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Capítulo 3. Turismo backpacker: um fenómeno complexo e heterogéneo

3.4. Turismo backpacker: revisão da literatura

Uma análise quantitativa aos artigos científicos sobre “turismo backpacker”, publicados na base de dados Scopus7, permite concluir que não existe muita produção científica nesta área. Até março de 2015 estavam disponíveis apenas 118 documentos tendo o número de artigos aumentado para 189 em junho de 2019, maioritariamente publicados nas áreas científicas de “Gestão, Negócios e Contabilidade” e “Ciências Sociais”, indo ao encontro do argumento apresentado por Paris & Teye (2010) de que os estudos sobre backpackers podem ser divididos em duas perspetivas teóricas: a perspetiva de mercado, baseada em metodologias quantitativas e a perspetiva antropológica, baseada em metodologias qualitativas de natureza etnográfica.

Gráfico 2. Número de artigos científicos publicados na base de dados Scopus sobre “backpackers” e “turismo e backpackers” (1972-2019).

Fonte: Scopus.com. Consulta efetuada dia 26 de junho de 2019. Construção do autor.

7 A base de dados Scopus “oferece a visão mais abrangente da produção científica a nível mundial nas

áreas de ciência, tecnologia, medicina, ciências sociais e artes e humanidades [constituindo] o maior banco de dados de resumos e citações de literatura peer-reviewed” (Elsevier, 2014).

0 5 10 15 20 25 30 35 40 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019

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Utilizando apenas o conceito backpacker os resultados obtidos são superiores: 255 em 2016 e 316 em junho de 2019 com as áreas científicas das “Ciências Sociais”, “Gestão, Negócios e Contabilidade” e “Medicina”, a dominarem no número de publicações.

A análise do gráfico 2 revela que o interesse dos investigadores pelo turismo backpacker é relativamente recente, uma vez que a maioria dos estudos têm vindo a ser publicados desde o início do segundo milénio. Este crescente interesse tem vindo a ser acompanhado pelo aumento do número de turistas jovens que em 2015 representaram 23% do total de turistas em todo o mundo (World Tourism Organization, 2016).

As principais investigações realizadas durante a década de 80 do século passado, como as de Adler (1985) ou Riley (1988) contextualizam do ponto de vista histórico o fenómeno backpacker, salientando a sua importância económica e apresentando os turistas backpackers como segmento de mercado coerente e dinâmico (Ateljevic & Doorne, 2004). Os estudos que se seguiram, segundo Paris & Teye (2010), podem ser divididos em duas perspetivas teóricas: a perspetiva antropológica, baseada em metodologias qualitativas de natureza etnográfica e a perspetiva de mercado, baseada em metodologias quantitativas, embora, como Ateljevic & Doorne (2004, p.60) referem, as perspetivas de investigação “tenham evoluído numa lógica ligada à conjuntura política, económica e sociocultural em que são realizadas e na qual, o próprio turismo backpacker se manifesta”. Pearce (1990), citado por Ateljevic & Doorne (2004) consciente do aumento da importância económica deste segmento introduz definitivamente o termo backpacker na literatura académica, revelando também uma mudança crucial no turismo backpacker (from a de-marketing label to a marketing tool). Segundo o mesmo autor, as motivações dos turistas backpackers passavam pela fuga à rotina diária e à pressão para a tomada de decisões, referindo que era frequente trabalharem ocasionalmente para aumentar o tempo de viagem. Atribuiu o crescimento deste segmento de mercado ao desenvolvimento de uma indústria na forma dos Youth Hostel Association in Australia a partir da década de 90. Algumas das principais áreas de interesse dos primeiros trabalhos, passavam pelas motivações, comportamentos e processos de tomada de decisão. Interações sociais e assuntos relativos ao sexo, classe e identidade foram analisados num contexto abrangente do sistema capitalista – institucionalização das atividades backpacker. Investigações posteriores passaram a centrar-se na exploração das características, motivações e comportamentos dos backpackers, como por exemplo Loker-Murphy & Pearce (1995) que identificam nestes viajantes um conjunto de características: um elevado nível de interação com as populações locais, baixo nível de planeamento e organização e o uso de um conjunto de serviços de baixo custo.

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Fonte: Adaptado de Mathieson & Wall (1993).

Figura 5. Enquadramento temático da revisão da literatura sobre turismo e turistas backpackers sob uma perspetiva de mercado.

