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C) A aproximação com as informantes: entre “lá e cá”

3.1 Ideias centrais sobre Empreendedorismo

3.1.3 Abordagens de base social e cultural

A última vertente está relacionada a Max Weber que, segundo Santiago (2009) foi

[...] que buscou respostas nos traços pessoais e nas atitudes dos indivíduos, recorrendo aos sistemas de valores e ações econômicas para explicar o devotamento ao trabalho e à prática do empreendedorismo, aqui entendido como o ‘espírito do capitalismo’ (SANTIAGO, 2009, p. 89).

Weber (1947), em seu livro sobre a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, relacionou filiação religiosa com estratificação social, a partir de estudos realizados na Alemanha. Neste estudo ele percebeu que os protestantes se sobressaíam como dirigentes empresariais e técnicos de nível superior. Destacou também que algumas vertentes do protestantismo foram fundamentais para a formação do espírito que move a economia ocidental moderna. O autor buscava compreender as particularidades do capitalismo moderno a partir da explicação de como a motivação para o ganho e para o lucro (por motivações religiosas) levava a um determinado modo de conduta racional que favorecia a atividade empreendedora. Logo, uma das principais características do empreendedor weberiano é a racionalidade, tanto no processo de produção como de comercialização para o aumento da produtividade. Weber apresentou como fatores propulsores do comportamento econômico atitudes e valores religiosos, sendo a religião protestante fundamental para o desenvolvimento empreendedor.

O ‘espírito do capitalismo organizado e racional’ de Weber, de acordo com Santiago (2009), está referenciado em alguns preceitos de Benjamim Franklin: “trabalhar de modo mais árduo possível, durante o máximo de tempo possível para se ganhar o máximo de dinheiro possível” (SANTIAGO, 2009, p 93). E o dinheiro ganho, para ele, devia ser reinvestido para produzir mais dinheiro; ou seja, para a acumulação de capital constituindo assim a base da “filosofia da avareza”.

Nas palavras de Colbari (2007),

Para Weber não eram os aventureiros nem os jogadores que encarnavam o espírito capitalista moderno que se expressava no caráter e nas condutas de vida metódica e eticamente sancionada. À luz da análise de Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil

(1995:44), inspirada na metodologia weberiana, o empreendedor parece resultar de uma síntese entre o tipo trabalhador e o tipo aventureiro. Sonhador, destemido, metódico e calculista, encarna as duas éticas – a do trabalho e a da aventura – por meio da combinação do espírito do aventureiro com a capacidade de realizar do trabalhador. Como o aventureiro, ignora as fronteiras, “vive em espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes”, busca “novas sensações”, mas não pretende “colher o fruto sem plantar a árvore; é audacioso, mas não é imprevidente, irresponsável, instável e não busca compensações imediatas”. Se o trabalhador é o que “enxerga primeiro a dificuldade a vencer, e não o triunfo a ganhar”, o empreendedor mira o triunfo a ganhar (persistência nas metas) sem perder de vista os meios adequados (flexibilidade nas estratégias) para vencer os obstáculos. No entanto, é industrioso, persistente e sabe tirar máximo proveito do insignificante e da adversidade. Como o aventureiro, é levado pelo “desejo de novas sensações” e de “consideração pública”, mas também é sensível aos desejos de segurança e de correspondência que marcam o tipo trabalhador. (COLBARI, 2007, p. 81-82).

Considerando que as estruturas sociais se constituem no objeto de estudo da Sociologia, bem como a existência de componentes sociais na atividade econômica (o papel das forças sociais, das estruturas sociais e das instituições), Favareto (2005) apresenta algumas abordagens sociológicas sobre o empreendedorismo, com base nos estudos de Thorton (1999) e Swedberg (2000). Assim, uma das vertentes apontadas remete à análise do empreendedorismo como uma atividade de grupo, e não em termos individuais. Por esse viés, Kanter (1983; 1988) vê o empreendedor como alguém que pode motivar e coordenar outros sujeitos, com a finalidade de concretizar o objetivo do grupo.

Uma segunda vertente trazida ainda por Favareto (2005) está assentada na teoria das redes (SAXENIAN, 1994; GRANOVETTER, 1995; BURT, 1992). A partir desses estudos observa que o empreendedorismo está relacionado com a busca de associação de recursos disponíveis a partir da conexão de diversas redes que atuam isoladamente ou de forma interdependente.

