• Nenhum resultado encontrado

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1.2 Segundo Bloco: Tomada de Decisão, Gestão e Fontes de Financiamento

4.1.2.1 Análise Descritiva

A sumarização dos resultados encontrados neste bloco está disposta na tabela 12.

Os primeiros questionamentos relativos a esse bloco foram voltados ao processo de tomada de decisão. A maioria dos respondentes indicou um alto grau de concentração na tomada de decisão (com média 4,19), ou seja, um processo decisório concentrado no gestor. Tal fato é comum no âmbito das micro e pequenas empresas, no qual os proprietários são geralmente também gestores e responsáveis pela tomada de decisão (CASSAR E HOLMES, 2003; LEONE, 1999). Não obstante, a segunda assertiva, que trata da tomada da decisão

conjunta com funcionários ou a delegação desse processo a eles, apresentou a média de 3, apontando que os gestores não concentram tanto a decisão a ponto de não ouvirem os funcionários ou decidirem de forma conjunta.

Ainda em relação a tomada de decisão, também foi verificado que a utilização da intuição como direcionador do processo decisório não foi tão elevada (média de 2,37). Em contrapartida, o uso de relatórios ou indicadores gerenciais apresentou a média de 3,68, sugerindo que os gestores afirmam tomar as decisões auxiliados por esses relatórios, buscando, portanto, uma tomada de decisão mais racional. Contudo, no momento da aplicação dos questionários, diversos respondentes afirmaram não utilizar relatórios complexos, sendo esses muitas vezes confeccionados de forma manual, e embora utilizem tais relatórios, não houve discordância total acerca da utilização da intuição no processo decisório. O resultado adere às ideias de Vergara (1993), Klein (1998) de que a intuição faz parte do processo decisório, mas que as empresas buscam fundamentar suas decisões também em informações contábeis e financeiras, o que facilita o processo de tomada de decisão e aperfeiçoa o controle e desempenho da organização (MAINVILLE, 2007).

O segundo questionamento refere-se à concordância sobre a segregação entre os gastos pessoais e os gastos do negócio e apresentou uma média de 3,7, indicando um discreto grau de concordância com a assertiva. Durante a aplicação dos questionários, constatou-se que vários respondentes afirmaram saber da necessidade da segregação, mas que nem sempre conseguiam realizá-la. Os respondentes que comentaram a respeito também se mostraram mais conscientes sobre os prejuízos de gestão ocasionados pela quebra do princípio da entidade. Quanto ao nível da influência dos objetivos pessoais e familiares na tomada de decisão da empresa, a média encontrada foi de 3,22, indicando um leve grau de concordância. Alguns estudos, como o de Neubauer et al. (2012) e Lopez e Hiebl (2015), afirmam que a relação entre os desejos pessoais do gestor e sua família pode promover um cenário menos influenciado pelas características de controle de agência, e, por consequência, com menores mecanismos gerenciais. Esse questionamento permite verificar, a posteriori, se os objetivos familiares estão associados a menor uso de práticas gerenciais de contabilidade, como sugerem Lema e Durendéz (2007) e Neubaeur et al. (2012).

O terceiro questionamento envolveu a prática de prestação de contas realizada pela empresa. A maioria dos respondentes alegou realizar a prestação de contas da empresa (58,4% das respostas válidas). Para entender melhor como isso ocorre, foi realizado questionamento

aberto, cujo resultado pode ser verificado na figura 16. O objetivo desta pergunta foi o de verificar se a empresa possui, de forma voluntária ou compulsória, a necessidade de demonstrações financeiras e contábeis a determinados grupos interessados, resposta essa que talvez possa auxiliar na compreensão de adoção de algumas práticas gerenciais de contabilidade ou adoção de fontes de financiamento.

A palavra mais repetida nas respostas foi “governo”, colocando-o como principal motivador da prestação de contas. Os respondentes também asseveraram prestar contas a sócios e bancos, sendo a este último em menor grau. Respondeu-se, também, que, por vezes, a prestação de contas da empresa direciona-se aos próprios gestores, e que estes consideram tais relatórios parte essencial para o conhecimento dos detalhes da gestão.

A figura 16 representa a nuvem de palavras para as respostas obtidas.

Figura 16 - Prestação de Contas

Fonte: dados da pesquisa (2017).

As respostas reforçam a evidência encontrada sobre as principais atribuições do contador (ver figura 14, na seção 4.1.1.1), associadas principalmente ao cumprimento das obrigações fiscais e tributárias. O contador elabora a prestação de contas da empresa para atender às exigências periódicas do governo, e por vezes, para atender a uma demanda de acompanhamento, não necessariamente gerencial, do proprietário e dos sócios.

Após os questionamentos sobre a tomada de decisão, foram realizadas perguntas acerca dos financiamentos dessas empresas, desde os financiamentos obtidos para iniciar a firma, desde as preferências pelos financiamentos.

Quanto a fonte inicial de financiamento, vê-se que as duas fontes de maior destaque são os recursos próprios (40,39%) e a assistência familiar (média de 26,66%). A terceira fonte foi o crédito junto a fornecedores (média de 11,80%), o que significa que muitos começaram o negócio com “contas a pagar” junto a fornecedores. Os empréstimos, apesar de menos relevantes do que os recursos próprios e a assistência familiar, representam, juntos, 20%. Fontes como amigos e leasing/arrendamento sequer foram citadas.

