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C) A aproximação com as informantes: entre “lá e cá”

5.3 Empreendedorismo e novas oportunidades de trabalho para a mulher: desafios e

Dentre os principais objetivos do Programa estava incluído o desenvolvimento da capacidade empreendedora e o de possibilitar a criação de um ambiente favorável a novos negócios. Assim, a tabela abaixo traça um comparativo, em linhas gerais, das atividades realizadas pelas informantes antes e depois da participação no Programa, bem como no momento da entrevista.

Tabela 9 – Atividades anteriores, posteriores e atuais das beneficiárias entrevistadas Informante Atividades

desenvolvidas antes do Programa

Atividades realizadas

depois do Programa Atividades desenvolvidas no

momento da

entrevista

1 Venda de telefones

porta a porta, produção e comercialização de

lanches e de

artesanato com tecido

Produção e

comercialização de artesanato com tecido em feiras por cinco meses Produção e comercialização de artesanato com tecido 2 Diarista e produção de essência de perfumes para venda Diarista Atividade de comércio do marido 3 Cabeleireira no salão

de sua propriedade Cabeleireira - efetuou melhorias no seu

salão nas dependências da casa alugada Cabeleireira (construção de salão em casa própria)

4 Diarista Artesanato - produção

de caixas de presente Serviços (limpeza) gerais em escola, artesanato - produção de caixas de presente

5 Babá, doméstica,

trabalhou em lojas Lanchonete em casa, encomendas de doces e salgados

Produção de doces e salgados por encomenda

6 Doméstica Produção de lanches

salgados por

encomenda de salgados doces por e encomenda

7 Doméstica, merendeira, produção de doces e

salgados por

encomenda

Não trabalhou nem desenvolveu

atividades

Não trabalhava nem desenvolvia atividades 8 Doméstica, diarista, pequena empresária (mini mercearia) Construção de mais

casas para aluguel Mantinha mercearia e vivia do uma aluguel de cinco casas de sua propriedade

9 Abate de frangos numa

empresa Trabalhou funcionária como em lanchonete Trabalhava como funcionária em lanchonete 10 Comércio, atendente, revenda de roupas, bijuterias e cosméticos, artesanato de chocolates

Não trabalhou nem desenvolveu

atividades

Não trabalhava nem desenvolvia atividades 11 Trabalhou em firma, vendas de doces e salgados, revenda de artigos de perfumaria e para casa

Lanchonete em casa Não trabalhava nem desenvolvia

atividades

12 Trabalhou em firma e confecção, tinha uma barraca de lanches com o marido em casa

Trabalhava com o marido na barraca de lanches marido em casa Trabalhava com o marido na barraca de lanches em casa 13 Cabeleireira Cabeleireira (melhorou

o salão nas dependências da casa) Cabeleireira (salão nas dependências da casa) 14 Telefonista, protética e produção de kits de festa Protética e produção

de kits de festa Protética produção de kits de e festa 15 Vendas, promotora, demonstradora de roupas íntimas Aposentada Aposentada 16 Artesanato com

bordado Auxiliar de cozinha, artesanato com bordado Artesanato com bordado 17 Auxiliar escolar e vendedora em comércio

Não trabalhou nem desenvolveu

atividades

Não trabalhava nem desenvolvia

atividades Fonte: Pesquisa de campo realizada pela autora.

Através destas informações podemos perceber três aspectos importantes a serem analisados: o desenvolvimento de negócios/ atividades nas dependências da própria residência; que as atividades que tinham realizado (ou que ainda realizavam) remetiam a ocupações socialmente construídas como sendo tipicamente femininas (artesanato, culinária, beleza), e ainda que os discursos eram bastante distintos sobre as percepções que as entrevistadas revelavam no que se referia ao desenvolvimento de negócios e às melhorias alcançadas (para umas a percepção de benefício poderia se referir em desenvolver um pequeno negócio em casa, para outras o ter podido formalizar empreendimentos já existentes ou ainda apreender a separação entre montante lucrado e aquele para investimento). O exemplo de nossa informante 6 foi claro quando nos colocou:

Melhorou assim né? Porque eu fiquei mais esperta né? Que eu não sabia assim botar nada pra vender, às vezes vendia confeito, essas coisa, mas a gente não sabia o lucro, a gente não sabia quanto lucrava, só fazia vender, vender, vender, mas não sabia nada de lucro, essas coisa. Depois que a gente entrou nesse curso foi que eu botei na minha mente, eu digo: ué, tem que ser assim do jeito que elas ensinou, então eu fui fazendo, quando eu compro um negócio, esse dinheiro foi que eu tirei pra comprar o negócio, esse aqui é o lucro, esse aqui já vou investir mai, entendeu? O que eu aprendi foi sobre isso.

