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Transferência tecnológica: conceituação, agentes e condicionantes

Política Agrícola

2.4. Transferência tecnológica: conceituação, agentes e condicionantes

Além dos estudos seminais e os de abordagem neo-schumpeteriana que trataram da inovação, outros trabalhos – tais como os de Solo e Rogers (1972), Hayami e Ruttan (1988), Barbiere (1990), Stewart (1990), Zhao e Reisman (1991), Castro e Tourinho (2002), Dereti (2009) e Assafim (2010), entre diversos citados nesta seção – avançaram na conceituação, explicitação dos agentes envolvidos e estudo dos fatores condicionantes da transferência tecnológica.

Um dos livros clássicos sobre o tema é a obra de Hayami e Ruttan (1988), publicado orginalmente em 1971. Estes autores, que estudaram a perspectiva da transferência de tecnologia para a agricultura entre países, apresentam que há três fases de transferência internacional de tecnologia: a) a transferência de material; b) a transferência de planejamento; e c) a transferência de capacidade.

A primeira caracteriza-se pela transferência ou importação simples de materiais novos, como plantas, sementes, animais, máquinas e técnicas associadas a estes materiais. Não ocorre a adaptação local de forma ordenada e sistemática, sendo que há um processo de tentativas e erros por parte dos agricultores para aclimatização de plantas e animais e adaptação local da tecnologia.

Na segunda fase, ocorre a transferência de planos (fórmulas, livros). A finalidade é adquirir novos materiais (vegetais ou equipamentos) para melhoramento ou para copiar planos de equipamentos, ao invés de uso direto na produção.

Já na terceira fase há transferência de conhecimentos e capacidades científicas que permitem a produção de tecnologia adaptada à localidade, seguindo a tecnologia protótipo importada. Passam a ser criadas localmente variedades de plantas e animais adaptadas às condições de clima e solo. Os esquemas de máquinas importadas são modificados para satisfazer a disponibilidade de fatores da economia.

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Para Hayami e Ruttan (1988), é crucial para o desenvolvimento agrícola a

transferência de tecnologia. São vitais para o progresso dos países em

desenvolvimento tanto a transferência de conhecimentos, como o desenvolvimento da capacidade nativa14 para gerar tecnologias agrícolas adaptadas ecologicamente e viáveis economicamente.

Passando da perspectiva internacional para a organizacional, há o trabalho de Solo e Rogers (1972). Para estes autores, o elemento característico da TT é a movimentação

da tecnologia de um lugar para outro, ou seja, de uma organização para outra, de uma

universidade para uma organização. Não apenas a movimentação da tecnologia é necessária, mas também é imprescindível que a empresa receptora efetue esforço para desenvolver tecnologia própria a partir da que foi recebida da concedente, ainda que seja uma adaptação. Nesse sentido, Baranson (1980) expõe que é elemento essencial a transferência de capacidade técnica para reproduzir a tecnologia, o que difere da mera operacionalização da tecnologia. Da mesma forma, Barbiere (1990) afirma que não se configura a TT quando a receptora apenas aprendeu a usar a tecnologia, neste caso, ocorre a difusão de técnicas ou métodos produtivos.

O uso da tecnologia é o nível básico operacional da TT e é um dos estágios para sua assimilação. O Quadro 2.6 mostra os níveis de assimilação de TT:

Quadro 2.6 - Níveis de assimilação da transferência de tecnologia

Níveis de transferência

Descrição

Operacional (nível básico) Capacidade de gerenciar o operar instalações de produção projetadas e construídas por agente externo

Duplicativo (nível intermediário)

Capacidade de expandir a produção sem ajuda de agente externo

Adaptativo (independência tecnológica)

Capacidade de adaptar o projeto do produto e fazer a reengenharia do processo de produção

Inovativo (projeto avançado)

Capacidade para desenvolver um sistema de próxima geração

Fonte: adaptado de Stewart (1990).

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O desenvolvimento da capacidade nativa é uma atividade pós-transferência de tecnologia, quando o País já pode

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Para Zhao e Reisman (1991), a incorporação do conhecimento é o elemento essencial do processo de TT. Em razão disso, estes autores conceituam transferência de tecnologia como sendo o processo pelo qual C&T são definidas pela atividade humana, em que o conhecimento racional e sistemático desenvolvido por um grupo ou instituição é incorporado por outro. Para estes autores, a função da TT é atuar como o principal agente de crescimento econômico, corroborando com a afirmativa de Hayami e Ruttan (1988) quanto ao papel da tecnologia para promover o desenvolvimento agrícola.

