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Fatores internos e externos determinantes do comportamento espaciotemporal

Capítulo 3. Turismo backpacker: um fenómeno complexo e heterogéneo

4.4. Concetualização do movimento espaciotemporal dos turistas

4.4.2 Fatores internos e externos determinantes do comportamento espaciotemporal

A procura de uma maior variedade de atrações e a redução da incerteza são algumas das razões que levam os turistas a visitar destinos multiatração (Tchetchink et al., 2009). Os padrões de comportamento dos turistas são influenciados por um conjunto de fatores relativos não só ao turista mas também ao contexto da viagem (Caldeira, 2014), pelo que a cognição – fator interno, que diz respeito ao próprio turista (características individuais dos turistas) e o conhecimento geográfico dos destinos/características dos destinos – fator externo - são fatores ou variáveis que influenciam os movimentos espaciais dos turistas (Caldeira & Kastenholz, 2019; Tussyadiah & Zach, 2012; Zillinger, 2007).

Millonig & Gartner (2008) fazem referência a várias características individuais (fatores internos), como os atributos sociodemográficos - sexo, idade, cultura, estilo de vida, educação, crenças, atitudes. Os fatores externos referem-se às características ambientais (ambiente, estado do tempo), características da visita (familiaridade, duração da estada), e infraestruturas (tipo, atratividade). Perspetiva idêntica foi adotada por Hernández (2003 citado por Caldeira, 2014, p.139) que descreve a existência de fatores relativos ao espaço e fatores relativos aos visitantes e por Lew & McKercher (2006) que se referem às características do destino e às características do turista. Lau & McKercher (2006) dividem os fatores que influenciam o comportamento espaciotemporal dos turistas em três grandes categorias: fatores humanos 'push' como o papel do turista, motivações pessoais, visitas anteriores, entre outros; fatores físicos 'pull', como a configuração do destino, a rede de transportes e o conjunto de atrações; e fatores temporais como o tempo de permanência no destino e duração total da viagem.

Para efeitos desta investigação, utilizamos o contributo concetual de Lew & McKercher (2006) e de Caldeira (2014), pelo que a análise dos fatores determinantes do comportamento espaciotemporal dos turistas incidirá sobre:

1) as características do turista; 2) as características da visita; 3) as características do destino;

Uma vez que os turistas backpackers realizam frequentemente viagens multidestino de longa duração, considerou-se pertinente analisar algumas características relativas à viagem no sentido de avaliar a sua influência no comportamento espaciotemporal dos

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backpackers durante a visita efetuada ao destino urbano. Considerou-se assim que a análise dos fatores determinantes do comportamento espaciotemporal dos turistas deve também incluir,

4) as características da viagem.

O quadro 16, relativo às características dos turistas, sintetiza um conjunto de variáveis suscetíveis de influenciar os padrões de comportamento dos turistas que têm sido utilizados e discutidos na literatura.

Quadro 16. Características dos turistas

Características dos turistas

- Sexo - Nacionalidade - Idade - País/Região - Área de residência - Nível de escolaridade - Ciclo de vida - Rendimentos/gastos diários - Ocupação - Perceção ao risco - Cultura de origem

- Tipo de turista e Perfil Psicográfico (alocêntrico e psicocêntrico) Fonte: Caldeira (2014), Caldeira & Kastenholz (2019) .

As características demográficas como a idade, sexo, educação, país de origem, entre outras, são variáveis, independentes do destino, que têm sido frequentemente utilizadas em vários estudos sobre o comportamento espaciotemporal dos turistas (Caldeira, 2014; Cooper, 1981 citado por East et al., 2017; Edwards et al., 2009; Espelt & Benito, 2006; Hunt & Crompton, 2008; Le-Klähn et al., 2015; Ritchie & Dickson, 2007; Xia et al., 2010; Zakrisson & Zillinger, 2012). No entanto, como salientam Masiero & Zoltan, (2013) e Le-Klähn et al. (2015) a idade e o sexo não têm sido fatores significativos, tanto na escolha dos meios de transporte como na dispersão da viagem. Se os padrões de movimento não são influenciados por variáveis demográficas, as características da viagem desempenham um papel importante na sua determinação (Masiero & Zoltan, 2013). Mas apesar de não existir ainda consenso quanto às diferenças entre sexos relativas à orientação e processo de tomada de decisão de percursos, Chang (2012), num estudo realizado em Veneza, encontrou algumas diferenças, concluindo que as mulheres demonstraram um nível mais elevado de ansiedade dando uma maior preferência, em termos de orientação, a uma estratégia de rota. Os turistas masculinos, menos ansiosos optaram preferencialmente por uma estratégia de orientação. Diferenças em relação à escolha dos percursos tinham já sido confirmadas por Xia et al. (2009) e Xia et al. (2010). Segundo Xia et al. (2009), existem diferenças entre sexos em relação às estratégias utilizadas na seleção dos percursos. Os turistas do sexo

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masculino utilizam pontos de referência diferentes, como por exemplo, tipos de vegetação ou marcas de trilhos e têm mais tendência a selecionar percursos mais panorâmicos do que os turistas do sexo feminino.

