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C) A aproximação com as informantes: entre “lá e cá”

5.5 Junções e disjunções do Programa: impasses e contradições

Em Pernambuco, o Programa não atingiu todos os municípios propostos, realizando atividades em 12 dos 14 estipulados como meta (Camaragibe, São Lourenço da Mata, Igarassu, Abreu e Lima, Itamaracá, Itapissuma, Araçoiaba, Paulista, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Recife). Apenas Itamaracá e Ipojuca não tiveram participantes, conforme relatou a Gestora 3: “do polo 2 Itamaracá não participou, apesar de ter até encaminhado uma representação pra o seminário, pra reunião de sensibilização [...] e de Itapissuma apenas uma mulher”. Quanto a Ipojuca, segundo a Gestora 1, não

houve interesse local para que o Programa acontecesse com as mulheres de lá, mesmo sabendo que a contrapartida seria somente o transporte.

Numa publicação sobre a realização do Programa nos cinco estados escolhidos, um trecho sintetizou a sua atuação em Pernambuco:

É assim que, a partir dos depoimentos nos cursos e demais eventos, pode-se afirmar que os objetivos e desafios têm sido alcançados pelo PTEM, ao identificar que o cotidiano das mulheres, direta e indiretamente, se faz iluminado quando há a oportunidade da conquista do exercício de protagonizar, de ser dona da sua própria história e, de forma mais global, considerar que o Programa, assim, deu o primeiro passo, ainda que sutil, para se obter o reconhecimento da efetiva participação direta das mulheres na formação da riqueza mundial (MELO, 2012c, p. 163).

De fato, ressalta-se que dos objetivos postos, os desafios e impasses foram maiores, considerando que o Programa não conseguiu efetivamente realizar a formação de empreendimentos coletivos, a autonomia econômica e ambiência produtiva, elementos fundamentais que poderiam, se bem conduzidos e acompanhados, assegurar a melhoria das condições de vida dessas mulheres expostas à situação de tão aguda precariedade, quiçá um primeiro passo para a “efetiva participação direta na formação da riqueza mundial”.

Os conteúdos dos cursos, pelo que pudemos apreender da leitura do material “didático” produzido e confirmado pelos depoimentos das participantes, revelaram-se de tudo inadequados para provocar uma situação de mudança que a realidade exigia e assim reverter o quadro de necessidade provocado pela fragilidade socioeconômica a que estavam expostas as mulheres alvo do Programa.

Os eixos temáticos explorados tanto nos cursos, como nos seminários, dando um excesso de ênfase às questões subjetivas da autoestima, cuidados com a estética, do cuidar de si mesma, etc, nos levaram a questionar sobre sua pertinência diante de um cenário socioeconômico tão adverso.

A nosso ver, dentro de um cronograma de atividades trabalhado em tempo tão restrito, as prioridades deveriam ser outras de maneira a fornecer condições que levassem a atenuar de fato as dificuldades ressentidas, acenando assim para um horizonte de mudanças efetivas.

Não é de estranhar, portanto, que os resultados dessas ações desenvolvidas tanto pela BPW, como pelo SEBRAE, passassem através das falas como tendo sido soltas, ineficazes.

Para o nível socioeconômico e cultural dos sujeitos atendidos, os conteúdos tiveram baixa assimilação, não por incapacidade pessoal desses, mas pela sua inoperância diante do que viviam em seus cotidianos. Foram secundarizados os aspectos objetivos, os dados da realidade, para com eles buscar saídas que fortalecessem de fato a busca coletiva de superação dos problemas, levando assim à construção da autonomia pretendida e não, o que se viu, uma autocentração dos sujeitos em individualmente tentar encontrar soluções entregues à sua própria sorte.

Enquanto os Programas não levarem com responsabilidade suas ações e, para isto, zelando por todos os aspectos - desde sua implementação, conteúdos, métodos, o acompanhamento e a avaliação sistemáticos - não podemos esperar as melhorias acenadas.

Os estudos que tivemos oportunidade de ter contato através da bibliografia consultada nos forneceram elementos para analisar de forma crítica essa intervenção que tomamos como objeto de discussão neste trabalho.