Whitney e Leshner (2004) apresentam a transferência de tecnologia como sendo o

compartilhamento ou o fluxo de conhecimentos durante o processo de inovação, que

pode abranger tanto as etapas iniciais de geração da ideia, até a etapa final para a criação do produto. Dereti (2009), por sua vez, esclarece que transferir tecnologia envolve variáveis técnicas e econômicas e uma conjunção dos fatores sociais, ambientais, o diagnóstico da situação anterior e dos impactos posteriores à adoção da mesma. Uma tecnologia pode ser considerada transferida quando o usuário que a incorporou tornar-se capaz de modificá-la e adaptá-la de acordo com sua necessidade, ou, ainda, pode identificar nova demanda de pesquisa impulsionando a sucessão tecnológica, como ensina Vasconcellos (2008).

Outro conceito de transferência de tecnologia é apresentado por Assafim (2010), com foco nos agentes envolvidos no processo. Para este autor, transferência de tecnologia é o intercâmbio ou a transmissão de conhecimentos técnicos entre dois

ou mais agentes. Pressupõe, de um lado, um controlador da tecnologia (concedente) e,

de outro, um dependente (receptor ou adquirente) que precisa da tecnologia. Neste conceito o requisito essencial é haver intercâmbio ou transmissão de conhecimentos técnicos entre dois ou mais agentes.

Assafim (2010) complementa que são dois os caminhos para que uma empresa possa ter tecnologia adequada para seus processos produtivos. Obtê-la por meios próprios com atividades de PD&I internas ou adquiri-la de terceiros. A opção entre um dos caminhos depende de fatores como recursos humanos e financeiros disponíveis, o ambiente econômico, social, político, tecnológico e cultural em que a empresa exerce suas atividades. Os benefícios dessa transferência são apresentados no Quadro 2.7.

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Quadro 2.7 - Benefícios da transferência de tecnologia: concedente e adquirente

Concedente Receptor ou Adquirente

Receber direitos (royalties) pela tecnologia transferida

Adquirir tecnologia que lhe permita uma melhor competitividade no mercado

Utilizar-se de melhoramentos feitos pelo adquirente

Atrair uma clientela gerada pela tecnologia adquirida

Entrar em mercados sem correr riscos Completar programas de desenvolvimento Fonte: Assafim (2010).

Quanto às modalidades, a transferência de tecnologia pode ser homogênea ou heterogênea, bilateral ou unilateral, pública, privada ou mista (Quadro 2.8).

Quadro 2.8 - Modalidades de transferência de tecnologia conforme a capacidade, a

posição e a natureza jurídica dos agentes envolvidos no processo Quanto à capacidade tecnológica dos agentes

Homogênea Heterogênea

Substancial igualdade de potencial e de capacidade tecnológica entre os agentes

Ocorre entre empresas do mesmo setor ou setor análogo que ocupem posição similar em nível tecnológico e em recursos de PD&I

O adquirente possui capacidade tecnológica inferior àquela do concedente

Ocorre quando é transferida tecnologia de

empresas de países industrializados para países em desenvolvimento

Quanto à posição ocupada pelos agentes

Bilateral Unilateral

Os agentes transferem e adquirem tecnologia

Operações entre duas empresas quando cada uma delas transmite uma tecnologia e, ao mesmo tempo, recebe outra, em contrapartida

Qualquer das partes se limita a transmitir ou a adquirir tecnologia

Caso típico da transferência feita por instituições públicas de PD&I dedicadas à produção de tecnologia

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Quadro 2.8 - Modalidades de transferência de tecnologia conforme a capacidade, a

posição e a natureza jurídica dos agentes envolvidos no processo (continuação) Quanto à natureza jurídica dos agentes

Pública Privada Mista

Concedente e adquirente são organismos ou entidades de direito público Os agentes são particulares e submetidos ao direito privado

Somente uma das partes é um ente público

Fonte: Assafim (2010).

A modalidade de transferência de tecnologia escolhida e os benefícios esperados pelos agentes envolvidos são instrumentalizados por um contrato. Assafim (2010) define contrato de transferência de tecnologia como sendo aquele por meio do qual um concedente transmite a um adquirente direitos patrimoniais sobre bens imateriais protegidos juridicamente, impondo limites ao seu exercício. Para este autor, as modalidades de contratos de TT são: contrato de licença de patente; contrato de licença de know-how; contrato de licença de programa de computador; contrato de licença sobre topografias de circuitos integrados e contrato de fornecimento de tecnologia.