A idade é outra característica sociodemográfica analisada em vários estudos (Caldeira, 2014; Chang, 2012; Edwards et al., 2009; Espelt & Benito, 2006; Hunt & Crompton, 2008; Keul & Kühberger, 1997; Ritchie & Dickson, 2007; Xia et al., 2010; Zakrisson & Zillinger, 2012). Driver & Tocher (1979) citados por Dejbakhsh et al. (2011) referem que os mais velhos e os mais jovens tendem a ser espacialmente mais contidos. Mill and Morrison (1985) citados por Lew & McKercher (2006) referem a existência de uma relação entre idade e atividade física, pelo que os turistas mais jovens procuram atividades mais enérgicas enquanto os turistas mais velhos dão preferência a atividades mais sedentárias. Tal como Koo et al. (2012), Caldeira (2014) também não verificou a existência de uma relação entre idade e a amplitude de movimentos e atrações visitadas, concluindo apenas que turistas mais velhos (a partir dos 45 anos) utilizaram com maior frequência o transporte comercial/turístico, em linha com os resultados de outras investigações onde os turistas mais velhos tendem a preferir visitas organizadas. De Cantis et al. (2016) verificaram também que num dos grupos de turistas de cruzeiro, constituído predominantemente por pessoas mais velhas e mais jovens, foram realizados percursos de menor duração e extensão (passeios rápidos e curtos a pé), denotando uma preferência por passarem mais tempo a bordo do que na exploração do destino.

No que respeita ao país de origem, vários estudos identificaram algumas diferenças (Becken, Wilson, Forer, & Simmons, 2008; Koo et al., 2012), nomeadamente na distância percorrida desde o país de origem e o destino. De acordo com Caldeira & Kastenholz (2015), os turistas com locais de residência mais distantes investem mais tempo e dinheiro na sua viagem, procurando mais variedade, a redução do risco e de incerteza e a racionalização económica, com consequências no seu comportamento espaciotemporal durante a sua estada. Estas autoras identificaram diferenças estatisticamente significativas no comportamento espaciotemporal entre os turistas que viajaram de países mais próximos (short haul) e os turistas com origem em países mais distantes (long haul).

Em relação ao nível de escolaridade e rendimentos, De Cantis et al. (2016) também verificaram que turistas com maiores níveis de escolaridade e rendimentos realizaram tours mais compridos e duradouros indo ao encontro do trabalho de Hanson & Hanson (1981) citados por Dejbakhsh et al. (2011) em que os turistas mais ricos e instruídos

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revelam uma maior mobilidade. Segundo Cooper (1981, citado por East et al., 2017) os turistas de rendimentos mais reduzidos são também menos exploradores, concentrando mais o seu orçamento temporal num menor número de atrações de forma a maximizar a sua experiência de visita.

Alguns estudos sugerem a existência de diferenças nos padrões de movimento entre turistas domésticos e internacionais (Edwards et al., 2009 ; Flognfeldt, 1999; Le- Klähn et al., 2015a; Ritchie & Dickson, 2007; Xia et al., 2010). Flognfeldt (1999) refere que os turistas domésticos realizam com frequência visitas repetidas estando mais interessados em atividades sociais e relacionadas com a natureza enquanto os turistas internacionais, encontrando-se frequentemente a realizar uma primeira visita, procuram mais atrações e como conhecem mal o destino têm menos vontade em explorar áreas mais remotas. Numa investigação realizada na cidade de Munique, Le-Klähn et al. (2015) concluiram que os turistas nacionais tendem mais a viajar pela cidade e não para fora da mesma, o que poderá ser explicado pelo facto de um grande número dos turistas domésticos se encontrarem a realizar uma viagem de negócios, com pouco tempo para se distanciarem da cidade. Xia et al. (2010) encontraram padrões de movimento distintos entre turistas domésticos e internacionais no estudo que conduziram na ilha de Phillip Island, Austrália. Identificando cada atração com uma letra distinta, os autores verificaram que padrões de movimento identificados com as letras ‘DG’, que incluem visitas a “Koala Conservation Centre” e “Penguin Parade” e ‘DFG’, que incluem visitas a “Koala Conservation Centre”, “Cowes” e “Penguin Parade” respetivamente, foram dominados por turistas internacionais enquanto os padrões de movimento ‘FHG’ (“Cowes”, “Nobbies or Seal Rock” e “Penguin Parade”) e ‘BFG’ (“Cape Woolamai”, “Cowes” e “Penguin Parade”) caracterizam-se por serem mais utilizados por turistas domésticos.