A existência de muitos negócios desenvolvidos pelas informantes nas dependências da casa revelava a necessidade de estratégia de conciliação de funções com as responsabilidades familiares como forma de assegurar mais uma frente de trabalhos remunerados, conforme destaca Machado (2012), e que podemos confirmar nas ilustrações abaixo:

Figura 7: Salão de beleza nas dependências da casa - Informante 3

Fonte: Pesquisa de campo realizada pela autora (2013-2014).

Figura 8: Salão de beleza nas dependências da casa - Informante 13

Figura 9: “Negócio” desenvolvido pela Informante 6

Fonte: Pesquisa de campo realizada pela autora (2013-2014).

Para a Informante 8, que já era proprietária de uma pequena mercearia e de uma pequena lanchonete nas dependências da residência, a melhoria se expressou por ter conseguido depois do Programa formalizar seu empreendimento.

Figura 10: Negócio desenvolvido pela Informante 8

No caso da Informante 2, a maior necessidade de melhoria relatada (ou sonho na concepção dela) foi a de poder ter seu próprio negócio (que começou com o marido numa cidade vizinha a que residiam) em local que não precisassem pagar aluguel.

Figura 11: Negócio desenvolvido pela Informante 2

Fonte: Pesquisa de campo realizada pela autora (2013-2014).

Na perspectiva de Swedberg (2000) e Thorton (1999) é preciso analisar o empreendedorismo pelo viés social e cultural, e não considerando apenas os fatores econômicos e psicológicos. Isto porque o empreendedorismo é um processo muito dinâmico, e está sujeito a mudanças constantes a partir dos contextos sociais, econômicos e culturais.

No que se refere aos planos e desejos despertados pelo Programa, a maior parte das beneficiárias informou que almejava montar seu próprio negócio ou progredir no que já possuía, e dentre as metas a serem empreendidas estavam a criação de loja de artesanato, de buffet (organização de festas), produção e venda de confecções, restaurante, comércio relacionado à alimentação (preparação de lanches, doces e salgados por encomenda), atividades que, como enfatizamos, fazem parte daquelas consideradas próprias do universo feminino.

Das dezessete entrevistadas, apenas duas mencionaram a vontade de desenvolver atividades em grupo, a partir da formação de cooperativas, número muito insignificante, uma vez que um dos objetivos do PTEM era justamente estimular as mulheres à organização de associações e cooperativas, enfatizando inclusive com a oferta de um curso específico sobre isto, intitulado ‘Juntas somos fortes’.

No nosso diálogo com a bibliografia sobre empreendedorismo encontramos a discussão de Danjou (2002), que vê o empreendedorismo sob três ângulos: o contexto (condições sobre a ação empreendedora), o ator (sujeito que empreende), e a ação (como o empreendedor desenvolve sua ideia). Nessa perspectiva, achamos pertinente traçar uma pequena trajetória de algumas informantes para aprofundarmos mais a questão de como elas viam as novas oportunidades de trabalho, seus impasses e limitações. Para tal, das dezessete informantes selecionamos cinco, todas residentes no polo 2, cujos municípios que o compõem localizam-se no eixo Norte, no qual encontra-se um considerado o único que apresenta o menor IDHM da RMR - Araçoiaba, conforme explicitado no capítulo introdutório e, por isso mesmo, por nós selecionado, a fim de verificarmos as melhorias possibilitadas pelo Programa neste cenário de tanta precariedade social, portanto apresentando condições adversas à transformação. Destacaremos aqui como cada uma delas expressou os efeitos do Programa em suas vidas.