ELEMEN TO D INÂM IC O ELEM EN TO ES TÁ TIC O ELEMEN TO C O N SE QU EN C IA L

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Loker-Murphy & Pearce (1995) descrevem-nos ainda como sendo bastante jovens e com um grande grau de independência, procurando em viagens não estruturadas, experiências mais autênticas. Na mesma linha de investigação, outros estudos deste período exploraram assuntos relativos ao processo de tomada de decisão, motivação e às dinâmicas do comportamento dos backpackers, nomeadamente ao desenvolvimento deste fenómeno na Austrália e Nova Zelândia (Doorne, 1994; Garnham, 1993; Murphy, 1999; Parr, 1989, Ross, 1992 citados por Ateljevic & Doorne, 2004).

Atualmente, as perspetivas de investigação que têm sido realizadas sobre o turismo backpacker são mais diversificadas. Estando este enquadrado na atividade turística em geral e sendo o turismo uma importante atividade económica parece pertinente, orientar a revisão da literatura de acordo com o esquema apresentado na figura 5, ou seja, pelo lado da procura, onde destacamos os estudos sobre as características dos turistas backpackers e as investigações sobre as características dos destinos.

Como os turistas se deslocam no tempo e no espaço num determinado território, a atividade turística tem também um conjunto de impactes económicos, sociais e ambientais que colocam frequentemente em causa a sustentabilidade da mesma. Estes elementos consequenciais têm também sido objeto de estudo no contexto do turismo backpacker e serão analisados com mais pormenor em dois subcapítulos dedicados à relevância económica e aos impactes ambientais. Os controlos dos impactes (figura 6) serão porventura, as linhas de investigação menos exploradas dentro deste segmento de mercado

.

Fonte: Adaptado de Mathieson & Wall (1993).

Figura 6. Controlo dos impactes do turismo backpacker

Quando escolhem um lugar ou atração para visitar ou atividade para participar, alguns autores descrevem os backpackers como tendo o mesmo tipo de interesses de outros turistas (Ryan & Mohsin, 2001). Num estudo sobre backpackers israelitas Reichel et al. (2009), referem também que o comportamento dos backpackers é muito parecido ao dos restantes turistas, apesar da literatura descrever habitualmente os backpackers

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como mais propensos ao risco (Peel & Steen, 2007; Reichel et al., 2007; Uriely et al., 2002) indo ao encontro do recente relatório sobre “O poder dos turistas mais jovens”, onde são descritos como viajantes intrépidos que continuam a viajar, mesmo em circunstâncias difíceis (World Tourism Organization, 2016).

O risco nas viagens é uma das dimensões centrais na construção da identidade dos backpackers (Elsrud, 2001) razão pela qual, procuram experiências aventurosas de forma a distinguir-se dos turistas em massa. No entanto, dada a heterogeneidade do fenómeno backpacker, a perceção ao risco é um fenómeno multidimensional, variando de acordo com as características individuais e que inclui fatores de risco semelhantes aos mencionados na literatura sobre “comportamento no consumo” e em estudos sobre risco percebido em turismo (Reichel, Fuchs, & Uriely, 2007). Estes autores estudaram a perceção ao risco de 579 estudantes israelitas com experiência em backpacking, concluindo que embora a perceção ao risco varie de acordo com as características pessoais dos viajantes, tais como o sexo, experiência, preferência por companheiros de viagem, entre outros, os autores (2007, 2009) concluem que os backpackers estão a tornar-se mais institucionalizados e menos distintos dos turistas convencionais. Num estudo de 2009, os mesmos autores, compararam as atitudes e atividades desenvolvidas por backpackers israelitas que visitam a América do Sul com os que visitam o Sudeste asiático. Tentando identificar as várias dimensões da perceção ao risco da experiência backpacking, concluíram que a escolha do destino está associada a vários fatores: motivações da viagem, perceção ao risco, planeamento da viagem, organização da viagem (meios de transporte e alojamento) e estratégias de redução do risco. Incidindo novamente sobre backpackers israelitas, verificaram que estes escolhem o sudeste asiático por motivos espirituais, para experimentar drogas e afastamento da vida moderna, enquanto a América do Sul é procurada por backpackers israelitas que apreciam desportos radicais, diversão e a possibilidade de viver noutro lugar.

Apesar da sua maior tolerância a situações arriscadas, os backpackers têm sido descritos como cautelosos em relação a alguns riscos existentes nas regiões visitadas (Reichel et al., 2007; Uriely et al., 2002) tendo Reichel et al. (2009), descrito que o seu comportamento é muito parecido ao dos restantes turistas. Fuchs (2013) ao estudar as relações entre o traço de personalidade dos backpackers na procura de novas sensações e as suas perceções ao risco, mostrou que os que procuram mais estímulos sociais têm menos preocupações com as ameaças de natureza social, como multidões e lugares mais comerciais.

