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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1.3 Configuração Organizacional e Estratégia

Estudos empíricos conduzidos pela , $ 4 " investigaram cada um dos elementos que formam a configuração de uma organização, desde seus aspectos básicos até os mecanismos pelos quais elas coordenam suas atividades, os parâmetros que usam para o de suas estruturas e seus fatores contingentes ou situacionais.

As investigações empíricas de Mintzberg (1979, 1983) detectaram uma convergência em torno de várias configurações distintas em seu estrutural nas situações em que são encontradas. O autor sugere, então, sete tipos de configuração organizacional: empreendedora, máquina, profissional, diversificada, , missionária e política, utilizando uma abordagem que agrupa organizações dentro de configurações distintas de estrutura e poder em função da consistência entre graus de parâmetros de (que orientam a divisão do trabalho e a coordenação entre as diversas atividades) e níveis de fatores situacionais ou contingenciais.

Para Hall (1984, p.31), “essa é uma abordagem multifacetada, predominantemente baseada nos modos como as organizações se estruturam para fazer face às várias contingências que enfrentam”. Morgan (1986) afirma que essa abordagem tem como objetivo mostrar que a organização eficaz depende do desenvolvimento de um conjunto coeso de relações entre vários atributos da empresa e do contexto onde está inserida.

Apesar de sintetizar o complexo mundo da Administração Estratégica, a Escola de Configuração não conseguiu ficar imune às criticas dos estudiosos de outras escolas. Donaldson (1996, p.108) acusou+a de “, $ ”, ou seja, uma mania desenvolvida pela , $ 4 ". O autor não discorda da categorização

apresentada ou da idéia de que as empresas mudam de configuração, mas contrapõe+se às mudanças quânticas de configurações, partindo do princípio de que as mudanças incrementais ocorrem num processo natural de adaptação da organização às suas novas realidades impostas pelo ambiente.

Após ampla revisão de seus estudos empíricos, Mintzberg (2007, p. 340+342) propõe uma redução de sete para apenas quatro tipos de configuração organizacional: empreendedora, máquina, e profissional. O autor reconhece que no mundo real as organizações podem até vivenciar todos os sete tipos de comportamento, mas afirma existir uma forte convergência em torno dos quatro tipos ideais, descritos a seguir:

Organização Empreendedora: controlada por um líder ou por um time pequeno e coeso, geralmente encontrada em ou e em ambientes bastante competitivos e/ou dinâmicos.

Organização Máquina: geralmente de grande porte e madura, com produção em massa de bens ou serviços padronizados, sujeitas a vários controles tecnocráticos e encontradas em ambientes mais estáveis.

Organização Profissional: dependente de profissionais altamente especializados que trabalham de forma autônoma. São sujeitas a regras profissionais e geralmente encontradas em ambientes razoavelmente estáveis.

Organização : organizada em torno de times de

especialistas em projetos para produção de inovações ou soluções customizadas. Via de regra, mas não necessariamente, são sujeitas a regras profissionais e encontradas em ambientes dinâmicos.

Mintzberg (2007) também propõe uma tipologia do processo da estratégia para cada um dos quatro tipos de configuração organizacional: visão estratégica para a organização empreendedora, planejamento estratégico para a organização máquina, aprendizado estratégico para a organização e, finalmente, aventura estratégica para as organizações do tipo profissional.

Outra característica da tipologia proposta por Mintzberg é o enfoque dado ao esforço humano nos diferentes tipos de configuração organizacional, conforme ilustra a figura 2.1.

Figura 2.1 Processo da Estratégia e Esforço Humano

Fonte: Mintzberg (2007)

O autor sugere uma correlação entre configuração organizacional e o processo da estratégia com o esforço humano mais demandado em cada tipo ideal. Ou seja, enquanto a arte tem a ver com :: e está enraizada na imaginação, geralmente do idealizador da organização empreendedora e tem como foco a inovação ::, a análise científica tem a ver com evidência sistemática :: e explora a capacidade analítica das organizações tipo máquina, com foco na replicação ou desdobramento da estratégia em todos os níveis da organização. A habilidade das organizações tipo está relacionada à experiência e ao aprendizado oriundo da prática, enquanto que as organizações tipo profissional

demandam uma combinação de arte e de (empreendedor) com habilidades desenvolvidas pela experiência (profissional).

A tabela 2.1 apresenta as principais características dos quatro tipos ideais de configuração organizacional proposto por Mintzberg (2007).