“Me fez abrir a mente pra tudo”

Assim nos colocou a informante 1 sobre o Programa. Ela tinha 43 anos, era casada e tinha três filhos. Morava sozinha com o marido, que trabalhava como eletricista industrial. Havia residido em três municípios diferentes, Recife, Goiana, Araçoiaba, retornando depois para Goiana. Teve uma trajetória profissional marcada por trabalhos bastante distintos, realizados ora em grupo, ora individualmente. Quanto aos estudos, ela concluiu o ensino médio duas vezes, através da forma convencional e por meio do Projeto Travessia.

Obrigada pela mãe a sair da escola para trabalhar aos 16 anos, entrou como auxiliar de costura numa confecção por quatro meses. Passou quatro anos sem trabalhar, mas depois retornou como promotora de vendas, de planos de telefonia porta à porta e também de livros, como representante de editora. Em uma das cidades que morou, produzia pães caseiros e levava para vender no colégio que

estudava. Como forma de complementação dos estudos, participou também de cursos de datilografia, de atendimento ao cliente, de carpinteiro, ajudante de pedreiro e servente.

O contato com o artesanato – atividade que desenvolvia no momento da entrevista – veio a partir do convite da filha para participar de aulas (de artesanato) no colégio que estudava, no Programa Escola Aberta. Participou por pouco tempo das aulas, pois teve um desentendimento com a professora e procurou aprender por conta própria através de revistas e da internet. Relacionou esta habilidade de descoberta do artesanato com a infância, quando vendo a mãe que era costureira, aprendeu, aos 12 anos a confeccionar bonecas de pano com os retalhos que sobravam. Com esse aprendizado, passou a enfeitar a casa com novos artigos que produzia atraindo a atenção das pessoas e, dessa forma, terminou sendo convidada para dar aula na Escola Aberta, onde havia estudado, e participar de feiras de artesanato. Ficou dois anos trabalhando com isso e foi assim que soube do PTEM.

A motivação para participar do Programa se deu pela necessidade de ter reconhecimento do seu trabalho. Podemos perceber a diversidade de atividades desenvolvidas pela entrevistada, porém fica evidente em sua fala a realização do trabalho com o artesanato principalmente por gostar do que faz. No entanto, mesmo com a satisfação com o trabalho, não sabia distinguir o que recebia como sustento e o que representava complemento da renda familiar, mas em nossas conversas enfatizava que o que ganhava era para seu lazer, enquanto que o marido era quem trabalhava para a manutenção da casa. Confessou que inicialmente ela não estava preocupada em vender os produtos de artesanato que confeccionava, mas, sobretudo, em apresentar o seu trabalho para despertar o interesse das outras pessoas.

Depois de ter participado dos cursos do SEBRAE – a entrevistada não mais se referia aos oferecidos pelo PTEM – ela nos relatou que melhorou muito o conhecimento sobre como “dar preço” na peça e o cálculo do valor a gastar para produzir, mas não deixou de enfatizar as amizades que fez durante as atividades do PTEM. Ela apresentava grande dificuldade para falar de si mesma, mas o mesmo não ocorria quando se referia às outras participantes. Relatou que percebeu transformações na autoestima das colegas a partir da participação no Programa (o que também foi observado nas falas de outras entrevistadas):

Eu posso te dizer por experiência visual, digamos, que na primeira semana de aula era como se fosse um estilo de mulher, e na segunda semana de aula aquele estilo mudou da água pro vinho, porque de todas as aulas, diferente da professora que tava ensinando ou não, ela dava muito estímulo a esse lado: a mulher se conhecer, a mulher se amar. Primeiramente você, quando você se conhece, quando você conhece do que você é capaz, você fica sabendo do que você é capaz é que você vai colocar em prática aquilo que você vai fazer.

Ao longo de nossa conversa relembrou com destaque o curso oferecido que tinha um momento reservado só para a beleza das mulheres (dia em que tinha cabeleireiros e maquiadores preparando as participantes para a realização de uma sessão de fotos) como também outro, orientando para fazer o registro do CNPJ do empreendimento iniciado. Informou, ainda, que ela e outras participantes conseguiram reunir um grupo e realizar feiras de artesanato semanais durante mais ou menos cinco meses em Araçoiaba, e isto não somente com participantes do PTEM, mas com interessados que não tinham participado das atividades do Programa. Todavia, referiu-nos que teve problemas em realizar trabalhos coletivamente relatando que o seu “jeito de falar também dificultava muito as

pessoas lá, me viam como se fosse esperta demais [...] porque para eles eu sou um nada e eu sei que sou tudo”. Contou-nos, ainda, que parou de vender seus produtos na feira e passou a trabalhar em casa com o que aprendia na internet e demonstrando seu artesanato pela própria rede e conhecidos.

