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Metodologia e estrutura da tese

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Ageitec Agência Embrapa de Informação Tecnológica

1.3. Metodologia e estrutura da tese

A Figura 1.2 apresenta a classificação da pesquisa.

Figura 1.2 - Classificação da pesquisa

Fonte: elaboração própria.

Como fonte primária (conforme Figura 1.2), utilizou-se como técnica para coleta de dados e informações a entrevista estruturada. A pesquisa, neste caso, classifica-se como qualitativa. Optou-se por esta técnica, pois ela possibilita a “obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que sejam relevantes e significativos”, como ensinam Marconi e Lakatos (2010, p. 181). Uma condição favorável à entrevista é garantir ao entrevistado o segredo de suas confidencias e de sua identidade, em razão disso optou-se por não divulgar os nomes dos especialistas entrevistados, apenas apresentar seus perfis básicos que constam do Apêndice I.

Para a entrevista estruturada foi elaborado um roteiro de perguntas, estabelecido a partir da literatura, das políticas da Embrapa, de consultas prévias com especialistas, da Embrapa e de fora, e das sugestões feitas pelos participantes do exame de qualificação –

Fontes primárias: entrevistas junto a

57 especialistas em inovação

agrícola, transferência de tecnologia e agroinformática.

Fontes secundárias: literatura;

políticas institucionais e documentos da Embrapa; Censo Agropecuário IBGE 2006. Natureza: aplicada Técnicas para coleta de dados: P E S Q U I S A

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os professores doutores (i) da Embrapa: Sílvio Crestana; (iii) da Unicamp: Antônio Márcio Buainain, José Maria da Silveira e Maria Beatriz Bonacelli; e (iii) da Universidade Federal do Rio de Janeiro: Ana Célia Castro.

Em cada grupo de perguntas, os fatores foram categorizados em dimensões de

análise. O 1º grupo de perguntas, dos condicionantes exógenos à Embrapa, foi

categorizado com base na literatura aportada no referencial teórico da tese, em especial na proposta sobre o Sistema Nacional de Inovação na Agricultura (SNIA), de Arnold e Bell (2001), e no estudo de Souza Filho et al. (2011), que se debruçou sobre a adoção tecnológica no meio rural, e nas considerações colhidas no exame de qualificação. No entanto, a partir dos relatos, notou-se maior recorrência sobre assuntos relacionados aos três segmentos do SNIA – sistemas de pesquisa e ensino, instituições intermediárias e organizações da agricultura –, razão pela qual se optou por agrupar as respostas nestas dimensões.

Para o 2º grupo, os condicionantes endógenos, as dimensões de análise escolhidas foram: (i) institucional e organizacional; (ii) pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I; (iii) transferência de tecnologia (TT); (iv) perspectiva futura.

Aceita-se que o corte adotado não seja consensual e tenha uma certa dose de liberdade, determinada pelos objetivos gerais da tese. Haveria, sem dúvidas, outras alternativas de agrupamento dos fatores. Um dos entrevistados argumentou que os fatores institucional e organizacional abrangem também a PD&I e a TT. Ainda que se compreenda que os fatores institucional e organizacional, tomados em sentido abrangente, podem incluir as dimensões de PD&I e de TT, optou-se por tratar os condicionantes em três dimensões distintas – institucional/organizacional, PD&I e TT – por serem as mesmas constantes do Plano Diretor da Embrapa (PDE) e por refletirem a estrutura organizacional da empresa – com algumas nuances –, facilitando, assim, por parte dos entrevistados pertencentes ao quadro da empresa, o entendimento dos fatores condicionantes nestas dimensões. A escolha também buscou evidenciar a segmentação existente na empresa e como isso se reflete – para contribuir ou inibir – as ações de transferência de tecnologias, o que se discute mais adiante na tese. A partir das análises, dentro de cada dimensão emergiram subcategorias dos conteúdos recorrentes nos relatos.

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Utilizou-se um software de mineração de texto – o Maxqda – para auxiliar no agrupamento das dimensões de análise e posterior apreciação de seus conteúdos.

Foram entrevistados especialistas do Brasil, de Portugal e dos Estados Unidos. Para os especialistas do Brasil, o roteiro de perguntas continha dois grupos de perguntas, considerando as dimensões temporais presente e futura (daqui a 10 anos), quais sejam: (i) fatores condicionantes externos à Embrapa que influenciam – ora contribuindo e ora inibindo – a transferência de tecnologias geradas pela empresa; (ii) fatores condicionantes internos da Embrapa que interferem na transferência de tecnologia. Ou seja, o objetivo era conhecer a opinião dos especialistas sobre os fatores que, no presente, interferem no processo de transferência de tecnologia, e uma visão sobre o que será importante no futuro.

Os instrumentos de entrevista estão listados no Quadro 1.1.

