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3.4 Definição da Abordagem Metodológica

3.4.1 Abordagem Quantitativa

A abordagem quantitativa é composta por levantamento de dados por meio da aplicação de questionários a empresários do polo de confecções do Estado de Pernambuco. Segundo Creswell (2010, p.178), a utilização de instrumentos para levantamento de dados busca uma “descrição quantitativa ou numérica de tendências, atitudes ou opiniões de uma população, estuando-se uma amostra dessa população”. Logo, a justificativa para utilização desse método apoia-se na intenção de obter o máximo possível de respostas acerca do local objeto de estudo para buscar generalizações.

O levantamento dos dados através dos questionários tem a característica de um corte transversal, pois são coletados em um determinado momento, e não ao longo do tempo, de forma contínua.

O questionário, instrumento utilizado para o levantamento dos dados, foi elaborado com base em evidências na literatura, fazendo-se necessário mencionar a estrutura do mesmo, conforme recomendação de Dillman (1978). O questionário está estruturado em 3 blocos: o primeiro com as características do perfil do respondente e empresa; o segundo apresentando variáveis relacionadas à tomada de decisão e fontes de financiamento, e o terceiro com questões que tratam das práticas gerenciais de contabilidade, contemplando gestão de caixa, custos, formação de preço e utilidade/objetivo das ferramentas contábeis.

A construção prévia do questionário embasou-se, sobretudo, em estudos anteriores que analisaram as práticas de controle e sobre o uso de ferramentas gerenciais pelas empresas, principalmente em âmbito brasileiro. Esses estudos, em sua maioria, realizaram pesquisas através de surveys para conhecimento da amostra em relação às práticas gerenciais de contabilidade e de financiamento. As questões foram focadas no nível de uso das práticas

gerenciais e financiamentos, embora alguns dos questionamentos tenham objetivado compreender o grau de concordância com assertivas que remetem aos pressupostos da literatura (ex.: preferências por financiamento).

Por fim, o estudo atual abarcará questões relacionadas ao perfil das empresas, fontes de recursos, estratégia, gestão de custos, caixa e formação de preço. São perguntas relacionadas a 3 blocos: (1) perfil da empresa; (2) fontes de financiamento e (3) estratégia e práticas gerenciais de contabilidade, esta última contemplando gestão de custos, caixa e formação do preço de venda. Em cada bloco podem ser encontradas as seguintes características:

• Perfil da Empresa: tamanho, stakeholders da organização (caracterização), maturidade, concentração de decisões (processo decisório).

• Fontes de Financiamento: família, fundo pessoal, bancos, instituições financeiras, amigos, governo e outros.

• Estratégia (baixo custo e diferenciação) e Práticas Gerenciais de Contabilidade:

• Gestão de Custos: mensuração de custos, custo padrão, retorno, ponto de equilíbrio, custeio ABC, custeio por absorção, Custo-Volume-Lucro (CVL), EVA, BSC, orçamento.

• Gestão de Caixa: fluxo de caixa, administração de caixa, modo de pagamento, estratégias de pagamento.

• Preço de Venda: método de determinação e prática do preço.

Tais conceituações foram transcritas no questionário da forma mais simples possível, visando a dirimir dificuldades no entendimento das questões. Para diminuir falhas de elaboração, foram realizados dois pré-testes, tanto com acadêmicos (para que sugerissem melhorias), sendo 3 o total de participantes acadêmicos, quanto com empresários da região, sendo este grupo formado por 4 respondentes. Após os pré-testes, algumas questões foram suprimidas a fim de diminuir o tempo de aplicação (principal observação dos respondentes); outras, por conta da baixa relevância da resposta para o estudo. Foram excluídas questões relativas à teoria de Boostraping, que ampliavam a gama de alternativas para financiamento das empresas. Visto que o foco do estudo é a Teoria do Ciclo de Vida, essas questões foram retiradas para evitar possíveis conflitos e propiciar um questionário mais objetivo. Os pré-testes ocorreram no período de março a abril de 2016.