Dentre os desafios encontrados e objetivos não cumpridos se situam as metas quantitativas do Programa:

Tabela 10 – Metas do PTEM-PE

Proposta Alcançada

Municípios 14 12

Reuniões de sensibilização 300 (50 por polo) 174 Seminários 960 (160 por polo) 692 Curso do SEBRAE 180 (30 por polo) 166 Curso da BPW 180 (30 por polo) 163 Formaturas 360 (60 por polo) 314

Fonte: Pesquisa documental realizada pela autora.

Agrava-se a isso o não aproveitamento das mulheres que participaram dos seminários, mas que não haviam sido selecionadas para os cursos, uma vez que, como já explicitado anteriormente, no momento do seminário elas preenchiam um cadastro para que depois fosse feita a seleção para participação nos cursos da BPW ou do SEBRAE. Desde antes da implementação já não havia perspectiva para estas não escolhidas, no entanto, isso não foi explicitado como deveria para as participantes. Por envolver muitos parceiros em todas as etapas da política - IBAM, SEBRAE, BPW, Secretaria da Mulher, Secretarias locais - em alguns momentos ficou perceptível a falta de alinhamento nos seus discursos. No seminário do polo 2, por exemplo, a representante de uma instituição afirmou que os cursos não iam contemplar todas as mulheres, mas que ninguém ia ficar de fora pois “o Programa

intenciona chegar a todas”, enquanto que outro parceiro contrapunha este discurso colocando que haveria escolha e quem fosse selecionada teria que dar continuidade e assumir o compromisso de participar de todos os cursos. Tais disjunções só mostravam uma falta de organização conjunta na condução das propostas.

Retomando a nossa reflexão/análise sobre o formato da implementação do PTEM em Pernambuco, vimos que se tratou de um modelo pronto que veio de experiências exitosas em outro estado, no caso o Rio de Janeiro, mas que esta transferência direta, sem ter sido levada em conta as especificidades locais, seguramente deve ter contribuído para a reduzida efetividade do Programa em nível local. O não ter previsto os custos com a locação de espaços e de transportes, por exemplo, bem como a divisão do Programa por polos, não adotando critérios de prioridade na seleção dos municípios, sem dúvida tiveram um papel efetivo na sua quebra de eficácia. A colocação de Lotta (2012) reforça bem o que acabamos de

ponderar:

[...] a diversidade de contextos de implementação pode fazer com que uma mesma regulamentação produza resultados inteiramente diversos em realidades diferentes. Isso significa que a discricionariedade tem diversas fontes, de forma que pode ser inerente ao exercício de sua função, pode ser resultado de uma proliferação de regras que pressionem os burocratas a se posicionarem, podem ser fruto de regras incompletas ou ambíguas, além da influência que as próprias escolhas individuais podem ter sobre a discricionariedade. Assim, podemos considerar que as instituições impactam as práticas dos burocratas de rua, mas também que as ações, valores, referências, e contextos dos indivíduos acabam por influenciar suas decisões. (LOTTA, 2012, p. 27-28).

Ainda sobre o formato de implementação, nosso centro de interesse, no caso do Rio de Janeiro teve-se um Projeto antes mesmo da consolidação deste como Programa, uma “experiência prévia” que talvez tenha sido um diferencial para a existência do discurso tão fortemente revelado nos documentos do Programa e falas dos gestores, do êxito deste no Rio, com cumprimento e, mais do que isso, superação, das metas pretendidas. Isto fica ainda mais evidente quando comparamos os resultados apresentados nas publicações do Programa e podemos perceber como, de fato, o Programa no Rio teve efeitos distintos daqueles dos demais estados. Pires (2012), sobre isso, adverte que quando se analisa mais a fundo o processo de implementação de políticas públicas,

[...] não é incomum ficarmos frustrados com seus resultados ou constatarmos que os resultados de uma mesma política implementada, em um mesmo local (país, Estado ou município), por uma mesma organização, sejam heterogêneos – isto é, os objetivos formais ou iniciais de uma política não são alcançados da mesma forma em todos os lugares. (PIRES, 2012, p. 260-261).