Outra abordagem do empreendedorismo por um viés sociológico remete ao papel dos sistemas produtivos locais na concepção de uma nova forma de empreendedorismo. Tomando como referência Bagnasco (1977), destaca “as características morfológicas de determinados territórios e sua importância no estabelecimento da dinâmica econômica local” (FAVARETO, 2005, p. 35), relacionando, assim capital social e territórios (ABRAMOVAY, 2003).

Ainda pela perspectiva de capital social, Favareto (2005) apresenta outra vertente (WOOLCOCK, 1998; OSTROM; AHN, 2001), que “incorpora as organizações formais e informais como parte determinante das interações sociais”. (FAVARETO, 2005, p. 36). Logo, destaca o aprendizado coletivo dos agentes.

Já Swedberg (2000) e Thorton (1999) percebem o empreendedorismo pelo viés social e cultural, e não apenas consideram os fatores econômicos e psicológicos. Nessa perspectiva, empreendedorismo é processo dinâmico, sujeito a mudanças a partir dos contextos sociais, econômicos e culturais.

Além de Favareto (2005), outros estudos apresentam aspectos sociais e culturais que podem influenciar na atividade empreendedora, como o histórico familiar, o desemprego ou a filiação religiosa. Assim, Danjou (2002) vê o empreendedorismo sob três ângulos: o contexto (condições sobre a ação empreendedora), o ator (sujeito que empreende), e a ação (como o empreendedor desenvolve sua ideia).

Bygrave (1993) destaca que os aspectos sociais devem ser percebidos em conjunto, uma vez que empreender envolve a influência de vários fatores, como “a perspectiva de carreira, influência de familiares e amigos, modelos de referência, a capacidade de construir redes de relacionamentos e as condições da economia e acesso aos recursos” (OLIVEIRA; GUIMARÃES, 2006, p. 87). Shapero e Skol (1982) mencionam os aspectos negativos que interferem na motivação para empreender, como o desemprego ou a imigração. Logo, são muitas as variáveis que podem auxiliar no entendimento do comportamento empreendedor, como a história de vida (desemprego, demissões ou imigração, que são mudanças forçadas), a experiência prévia, as influências familiares e as crenças religiosas.

Kilby (1971) também apresenta teorias de base social que buscam explicar como se originou e se desenvolveu o empreendedorismo, onde se destacam os estudos de Cochran (1971) e Young (1971). Cochran (1971) explicou o surgimento de empreendedores a partir dos valores culturais, das sanções oriundas dos desvios comportamentais esperados e do cumprimento dos papeis. Assim, considera que três fatores influenciam o desempenho do empreendedor: suas próprias atitudes no que concerne à sua ocupação, às expectativas do grupo sobre seu papel e às exigências operacionais do seu trabalho (todavia, os valores sociais determinam os dois primeiros fatores).

Young (1971) aponta que os valores, atitudes e crenças que são compartilhadas pelos indivíduos de um grupo, ou seja, as características sociais e comportamentais fomentam o desenvolvimento de empreendedores. Portanto, não compartilha da ideia de que características comportamentais identificam o empreendedor, mas as atitudes empreendedoras são resultado do ambiente familiar e de experiências profissionais anteriores.

Por fim, Oliveira e Guimarães (2006) também mencionam estudos que consideram outros fatores fundamentais para o êxito do empreendedorismo, como o suporte das agências governamentais, mecanismos de financiamentos e facilidades para o acesso ao crédito, a infraestrutura industrial do país e as políticas públicas de incentivo aos novos negócios.

Partindo de argumentos das três abordagens, podemos retomar Colbari (2007), para quem,

A empregabilidade e a capacidade de empreender, apesar de vinculadas aos atributos individuais, são, de fato, construções sociais associadas a indicadores clássicos (sexo, cor, faixa etária, etc.) e a outros fatores relacionados ao capital social, como redes sociais familiares, religiosas, comunitárias, afinidades étnicas. Reportam às trajetórias profissionais nas quais foram decisivos os fatores estruturais e circunstanciais – as determinações sociais e econômicas do contexto mais abrangente –, mas não menos importantes foram as condições psicossociais determinadas pela história de vida, herança familiar e capital cultural acumulado. (COLBARI, 2007, p. 98-99).

Além das três vertentes (econômica, comportamental e social/cultural), Santiago (2009) ainda acrescenta que

[...] a visão contemporânea do empreendedorismo está vinculada ao conceito de competência, concebida esta como a capacidade pessoal para realizar eficientemente uma tarefa. São fatores de competência: saber (conhecimento); saber fazer (habilidade); e querer fazer (atividade ou valor). (SANTIAGO, 2009, p. 97).