A versão completa do questionário pode ser visualizada no Apêndice A. Buscou-se apresentar tabelas demonstrando o bloco a que pertence cada variável/questão contemplada no questionário, com o respectivo objetivo e fundamentação por meio de exemplos na literatura. A fundamentação das variáveis na tabela não exaure a quantidade de estudos similares que abordam a temática, apenas buscando evidenciar exemplos para referência.

Tabela 4 - Fundamentação e Estrutura do Questionário – Bloco de Perfil

Bloco Variáveis Objetivo e Fundamentação

Perfil

Gênero Permite conhecer características básicas do respondente.

Cargo Possibilita a verificação do perfil do respondente, a exemplo de funcionários que possam ter menor conhecimento do negócio.

Faixa Etária Permite conhecer características básicas do respondente.

Formação Acadêmica Curso

Os dois questionamentos são relevantes para analisar o nível de escolaridade dos respondentes, e o consequente nível de conhecimento de gestão. Estudos apontam a relevância desses itens para a gestão (BATES, 1990; GEBRU, 2009; LOPEZ E HIEBL, 2015)

Quantidade de Funcionários Variável que pode ser utilizada como determinante do tamanho da empresa (MERCHANT, 1981).

Contratação de Facções Questão incluída pela autora pela constatação de tal prática no polo de confecções.

Faturamento Variável que pode ser utilizada como determinante do tamanho da empresa, encontrando amparo na classificação de seu porte na Lei Complementar nº 123/06 e posteriores alterações.

Prestação do serviço contábil

Tarefas e atribuições do contador

A participação do contador e como seus serviços são prestados são objetos de estudos nas micro e pequenas empresas (MOREIRA ET AL., 2013). A forma como este serviço é prestado pode interferir em como os empresários enxergam a utilidade da informação (BERNARDES E MIRANDA, 2011; RITCHIE E RICHARDSON, 2000; DÁVILA, 2005; DÁVILA E FOSTER, 2005, 2007)

Tempo de atuação no mercado; Tempo de formalização (registro);

Variável que pode ser utilizada como auxílio na determinação do estágio da organização (MOORES E YUEN, 2001)

Atividades internacionais; Há evidências de que a internacionalização da empresa está relacionada ao maior uso de controles gerenciais (MARC ET AL., 2010)

Motivação para abrir negócio A literatura apresenta dubiedade se abrir negócios por necessidade ocasionam pior gestão e consequente mortalidade (VALE, CORRÊA E REIS, 2014).

Tomada de Decisão e Fontes de Financiamento Concentração e delegação das decisões

Objetiva identificar se as decisões são concentradas (LEONE, 1999). Há evidências de que pequenos negócios descentralizados tendem a estar relacionados com maior adoção de práticas gerenciais (KING ET

AL., 2010)

Intuição ou relatórios para tomada de decisão

Objetiva verificar se é influenciada pela intuição, ou experiência pessoal do gestor, ou com suporte de relatórios para tomada de decisão (VERGARA, 1993; KLEIN, 1998;HALABI ET AL., 2010)

Distinção entre gastos pessoais e do negócio

Objetiva verificar o atendimento ao princípio da entidade.

Influência de objetivos pessoais e familiares

A forte influência de objetivos pessoais e familiares apresenta evidências de menor utilização das práticas gerenciais (ALATTAR ET AL. (2009); LEMA E DURÉNDEZ (2007); NEUBAUER ET AL. (2012); LOPEZ E HIEBL (2015). Isso também pode estar associado ao estágio da empresa e à sua fonte de financiamento (MAC AN BHAIRD, 2010).

Prestação de contas A prestação de contas pode representar um fator de influência em como a gestão é conduzida (HALABI ET AL., 2010; LOPEZ E HIEBL, 2015)

Fonte de recursos inicial Estudos demonstram a tendência em iniciar o negócio com recursos próprios, de acordo com Teoria do Ciclo de Vida (BERGER E UDELL, 1998) e da Pecking Order (MAC AN BHAIRD, 2010).

