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C) A aproximação com as informantes: entre “lá e cá”

4.3 A Implementação do PNTEM em Pernambuco

4.3.2 Polos e atividades realizadas pelo Programa em Pernambuco

Considerando os seis polos de atuação em Pernambuco, as atividades foram realizadas da seguinte forma:

Polo 1

A reunião de sensibilização ocorreu em 8 de julho de 2010, no Centro Social Urbano, em São Lourenço da Mata, e o seminário em 22 de julho no Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas, local em que também foram realizados os cursos. O evento de encerramento das atividades do polo aconteceu no dia 08 de outubro, na Igreja dos Mórmons, também em São Lourenço da Mata, formando 67 mulheres.

Segundo a Gestora 3, esse polo foi experimental e as dificuldades que ocorreram se referiam ao deslocamento das mulheres que moravam em Camaragibe para as atividades que eram realizadas em São Lourenço. No entanto, a mesma relatou que o resultado nesse polo foi bastante positivo, dado ao grande comparecimento das mulheres, além de que uma das mudanças importantes apontada pelas beneficiárias foi do nome de uma cooperativa que já existia, que se chamava Casa do Artesão e passou a ser Casa da Artesã, já que contemplava somente mulheres. Entretanto nesta mudança de nome não percebemos que houvesse alguma relação com a questão de gênero.

No que se refere ao transporte, este foi apontado como um problema em vários dos municípios participantes nos seis polos; como o recurso para transporte

não estava previsto no orçamento de nenhuma entidade executora, foi feita uma tentativa com as Prefeituras para viabilizá-lo, o que nem sempre foi possível.

Além do transporte, outro item igualmente não previsto nos orçamentos foi o relativo aos custos com espaços para a realização das atividades o que demandou contatos com poderes públicos locais e parcerias com a iniciativa privada.

Polo 2

Em 19 de agosto de 2010 tiveram início as atividades do Programa neste polo com a reunião de sensibilização; na sequência ocorreu o seminário, em 02 de setembro, ambos na Faculdade de Igarassu, local em que também foram realizados os cursos.

Para a Gestora 3, esse também foi um polo “interessante”, mas entre as dificuldades igualmente se apresentaram o deslocamento das mulheres dos outros municípios do polo para Igarassu. Assim, apenas uma mulher de Itapissuma participou e nenhuma de Itamaracá.

Polo 3

Em Olinda, a reunião de sensibilização foi realizada em 24 de novembro de 2010, na Biblioteca Pública. Em seguida, o seminário aconteceu em 07 de dezembro na Faculdade de Olinda, contando com 110 participantes. O evento de encerramento deste polo se deu em 18 de março de 2011, no Hotel Jangadeiro em Recife, somando 63 concluintes.

Para a Gestora 3, este foi o polo de mulheres “mais politizadas porque elas já tinham uma trajetória e eram bastante articuladas” (Informação verbal). Todavia, as

dificuldades não foram poucas: o local para a realização do módulo sobre informática, o espaço em que ocorreu a reunião de sensibilização, as restrições na faculdade em que foi realizado o seminário, e também com o transporte.

Polo 4

A sensibilização em Jaboatão ocorreu em 09 de fevereiro de 2011, na Agência do Trabalhador, no Centro, contando com 20 representações. Já o seminário realizou-se em 23 de fevereiro, na Faculdade Guararapes, com a presença de 127 mulheres. A formatura foi realizada em 18 de maio do mesmo ano.

A participação de mulheres de Moreno foi pequena em relação a Jaboatão, visto que todas as atividades foram realizadas neste último, em bairros diferentes e distantes. Conforme relato da Gestora 1, em

Moreno houve uma dificuldade de comunicação entre a Assessoria da Mulher de Moreno e as mulheres que foram contempladas [...] e houve dois discursos, das mulheres que dizem que foram procurar e a Assessoria negava, como também houve o discurso da Assessoria de dizer que estava de portas abertas e que ninguém nunca procurou (Informação verbal).

Polo 5

No Cabo de Santo Agostinho, o início das atividades com a reunião de sensibilização aconteceu em 04 de outubro de 2011, no SEBRAE. O seminário foi realizado em 26 de maio, no Teatro Barreto Júnior e a formatura se deu em 21 de dezembro, no Auditório do Centro Administrativo da Prefeitura.

Estava prevista a participação de Ipojuca também neste polo mas, conforme mencionado anteriormente, não houve interesse da gestão em encaminhar mulheres para participar no Cabo. Apesar da ausência de Ipojuca, segundo a Gestora 1, a mobilização no Cabo foi dentro do esperado e houve apoio para o transporte.