Nesse contexto, Gaiger e Corrêa (2011) apresentam quatro perspectivas na utilização do termo empreendedor:

a) empreendedor como iniciador, capitalizador ou gerenciador de negócios, via mudanças adaptativas; b) empreendedor como articulador de redes e detentor de capital social; c) empreendedor

como inovador e provocador de mudanças radicais no mercado; d) empreendedor como líder dotado de traços comportamentais específicos, como criatividade, propensão ao risco, ambição, automotivação, etc. (GAIGER; CORRÊA, 2011, p. 36).

Assim, nas várias definições sobre o termo, focaliza-se o indivíduo, contudo Gaiger e Corrêa (2011) apontam para os estudos da nova sociologia econômica, que desfocam do indivíduo para as relações sociais, em que os fenômenos econômicos e as instituições sociais estão imersos. Por esse viés, “os mercados não podem ser explicados pela ação singular do indivíduo que aloca recursos escassos para fins alternativos, maximizando a utilidade, pois os fatores estruturais e culturais devem ser analisados”. (GAIGER; CORRÊA, 2011, p. 37).

Considerando, então, o povo brasileiro, segundo dados do Global

Entrepreneurship Monitor (GEM)5, a taxa de atividade empreendedora (TEA) do Brasil no ano de 2013 ficou em torno de 32,3%, o que significa que praticamente 32 em cada 100 brasileiros adultos (18 a 64 anos) estavam envolvidos em atividades empreendedoras.

O nível de empreendedorismo feminino apontado pela pesquisa do GEM também é expressivo. Em 2013 as mulheres brasileiras representavam 52,2% dos empreendedores no país, constituindo uma conquista se comparado com dados de 2001, em que os homens respondiam por 71% destes contra 29% das mulheres.

Apesar dessa expansão, os estudos e pesquisas sobre empreendedorismo também realçam as dificuldades de abertura e, principalmente, no que se refere à gestão dos negócios, além dos entraves burocráticos e as barreiras para formalização.

Desde 2001, a evolução da atividade empreendedora vem sendo medida no mundo, e verifica-se que se perpetua, como tendência, o empreendedorismo como alternativa dos países periféricos [...] indicando a fragilidade da argumentação que associa o empreendedorismo à bem-aventurança econômica capitalista como contra-argumentam os reformistas liberais da atualidade. Países de alta renda e forças produtivas desenvolvidas não seguiram, necessariamente, o modelo do empreendedorismo. Entretanto, por esses dados verificamos que o quesito motivação é ainda mais revelador dessa variação, na medida em que é possível distinguir claramente que nos países de renda mais alta o empreendedorismo é motivado pela “oportunidade” e nos países periféricos o principal

5 Criado em 1999, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) é o maior estudo independente do mundo sobre a atividade

incentivador é a própria “necessidade”, como no caso brasileiro, pelo alto percentual de desemprego, desigualdade social e frágil proteção social pública. (BARBOSA, 2007, p. 86).

Nesse sentido, considerando as dificuldades para empreender (abrir, gerir e manter um empreendimento), também se faz necessário perceber os diferentes tipos de empreendedorismo ou motivações para empreender, bem como o que pode ser feito no que concerne a estratégias de desenvolvimento dos negócios, como lembra Julien (2005), de que o papel do Estado deve se pautar em cinco ações: a de orientar, ligar, apoiar, estimular e facilitar.

Assim, sendo por falta de opção ou por escolha para trazer ideias novas, dividem-se as motivações para empreender, principalmente, em empreendedores por oportunidade (que são os sujeitos que têm vocação para o empreendedorismo ou acham nichos pouco explorados) e por necessidade (que são os sujeitos que não encontram outra forma de geração de renda).

Em um âmbito mais geral, Alvim, Nunes e Castro (2012) apontam quatro grupos de motivações para empreender, conforme quadro abaixo:

Quadro 2: Classificação dos tipos de “empreendedorismo” ou motivações para empreender

Apesar de o empreendedorismo ser visto de forma positiva por muitos autores, considerando-o como importante para o crescimento econômico e para o desenvolvimento regional, ou como benefício para a população mais pobre, faz-se necessário também apontar as críticas direcionadas a esse fenômeno. Nessa perspectiva, Alvim, Nunes e Castro (2012) tecem críticas ao processo de implementação do empreendedorismo no Brasil e à adoção da figura jurídica do microempreendedor individual (MEI) na legislação brasileira, a qual é vista como enfrentamento à informalidade e ao desemprego estrutural6. Os autores apontam a “existência de uma função ideológica no discurso e nas práticas empreendedoras que vêm sendo disseminadas ao longo das duas últimas décadas”. (ALVIM; NUNES; CASTRO, 2012, p. 5).