O que percebemos deste seu relato é que ela deixava transparecer a dificuldade de trabalhar em grupo e, por isso mesmo, sua opção pelo trabalho individual. Segundo ela, não desperdiçava as oportunidades que apareciam. Após fixar residência novamente em Goiana, continuou a trabalhar com artesanato por conta própria e tinha entrado numa associação de artesãos (que conta com 40 integrantes, mais ou menos) que tem uma loja no centro de Goiana, mas que, segundo ela, não tinha muito movimento e, consequentemente, não acarretava em aumento de renda.

Na sua opinião, acreditava que o PTEM deu visibilidade aos artesãos locais e, particularmente, abriu sua mente pra tudo, aprendeu muito e conheceu pessoas maravilhosas, mas que sentia-se como uma aluna, que ainda precisava aprender.

Falando sobre seus projetos futuros, disse-nos que desejava continuar trabalhando com artesanato, mas “se você perguntar se eu tenho uma profissão hoje

eu vou te dizer que eu não tenho, primeiro porque eu não estudei pra isso, segundo

eu não passei tanto tempo numa empresa pra ter determinada profissão”. Por este

seu depoimento podemos ver que ela não percebia sua atividade como trabalho. Quando indagada sobre o empreendedorismo, ela caracteriza-o como saber administrar e tomar conta de um negócio; “saber desenvolver o meu trabalho pra

outras pessoas, é eu divulgar, além de conhecer pessoas lá fora poder fazer com que o meu trabalho também seja divulgado, conhecido”. Todavia, ela não se via como empreendedora, não vislumbrava oportunidades para montar seu negócio, e nem mesmo como complementação de renda do marido, vendo sua atividade, assim, como meio de preencher seu tempo.

Trazia em sua narrativa a percepção do processo de empreender como sendo um investimento a longo prazo: “eu sei que investir hoje não é receber o dobro

amanhã”.

Passou a nos fazer uma comparação do trabalho que realizava com seu primeiro trabalho numa fábrica:

Eu já trabalhei nas fábricas, como eu lhe disse, e a gente tinha uma meta pra entregar por dia, que era quinhentas camisetas. Enquanto não entregasse as quinhentas camisetas você não saía da máquina de costura. É claro que você tinha o horário de almoço, mas era aquela questão, comia, comia, comia rapidamente e voltava pra máquina, por causa da meta, porque se você não passar... Ele pediu quinhentas, mas é pra você fazer seiscentas, entendeu? Então por conta disso, é aquela coisa, “Tu pode fazer pra mim um jogo de cozinha?”, “faço! Sete peças”, em um dia eu faço, aliás, em duas horas, três horas, no horário da manhã, ao meio dia eu já tenho feito as sete peças, “já fizesse?”, “já, por quê?”, quer dizer, eu não consigo simplesmente cortar e deixar pra lá...

Se considerarmos as questões de gênero percebemos pelos depoimentos que, no que se referia aos afazeres domésticos, eles eram realizados sem a ajuda do marido e que, para isto, a informante nos disse que reservava um dia da semana para fazê-los, como era o caso do congelamento de comida para vários dias, já que só moravam ela e o marido.

O meu marido é o meu melhor empreendedor, meu melhor investimento. Ele investe em mim sem lucros futuros, porque ele sabe que se ele investir em mim em questão da minha arte, ele sabe que o retorno só vai ter tempos depois, mas tem, um bom retorno...

Ficaram evidentes as contradições nos relatos desta informante, uma vez que enfatizava o apoio do marido no desenvolvimento de suas atividades - inclusive porque era este quem financiava o material para ela trabalhar – mas, ao mesmo tempo, “A única que coisa que ele não gosta é que quando ele está em casa e

mesmo assim eu continuo fazendo artesanato, então esqueço almoço, esqueço café, esqueço janta, esqueço tudinho...”. Assim, se por um lado mencionou que

recebia o apoio do marido para realizar seu trabalho, isso não se concretizava quando ela deixava de “cumprir suas obrigações” em relação aos afazeres domésticos.

