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2. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Justificativa Metodológica

3.1.2 Abordagem Qualitativa

Enquanto a abordagem quantitativa normalmente está associada ao paradigma positivista e à análise estatística, que visa medidas quantificáveis e teste de hipóteses sobre as relações entre variáveis, a abordagem qualitativa constitui+se num enfoque interpretativo da realidade e geralmente emprega multimétodos para analisar a qualidade dos fenômenos (processos e significados) que ocorrem naturalmente. (MILES e HUBERMAN, 1984; SUTTON, 1993; DENZIN e LINCOLN, 2000).

A abordagem qualitativa é caracterizada pela imersão do pesquisador no contexto e por permitir a aplicação de metodologias que explorem em profundidade todas as dimensões, riquezas, nuances e complexidade do mundo social num processo indutivo de pesquisa capaz de identificar padrões e gerar para criação de teorias (SUTTON, 1993; MILES e HUBERMAN, 1984; DENZIN e LINCOLN, 2000; MASON, 2002).

De acordo com Richardson (1989), a abordagem qualitativa permite analizar aspectos subjetivos da organização, como os significados compartilhados e as dinâmicas das interações grupais. Para Flick (1998), essa abordagem investiga a perspectiva e a diversidade dos atores participantes da pesquisa e tenta descrever o mundo do ponto de vista das pessoas estudadas.

Outra característica da abordagem qualitativa que se diferencia de forma significativa da abordagem quantitativa é a flexibilidade no desenho e na aplicação de métodos. Van Maanen (1998) afirma que a pesquisa qualitativa geralmente é desenhada enquanto está sendo realizada. O autor destaca que essa flexibilidade possibilita uma visão holística da realidade, que não pode ser reduzida a poucas variáveis. Justamente pelos aspectos flexibilidade e amplitude, Gephart (2004) defende que a pesquisa qualitativa é fundamental para a teoria e para a prática da administração, uma vez que fornece que dificilmente seriam gerados pela pesquisa quantitativa. Além disso, essa abordagem pode fornecer as bases para o entendimento dos processos sociais que suportam a gestão das organizações.

Sutton (1997) defende que a pesquisa qualitativa é mais adequada para a criação de teorias ao invés da abordagem quantitativa, que requer a identificação de variáveis, precisamente definidas, operacionalizadas e codificadas antes de iniciar a coleta de dados. O autor questiona o valor do rigor metodológico (científico) e da generalização quando uma pesquisa qualitativa leva a bons

para a criação de teorias (SUTTON, 1997, p. 99).

Mintzberg (2005, p.35) alega que “frequentemente confundimos rigor com relevância e dedução com indução, além de se utilizar os termos quantitativo e qualitativo quando queremos dizer dedutivo e indutivo”. Para reduzir esta confusão em torno dos conceitos, o autor explica que existe, basicamente, a criação da teoria e o teste da teoria. A criação da teoria é baseada no processo de indução – do particular para o geral, de dados tangíveis para concepções abstratas. O teste da teoria é fundamentado no processo dedutivo – do geral para o particular, no teste de hipóteses. Mintzberg (2005, p.37) afirma que tal confusão deixa a impressão de que a pesquisa quantitativa é mais científica sob

a ótica Q H, mesmo não gerando , enquanto a pesquisa

qualitativa é algo para ser tolerado pela academia. O autor critica tal visão, considerando+a “extremamente prejudicial” para o desenvolvimento das ciências sociais.

Para Denzin e Lincoln (2000), tanto a abordagem qualitativa como a quantitativa estão relacionadas ao ponto de vista do indivíduo. Afirmam, porém, que os pesquisadores com abordagem qualitativa conseguem se aproximar mais da perspectiva do ator social por meio de observações detalhadas e de entrevistas em profundidade, enquanto que os pesquisadores quantitativos raramente conseguem capturar as perspectivas dos atores porque eles têm que confiar em dados e métodos mais remotos de inferência empírica.

Gephart (2004) argumenta que o engajamento direto do pesquisador com as pessoas e a realidade do dia a dia das organizações, proporcionado pela pesquisa qualitativa, cria oportunidades para se fazer contribuições substanciais para o campo. O autor também sugere que as pesquisas qualitativas deveriam ser avaliadas em termos de significância e de impacto da publicação no campo acadêmico e executivo.

Creswell (1998 p.47) identifica cinco tipos ou “tradições” de pesquisa que normalmente adotam a abordagem qualitativa: os estudos biográficos, fenomenológicos, ' ", etnográficos e os estudos de casos. O autor também apresenta uma análise comparativa das dimensões e aplicabilidades de cada uma delas, facilitando a seleção do tipo mais apropriado para o objetivo deste estudo.

Como o foco do estudo biográfico é a vida de um indivíduo, o foco do estudo fenomenológico é o entendimento da essência de experiências sobre um fenômeno e o foco da etnografia é a descrição da cultura de um grupo (CRESWELL, 1998), estes três tipos de pesquisas foram facilmente desconsiderados para o objetivo deste estudo, tendo+se, então, os modelos

' " e estudo de caso como as alternativas mais apropriadas.

A pesquisa ' " foi desenvolvida nos Estados Unidos pelos sociólogos Glaser e Strauss e lançada em sua obra 6 0 " $ ' 6 " (1967). Em contraste com a orientação teórica , os autores defendem que as teorias no campo da sociologia devem ser geradas através dos dados do campo, especialmente aqueles oriundos das ações e reações das pessoas a uma situação específica, coletados por meio de entrevistas e múltiplas visitas ao campo (GLASER e STRAUSS, 1967). Dados secundários podem ser utilizados, mas têm sido atípicos neste tipo de pesquisa (CRESWELL, 1998).

A princípio, tanto a ' " como o estudo de caso poderia ser utilizado para este trabalho. No entanto, a análise das duas alternativas levou, por fim, à escolha da metodologia de estudo de caso para aplicação neste trabalho.

Stake (2006) defende que um dos critérios para se escolher o caso como método de pesquisa é o tipo de conhecimento pretendido com o estudo, apresentando a diferença entre explanação e compreensão de um fenômeno. No método de estudo de caso, a ênfase está na compreensão, fundamentada basicamente no conhecimento tácito que, segundo o autor, tem forte ligação com intencionalidade, o que não ocorre quando o objetivo é meramente a explanação, baseada no conhecimento proposicional.

Esta pesquisa adota então o processo indutivo com abordagem qualitativa e utiliza o estudo de caso, cujo enfoque e características, apresentados a seguir, demonstram ser o melhor método de pesquisa para se obter o tipo de conhecimento pretendido neste trabalho.