Assim, estes autores apresentam três argumentos que demonstram o viés ideológico do discurso empreendedor (ideologia aqui entendida no sentido de imposição de ideias, valores e comportamentos que partem de um grupo, com vistas a manter relações de dominação e exploração). O primeiro argumento corresponde à perspectiva do empreendedorismo como característica universal que pode ser realizado por qualquer sujeito; o segundo refere o empreendedorismo como solução para o desemprego estrutural; e, por último, de que existem características inatas aos próprios sujeitos que apresentariam o DNA de empreendedor. Partindo disso, enfatizam que a ideologia empreendedora

[...] apenas contribui para um processo contínuo de reprodução da exclusão e de acirramento das desigualdades sociais, impondo novos desafios para uma possível reação das classes trabalhadoras e, na medida em que recentemente se expressa numa legislação específica, representa, igualmente, um desafio para as instituições jurídicas brasileiras. (ALVIM; NUNES; CASTRO, 2012, p. 5).

Considerando as transformações no mundo do trabalho – com a reestruturação produtiva no aspecto econômico, e com a desregulamentação e a flexibilização dos direitos dos trabalhadores no aspecto social – Alvim, Nunes e Castro (2012) destacam a inviabilização da manutenção do emprego e o aparecimento de uma segunda categoria dos trabalhadores, os informais (sujeitos fora do mercado formal e sem proteção do Estado). Além destes, apontam o

6 Desemprego estrutural compreendido no sentido de que os postos de trabalho são substituídos por processos produtivos

surgimento de uma terceira categoria, os “inempregáveis”, que se ocupam de trabalhos precários (temporários, terceirizados, em tempo parcial, subcontratados, cooperativados). Logo, explicam que o empreendedorismo

[...] não atrai apenas os excluídos sociais (desempregados/trabalhadores informais), mas também os trabalhadores precarizados (subempregos). Isto porque mesmo os empregos criados no contexto neoliberal foram acompanhados de contratos de trabalho realizados sob um arcabouço jurídico-legal que já havia institucionalizado as formas precárias, mediante a flexibilização do tempo de trabalho (jornada de trabalho), da remuneração, das espécies de contratação, da alocação do trabalho e, por fim, das formas de resolução dos conflitos (inclusive, com amplo incentivo à solução direta). (ALVIM; NUNES; CASTRO, 2012, p. 3).

Nessa perspectiva de ascensão da informalidade e aumento do desemprego está também o crescimento da razão empreendedora, que surge como alternativa à exclusão social, inclusive com sua materialização em política pública. Alvim, Nunes e Castro (2012) apontam, entretanto, aspectos ocultos nessa dinâmica. Um deles concerne à inversão na representação social em relação à informalidade, em que os sujeitos que viviam marginalizados do sistema formal passaram a ser vistos como excluídos sociais, e o Estado sinaliza para sua nova inclusão através de sua formalização como microempreendedores individuais.

O outro aspecto camuflado acena para o fato do empreendedorismo de viés neoliberal não ter capacidade para solucionar a exclusão social, porque

[...] aceitar que tais indivíduos, por um malabarismo quase semântico, passaram a ser empresários e aptos a competirem no “mercado livre” implica em admitir que essa consiste na única forma que o Estado ainda dispõe de mantê-los minimamente integrados, o que, por si só, já evidencia o quanto essa integração só pode ser compreendida em termos de uma pseudo-inclusão social, cuja lógica continua sendo pautada pelo binômio inclusão/exclusão e que apenas contribui para o agravamento da histórica desigualdade social. (ALVIM; NUNES; CASTRO, 2012, p. 15).

Além desses autores, também Gorz (2007) apontava o pensamento empreendedor como repleto de ideologia. Assim, ele faz uma distinção entre o pensamento liberal, onde o empreendedor busca maior lucratividade possível, e a ideologia liberal, onde o empreendedor é aquele que tem capacidade de criação de

objetos e serviços que antes não existiam, não sendo motivado apenas pelo cálculo econômico, mas na perspectiva de criação de valores e comportamentos.