Polo 6

No último polo, Recife, as atividades se iniciaram com a reunião de sensibilização em 12 de janeiro de 2012, no Auditório da Prefeitura do Recife, contando com a presença de 35 gestores. Seguiu-se o seminário, em 26 de janeiro, com a participação de 125 mulheres. Os cursos aconteceram na sequência, no SEBRAE.

Pelo relato da Gestora 1, em Recife também houve apoio, articulação, transporte, e as beneficiárias gostaram porque conheceram outra estrutura diferente das escolas municipais e estaduais (nos cursos); no entanto “esperávamos que

fosse um número maior por ser a capital, por ser dimensões bem maiores populacionais, mas não foi...” (Informação verbal).

Finalizadas as atividades do Programa em todos os seis polos, houve um evento de culminância com beneficiárias de todos os municípios participantes, no dia 26 de abril de 2012, no Centro de Tecnologia, Ensino e Cidadania (CTEC) da Prefeitura do Recife. Este evento contou com uma palestra intitulada ‘E agora?’; uma Mostra de produtos confeccionados pelas participantes, apresentação cultural e

ainda um Balcão de negócios, com informações sobre microcrédito e sobre o MEI (Microempreendedor Individual, do SEBRAE).

No total de atividades do Programa realizadas em Pernambuco, foram feitas três reuniões de planejamento, um mapeamento de iniciativas, um Fórum para gestoras públicas, 6 reuniões de sensibilização (totalizando 147 gestores e lideranças), 6 seminários de mobilização (somando 692 participantes), 24 cursos do SEBRAE (contabilizando 151 participantes nos seis polos), 18 cursos da BPW/Acesso (161 beneficiárias nos seis polos), 6 oficinas de direcionamento estratégico, 2 oficinas de trabalho com gestoras, 20 reuniões de monitoramento com parceiros e gestores, 6 eventos de formatura (344 concluintes) e 6 grupos focais de avaliação de impacto do Programa (com 89 concluintes dos cursos e 6 gestoras municipais).

Na avaliação realizada pelos gestores sobre os efeitos do Programa logo ao término das atividades (através de 6 grupos focais com 89 concluintes e 6 gestoras municipais) foram utilizados quatro critérios: o relativo ao fortalecimento pessoal, o de formação de grupos e fortalecimento de redes, iniciativas das mulheres após o PTEM, e apresentar necessidades para implantação ou manutenção dos negócios (MELO, 2012b).

Considerando esta avaliação com 89 beneficiárias, no que se refere ao fortalecimento pessoal, 23% apontaram ter adquirido autoestima elevada, 14% mudança nas relações afetivas e retomada dos estudos, e 11% abriram ou ampliaram negócios. Quanto à formação de grupos, 17% se reuniram informalmente, 13% se associaram e 6% se formalizaram. Em relação às iniciativas, 33% abriram negócios. E no que concerne às necessidades para implantação ou manutenção de negócios, 29% apontaram a necessidade de recursos financeiros, 17% de espaço físico, e 15% de formação técnica e recursos materiais.

Para divulgação dos resultados do Programa houve a distribuição de um livreto trazendo resultados, fotografias e depoimentos das participantes. Além deste, ainda foi publicado um livro sobre a realização do PTEM nos cinco estados a partir da visão dos gestores e consultores.

Encerradas as atividades na Região Metropolitana do Recife, cogitou-se a possibilidade de replicar a proposta do Programa em outras regiões do Estado, inclusive pela Secretaria da Mulher, todavia não houve continuidade dessa perspectiva por questões, sobretudo, financeiras e inviabilidade apontada. O Gestor

4 informou que houve a possibilidade de pensar e de ter conversas nesse sentido, “mas por questões outras acabaram não dando continuidade” (Informação verbal). Ainda assim, no Anuário da Secretaria da Mulher de 2012 (p. 61), previa de março a dezembro do mesmo ano a implementação do PTEM no Agreste17.

No que concerne a reuniões, seminários e cursos ofertados pelo Programa, percebeu-se a necessidade de conhecer o funcionamento e a estrutura de cada um deles, bem como o conteúdo explicitado nos materiais didáticos distribuídos, com a finalidade de entender o discurso apresentado pelas beneficiárias e analisar as concepções e valores ali propagados. Vejamos em que consistiu cada uma dessas atividades.