Além do formato “engessado” do Programa na sua implementação em Pernambuco, outro aspecto precisa ser destacado em comparação com o Rio de Janeiro. Neste último, além da experiência prévia a que nos referimos (o Projeto, antes de se tornar um Programa) outro fator foi igualmente determinante para o sucesso da política: o acompanhamento dado aos grupos formados durante as atividades. Pelo relato do Gestor 4 esse acompanhamento se deu por mais ou menos dois anos e o SEBRAE abraçou a ideia e ficou com esta responsabilidade, o

que não ocorreu em Pernambuco. Pelo contrário, houve uma sucessão de “jogos de responsabilidades” que não estava atribuído nem pactuado formalmente entre os parceiros, de forma que não houve auxílio no período posterior ao Programa, como sinalizou o Gestor 4:

Eu acho que deveria ter tido o “pós” né? Um acompanhamento maior dessas mulheres no decorrer do processo, porque só capacitar, depois não ter um acompanhamento mais sistemático dessas ações, muitas delas se acabam se perdendo né? No decorrer... e também não tem como culpabilizar ou fazer uma crítica no sentido de que as mulheres é que não tinham o perfil de empreendedor, acho que caberia sim um acompanhamento maior e mais sistemático dessas instituições depois do término do programa ou desses dois primeiros anos né, mas também pra se fazer isso teria que se ter uma verba ou recurso pra dar continuidade, né?(Informação verbal)

Convém ressaltar, ainda, que as consultoras do SEBRAE Pernambuco (que ministraram os cursos) e alguns representantes da BPW participaram, antes do início das atividades, de uma capacitação durante uma semana (40 horas), com duas representantes do Rio de Janeiro, para repasse da metodologia do Programa.

Em relação aos cursos ofertados pelo PTEM, mesmo considerando públicos distintos, poderiam ter contemplado conteúdos comuns, mas isso não se deu pois os do SEBRAE, por exemplo, não trataram de forma mais específica da questão de gênero, como explicitado nos objetivos do Programa. Este eixo temático foi secundarizado lembrando a exaustiva ênfase aos aspectos da autoestima, da valorização e cuidados pessoais que já colocamos anteriormente. Outras questões igualmente não abordadas foram as relativas às políticas públicas, fundamentais para a compreensão do próprio Programa e na ressignificação da percepção das atividades.

A apreensão desses problemas levou-nos a reafirmar a pertinência de nossa reflexão sobre o sentido de se abordar de forma tão extenuante aspectos comportamentais, subjetivos e existenciais, como foram privilegiados dentro de uma carga horária tão curta – cursos com 12, 16 e 24 horas – para um público de beneficiadas que, seguramente, teriam outras prioridades em suas necessidades. Afinal, quando se fala em desenvolver a capacidade empreendedora, individual ou em grupo, muitos conteúdos poderiam e deveriam ter sido abordados de maneira mais aprofundada, de forma a “capacitar” de fato essas mulheres para que pudessem efetivamente alçar voos no mundo dos negócios, melhorar a gestão dos

empreendimentos e sentirem-se mais motivadas assim para desenvolver suas atividades de forma mais coletiva, como era pretendido.

Outra questão delicada foi relativa ao público atendido pelo Programa. Estava previsto que caberia à BPW trabalhar com mulheres em situação de vulnerabilidade de risco social por renda, e o SEBRAE com aquelas que já tivessem alguma capacidade ou experiência empreendedora. Levando em conta estas distinções, os cursos a serem ofertados teriam que ter conteúdos que as levassem em consideração. No entanto, na prática, não foi isso que ocorreu, sendo os cursos ministrados com conteúdos semelhantes, como também as mulheres designadas para os cursos do SEBRAE terminaram tendo o mesmo perfil das que teriam ficado acertado que seria a BPW a se ocupar.

A não observância destes elementos organizacionais levou-nos a questionar sobre a forma de abordagem e de chegada desses conteúdos nessas participantes vindas de realidades tão diferentes e de como seriam assimilados ou apreendidos. Que sentido seria dado por esses sujeitos? Até mesmo os exemplos de figuras femininas e de situações demonstradas nos cursos estavam longe da realidade vivenciada por elas, como os relatos das próprias mulheres participantes revelaram.

Para ilustrar isso, tomamos os perfis das mulheres selecionadas e participantes dos cursos do SEBRAE e da BPW no polo 2 (escolhido por compreender que os municípios que o compõem estão localizados no eixo Norte, incluindo aquele de menor IDHM da RMR - Araçoiaba, já explicitado anteriormente).