Quadro 1.1 - Instrumentos para coleta de dados - entrevista estruturada junto a

especialistas

Instrumento Objetivo

Roteiro de Entrevista - Brasil (Apêndice II)

Entrevistar especialistas, dos ambientes externo e interno à Embrapa, do Brasil, de Portugal e dos Estados Unidos que atuam em: transferência de tecnologia agrícola; tecnologia da informação aplicada à agricultura (ou agroinformática); e/ou inovação agrícola.

Roteiro de Entrevista - Portugal (Apêndice III)

Roteiro de Entrevista - Estados Unidos (Apêndice IV)

Fonte: elaboração própria.

Os especialistas de Portugal e dos Estados Unidos selecionados são vinculados às instituições de pesquisa e/ou ensino, com vasta atuação em transferência de tecnologia. A maioria das entrevistas foi realizada pessoalmente e, algumas, via internet, utilizando Skype e e-mail.

Cabe justificar a razão da escolha de especialistas provenientes destes países. A seleção de Portugal deve-se ao fato do país integrar a European Federation Information Technologies in Agriculture, Food and Environment (EFITA) por meio da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação na Agricultura (APDTICA). Instituições de pesquisa e de ensino portuguesas têm forte tradição de atuação em agroinformática e transferência de tecnologia, dentre as quais se

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destacam o Pólo de Tecnologia e Empresas do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa (Inovisa) e o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (Inesc) da Universidade do Porto. Por sua vez, os Estados

Unidos foram escolhidos pela vasta experiência dos escritórios de transferência de

tecnologia (Technology Transfer Office - TTO) – provenientes de universidades e centros de pesquisas – em licenciamentos e parcerias público-privadas, bem como pela aplicação da lei Bayh-Dole que assegurou às instituições de pesquisa norte-americanas o direito de patentear descobertas feitas com investimentos federais em pesquisas e licenciá-las para empresas privadas. Um dos exemplos é o TTO da Universidade da Geórgia.

No total, foram entrevistados 57 especialistas, o que representa uma amostra não

probabilística e intencional. Dentre os quais, 22 (por volta de 38%) são do ambiente

externo à Embrapa e 35 (em torno de 62%) são empregados da empresa. Os especialistas foram divididos em três grupos de especialização, de acordo com seus perfis, havendo, em alguns casos, sobreposição entre os grupos, pois há entrevistados que atuam em mais de uma área de especialização.

Na medida do possível, tentou-se ouvir representantes de alguns setores que integram o Sistema Nacional de Inovação na Agricultura, de instituições públicas de pesquisa e ensino, setor privado e legislativo, e também instituições internacionais de pesquisa e ensino. Em relação aos especialistas que trabalham na Embrapa, procurou-se em contemplar funções diversificadas exercidas por eles na estrutura organizacional da sede da empresa e das unidades de pesquisa – em níveis estratégico, tático e operacional – possibilitando uma visão complementar a partir de suas experiências (conforme descrito no Apêndice I).

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Figura 1.3 - Etapas do procedimento metodológico

Fonte: elaboração própria.

A Figura 1.4 mostra a estrutura dos capítulos da tese interligados ao atendimento dos objetivos específicos.

Figura 1.4 - Estrutura da tese por capítulos interligados ao atendimento dos objetivos

específicos

Fonte: elaboração própria.

Revisão biblio- gráfica Consulta docu- mental Análise do Censo Agro Realização das entrevistas Cruzamento das fontes primárias e secundárias Análise final 1. INTRODUÇÃO 2. REFERENCIAL TEÓRICO Objetivo Específico 1 3. TT NA EMBRAPA Objetivo Específico 2 4. TRANSFERÊNCIA TI NO CAMPO Objetivo Específico 3 5. CONDICIONANTES À TT Objetivos Específicos 4 e 5 6. CONCLUSÕES

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A estrutura da tese é composta por seis capítulos, incluindo este introdutório e o de conclusões.

O segundo capítulo apresenta o arcabouço teórico que dá fundamentação à tese. O referencial analítico utilizado é a abordagem microeconômica neo-schumpeteriana de sistema nacional de inovação. Discorre sobre os desdobramentos de marco teórico de sistema de inovação com sua aplicação na agricultura. Trata de estudos seminais da difusão tecnológica na agricultura, que consideravam a inovação como exógena ao sistema econômico, e avança para estudos atuais de abordagem neo-schumpeteriana que romperam com este entendimento e passaram a analisar a inovação como sendo endógena. No que tange à transferência de tecnologias, são abordados: conceituação, agentes envolvidos, fatores condicionantes, etapas do processo, tipificação da tecnologia, regimes de apropriabilidade, proteção aos direitos de propriedade intelectual, métodos, procedimentos e ferramentas para a transferência. A partir do marco teórico, é possível identificar os elementos dos fatores condicionantes exógenos e endógenos à transferência de tecnologia agrícola.