Como explica Barbosa (2006), o significado de transferência de tecnologia no contexto da lei de inovação brasileira15 não é de cessão, mas sim de contrato de saber

fazer ou de know-how. Isso implica numa obrigação de dar e fazer, de entregar detalhes

especificados da tecnologia e comunicar experiências. Na citada lei, o legislador fez uma separação entre contratos de transferência de tecnologia e contratos de licenciamento. Como apresentado em Fortec (2010), no âmbito dos países-membros da União Europeia16 a transferência de tecnologia é um gênero, que tem entre as suas espécies cessão, licença e saber fazer.

15

Lei no. 10.973/2004, que prescreve em seus artigos 6° e 7° que as instituições de ciência e tecnologia podem celebrar contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criação por ela desenvolvida e, também, para obter o direito de uso ou de exploração de criação protegida de terceiros (BRASIL, 2004).

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Segundo o Regulamento da União Europeia n° 772/2004, de 27/4/2004, a transferência de tecnologia pode ter por objeto um acordo: a) de concessão de licença de patente; b) de concessão de licença de saber-fazer (know-how); c) de licença de direitos de autor sobre programas de computador; d) misto de concessão de licenças de patentes, de saber- fazer ou de direitos de autor sobre programas de computador.

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Mais especificamente no setor rural, para Castro e Tourinho (2002), além dos aspectos contratuais da transferência, há dois conjuntos de fatores que precisam ser considerados para a geração e transferência de tecnologia agrícola: fatores restritivos e fatores atributivos. Os primeiros – restritivos – são intrínsecos à agricultura enquanto atividade econômica. Os segundos – atributivos – referem-se à natureza da tecnologia.

Dentre os fatores restritivos estão: a) forças primárias de produção agrícola, como clima e solo; b) forças de mercado, organizacionais e burocráticas que refletem em inflexibilidade quanto ao uso dos fatores de produção; c) forças econômicas e financeiras que tornam a atividade agrícola um investimento de recuperação variável. Os fatores

atributivos incluem: a) os adaptativos que dizem respeito às condições de ajustamento

da tecnologia ser usada como meio de produção e/ou organização do ambiente agrário; b) os lucrativos que conferem à tecnologia as condições de retornos sociais para as transferências inter-regionais e internacionais; c) os adotivos que garantem a incorporação da tecnologia ao sistema de produção. Considerando tais fatores, para que ocorra uma transferência de tecnologia efetiva é imprescindível conhecer o sistema de

produção objeto da tecnologia, definindo o produto, o produtor e as relações sociais

dominantes. O sistema de produção, numa concepção ampla, abrange, além do processo de produção agrícola, a organização da produção, a comercialização, a distribuição, a natureza do produto agrícola, a mão de obra, a organização sindical, o nível tecnológico, o tamanho da terra, a forma de processamento da produção, a estocagem, o transporte, o mercado, a promoção e a venda do produto (CASTRO E TOURINHO, 2002).

Para estes autores, a análise criteriosa da cadeia produtiva como um todo possibilita que a pesquisa agrícola venha a atender a promissoras demandas do sistema produtivo. É crucial no processo de difusão e transferência tecnológica a compreensão

do funcionamento do mercado em que atuam os usuários da tecnologia, sendo que a

maior parte dos casos não exitosos de transferência ocorre não pela inadequação da solução tecnológica, mas pela ausência de análise das condições e mecanismos de funcionamento do mercado (CASTRO E TOURINHO, 2002).

Além da necessária compreensão do funcionamento do mercado, Alves (2001) apresenta três fatores básicos de entraves para a difusão e transferência de tecnologia: a

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No que concerne a rentabilidade, a exigência é que a tecnologia nova precisa ser mais rentável do que a substituída, sendo que a avaliação é realizada dentro do sistema de produção, considerando-se os riscos inerentes à inovação. O capital, tanto de custeio como de investimento, é geralmente requerido para a adoção de nova tecnologia. Em se tratando de tecnologia de custo pequeno como sementes, complementarmente haverá necessidade de utilizar fertilizante, agrotóxico, máquinas e equipamentos para que seja realizado o seu potencial inovativo – encerrando a necessidade de capital para custeio e investimento. No entanto, em se tratando do pequeno produtor, ele dificilmente dispõe de recursos próprios para financiar sua elevação a patamar tecnológico superior, e precisará de crédito cuja oferta é permeada por restrições de recursos e de taxas de juros que por vezes o deixam à margem do progresso. Por último, o fator escolaridade refere-se ao nível de instrução necessário para o agricultor decodificar as instruções da tecnologia. No entanto, a maioria dos produtores rurais não tem esse nível de instrução e dependem dos serviços de assistência técnica ou da extensão rural. Aqui aparece novamente o fator capital como fator restritivo para o agricultor pagar pela assistência técnica, e, por outro lado, há a fragilidade da extensão rural que foi desmantelada no país (ALVES, 2001).