Quanto à escolaridade das beneficiárias obtivemos as seguintes informações:

Tabela 11 – Escolaridade das beneficiárias do Polo 2

Escolaridade Total SEBRAE Total BPW

Fundamental completo 7 3 Fundamental incompleto 9 7 Médio completo 13 17 Médio incompleto 3 8 Superior incompleto 1 - Técnico 4 2

Por esses dados percebemos que o nível da escolaridade foi desconsiderado na seleção dos dois públicos, uma vez que em ambos predominaram mulheres com o ensino médio concluído, sendo que este número foi maior entre aquelas que foram atendidas pela BPW. Isso porque nas exigências para se participar dos cursos do SEBRAE as mulheres já teriam que ter uma melhor escolarização inclusive para poder acompanhar a parte das finanças, por exemplo.

Quanto à questão geracional, observou-se maior concentração de mulheres nas idades entre 31 a 40 anos nos dois grupos, porém de certa forma foram contempladas diferentes faixas etárias.

Tabela 12 – Idade das beneficiárias do Polo 2 Idade em anos Total SEBRAE Total BPW

16 a 20 anos - 6 21 a 30 anos 8 7 31 a 40 anos 16 13 41 a 50 anos 5 6 51 a 60 anos 3 2 Mais de 60 anos 3 1

Fonte: Pesquisa documental realizada pela autora.

Outro aspecto considerado no perfil das beneficiárias foi a questão da responsabilidade financeira na família; a maior parte (dos dois públicos atendidos) não era arrimo de família. Das 24 beneficiárias do SEBRAE e 29 da BPW, 11 do SEBRAE e 6 da BPW declararam serem arrimos de família. Além disso, 17 das atendidas pela BPW eram beneficiárias de programas sociais - Bolsa Família; já do SEBRAE eram somente 11. Aqui também tivemos uma mudança no perfil do que havia sido estipulado para a realização dos cursos de uma ou de outra instituição: apesar do SEBRAE ter tido um menor número de beneficiárias de programas sociais não deixava de ser ainda um número significativo, enquanto que, no caso da BPW tinha um pouco mais da metade. Novamente viu-se aqui um não seguir dos critérios exigidos para a distribuição das mulheres nos respectivos cursos que, em princípio, seriam esperadas aquelas que deveriam apresentar um perfil maior de analfabetas ou de mais baixa escolarização, o que não ocorreu.

No que se referiu à questão da ocupação - outro critério exigido na seleção para a participação dos cursos - levava-se em consideração: se a pessoa trabalhava ou não, se sim: o tipo de ocupação, área de inserção, se com carteira assinada, entre outros. Sobre este item chamou-nos atenção os dados do polo 2: um número bem maior de autônomas selecionadas para o SEBRAE e um número igualmente expressivo das que declararam não ter remuneração para a BPW (apesar de não ser o que predominava). Contudo, quanto a este aspecto, os perfis desejados foram levados em consideração. A tabela abaixo deixa claro o que colocamos:

Tabela 13 – Tipo de ocupação das beneficiárias do Polo 2

Ocupação Total SEBRAE Total BPW

Remunerada sem carteira assinada 2 2

Autônoma 23 15

Produção familiar 2 2

Sem remuneração 6 14

Fonte: Pesquisa documental realizada pela autora.

Quanto à área de ocupação profissional, surpreendeu a grande concentração em atividades predominantemente vistas como femininas e o alto número de participantes da BPW que trabalhavam com serviço doméstico, todavia os perfis selecionados foram compatíveis com os objetivos postos pelo Programa.

Tabela 14 – Área de ocupação profissional das beneficiárias do Polo 2 Área de ocupação Total SEBRAE Total BPW

Alimentação e culinária 12 5 Artesanato 6 3 Vestuário 1 1 Estética/ beleza 8 1 Comércio 1 4 Serviço doméstico 2 12 Outros 3 2 Sem ocupação 2 6

Por fim, quanto ao número de filhos das selecionadas foram informados:

Tabela 15 – Número de filhos das beneficiárias do Polo 2 Número de filhos Total SEBRAE Total BPW

Nenhum 6 4 1 filho 4 8 2 filhos 12 17 3 filhos 9 5 4 filhos - 1 Mais de 5 filhos 4 -

Fonte: Pesquisa documental realizada pela autora.