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Numa outra latitude, Adam (2015) explorou a perceção ao risco dos backpackers que visitam o Gana, os seus fatores determinantes e as estratégias de redução do risco, verificando que este segmento de turistas utiliza diferentes estratégias de redução ao risco, dependendo da perceção ao mesmo e que as alterações no seu comportamento de consumo e a procura de informação são as principais estratégias utilizadas na redução do risco. Como se trata de um grupo de turistas heterogéneo, o autor refere que algumas características como religião, educação, origem, planos de viagem e o facto de ser ou não uma visita repetida, influenciam a sua perceção ao risco neste país africano. Reconhecendo-se, portanto, entre os turistas backpackers, uma certa indiferença em relação ao risco (Peel & Steen, 2007), eventos dramáticos para a atividade turística, como a “gripe das aves” em 2003 ou atentados terroristas em diversas partes do mundo, como aconteceu em Bali em 2002, não têm um impacte tão grande entre o segmento backpacker.

Existe um conjunto de artigos da área da Medicina que se tem debruçado sobre os backpackers. No trabalho de Felkai (2010) são discutidos os níveis, os métodos e a importância da prevenção na redução dos riscos de contágio de doenças infectocontagiosas presentes na região Ásia-Pacífico. Entre os grupos de risco que viajam para esta região estão os backpackers e os viajantes aventureiros. A incidência de diarreia e sintomas respiratórios entre viajantes que se deslocam para a Ásia, África, América do Sul e Central é analisada por Redman, MacLennan, Wilson, & Walker (2006). Na mesma linha de investigação, Piyaphanee et al. (2014) procuram conhecer que tipo de preparação é feita antes da viagem e a incidência de problemas de saúde entre os visitantes que viajam para o Laos concluindo que os visitantes tailandeses raramente ficam afetados em comparação com os viajantes ocidentais, a maioria backpackers, que por serem mais jovens, terem uma estada mais longa e participarem em atividades de aventura, têm uma maior probabilidade de ficarem doentes.

Bhatta, Simkhada, Van Teijlingen, & Maybin (2009) analisaram o risco e os problemas com que se deparam os voluntários na área da saúde que se deslocam para países em desenvolvimento concluindo que é importante, antes da viagem, haver uma preparação e cuidados médicos adequados à região de destino. Os mesmos cuidados estendem- se também aos backpackers. Preocupados com a prevalência da Malária no sudeste asiático, destino anual de milhares de backpackers, Piyaphanee et al. (2009) estudaram o conhecimento, as atitudes e as práticas existentes em relação a esta doença, entre os backpackers estrangeiros que visitam esta região, concluindo que existem ideias erradas em relação à malária e pouca prevenção em relação às picadas dos mosquitos. Num outro trabalho destinado a montanhistas que visitam a Sierra Nevada, nos Estados

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Unidos da América, Derlet (2008) determina os fatores de risco de doença por contacto com a água dos lagos e riachos.

O uso de drogas, álcool e comportamento sexual dos backpackers é analisado por Bellis et al., (2007) que concluíram que é frequente o uso de álcool e outras drogas entre os backpackers do Reino Unido que visitam a Austrália e que o uso de drogas ilícitas é também substancialmente superior ao uso das mesmas no seu país de origem. Além de consumirem mais álcool por semana na Austrália do que no seu país, 55% dos backpackers afirmaram também terem consumido drogas ilícitas. Perante este cenário, Hughes et al. (2009) concluem que os backpackers são um grupo de elevado risco no que respeita à transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Ao explorarem o comportamento sexual dos backpackers britânicos em visita à Austrália bem como a influência de substâncias nesse mesmo comportamento, verificaram que no total, 73.2% dos 1008 backpackers inquiridos em hostels de Sydney e Cairns tiveram relações sexuais durante a sua estada, incluindo 68,9% daqueles que viajaram sem companheiro(a). Aproximadamente 41% referiram que utilizavam preservativo de forma inconsistente e 24% tiveram mesmo relações desprotegidas com vários parceiros.

O papel da internet e a sua influência é ainda uma temática pouco explorada em estudos sobre backpackers, apesar de vários investigadores assumirem que os mais jovens utilizam frequentemente as novas tecnologias não só na preparação como também durante as viagens (Chen & Weiler, 2014; Lu & Chen, 2014; Luo & Li, 2009; Mohsin & Ryan, 2003; Sørensen, 2003).