No entanto, cabe uma ressalva quanto às afirmações de Alves (2001). Hoje a nova tecnologia precisa ser adotada mesmo sendo até menos rentável, em alguns casos. Isso pode ocorrer tanto por razões legais, como em função da concorrência. É o que acontece, por exemplo, com as exigências do mercado externo no que tange à segurança alimentar e à rastreabilidade da carne brasileira. Como apresentam Cruvinel e Assad (2011), a expansão da demanda mundial por alimentos implica em maiores exigências do mercado consumidor por produtos alimentícios certificados. O mercado europeu, por exemplo, um dos principais destinos da carne nacional, possui leis severas em relação à segurança

alimentar e rastreabilidade. Além do gado de corte, a rastreabilidade tem sido requerida

crescentemente para o mel, o leite, o café, a soja e o vinho.

Em outro trabalho, de Souza Filho et al. (2011), os fatores condicionantes para a adoção tecnológica rural são agrupados segundo a natureza das variáveis envolvidas e que relacionam-se com as decisões de adotar ou não uma nova tecnologia: i) condições socioeconômicas e características do produtor; ii) características da produção e da propriedade rural; iii) características da tecnologia; iv) fatores sistêmicos. Explicando tais fatores, Souza Filho et al. (2011) esclarecem:

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As condições socioeconômicas do produtor e de sua família referem-se às características que podem ter papel de destaque na trajetória da unidade de produção, tais como a experiência e a capacidade de obter e processar informações, a habilidade no uso de técnicas agrícolas e de métodos de gerenciamento mais sofisticados que podem contribuir para o sucesso do empreendimento;

No que concerne às características da produção verifica-se qual é o papel que a tecnologia possui na determinação do desempenho econômico-financeiro do estabelecimento, pois ela pode permitir elevar a produtividade do trabalho e criar elos a montante e a jusante;

Quanto à característica da tecnologia, interessa apontar se ela possibilita ter como efeitos esperados a elevação da produtividade e a economia de mão-de- obra que correspondem às principais necessidades dos agricultores familiares;

Quanto aos fatores sistêmicos, analisam-se as condições dos segmentos da cadeia produtiva em que a exploração agrícola está inserida, bem como as instituições e organizações que lhe provêm suporte tecnológico, de informações e financeiro. A infraestrutura física (energia, telecomunicação, armazenamento; a infraestrutura de ciência e tecnologia (institutos de pesquisa, tal como a Embrapa, e universidades) e serviços de educação básica são de fundamental importância no sentido de gerar externalidades positivas para ações de adoção de tecnologia.

Alves e Silva (2013) abordam que há uma imensa dualidade que caracteriza a

transferência tecnológica na agricultura brasileira. Para estes autores, a dualidade é

manifesta na dicotomia entre um agronegócio pujante e por milhões de propriedades rurais de pequena produção que ficaram à margem do progresso tecnológico.

Como consequência, o mercado de produtos e serviços tecnológicos no Brasil consolidou-se e ampliou-se, viabilizando a existência de opções tecnológicas e assegurando a oferta de insumos e equipamentos que garantem o ganho da produtividade. Entretanto, como alertam Buainain et al. (2013), a geração e a difusão

tecnológica são diferenciadas para distintos produtos e regiões brasileiras, o que

reforça a heterogeneidade entre produtores, grandes e pequenos, e sistemas produtivos.

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Há, ainda, de se destacar que esta heterogeneidade pode ser de dois tipos. De acordo com Cimoli (2005), ela pode ser estrutural, vinculada às desigualdades estáticas, como disponibilidade de água para irrigação, infraestrutura para venda da safra e acesso às tecnologias em geral. E heterogeneidade produtiva, caracterizada pelas profundas diferenças dos resultados econômicos dos estabelecimentos agrícolas, tais como a renda e o nível de produção. Vieira Filho (2013) explica que os aspectos estruturais condicionam a heterogeneidade produtiva, no entanto nem sempre o contrário ocorre, pois as disparidades produtivas não necessariamente representam uma heterogeneidade estrutural. O fato é que estas duas heterogeneidades formam uma terceira, a social (ou

socioeconômica), mais profunda e talvez difícil de corrigir, porque está enraizada no

próprio produtor, no desenvolvimento humano, e se manifesta nos déficits de renda, capital humano, cultural, nível educacional etc.