Reuniões de sensibilização

A reunião de sensibilização sempre foi a primeira atividade oficial realizada em cada polo ou município, tendo como objetivo apresentar o Programa para a rede local de lideranças femininas e gestores municipais, convocando-os para a divulgação e mobilização para o seminário entre suas redes de contatos. No entanto, antes do evento oficial, eram realizados os primeiros contatos com o poder público ou com instituições privadas para articular o local de realização do evento, já que este era um dos desafios enfrentados na implementação do Programa, e não eram previstos recursos no orçamento para locação de espaços.

Este momento servia para enfatizar a proposta do Programa e o perfil do público-alvo. Além disso, informava também que a inscrição para participação no seminário devia ser feita por telefone, através do call center do SEBRAE, e eram entregues cartazes e folders de divulgação, como colocava a SPM (2008):

Essa fase é muito importante e dela depende o sucesso do Programa no local. Isto porque os presentes deverão entender bem a proposta do Programa e o perfil do público-alvo, para que mobilizem para os seminários as mulheres que realmente possam se comprometer a participar do Programa e tenham o perfil esperado, tanto no eixo do fomento ao empreendedorismo quanto no do trabalho e ocupação. Tendo em vista o objetivo de maior articulação com os atores que podem contribuir para ações de desenvolvimento local em suas dimensões econômica e social, a Rede Local de

17 O Anuário da Secretaria da Mulher é uma publicação que realiza a prestação de contas do ano anterior e revela as metas a

serem cumpridas no próximo ano. É publicado desde 2007. Todos os Anuários podem ser consultados em http://www2.secmulher.pe.gov.br/web/secretaria-da-mulher/publicacoes

Atendimento do SEBRAE mobiliza as mulheres que empreendem (formal ou informalmente) para se inscreverem no seminário. (SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, 2008, p. 31).

Como já mencionado, a locação de espaço físico para a realização das atividades do Programa não era prevista nos recursos financeiros, logo demandava articulação das instituições parceiras para consegui-lo. No entanto, nem todos os polos contaram com locais cuja estrutura era adequada, tem-se como exemplo a reunião realizada em Olinda, na Biblioteca Pública, conforme ilustração abaixo:

Figura 4: Reunião de sensibilização do polo 3 (Olinda e Paulista)

Fonte:https://picasaweb.google.com/115231450350071961925/PTEMPernambucoReuniaoD eSensibilizacaoPaulistaEOlindaPoloIIINov2010#5545159532335337778

Seminários sobre Trabalho e Empreendedorismo

Como segunda atividade em cada polo ou município tinha-se o seminário, realizado com as mulheres mobilizadas pelas lideranças e que fizeram sua inscrição por telefone. Esta etapa era muito importante no processo de implementação, pois era o espaço para primeira explicação da proposta do Programa às prováveis beneficiárias e de seleção para participação nos cursos. Porém, o resultado de tal mobilização em Pernambuco esteve aquém das metas estipuladas; no primeiro momento, que seria justamente os seminários, a meta era de um total de 960 mulheres e esta não foi atingida, conforme tabela abaixo:

Tabela 8 – Número de participantes nos seminários Polo Número de participantes

Polo 1 119 Polo 2 103 Polo 3 99 Polo 4 131 Polo 5 109 Polo 6 131 Total 692 Fonte: MELO, 2012b.

Figura 5: Seminário do polo 2 (Igarassu, Abreu e Lima, Araçoiaba, Itapissuma, Itamaracá)

Fonte:https://picasaweb.google.com/115231450350071961925/PTEMPernambucoSeminario TrabalhoEEmpreendedorismoDaMulherPoloIIIgarassuEOutros#5528061295462995682

O seminário tinha duração de cinco horas, começando com o credenciamento das participantes a partir do preenchimento de ficha cadastral, seguido da mesa de abertura com as autoridades, apresentação do Programa, palestra sobre a mulher no século XXI (adaptada em cada município ou polo) e oficinas de criação. Neste seminário as participantes recebiam pasta com bloco, caneta, folder e camisa do Programa. Também era servido um lanche, e ao final ainda preenchiam uma ficha

de avaliação do seminário. É importante ressaltar isso tendo em vista que muitas beneficiárias chegavam ao evento antes do início e por vezes sem alimentação adequada.

Oficinas

As oficinas de direcionamento estratégico tinham o objetivo de garantir a sustentabilidade dos grupos, através do monitoramento e acompanhamento dos mesmos. Eram voltadas para as mulheres participantes dos cursos do SEBRAE.

Já as oficinas sobre microcrédito produtivo estavam destinadas às beneficiárias que fizeram os cursos da BPW e tinham como finalidade a sensibilização sobre o microcrédito produtivo, como instrumento eficaz para o fortalecimento das iniciativas econômicas.