Além disso, no que concerne à percepção de sua capacidade de crescimento em suas atividades também estava sempre presente a figura do marido, como uma forma de enfatizar e de confirmar a realização de seu trabalho como artesã: “eu

sempre acreditei em mim mesma, meu marido sempre acreditou em mim e eu também continuo acreditando em mim”. Ou seja, não bastava ela acreditar em si própria mas, sobretudo, receber o incentivo do marido, inclusive financeiro.

“Eu não sou de desistir no caminho, eu vou até o fim”

Esta fala foi da informante 2 que entrevistamos. Ela tinha 33 anos, era casada há 17, tinha duas filhas. Morou na zona rural de Igarassu (seu pai era trabalhador rural) e após a separação dos pais foi morar em Araçoiaba com a mãe. Concluiu o ensino médio através do Programa Travessia.

Começou a trabalhar aos 12 anos em casa de família, e aí permaneceu durante 15 anos. A princípio trabalhou como babá e com isso ficou uns 8 a 10 anos sem estudar só retornando quando uma das patroas a incentivou para voltar. Relatou-nos que precisou trabalhar cedo porque o pai era trabalhador rural e, para sustentar seis pessoas, o salário era muito pouco. Logo, sentiu-se na necessidade de trabalhar desde que não interferisse nos estudos. Na ocasião em que nos relatou isso, ela passou-nos um discurso machista ao nos colocar a reação do marido em não ter visto sentido nesta sua retomada aos estudos:

Quando eu cheguei em casa que falei pro meu marido que ia voltar a estudar ele falou logo pra mim assim: “o quê? Depois de tu com duas filha, dona de casa, vai estudar pra que? Tu precisa mais estudar? Num tem mais necessidade de estudar, né?”; Como eu acho que a maioria dos homens diz isso. Aí eu disse pra ele: “olha, eu já botei na minha cabeça e vou estudar, quer você queira, quer não, eu vou

estudar”. Aí ele falou assim pra mim: “Tem certeza disso?”, eu disse “absoluta, absoluta, perdi tempo demais e agora eu num quero perder mais nenhum segundo”. Aí providenciei a minha matrícula e uma semana depois eu tava estudando.

Contou-nos que, antes de participar do PTEM, trabalhava como diarista e também já havia produzido perfumes para vender. O marido tinha um pequeno comércio há cerca de oito anos, no qual ela também passou a trabalhar depois do Programa. Tal negócio se situava no centro de Igarassu e começou de forma muito simples, com o marido vendendo bermudas em um carro de mão, confessando se tratar de uma situação bastante precária, pois se chovia molhava tudo e se fazia sol a claridade queimava as peças.

Depois de um tempo conseguiu alugar um espaço e foi crescendo, passando a vender artigos de cama, mesa e banho. Em outro momento, aumentou a variedade de mercadorias e na ocasião da realização da nossa entrevista informou-nos que estavam formalizando o negócio. Segundo ela, a partir do momento da formalização a situação se inverteu: ela passou a ser a dona e o marido o funcionário. Esta situação que apresentava uma aparente conquista sendo dona do negócio, na verdade ela camuflava um fato muito importante: o marido passava a ser funcionário porque já tinha carteira assinada quando trabalhava em outra empresa e assim poderia manter a contribuição. Mesmo assim, demonstrava estar muito realizada “porque eu jamais pensei em estar aonde eu estou”; passando-nos a imagem de que teria tido uma promoção pessoal.

A entrevistada apresentava uma visão ampliada de negócio, uma vez que revelou a pretensão de desenvolver algum empreendimento na cidade em que moravam. Apesar de terem este projeto, perceberam a concorrência muito forte e sabiam que não teriam condições para competir. Esta percepção da inviabilidade do negócio não deixava de revelar uma consciência de empreendedor uma vez que observava que a maioria das pequenas empresas que fechavam as portas tinha como motivo o fato dos donos não terem muita noção e acharem que tudo que era apurado era lucro, mas na verdade não era.