E no âmbito dos sistemas produtivos agrícolas há também que se considerar o papel Sistemas Agroindustriais (SAGs) na decisão de quais tecnologias serão ou não adotadas pelos produtores rurais que integram determinado SAG. Segundo Zylberstajn (2014), o exercício de poder – em especial dos sistemas agroindustriais especializados (como os de avicultura e suinocultura) – se evidencia por parte das integradoras nos termos de contratos de adesão. É o comando da hierarquia dos SAGs que definirá quais tecnologias serão utilizadas pelos produtores rurais, qual a escala de produção, a definição de preços recebidos ou pagos e diferentes dimensões dos contratos existentes entre produtores rurais e agroindústria.

Além dos fatores até aqui mencionados a serem considerados para a geração e transferência de tecnologia agrícola, os institutos de pesquisa agrícola necessitam estar antenados às forças motrizes da agricultura que atuam em escala local, nacional e global. As forças motrizes ou “drivers” são os fatores naturais ou humanos que, de maneira direta ou indireta, induzem mudanças nos agroecossistemas (EMBRAPA, 2014a).

Conforme estudo do Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa), as principais forças motrizes da agricultura, para o horizonte de 2014-2034, são as relacionadas no Quadro 2.9.

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Quadro 2.9 - Forças motrizes para o sistema agroalimentar e agroindustrial - horizonte

2014-2034

Dimensão Demográfica

 População e urbanização

Para 2030, há a projeção de que cerca de 60% da população mundial estará em áreas urbanas e que, no Brasil, a população rural diminuirá por volta de 10% da total. Isso traz efeitos sobre as características da produção, que precisará ser mais automatizada e mecanizada para acomodar o envelhecimento da população. A população demandará atenção aos modelos de produção e seus impactos social, ambiental, econômico e de nutrição.

 Nexo alimentos-nutrição-saúde

O aumento da idade média das populações e a mudança do paradigma da cura para o da prevenção de doenças demandará que os alimentos se adequem às necessidades dos consumidores (alimentos biofortificados com vitaminas, sais minerais e proteínas de melhor qualidade).

 Escassez de trabalho no campo

O envelhecimento da população e a continuidade da migração das áreas rurais para as cidades apontam que o trabalho na agricultura se tornará cada vez mais escasso. Os agricultores precisarão contar com novas alternativas

de mecanização, automação e tecnologias de precisão que os ajudarão a superar problemas como a diminuição de mão de obra no campo.

 Conquista de novos mercados

Para ampliar a inserção brasileira em novos mercados mundiais é essencial às cadeias produtivas agropecuárias a adequação de produtos e processos ao atendimento às exigências dos diferentes mercados.

 Expansão da renda per capita

A expansão da renda per capita da classe média mundial, nos próximos 20 anos, indica potencial de crescimento na demanda por produtos agropecuários. Espera-se a alteração no perfil da dieta em direção à sua diversificação, com inclusão de produtos de origem animal, frutas, verduras, legumes, a introdução de alimentos processados e, eventualmente, nutracêuticos e funcionais para os que terão maior renda per capita.

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Quadro 2.9 - Forças motrizes para o sistema agroalimentar e agroindustrial - horizonte

2014-2034 (continuação)

Dimensão Tecnológica

 Agricultura multifuncional

A agricultura deverá estar balizada por conceitos e métodos multifuncionais, muito além da visão da agropecuária dedicada à produção de alimentos, fibras e energia. A agropecuária deverá se nortear por vertentes tecnológicas voltadas para consolidar sistemas de produção limpos, com balanço positivo de carbono, que integrem qualitativamente a relação campo-cidade, com cadeias e arranjos calcados na sustentabilidade e na inclusão produtiva.

 Emergência da bioeconomia

O avanço da biotecnologia – com domínio da biologia sintética e de processos metabólicos de plantas, animais e microrganismos – possibilitará a criação de uma nova bioeconomia. Ela influenciará campos do conhecimento e possibilitará o desenvolvimento de novos produtos e processos com interfaces para a agricultura com ramos bioindustriais novos.