Por esse viés, Alvim, Nunes e Castro (2012) também tecem críticas a dois “ideólogos do discurso empreendedor” - Dolabela e Chiavenato - sendo que, para Dolabela, o empreendedor

[...] se dedica à geração de riquezas, seja na transformação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração do próprio conhecimento ou na inovação em áreas como marketing, produção, organização, etc [...] não é somente uma questão de acúmulo de conhecimento, mas a introjeção de valores, atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de si mesmo voltados para atividades em que o risco, a capacidade de inovar, perseverar e conviver com a incerteza são elementos indispensáveis (DOLABELA, 2008, p. 60).

Ainda para Alvim, Nunes e Castro (2012), tal visão contribui no entendimento da função ideológica da razão empreendedora, no sentido de que Dolabela (2003) apresenta o empreendedorismo como gerador de distribuição de renda, de desenvolvimento econômico e de benefícios para a sociedade; como forma de combate à pobreza e à miséria. Contudo, desconsiderando “a ‘lógica desigual e combinada’ que move todo o processo de desenvolvimento e distribuição de riquezas no sistema capitalista de produção, ele torna explícita a falsa universalidade inerente à visão liberal de mundo”. (ALVIM; NUNES; CASTRO, 2012, p. 11).

Já Chiavenato (2007) também percebe o empreendedorismo como importante para o crescimento econômico, sendo os empreendedores

[...] heróis populares do mundo dos negócios. Fornecem empregos, introduzem inovações e incentivam o crescimento econômico. Não são simplesmente provedores de mercadorias ou de serviços, mas fontes de energia que assumem riscos em uma economia em mudança, transformação e crescimento (CHIAVENATO, 2007, p. 4).

Retomando Alvim, Nunes e Castro (2012), os autores esclarecem que qualquer apologia sobre o culto ao empreendedorismo precisa ser observada em concomitância com outras determinações do momento histórico, e também que essa visão de transformação dos sujeitos pobres em empreendedores não assegura a participação mais efetiva nos resultados da produção capitalista. Eles mostram

também “que esses grupos ainda são, de alguma forma, úteis à nova divisão social do trabalho, porém apenas como trabalhadores expropriados (de seus direitos) e como consumidores (sobretudo, de crédito)”. (ALVIM; NUNES; CASTRO, 2012, p. 12). Além disso,

O indivíduo que se auto-emprega, mesmo que a sua atividade não seja interior à produção capitalista, não é nem autônomo nem capitalista. Tal qual um assalariado, o produto de seu trabalho será enlaçado pela lógica do capital. O mercado é o ponto para o qual todos convergem e no qual todas as pseudo-autonomias se dissolvem. Por mais independente que o indivíduo imagine ser, o produto do seu trabalho terá, em algum momento, de se confrontar com outros, no mercado, onde cada troca imprime a presença da mais-valia, expressando, portanto, a oposição do capital à capacidade viva de trabalho (ALVES; TAVARES, 2006, p. 441).

Em suma, o empreendedorismo é apontado por um lado como potencializador de desenvolvimento econômico e de outro é visto com ressalvas, e isso motivado por vários fatores, como os já citados: na falsa ideologia de que todos podem empreender ou de que já se nasce com características empreendedoras; que estes novos empreendedores entram numa nova lógica de consumo (do crédito, para poder iniciar seus negócios); ou ainda porque aqueles que estão fora do mercado formal são responsabilizados pelo próprio Estado, que propõe sua reinserção através da formalização de seus empreendimentos.

Nessa lógica, Colbari (2007) adverte que o empreendedorismo, enquanto fenômeno que extrapolou a área dos negócios e se deslocou para um tecido social mais amplo, traz enormes desafios para que seja situado em “uma teia de significados culturais e, consequentemente, em uma matriz teórica e ideológica” (COLBARI, 2007, p. 101-102). Assim, ele se afasta da matriz liberal e se aproxima de valores como cooperação e solidariedade. Não podendo, entretanto, ser enquadrado em uma única categoria, tomado como meio de desenvolvimento e alternativa ao desemprego, termina por demandar cobranças. Dessa maneira, lembra Colbari (2007), “não raramente, surgem propostas de torná-lo alvo prioritário de políticas públicas, integrando as políticas educacionais e a agenda das organizações da sociedade civil, como associações de moradores, entidades de classe, etc.”.(COLBARI, 2007, p. 101-102).

Após as concepções e argumentos sobre empreendedorismo apresentados, que refletem posições de variadas áreas, e na perspectiva do empreendedorismo

como tema de políticas públicas, na próxima seção discutiremos isso, relacionando- as, inclusive, à perspectiva de gênero, uma vez que, como vimos, as mulheres vêm se sobressaindo à frente das atividades empreendedoras.