As oficinas para gestores públicos foram direcionadas para gestores e técnicos locais, com temas considerados relevantes para integração entre as políticas que influenciam na condição de vida das mulheres em situação de vulnerabilidade social. Foram realizadas nos dias 8 e 9 de novembro de 2011 e contaram com a participação de 19 gestores e técnicos estaduais e municipais, representantes de nove municípios dos 17 que fazem parte da RMR. Foram trabalhados os seguintes temas: O papel do Estado e do município como entes federativos; Gênero e racismo institucional; Empreendedorismo.

Figura 6: Oficina para gestores

A metodologia utilizada compreendia exposições dialogadas, apresentações dos resultados dos trabalhos em grupo, e exercícios. Os exercícios versavam sobre mapeamento das políticas sociais, identificação das diferenças entre homens e mulheres, concepção pessoal de empreendedorismo, e planos de ação para os municípios a partir de um diagnóstico (englobando desafios, ações, metas, estratégias e prazos).

Cursos

Para fins deste trabalho também percebemos a necessidade de analisar o material utilizado nos cursos ofertados pelo SEBRAE e pela BPW com a finalidade de apreender as concepções e ideologias repassadas. Logo, partindo do pressuposto que o mesmo material foi utilizado de forma semelhante nos estados contemplados, compartilhamos do destaque de Machado (2012), para quem os cursos ministrados pelo SEBRAE e pela BPW pareciam contrapostos. A BPW, enfatizando nos seus cursos conteúdos relacionados

[...] à rotina doméstica das beneficiárias, aludindo a como elas poderiam conciliar a sua presença em casa com o desenvolvimento de trabalhos remunerados [...] à condição de subordinação feminina, como violência doméstica e baixa autoestima devido à pouca escolaridade (MACHADO, 2012, p. 159).

Já o SEBRAE abordava a qualificação para o empreendedorismo, colocando- o como fator de diminuição das desigualdades e de impulso ao desenvolvimento econômico. No entanto, quando se trata da questão de gênero apresenta uma visão de que a participação das mulheres nos negócios deve considerar as características femininas. Logo, definir características como próprias a todas as mulheres (e ainda demarcar tendências a negócios similares a afazeres domésticos) traz um discurso biologizante de gênero. Isso pode evidenciar

[...] a quem o executa, um fator limitante a quaisquer outras aspirações que não estejam situadas dentro de seu raio de ação [...] começar um negócio que não implique em ruptura com as responsabilidades familiares, previamente assumidas, seria uma estratégia de conciliação de funções por parte das empreendedoras (MACHADO, 2012, p. 116-117)

Além disso, é importante pontuar que concepções de empreendedorismo, de gênero e de políticas públicas tinham as instituições que repassavam os conteúdos propostos pelo Programa. Assim, seguem conteúdos e análises acerca dos cursos ministrados pelo SEBRAE:

Curso 1 (SEBRAE) – Mulher Empreendedora

O curso contava com uma carga horária de 16 horas, divididas em quatro encontros de 4 horas cada. Tinha como objetivo principal fornecer à beneficiária uma visão de sua função no mundo dos negócios, em encontros que versavam sobre o fortalecimento da identidade feminina, a necessidade de cultivar a autoestima, mulher e o empreendedorismo, e como se tornar uma mulher empreendedora.

O livro distribuído às participantes, fotocopiado, foi produzido no ano de 2006 pelo SEBRAE em Brasília. Este material atrai a atenção logo na folha de rosto por estar impresso ‘Manual do participante’ num material que é voltado para mulheres e que tem por título ‘Mulher Empreendedora’. Em pesquisas realizadas constatou-se que tal livro não serviu apenas para as atividades do Programa e sim é componente da metodologia utilizada pelo SEBRAE em outras capacitações.

A apresentação deste livro trazia aspectos similares aos objetivos do próprio Programa: “[...] identificar e potencializar as características do empreendedorismo feminino é vital para o desenvolvimento econômico sustentável e socialmente inclusivo”. Acresce-se a isso uma concepção de empreendedorismo que pode ser diferenciada pelo sexo do indivíduo, ou seja, mostrando que a maneira de empreender de homens e mulheres é distinta. A argumentação do livro continuava: “Impulsionar ações empreendedoras nesta direção se faz fortalecendo a identidade feminina e suas características peculiares: solidariedade, criatividade, consensualidade, cuidado, persuasão, emocionabilidade, intuição, parceria efetiva e capacidade de trabalho em equipe”.