Já quanto ao financiamento no curso dos negócios da firma, verificou-se que a média da utilização de todas as alternativas de recursos está abaixo de 3, indicando que as empresas participantes da pesquisa não recorrem regularmente a fontes de recursos que não aquelas resultantes da própria atividade da empresa, permitindo observar características semelhantes à adesão da pecking order (ULLAH E TAYLOR, 2007). Quando elas recorrem a recursos externos, tendem a optar por recursos próprios ou pessoais (média de 2,89), por crédito junto aos fornecedores (média de 2,12) e pela assistência familiar (média de 2,07). Empréstimos são utilizados com menor representatividade (médias próximas a 2).

Para verificar as preferências dos respondentes quanto às fontes de recursos utilizadas atualmente, ou que estariam dispostos a usar no futuro, foi perguntado como e com quais recursos a empresa pretendia crescer. Os respondentes preferem utilizar os recursos gerados internamente do que recorrer a bancos (média de 4,55). Questionados se possuem preferência a sócios no lugar de obterem recursos bancários, houve discordância parcial (em média) da assertiva. Mesmo sem precisarem colocar em preferência alguma fonte em detrimento de outra, os respondentes afirmaram que não utilizariam recursos de sócios para conseguir recursos (média de 2,07). Os respondentes também apresentaram média de concordância de 2,8142 em relação à obtenção de recursos bancários para o crescimento da empresa, assinalando-se que a média de concordância em utilização dos recursos bancários é maior do que as dos sócios (como nas assertivas anteriores). As demais alternativas indicaram que os respondentes aparentam ter uma confiança nos recursos pessoais e familiares.

O penúltimo questionamento objetivou verificar a disponibilidade de recursos em caso de necessidade. Verificou-se que a fonte mais rápida para se conseguir caixa é por meio dos recursos próprios, em consonância com os resultados encontrados até então sobre as escolhas e

preferências de financiamento dos respondentes. As médias de concordância para os empréstimos bancários e para caixa mediante assistência familiar como meios mais rápidos de conseguir recursos são similares (média 2,83 e 2,80, respectivamente) e estão abaixo de 3, indicando uma reduzida concordância. Era esperado que recursos bancários fossem os meios menos acessíveis e pouco disponibilizados se comparados aos recursos familiares (ARAGÓN SÁNCHEZ E SÁNCHEZ MARÍN, 2005).

No último questionamento sobre o financiamento das empresas, avaliou-se se, quando as empresas buscam empréstimos ou financiamento, elas tendem a utilizar o curto ou o longo prazo. 47 pessoas não responderam à questão, e o principal motivo foi a não utilização de quaisquer empréstimos (39 pessoas responderam esta assertiva), ou, em menor quantidade (8), não saber informar qual tipo ou não responder e não apresentar justificativa. Da amostra válida, 67,3% responderam optar pelo empréstimo de curto prazo.

Segue resumo dos resultados encontrados no bloco:

Tabela 12 - Sumarização dos Resultados Encontrados no Bloco 2

Variáveis do Bloco Principais Resultados

Tomada de Decisão Tende a ser concentrada (média 4,19) e não tão intuitivas (média de utilização dos relatórios de 3,68)

Distinção entre gastos do negócio Tende a haver uma distinção entre os gastos (média 3,72), e uma não evidente mistura de patrimônios e gastos (média 2,55), e a condução da empresa é um pouco influenciada pelos objetivos pessoais e familiares (média 3,22);

Prestação de contas 57,9% possuem algum tipo de prestação de contas, mesmo que para os próprios gestores ou proprietários;

Fonte de recursos para iniciar o negócio 1º - recursos próprios (40,39%); 2º - família (26,6%); 3º - crédito com fornecedores (11,80%)

Fonte de recursos durante a gestão 1º - recursos próprios (média de 2,89); 2º - crédito com fornecedores (média de 2,12); 3º - assistência familiar (média de 2,07); 4º - empréstimos no geral (diversas médias próximas a 2)

Preferência das fontes dos recursos 1º - prefere recursos internos se comparado a bancos (média de 4,55); 2º - acredita que a utilização de recursos pessoais e familiares é mais confiável para crescer (média de 3,43); 3º - preferência por sócios ou familiares em detrimento aos externos (média de 3,03); bancos e sócios externos não apresentam média elevada

Recursos fornecidos mais rapidamente 1º - poupança e crédito pessoal (média de 3,37); 2º - empréstimos bancários (2,83); 3º - assistência familiar (2,80)

Prazo de empréstimos 67,3% preferem ou utilizam o curto prazo; os que usam longo prazo (28,4%) são motivados pela possibilidade de investimento ou condições de pagamento

Fonte: dados da pesquisa (2017).

4.1.2.2 Algumas inferências entre as variáveis de financiamentos e tomada de decisão (Segundo Bloco)

A visualização das relações está mais detalhada no Apêndice D, Tabela D4. A tomada de decisão centralizada, por exemplo, está positivamente associada à utilização de recursos próprios na gestão, enquanto a tomada de decisão com base em relatório ou indicadores está positivamente associada à distinção entre os gastos pessoais e da empresa.

Uma tomada de decisão mais intuitiva, menor uso de empréstimos (e também da pretensão em utilizá-los), e uma não segregação entre os bens pessoais e da organização apresentam associações positivas com a influência da família nos negócios (de modo a interferir nas decisões ou por meio de financiamentos). Empresas tendentes a adquirir mais recursos por meio da família acreditam ser este o meio de obtenção mais confiável de recursos e mais rápido em caso de necessidade.

A utilização de recursos próprios contrasta com as características vistas acima. Os recursos próprios estão associados a uma maior distinção entre os bens pessoais e empresariais, além de não apresentarem grande influência dos objetivos pessoais e familiares na condução do negócio, nem se oporem ao crescimento através da busca por novos sócios externos.