O terceiro capítulo discorre sobre os principais instrumentos institucionais que norteiam a gestão organizacional e as ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Embrapa e de suas unidades: o Sistema Embrapa de Gestão e os Planos Diretores da Embrapa e os de suas Unidades. Apresenta a tipologia das soluções tecnológicas e os mecanismos de proteção dos direitos de propriedade intelectual utilizados. Analisa a estrutura organizacional voltada à transferência de tecnologia, os mecanismos usados para disponibilizar as tecnologias geradas. Traz exemplos de transferência de tecnologias de base física e de base instrucional/processual. Por fim, sintetiza os fatores condicionantes endógenos da transferência de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa.

Inicialmente, de caráter mais geral, o quarto capítulo trata dos estágios para adoção de Tecnologia da Informação (TI), bem como da categorização de adotantes. De caráter mais específico, avança para relatar dados sobre o uso TI no setor agrícola em países europeus, nos Estados Unidos e no Brasil. Mostra o começo da expansão de infraestrutura brasileira em TI rural, o surgimento e evolução de soluções de TI aplicadas à agricultura e o advento de instituições de pesquisa, ensino e fomento em TI agrícola. Apresenta fatores condicionantes para a adoção de TI na agricultura brasileira, mostrando o retrato de acesso a computador e internet nos estabelecimentos rurais nacionais, com

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base em dados do Censo Agropecuário de 2006, do IBGE. Elenca algumas das soluções em tecnologia da informação desenvolvidas pela Embrapa Informática Agropecuária e problematiza sobre como mensurar a eficácia de adoção das referidas soluções. Este capítulo também ajuda a identificar fatores condicionantes exógenos e endógenos à transferência de tecnologia, mais especificamente quanto às soluções em TI.

O quinto capítulo relata as entrevistas realizadas com especialistas, nacionais e internacionais, em inovação agrícola, transferência de tecnologia e em agroinformática. São apresentadas as especificidades dos fatores condicionantes para a transferência de soluções em TI. Por último, o capítulo faz a análise e o cruzamento de quatro fontes de

pesquisa da tese: (i) o marco teórico sobre o tema estudado; (ii) políticas e práticas da

Embrapa para a transferência de suas tecnologias; (iii) literatura e estudos empíricos sobre transferência de soluções em TI aplicadas à agricultura; e (iv) entrevistas com especialistas.

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2.

REFERENCIAL TEÓRICO

Perseguindo o objetivo geral – Investigar os fatores condicionantes, endógenos e exógenos à Embrapa, que contribuem ou inibem a transferência de suas tecnologias para a agricultura brasileira – o capítulo tem por finalidade apresentar o arcabouço teórico que dá fundamentação à tese.

O capítulo atende ao objetivo específico 1, qual seja:

Objetivo específico 1 - Descrever os elementos do processo de transferência de tecnologia com abordagem utilizada na pesquisa agrícola e no sistema nacional de inovação, considerando o contexto atual de forças motrizes de mudança da agricultura brasileira.

O referencial analítico empregado é a abordagem neo-schumpeteriana de sistemas nacionais de inovação. Esta abordagem é utilizada porque ela analisa a dinâmica do processo de inovação enfocando o todo (o sistema), e não somente as partes que o constituem. Considera-se, nesta teorização, que o processo inovativo abrange tanto a

geração como a difusão e transferência de conhecimentos e sua transformação em

novos produtos, tecnologias e processos de produção.

Tendo em vista que um sistema inovativo é formado por um conjunto de

instituições públicas e privadas que interagem e contribuem para a geração e difusão

de novas tecnologias, este marco teórico nos auxilia no entendimento das interações entre os diversos agentes para promover a geração, difusão e a transferência tecnológica.

O capítulo estrutura-se em sete seções. Na primeira, é apresentado o arcabouço teórico de abordagem neo-schumpeteriana sobre sistema nacional de inovação. Esta teorização analisa a dinâmica do processo de inovação. A segunda expõe os desdobramentos do marco teórico de sistema de inovação com sua aplicação na agricultura. A terceira discorre sobre estudos seminais atinentes à difusão tecnológica com enfoque na agricultura os quais consideravam a inovação como sendo exógena ao sistema econômico. A seção avança para estudos atuais, de abordagem neo- schumpeteriana, que romperam com este entendimento e passaram a analisar a inovação como sendo endógena. A quarta traz a conceituação, explicitação dos agentes envolvidos e os fatores condicionantes do processo de difusão e transferência

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tecnológica. A quinta aborda a tipificação da tecnologia, os regimes de apropriabilidade e a proteção de direitos de propriedade intelectual imanente ao processo de transferência tecnológica. A sexta descreve as etapas do processo de transferência de tecnologia, bem como os seus métodos, procedimentos e ferramentas utilizados. A sétima faz considerações finais do capítulo.