Fonte de recursos durante a gestão

A tomada de recursos durante a condução da empresa pode indicar em que estágio a empresa se encontra (BERGER E UDELL, 1998) ou suas preferências pelas fontes de recursos (MAC AN BHAIRD, 2010).

Preferências de tomada de recursos

Suas preferências pelas fontes de recursos podem estar alinhadas às teorias de estrutura de capital (MAC AN BHAIRD, 2010).

Meio mais rápido de aquisição de recursos

Essa questão pode auxiliar a verificação de facilidade ou dificuldade na obtenção de recursos. Alguns estudos apresentam a existência de dificuldades em obter financiamentos externos, por exemplo (BATES, 1990)

Prazo de empréstimos ou financiamentos

Alguns estudos afirmam que há tendência em utilização de empréstimos de curto prazo em detrimento dos empréstimos e financiamentos de longo prazo em empresas menores ou iniciantes (ULLAH E TAYLOR, 2007) Práticas Gerenciais de Contabilidade Práticas Gerenciais de contabilidade (custos, estratégia, avaliação e gestão de caixa)

Objetivo de utilização de práticas gerenciais de contabilidade

Questões que objetivaram verificar o nível de utilização de práticas e ferramentas gerenciais de contabilidade (ex.: SOUTES E GUERREIRO, 2007; FERREIRA E OTLEY, 2009; CHENHALL E LANGIELD-SMITH, 1998; WELSH E WHITE, 1981; AGUIAR, PACE E FREZATTI, 2009; MBROH, 2012)

Determinação do preço de venda

Verificar como o preço é determinado: se da utilização dos custos e margem ou do preço de mercado, ou até mesmo os dois em diferentes graus (BRAGA, BRAGA E SOUZA, 2010; MACHADO E SOUZA, 2006)

Estratégia Para este estudo foram consideradas as estratégias de baixo custo e diferenciação (CHENHALL E LANGFIELD-SMITH, 1998; SPENCER, JOINER E SALMON, 2009; AKSOYLU E AYKAN, 2013; CADEZ E GUILDING, 2008; ALMEIDA, MACHADO E PANHOCA, 2012)

Objetivo dos custos A intenção é conhecer a aplicação dos dados de custos para utilização de práticas e ferramentas gerenciais de contabilidade (ex.: SOUTES E GUERREIRO, 2007; FERREIRA E OTLEY, 2009; CHENHALL E LANGIELD-SMITH, 1998; WELSH E WHITE, 1981; AGUIAR, PACE E FREZATTI, 2009; MBROH, 2012)

Pagamento de Despesas Objetiva identificar formas de pagamento para verificar se há utilização de maior movimentação de

depósitos ou outros meios que estejam vinculados a instituições financeiras (Mbroh, 2012, traz exemplos de questões voltadas ao pagamento)

As questões, em sua maior parte, foram apresentadas em escala likert, que permitem ao respondente a escolha do nível de concordância (ou utilização de práticas, por exemplo) de uma determinada assertiva. Esse método de medição foi introduzido por Rensis Likert, em 1932, e até os dias de hoje recebe críticas em relação ao número de opções de resposta (PRESTON E COLEMAN, 2000; VIEIRA E DALMORO, 2008). Além disso, métodos de medição como o likert podem apresentar limitação de sua aplicação quando das características cognitivas dos respondentes. Há discussão de que, quanto maior o número de pontos de medição (itens ou opções), maior cognição necessária do indivíduo (WEATHERS, SHARMA E NIEDRICH, 2005). No entanto, este método tem sido comumente utilizado hodiernamente, e encontra validade em diversas áreas de pesquisa, desde psicologia à administração.

Os dados obtidos por escala likert permitem a utilização de correlações, como a de Spearman, assim como análises multivariadas, não se limitando às técnicas estatísticas utilizadas em dados nominais.

No questionário, também houve a elaboração de perguntas com respostas abertas, nas quais os respondentes poderiam justificar o motivo da escolha nas questões fechadas.