Observou-se que a maior parte das participantes possuíam dois filhos. No entanto, questionadas se precisariam levar os filhos durante a realização dos cursos, apenas 10 das participantes do SEBRAE e 2 da BPW afirmaram que precisariam levá-los, enquanto que 25 do SEBRAE e 33 da BPW disseram que não precisariam levar. Na prática, no entanto, o que se percebeu não foi isso: muitas mulheres levavam sim os filhos, e talvez tenham ocultado a informação no seminário por acreditar que isso pudesse prejudicar na seleção para as atividades. Mas, na realidade, a finalidade da ficha cadastral não era essa, mas sim para se ter uma ideia da quantidade de crianças e poder então buscar uma estratégia nos cursos. Assim, se pouquíssimas mulheres (em relação ao quantitativo) informaram da necessidade de levar os filhos, o Programa não podia prever alternativas a isso.

Refletir sobre o Programa Trabalho e Empreendedorismo da Mulher em Pernambuco é perceber, como afirma Silva e Silva (2001), que a política pública gera efeitos que podem ser mensurados e suas mudanças podem ser percebidas em atitudes, comportamentos e opiniões. Mesmo que os resultados alcançados não necessariamente tenham sido os objetivos primordiais visados, como no caso das beneficiárias selecionadas para este estudo, é fato que, conforme apontam Trevisan e Bellen (2008), as políticas públicas têm reflexos sobre os aspectos econômicos e sociais; têm um caráter dinâmico, considerando a interação e a integração dos sujeitos para que as mesmas sejam efetivas.

Embora em muitos casos os aspectos subjetivos tenham sido mais percebidos como benefícios, a política teve algum significado para quem participou

dos cursos e atividades do Programa. Sendo assim, buscamos verificar o PTEM também pela ótica de sua função acadêmica pois, segundo Silva e Silva (2008), os significados das políticas desempenham um papel importante na construção do conhecimento.

Entre os impasses já apresentados pelo Programa em Pernambuco, não podemos deixar de falar de um dos mais significativos que foi o relativo à questão da dificuldade das participantes empreenderem de forma coletiva, através da formação de associações ou de cooperativas. Quando perguntadas em relação a isso, duas justificaram que tentaram formar mas não lograram êxito, outras revelaram a falta de apoio para formação, ou como uma delas lembrou que terminou ficando sozinha porque não tinha gente suficiente na localidade. Isso se mostra como um impasse, exatamente porque observados os cursos do SEBRAE, estes estimulavam exaustivamente a formação de empreendimentos em grupo, pelo fato de se saber a importância da formação de redes para a ambiência produtiva, conforme colocam Cortes e Lima (2012).

Para Colbari (2007), o empreendedorismo transpôs a área de negócios e se deslocou para um tecido social mais amplo, afastando-se da matriz liberal e se aproximando de valores como cooperação e solidariedade. Nessa perspectiva, pudemos observar que os cursos do SEBRAE destacavam, em um dos momentos, a importância da cooperação entre os indivíduos como uma maneira de gerar trabalho e renda para a comunidade, ou seja, de cooperar para competir. Mas, por outro lado, no mesmo curso, destacava os obstáculos à cooperação e dentre eles a mentalidade competitiva (que ele próprio estimulava em seu Programa). Assim, percebeu-se uma contradição dentro do mesmo conteúdo programático (inclusive no mesmo curso), mostrando, de um lado, a necessidade de cooperar para competir, e por outro colocando a competição como um obstáculo à cooperação.

A falta de conhecimento sobre o PTEM que sentimos em nossos contatos foi um aspecto a ser questionado, uma vez que nas reuniões de sensibilização era transmitida a necessidade de mobilização e participação de possíveis beneficiárias, e nesta ocasião era explicado detalhadamente todo o processo que envolvia o referido Programa.

Outro fator que talvez tenha contribuído para esta desinformação sobre o PTEM estava associado à linguagem utilizada nos seminários. Em algumas situações ela se apresentava inacessível ao público participante, dificultando assim

a compreensão dos reais objetivos da política (expressões do tipo: ‘mulher empreendedora capaz de protagonizar seu próprio desenvolvimento e capaz de influir na possibilidade de gerar renda’ e como também os termos: ‘arregimentadas’, ‘transversal’, ‘PIB’, ‘vulnerabilidade’, entre outras igualmente fora do universo vocabular/ conceitual de pessoas com baixo nível de escolaridade como vimos anteriormente). Soma-se a isso a grande quantidade de crianças levadas pelas participantes, gerando dispersão, choros e conversas paralelas, prejudicando a dinâmica das atividades.

Sendo assim, dois aspectos podem ser evidenciados: ou bem os objetivos do Programa não foram compreendidos corretamente pelas participantes - ou não