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Instrumentos e estratégias para transferência tecnológica

Dimensão Difusão e Transferência Tecnológica

3.4. Instrumentos e estratégias para transferência tecnológica

Esta seção relata os esforços da Embrapa para que os conhecimentos e tecnologias que gera alcancem o usuário final.

Na Embrapa, inexistem a política de transferência de tecnologia e o delineamento de seu processo. Como mencionado anteriormente, há uma versão da política em discussão, desde 2011, mas sem previsão de entrar em vigor. A vigente Política de Comunicação de Negócios, de 1998, encontra-se bem desatualizada e não reflete os atuais propósitos e a configuração da estrutura de transferência.

Cabe mencionar que um instrumento de gestão existente nesta área é o Plano Gerencial da Presidência, sendo um de seus projetos “A Embrapa e a Modernização da Transferência Tecnológica no Brasil”. Este instrumento busca a modelagem e implantação de um novo sistema de transferência tecnológica para o campo, com ampliação da contribuição da empresa. Segundo o plano gerencial, a Embrapa tem sido penalizada pela fragilidade do sistema de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) no Brasil. O trabalho de Alves (2012) alerta a grande distância no Brasil entre os produtores que incorporaram a tecnologia ao sistema de produção27 e os milhões de produtores que não conseguiram fazê-lo. Diante desta realidade, a Embrapa precisa contribuir para que a transferência de tecnologia seja efetiva e que as soluções tecnológicas cheguem aos produtores.

Para elaboração desta seção buscou-se fontes secundárias de estudos desenvolvidos sobre a Embrapa, como os de Gomes e Atrasas (2005), Rocha et al. (2012), Alves (2012), Graziano (2012), Atrasas et al. (2012) e Contini e Andrade (2013).

Dentre das modalidades utilizadas pela Embrapa para que as soluções tecnológicas cheguem ao campo, segundo Gomes e Atrasas (2005), estão:

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Sistema de produção, segundo Dufumier (1996), é definido como sendo uma combinação dos recursos disponíveis, no tempo e no espaço, com a finalidade de obter produções vegetais e animais, podendo ser entendido também como uma combinação coerente de vários subsistemas produtivos.

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a) a difusão de tecnologia: refere-se a bens e serviços, geralmente, sem proteção intelectual. A apropriação destes bens e serviço é promovida com a intermediação de agentes de extensão rural e assistência técnica. Os instrumentos utilizados são: dias de campo, unidades de demonstração ou observação, cursos, palestras, publicações e mídias (impressas e/ou digitais);

b) a comercialização de tecnologia: abrange: i) o licenciamento de uso: por meio da transferência da exploração comercial de patentes, desenhos industriais, direitos autorais e uso de marca para empresas privadas, mediante processo licitatório e celebração de contrato; ii) alienação de tecnologia: transferência integral dos direitos de exploração da patente, de forma onerosa, também efetuada por licitação e assinatura de contrato; iii) outras modalidades: venda de serviços tecnológicos e transmissão de conhecimentos por meio de consultorias e assessorias, onerosamente. c) incubação de empresas: arranjo institucional entre a Embrapa, incubadora de

empresas e empreendedor interessado em explorar tecnologia gerada pela Embrapa. O Quadro 3.14 elenca os métodos, procedimentos e ferramentas para a transferência de tecnologias utilizados pela Embrapa:

Quadro 3.14 - Métodos, procedimentos e ferramentas para transferência de tecnologias

Métodos Procedimentos e Ferramentas incubação de empresa,

capacitação continuada (treino e visita), unidade de observação com desenvolvimento participativo do produto (pesquisa participativa)

eventos em geral: dia de campo, curso, workshop, seminário, feira, vitrine tecnológica, visita técnica; unidade demonstrativa; unidade de referência tecnológica e contrato de licenciamento

Fonte: adaptado de Rocha, Machado e Oliveira-Filho (2012).

