaio e Zambalde (2013) buscaram identificar no setor leiteiro os

impactos da TI para a organização, os indivíduos e o trabalho, por meio da pesquisa

junto produtores de leite na região sul de Minas Gerais. As evidências apontaram que TI proporcionou coordenação nas atividades, possibilitou maior agilidade no fluxo de informações e redução de erros nas operações internas, maior controle das atividades e rapidez e segurança nas informações. No entanto, os autores constataram uma falta de conhecimento dos segmentos de produção primária e processamento e transformação em relação aos potenciais benefícios de uso da TI para a cadeia produtiva como um todo.

Uma pesquisa mais abrangente, desenvolvida pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (2012), buscou mensurar o grau de informatização na

agricultura brasileira. Os resultados indicaram que os polos agropecuários demandantes

de TI são: a Região da Alta Mogiana Paulista, a Região do Norte do Paraná e Sul de São Paulo, a Região do Sul de Minas e Sul Goiano, a Região da fronteira agrícola Mato Grossense e a Região do Oeste Catarinense.

No que tange aos principais segmentos demandantes de TI, segundo o estudo, destacam-se o complexo canavieiro e os setores com a presença de grandes grupos empresarias, com avançadas técnica de produção, gestão e comercialização e vinculados ao comércio exterior.

Com base nos estudos mencionados nesta e na primeira seção, pode-se resumir os fatores condicionantes exógenos à adoção de TI no campo conforme os listados no Quadro 4.2.

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Quadro 4.2 - Fatores condicionantes exógenos à adoção de TI na agricultura

Dimensões Fatores Condicionantes Autores

CA RA CTERÍS TICA D O USUÁ RIO

Fatores demográficos, como idade do proprietário, escolaridade e atividades exercidas fora da

propriedade

Vale e Rezende (1999)

Proprietário de nível superior de escolaridade Francisco e Pino (2002)

Idade, gênero, grau de instrução, renda anual, acesso à informação, comportamento de adoção no passado, experiência, comportamento de risco financeiro

Machado (2008)

Idade, gênero, grau de instrução, experiência anterior com tecnologia, retorno financeiro ou renda

Zambalde et al. (2011)

Desconhecimento do agricultor de potenciais benefícios da informática, não está preparado para utilizar TI fatores culturais

Mendes et al. (2011)

Falta de conhecimento potenciais benefícios de uso da TI

Figueira-Sampaio e Zambalde (2013) Inabilidade do produtor rural em usar TI Zambalde et al.

(2011)

Propriedades de grande porte e empresariais Francisco e Pino (2002)

Tamanho da propriedade, área destinada à atividade agrícola

Machado (2008)

Tamanho da propriedade, área de produção Zambalde et al. (2011)

Segmentos demandantes de TI: complexo canavieiro e os setores com presença de grandes propriedades e grupos empresarias, com avançadas técnicas de produção e comercialização para o exterior

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Quadro 4.2 - Fatores condicionantes exógenos à adoção de TI na agricultura

(continuação) CA RA CTERÍS TICA DA TE CN OLO GI A

Problemas enfrentados para aquisição de tecnologia e não ao treinamento

Freitas e Albano (2003)

Aumento das complexidades da TI, custo da tecnologia, falta e treinamento

Gelb e Voet (2009), Gelb (2012, 2013); Incapacidade (do desenvolvedor de TI) em colocar no

mercado as funções que respondem a uma realidade concreta do produtor rural

Zambalde et al. (2011) FAT ORE S S IS TÊMICOS

Infraestrutura, regulamentação governamental, dinâmica do mercado

Machado (2008)

Aspectos de infraestrutura, telecomunicação, acesso a internet e a computador

Gelb (2012, 2013);

Infraestrutura local e regional de transporte e telecomunicações, apoio ou influência

governamental, organização de cooperativas ou associações, acesso a internet e computador

Zambalde et al. (2011) BENEFÍ CIOS DA TI

Melhoria na coordenação de atividades, maior agilidade no fluxo de informações, redução de erros nas operações internas, maior controle das

atividades e rapidez e segurança nas informações

Figueira-Sampaio e Zambalde (2013)

Benefícios no avanço de prática gerencial Machado (2008) Fonte: elaboração própria.

Os trabalhos citados, apesar de serem adstritos a culturas específicas e restritos a determinado espaço geográfico, refletem parte da realidade brasileira sobre uso da TI

no campo. Evidenciam que há grupos de pesquisadores, de institutos de pesquisa e da

academia, debruçando-se na ampliação do entendimento sobre a introdução da TI no ambiente rural.

Tais estudos corroboram a relevância de se avançar no conhecimento sobre o tema, principalmente atinente aos fatores condicionantes para uso da TI. A infraestrutura de acesso a computadores e a internet é um dos pré-requisitos essenciais – sine qua non

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– para que essa adoção ocorra. Como apresentado no início do capítulo, nos estudos de Gelb (2012, 2013) a infraestrutura não foi considerada uma restrição/limitação dominante, no entanto para a realidade americana e europeia. A realidade brasileira, porém é muito diferente e reflete a indigência digital dos produtores rurais no que tange ao acesso a computador e internet, como retrata a seção seguinte.