Tabela 2.1 Características dos Quatro Tipos de Configuração

CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORA MÁQUINA PROFISSIONAL ADHOCRÁTICA

Condições % ou ' , ambientes muito competitivos e dinâmicos Madura, produção em massa, ambientes bem estáveis Profissionais altamente especializados, ambientes estáveis Inovações, alta tecnologia, ambientes dinâmicos

Poder atribuído Liderança Sistema Cada profissional Times de projetos Integração Integração pelo

poder da liderança

Integração forçada por sistema formal

Integração remota Integrada de forma mais livre

Processo preferido da estratégia

Visão da liderança Programação planejada Aventura de cada profissional Aventura e aprendizado coletivo Estratégias predominantes Emergente com deliberada Deliberada, firme posicionamento Deliberada e emergente Emergente Padrão de Mudança Progresso firme com mudanças periódicas Longos períodos de estabilidade interrompidos por revoluções ocasionais Pequenas mudanças frequentes, mas mantendo a estabilidade geral

Ciclos dentro e fora do foco

Relação com o Contexto

Visa ficar afinada com o contexto

Pretende controlar o contexto

Cada profissional visa ficar afinado com o contexto

Procura responder com diferentes iniciativas, mas de forma coerente

Fonte: Adaptado de Mintzberg (2007)

As características observadas por Mintzberg (2007) por meio de estudos empíricos facilitam a análise das empresas, que, obviamente, não se enquadram perfeitamente em nenhum dos tipos ideais, mas se aproximam bastante de pelo menos um deles, principalmente no que diz respeito às condições, à atribuição do poder, aos padrões de mudança e ao contexto.

A figura 2.2 ilustra a combinação da configuração organizacional com seus processos da estratégia e o respectivo empenho ou esforço humano demandado em cada tipo ideal, sintetizando a proposta de Mintzberg (2007).

Figura 2.2 Configuração, Processo da Estratégia e Empenho Humano

Fonte: Fusão das figuras 12.1, 12.2 e 12.3 de Mintzberg (2007)

A tipologia acima foi utilizada para selecionar organizações que compõem os estudos de multicasos deste trabalho. A opção pela tipologia de Mintzberg (2007) está fundamentada na seguinte lógica:

Trata+se de uma tipologia oriunda de pesquisa empírica com processo indutivo e abordagem qualitativa, ou seja, há afinidade epistemológica entre o trabalho e as pesquisas de Mintzberg.

Ao adotar a tipologia de Mintzberg (2007) para selecionar os casos pode+se dizer que o trabalho contempla os principais tipos ideais de configuração organizacional, atendendo, assim, o objetivo da pesquisa exploratória.

Uma análise prévia das principais publicações de Mintzberg demonstra, de forma consistente, que sua premissa fundamental sobre gestão de pessoas é que gerenciar significa aplicar habilidades humanas nos sistemas, e não ao contrário, como sugerem os modelos prescritivos.

Dos autores da área de estratégia, Mintzberg demonstra ser o mais sensível em relação ao aspecto humano da estratégia e à complexidade do cotidiano organizacional como um espaço social .

Diferentemente de muitos gurus, a contribuição do Professor Henry Mintzberg para o pensamento sobre gestão e estratégia não é baseada em uma teoria sobre a particularidade de uma disciplina. Sua abordagem é ampla e fundamentada em trabalho empírico, como por exemplo, sua pesquisa sobre a natureza da atividade gerencial que envolveu o estudo de praticamente tudo

os gestores fazem e eles fazem no mundo real.

Segundo Crainer (2000), o lançamento do livro 6 ! ,

B 3, publicado em 1973, e o artigo semanal na & + / 7 sob o

título 6 , F G )@ 5 3 5 em 1975, geraram o primeiro

impacto de Mintzberg no mundo da gestão. Estas duas publicações estabeleceram a reputação do autor quando ele conseguiu provar que aquilo que os gestores faziam no exercício de suas responsabilidades era substancialmente diferente do que afirmava a teoria da administração.

De acordo com o - , ' -, , Mintzberg é

considerado um iconoclasta e rebelde da academia, mas tem desafiado a maioria das idéias tradicionais sobre a gestão das organizações. “Sem atacar as pessoas

Mintzberg (1973, 1975, 1979a, 1981, 1983, 1987, 1989, 2005, 2007)

cujas idéias ele discorda, Mintzberg vai a campo investigar o assunto e de forma simples e com uma clareza devastadora, prova que eles estão errados.” Sua proximidade do campo e a leitura fiel dos desafios e dilemas do dia a dia gerencial levam o -, a afirmar, com admiração, que “apesar de ter devotado parte de sua carreira estudando gestão, Mintzberg resiste à tentação de prescrever como alguém deve gerenciar.” (CMI, 2002, p.1).

Mintzberg tem conquistado uma posição única na literatura corporativa como um pesquisador fora do capaz de desafiar as premissas mais básicas sobre gestão por meio de métodos próprios de pesquisa empírica e um “estilo iconoclasta singular” (CRAINER, 2000, p.8).

A academia também tem reconhecido as contribuições de Mintzberg, não somente para o conhecimento sobre como as organizações são estruturadas (configuração) e como os gestores organizam o seu trabalho, mas também para o processo de desenvolvimento de teorias na administração (SMITH e HITT, 2005).

Outro fator que influenciou a escolha da tipologia das configurações organizacionais foi a oportunidade de ter tido o Professor Mintzberg como co+ orientador desta tese durante os quatro meses do meu estágio de doutorado na , $ 4 " onde pude discutir com meu co+orientador o projeto de tese e os resultados da pesquisa de campo realizada na &" '( ) , uma das empresas deste estudo de multicasos.

Aliás, mediante uma auto+reflexão, poder+se+ia entender que esta pesquisa pode estar contaminada pelo viés do pesquisador, que nos mais de 20 anos de experiência profissional no setor elétrico, tem adquirido certa desconfiança dos modelos prescritivos, sem fundamento empírico.