Bell (2008) estudou a relação entre os anúncios na internet sobre alojamentos de ecoturismo para backpackers, na Nova Zelândia, e as práticas ecológicas nos hostels no sentido de averiguar se os serviços disponibilizados e publicitados online correspondem efetivamente ao serviço prestado. Apenas dois hostels demonstraram estar em consonância com o publicitado, no que respeita à oferta e prestação de um conjunto de serviços mais ecológicos, pelo que muitos alojamentos utilizam as expressões “amigos do ambiente” e “verde” para atrair mais clientes (Bell, 2008).

Ao analisar as comunidades virtuais utilizadas por backpackers, Ku (2011) verificou que a comunidade backpacker pode servir de grupo de referência para influenciar as escolhas, atitudes e crenças de outros viajantes e que as agências de viagens têm de ser tecnologicamente astutas para se manterem conectadas aos seus clientes. As fontes e fluxos de informação e o papel dos media e guias de viagem destinados a backpackers foram estudados por Hanlan & Kelly (2005), Lu & Chen (2014) e Murphy (2001). Os primeiros concluíram que a estratégia de marketing para um destino como

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Byron Bay, na Austrália, deve utilizar outros recursos além dos tradicionais media para fazer passar a sua mensagem como destino turístico para backpackers, já que os media convencionais têm um papel pouco ou nada relevante na formação da imagem do destino. Isto acontece porque a informação “boca-a-boca” e a informação disponibilizada pelos guias de viagem Lonely Planet têm um papel chave na formação da imagem. Lu & Chen (2014) examinaram o comportamento de turistas independentes (japoneses, chineses e norte-americanos) em visita a Taiwan no sentido de compreenderem como a nacionalidade e o sexo podem influenciar a pesquisa de informação. Concluíram que a internet é a principal fonte de informação, seguida de jornais, revistas e livros, que os chineses são mais influenciados pela publicidade no metro, autocarros, televisão, rádio e letreiros do que os japoneses ou norte-americanos, e que os japoneses e os chineses são mais propensos a utilizar mais folhetos e agências de viagens que os norte-americanos. Murphy (2001) estudou a interação entre backpackers para tentar compreender melhor as suas redes informais de disseminação da informação fornecendo um conjunto de recomendações às empresas que prestam serviços a este segmento de mercado para que possam ter mais controlo acerca das informações que são transmitidas “boca-a-boca” entre viajantes.

A interação com a população local é investigada por Maoz (2006) que analisa a imagem e estereótipos dos locais em relação aos turistas e o modo como os comportamentos de ambos se afetam (interrelacionam) mutuamente, concluindo que a imagem que uns têm dos outros é distante e de suspeição mútua, situação que, segundo a autora, não mudará.

As características socioeconómicas, culturais e demográficas dos turistas backpacker têm sido analisadas sob diferentes perspetivas. Alguns estudos qualitativos, de natureza etnográfica sobre a identidade dos backpackers como os de Anderskov (2002), Cohen (2011), Elsrud (2001) e Sørensen (2003) têm sido fundamentais em várias investigações sobre turismo backpacker, incidindo essencialmente nas características sociais e demográficas dos viajantes (Sørensen, 2003). Cohen (2011) reconcetualiza o termo drifter para lifestyle traveler, explorando as suas práticas, ideologias e identidade social, distinguindo-os dos backpackers devido ao seu envolvimento duradouro, reassimilação cultural e motivação por trabalhar, não encarando o ato de viajar como um período de transição mas sim como um estilo de vida. Recentemente, Richards (2015) classifica-os como nómadas globais. Elsrud (2001) analisou as narrativas construídas cultural e socialmente acerca do risco e aventura e como estas são manifestadas pelos backpackers. Vários autores têm concluído em trabalhos onde é explorada a identidade dos viajantes, que viajar de

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mochila às costas é visto como uma forma de encontrar a própria identidade ou uma forma de a construir (Anderskov, 2002; Elsrud, 2001; O’Reilly, 2006; Sørensen, 2003), pelo que o backpacking é visto como fortalecedor da sociedade e dos sentimentos de pertença à mesma (Ateljevic & Doorne, 2004; O’Reilly, 2006; Riley, 1988).