Como apresentado no capítulo anterior, Solo e Rogers (1972) definiram a transferência de tecnologia como sendo a movimentação da tecnologia de um lugar (gerador) para outro (usuário). Seguindo estes autores, Rocha, Machado e Oliveira-Filho (2012) delinearam o processo de transferência de tecnologia no contexto da Embrapa partindo do entendimento de que a transferência compreende o deslocamento da

tecnologia.

O macroprocesso da inovação, conforme a Figura 3.11, envolve os principais processos de PD&I (geração da tecnologia) e de TT (disponibilização; adoção e

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resultados), nos quais o cliente figura como elemento de ancoragem da inovação tecnológica. Para Rocha, Machado e Oliveira-Filho (2012) há uma diferenciação nos processos em razão do tipo de tecnologia:

a) tecnologias de base física (produtos como cultivares) - a geração tem finalidade

comercial, geralmente, e são desenvolvidas por projetos experimentais;

b) tecnologias de base processual/instrucional (informações técnicas ou científicas,

por exemplo portais eletrônicos sobre sistemas produtivos agrícola) - são

desenvolvidas para disseminação da informação por intermédio de projetos de

desenvolvimento rural.

Área Processo Subprocesso Foco

I N O V A Ç Ã O PD&I Geração da tecnologia  Pesquisa básica  Pesquisa aplicada  Desenvolvimento de protótipos  Validação da tecnologia C L I E N T E TT Disponibi- lização  Método de transferência  Logística de acesso  Proteção intelectual

Adoção  Avaliação do uso da tecnologia para os produtos gerados na ICT

 Avaliação do estado da arte baseado no ponto de vista do cliente (para os produtos não gerados na ICT)

Resultados  Avaliação das consequências do uso – impactos sociais, econômicos, ambientais e desenvolvimento local – para os produtos gerados na ICT

Figura 3.11 - Processos do deslocamento da tecnologia

Fonte: Rocha, Machado e Oliveira-Filho (2012, p. 11).

Os autores esclarecem que no primeiro tipo, as tecnologias são direcionadas para o processo de adoção, enquanto no segundo para o de apropriação do conhecimento. A diferença entre os tipos de tecnologia interfere em três pontos: a trajetória da transferência, os agentes responsáveis pelo deslocamento da tecnologia e o seu público-

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alvo. São dois caminhos percorridos pelas tecnologias geradas por uma ICT agrícola (conforme demonstra a Figura 3.12) .

Figura 3.12 - Esquema representativo da transferência levando-se em conta o tipo e o

trajeto da tecnologia

Fonte: Rocha, Machado e Oliveira-Filho (2012, p. 14).

Para as tecnologias de base física, o caminho é mais complexo, no qual há a participação de agentes que atuam como consumidores intermediários (sementeiro, indústrias de máquinas e equipamentos, de fertilizantes, alimentícias) responsáveis pela multiplicação das tecnologias para que cheguem ao consumidor final por meio de outros agentes, as redes de estabelecimentos atacadistas e varejistas de distribuição (supermercados e feiras).

Já o caminho traçado pelas tecnologias de base instrucional/processual é menos complexo por possibilitar que o trajeto de deslocamento da tecnologia seja menor, do agente gerador (a ICT agrícola) até alguns consumidores finais (extensão rural,

Embrapa (gera tecnologias) (Geração (geração de tecnologia) Tecnologias de base física Tecnologias de base instrucional Comercialização Consumidor Intermediário Sementeiro, indústrias de máquinas, equipamentos, fertilizantes e alimentícias Consumidor Final

Extensão rural, revenda de produtos agrícolas, agricultor e supermercado

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produtores rurais, pesquisadores, professores, técnicos) por meio de comunicação escrita e falada, como esclarecem Rocha, Machado e Oliveira-Filho (2012).

Exemplos de transferência de tecnologias – de base física e instrucional/processual – são relatados a seguir.