Nesse sentido, colocava que o desenvolvimento econômico seria possível se houvesse um fomento ao empreendedorismo, mas um empreender de forma diferenciada, com características femininas, que são apresentadas como tipicamente e socialmente esperadas. Sendo assim, reafirmava estereótipos culturalmente enraizados na sociedade e que continuam sendo perpetuados de forma enviesada pelas instituições sociais. Exposta no material didático aparecia a competência geral deste curso, que discorria em reconhecer sempre e fortalecer a identidade feminina,

procurando despertar um comportamento apropriado para criar, manter e expandir negócios.

A concepção de empreendedorismo apresentada pelo SEBRAE remete a autores como Dornelas (2001) e Dolabela (2003), que apresentam o empreendedor como uma pessoa imaginativa, com capacidade para fixar objetivos e para criação de diferentes maneiras de fazer o que já vinha fazendo; em resumo, é o que imagina, desenvolve e realiza visões. Acrescenta-se a isso mais características inerentes àquele que cria e desenvolve negócios: identificação de oportunidades, alto nível de energia, perseverança, possibilidade de assumir riscos e persuasão.

Apesar de, por um lado, existir uma clara percepção das noções teóricas sobre empreendedorismo que permeiam os materiais utilizados pelo SEBRAE, isso não fica evidente quando se trata da questão de gênero, que é tratada de forma sutil e que é bastante questionável, pois apresenta características que são próprias das mulheres, o que é uma forma de generalização e relativização. Isso deveria ser melhor discutido, já que se trata de uma política para mulheres e que este primeiro curso refere-se à Mulher Empreendedora. Ainda percebeu-se a ausência de uma discussão sobre políticas públicas, mesmo que esse não fosse o foco do eixo de responsabilidade do SEBRAE; talvez esse trabalho pudesse trazer mais clareza sobre o Programa em que as beneficiárias estavam inseridas e também de que o SEBRAE era uma das instituições parceiras integrantes de uma política (que não estavam participando somente em seus cursos, como ficou nítido nas falas de entrevistadas, mesmo de algumas que nem neles participaram, mas sim nos da BPW).

Nos quatro encontros programados para este primeiro curso, basicamente ocorriam exposições orais, exposições dialogadas a partir de um texto, exercícios em grupos, individuais de expressão pessoal, sensibilização e conscientização, sempre tendo como finalidade o reconhecimento e fortalecimento da identidade feminina para o desenvolvimento do comportamento empreendedor.

O primeiro encontro, ‘Fortalecendo a identidade feminina’, tinha como finalidade o que o próprio título já sugere (o fortalecimento da identidade feminina) e a ampliação da consciência da participante no que refere às diferentes realidades femininas. Como recursos para alcançar os fins pretendidos, foram utilizados recursos musicais, como a música ‘Mulher’, de Geraldo Azevedo e Neila Tavares,

buscando a identificação com personagens e condições retratadas na música; e literários, discutindo o texto ‘O princípio feminino e a mulher na história humana’18.

Faz-se necessário destacar a concepção (explicitada na página 15 do livro utilizado) de que homens e mulheres possuem dentro de si princípios masculinos e femininos: as mulheres são sensíveis, intuitivas, receptivas, cuidadosas e possuem ternura, interioridade e profundidade; já os homens são racionais, objetivos, assertivos, materialistas e possuem expressividade, ordenação e apropriação. Isto também termina por reforçar o estereótipo de que o comportamento dos indivíduos responde ao instinto e é natural, quando, ao contrário, o comportamento, papeis e funções dos indivíduos são construídos culturalmente.

Para o segundo encontro, ‘Cultivando a autoestima’, o objetivo era ensinar como se aprende a fortalecer a autoestima, o auto cuidar e buscar respeito e autoconfiança por si mesma. Também se utilizou de uma canção, ‘Você é linda’, de Caetano Veloso, como recurso à reflexão pessoal, a fim de descobrir em si características positivas e talentos. Além disso, sugeria a criação de um plano de ação pessoal para cultivar a auto aceitação, o autocuidado e a autoestima no dia-a- dia. Tal plano envolvia essencialmente três passos: Atividade (o que vou fazer), Recursos (condições) e Resultado esperado (consequências).

‘A mulher e o empreendedorismo’ foi o tema do terceiro encontro, que teve como perspectiva apresentar casos de mulheres empreendedoras, percebendo nesses casos características do comportamento empreendedor. Da mesma forma que nos dois primeiros encontros, também houve a utilização de uma música,