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Capítulo 2. Enquadramento concetual

2.2. Abordagens concetuais da atividade turística

A crescente importância económica e social da atividade turística refletida na evolução do número de turistas e receitas geradas, tem despertado o interesse de inúmeros investigadores, das mais diversas áreas disciplinares. Simultaneamente, têm surgido várias definições de turismo, umas mais conceptuais e outras de natureza mais técnica que se distinguem das primeiras por permitirem a sua operacionalização em investigações científicas.

Para Dumazedier (1998) citado por Cunha (2013, p.2), lazer “é a atividade à qual as pessoas se entregam livremente, fora das suas necessidades e obrigações profissionais, familiares e sociais, para se descontrair, divertir, aumentar os seus conhecimentos e a sua espontânea participação social, livre exercício e capacidade

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criativa”. Sendo assim, o lazer é um conceito mais abrangente, que inclui o tempo disponível que cada indivíduo possui após:

• o trabalho;

• o estudo;

• necessidades básicas, como dormir, comer, entre outras;

• e todas as outras obrigações profissionais, familiares e sociais.

O conjunto de atividades exercidas durante o tempo livre poderão designar-se por atividades de recreio, o que pressupõe a realização de alguma atividade e motivação com o objetivo de aumentar a autoexpressão e autoestima. O turismo distingue-se do recreio porque implica necessariamente uma deslocação, enquanto o recreio pode ou não dar origem a uma viagem. Por conseguinte, o turismo pode ser considerado como uma forma particular de lazer e recreio, distinguindo-se pela componente da viagem e duração da mesma, indo ao encontro da proposta de Murphy (1985), segundo o qual o turismo é uma atividade relacionada com a deslocação de pessoas para fora das suas áreas de residência habitual (turistas e excursionistas), desde que essas deslocações não se traduzam em permanência definitiva na área visitada.

Numa perspetiva sistémica, o turismo corresponde a um sistema relacionado com a deslocação de pessoas para fora da sua área habitual de residência, por uma ou mais noites, exceto deslocações que tenham como objetivo a obtenção de remunerações (Leiper, 1979). Os elementos do sistema, interligados espacial e funcionalmente, são i) os turistas, ii) as áreas geradoras de turismo, iii) as regiões de trânsito, e iv) uma indústria do turismo que lhe está associada. Possuindo as características de um sistema aberto, a organização destes elementos operacionaliza-se em ambientes amplos que interagem uns com os outros: ambientais, culturais, sociais, económicos, políticos e tecnológicos.

Para Mathieson & Wall (1993) o turismo é um fenómeno multifacetado que implica o movimento e estada de pessoas num destino localizado fora da área de residência habitual. Segundo os mesmos autores (p.14), o turismo é constituído i) por um elemento dinâmico que implica viajar para um determinado destino; ii) por um elemento estático que envolve a estada no destino; e iii) por um elemento consequencial que resulta dos dois elementos anteriores e que está relacionado com as consequências nos subsistemas económico, físico e social com os quais os turistas estão, direta ou indiretamente, em contacto. Esta abordagem acentua a complexidade da atividade turística, englobando a oferta e a procura turística, as deslocações, as relações com o destino visitado e os serviços e produtos turísticos. Numa vertente mais economicista

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Smith (1991, citado por Costa, 2005) concetualiza o turismo como um agregado de atividades de negócios que direta ou indiretamente fornecem bens ou serviços que suportam as atividades de lazer e negócio realizadas pelas pessoas fora dos locais de residência habitual.

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 1991 citado por Cunha, 2013, p.7) o Turismo “compreende as atividades desenvolvidas por indivíduos (visitantes) no decurso das suas viagens e estadas para e em locais situados fora do seu ambiente habitual por um período consecutivo que não ultrapasse um ano, para fins recreativos, de negócios e outros”.

Existem cinco elementos que devem ser considerados nesta definição:  Deslocação;

 Residência habitual;  Duração da permanência;  Remuneração;

 Motivação.

No entanto, são várias as críticas que têm sido feitas a esta definição. É imprecisa, por não fazer referência a uma distância máxima4 e por não escrutinar os territórios a considerar na expressão “residência habitual” e centra-se essencialmente no lado da procura, ou seja, nas atividades desenvolvidas pelos turistas. Tendo em conta o lado da oferta da atividade turística, terá de se incluir “um vasto conjunto de lugares, organizações, empresas, profissões e relações que se combinam para satisfazerem as necessidades decorrentes das viagens turísticas” (Cunha, 2013, p.8). Sendo assim, da conjugação de ambas as perspetivas – oferta e procura – o turismo corresponde ao “conjunto de atividades desenvolvidas pelos visitantes em razão das suas deslocações, as atrações e os meios que as originam, as facilidades criadas para satisfazer as suas necessidades e os fenómenos resultantes de umas e de outras” (Cunha, 2013, p.9).

Um turista corresponde a um visitante que fica pelo menos uma noite no local visitado, podendo ser considerado um turista internacional se o local visitado se encontrar fora do país ou um turista nacional se o local visitado se localizar dentro do país da área de residência habitual. Segundo a Organização Mundial do Turismo (UNWTO, 2007) um visitante corresponde a toda a pessoa que se desloca para fora do seu ambiente habitual de residência, por um período inferior a 12 meses, com um objetivo que não seja o de usufruir de uma atividade remunerada. Se o local visitado se encontrar fora do

4 Segundo McCabe (1999) citado por Edelheim (2015, p.5) a atual definição de turista, proposta pela

UNWTO, contempla os visitantes que passam pelo menos uma noite num lugar fora da sua residência habitual a pelo menos 50km de distância.

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país será um visitante internacional, se o lugar visitado se encontrar dentro do país da área de residência habitual será um visitante nacional. Se um visitante não pernoitar no local visitado é considerado um excursionista (nacional ou internacional dependendo do facto do lugar visitado se encontrar, ou não, fora do país da área de residência habitual).

2.3. A cidade como produto turístico