Perante o crescimento e diversificação do turismo backpacker em todo o mundo, as diferenças decorrentes da nacionalidade dos backpackers e algumas questões ligadas às diferenças culturais/nacionalidade na promoção do turismo backpacker têm também vindo a ser exploradas por diversos autores (Brzózka, 2012; Chen & Weiler, 2014; Enoch & Grossman, 2010; Kim, Pearce, Morrison, & O’Leary, 1996; Maoz, 2007; Noy, 2004; Ong & du Cros, 2012; Teo & Leong, 2006). Alguns trabalhos têm demonstrado que a nacionalidade e origem cultural têm um papel importante ao influenciar as motivações dos backpackers (Larsen, Øgaard, & Brun, 2011; Maoz, 2007; Noy, 2004). Alguns autores criticam a visão eurocêntrica da maioria dos estudos publicados sobre turismo backpacker (Muzaini, 2006; Teo & Leong, 2006). Não obstante, tem havido um aumento do número de artigos publicados que apresentam perspetivas não ocidentais (Maoz, 2006; Noy, 2004; Ong & du Cros, 2012; Teo & Leong, 2006). Os backpackers israelitas têm recebido muita atenção, sobretudo por investigadores do próprio país (Enoch & Grossman, 2010; Maoz, 2006, 2007; Noy, 2004; Reichel et al., 2007, 2009; Shulman, Blatt, & Walsh, 2006; Uriely et al., 2002), acontecendo recentemente o mesmo com os backpackers chineses (Chen & Weiler, 2014; Luo, Brown, & Huang, 2015; Luo, Huang, & Brown, 2014; Ong & du Cros, 2012; Prayag, Cohen, & Yan, 2015; Wu et al., 2016), como a análise da visão pós-colonial dos backpackers chineses, de territórios anteriormente administrados por países ocidentais, como por exemplo, Macau (Ong & du Cros, 2012) e assuntos relacionados com a preservação cultural como consequência do aumento do número de backpackers no Tibete (Chen & Weiler, 2014). Conscientes da importância da internet na procura de informações acerca de atrações e destinos turísticos, Luo & Li (2009) analisaram como os backpackers procuram informações a partir da internet. Apesar do rápido desenvolvimento do turismo backpacker na China, Chen et al., (2014) salientam que têm sido realizados poucos estudos para compreender os comportamentos deste novo segmento de mercado.

Contrariando a visão ocidentalizada dos estudos sobre turismo backpacker, Teo & Leong (2006) fazem uma abordagem pós-colonial ao mesmo. Ao estudarem alguns enclaves asiáticos verificaram que os turistas backpacker de origem asiática e sobretudo, do sexo feminino, são discriminados, embora o aumento do número de turistas asiáticos contribua para uma mudança dos estereótipos. As motivações dos

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backpackers sul-coreanos foram analisadas por Kim et al. (1996), concluindo que motivações diferentes, decorrentes, por exemplo, da idade dos turistas, influenciam a escolha do destino. Por conseguinte, as motivações de natureza cultural levam os Coreanos a escolher sobretudo a Europa e Oceânia.

O elevado e rápido crescimento económico de alguns países asiáticos, como a China, tem contribuído para o aumento do número de turistas, fazendo deste país um dos principais países emissores e recetores de turistas em todo o mundo. Ong & du Cros (2012) dão a conhecer o turismo backpacker na China, nomeadamente os olhares dos backpackers chineses sobre Macau, um território cedido recentemente à China por Portugal. Os backpackers chineses correspondem a uma geração posterior à reforma de Mao Zedong e apropriam-se de Macau como um território exótico de fuga ao dia a dia, de lazer e como uma forma de espaço liminar, não dando muita importância aos aspetos culturais e experiências ligadas à autenticidade dos lugares e/ou atrações. Chen & Weiler (2014) focam a sua atenção nos backpackers chineses que visitam o Tibete, procurando contacto com o meio natural e a cultura exótica tibetana. Verificando a existência de uma lacuna entre a procura e a oferta, sobretudo ao nível do alojamento, estes autores alertam para a necessidade de ser dada atenção especial à gestão entre a oferta e a procura, nomeadamente o potencial impacte económico decorrente da necessidade de maior oferta de serviços de apoio aos backpackers.

Brzózka (2012) descreve as diferenças entre backpackers e turistas em massa e a natureza das viagens backpacker incidindo nas motivações dos backpackers japoneses, polacos, alemãs e israelitas. Se os israelitas fazem viagens mais longas, normalmente sozinhos, preferindo alojamentos baratos, visitando países não europeus, os japoneses