Embora não haja muitos estudos sobre a influência da nacionalidade/país de origem no comportamento espaciotemporal em viagens intradestino multiatração, os trabalhos de Pizam & Sussmann (1995) e Pizam et al, (1997) e Pizam et al. (2004) citados por Ryan & Huimin (2007) referem a existência de diferenças na perceção e comportamento dos turistas relativamente à sua nacionalidade (Becken et al., 2008; Caldeira, 2014; Caldeira & Kastenholz, 2015; Debbage, 1991; De Cantis et al., 2016; Le-Klähn et al., 2015; Ritchie & Dickson, 2007; Zoltan & McKercher, 2014). Numa investigação realizada na Nova Zelândia, num contexto de viagens multidestino, Becken et al. (2008) verificaram que os visitantes australianos viajam distâncias mais curtas de avião e têm a mais elevada percentagem de utilização de automóveis e autocaravanas (74%).

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Os norte-americanos visitam os principais centros urbanos e refletem um comportamento de viajantes pouco experientes no que respeita ao seu comportamento espacial. Os japoneses, mais experientes que os americanos demonstram uma preferência cultural por viagens organizadas, partilhando com os chineses uma preferência cultural por viagens com poucas atividades, enquanto os turistas alemães são os visitantes mais ativos. Oppermann (1995) também refere a existência de preferências relativamente à nacionalidade dos turistas que visitam a Malásia no que respeita a certos padrões de movimento, salientando que os visitantes europeus escolhem preferencialmente uma determinada área e itinerário (“Open jaw loop”). Ficou evidente, numa investigação que envolveu estudantes da Nova Zelândia e da China de visita à Califórnia (Ryan & Huimin, 2007) que os primeiros tendem para se dispersarem da cidade de Los Angeles a um ritmo mais lento, visitando no entanto mais destinos e com estadas mais curtas, enquanto os estudantes chineses demonstraram uma maior preferência por estadas nos principais centros urbanos utilizando-os como base para se deslocarem até parques nacionais, regressando posteriormente à cidade, evidenciando assim uma menor tendência para viajar e consequentemente, uma menor dispersão.

Num contexto de viagem intradestino multiatração Caldeira & Kastenholz (2015) encontraram resultados estatisticamente significativos relativamente à distância do país de origem dos turistas rastreados, nomeadamente na utilização do transporte comercial/turístico, número de atividades, na escolha de algumas atrações e tours organizados, entre outros. Num outro estudo que envolveu turistas de cruzeiro, De Cantis et al. (2016) verificaram que os passageiros de nacionalidade italiana, em comparação com as outras nacionalidades, evidenciaram, em média, valores mais elevados de distância máxima percorrida e de velocidade média. Também Koo et al. (2012) encontrou diferenças significativas entre as nacionalidades dos turistas e os meios de transporte utilizados e respetiva dispersão no destino.

Os turistas são mais propensos a visitar um destino que lhes seja culturalmente familiar (Ng, Lee, & Soutar, 2007, citados por Le-Klähn et al., 2015a). A cultura de origem e a sua relação com o comportamento espaciotemporal dos turistas foi analisada por Dejbakhsh et al. (2011) que demonstraram haver diferenças significativas no comportamento espacial dos turistas de diferentes nacionalidades, quer ao nível da distância percorrida, do meio de transporte utilizado quer ao nível da duração e padrão de movimentos. Em estudos anteriores, Flognfeldt (1999) e Lew (1987) citados por Lew & McKercher (2006) verificaram, entre outros, que a nacionalidade dos turistas tem influência na escolha das atrações visitadas. Os turistas culturalmente mais próximos

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do destino visitado procuram atrações diferentes e viajam para áreas diferentes em relação aos turistas com origem em culturas mais distantes (Debbage, 1991).

O perfil psicográfico dos turistas diz respeito a um conjunto de variáveis psicográficas como atitudes, valores, interesses, motivação e personalidade (Weaver, 2012, p.371 citado por Caldeira, 2014). Tendo em conta as motivações, determinantes e comportamentos, Plog descreve a existência de três tipos de turistas: os psicocêntricos, alocêntricos e os midcêntricos. Os primeiros viajam habitualmente para destinos mais familiares e mantêm um nível de atividade mais reduzido; os segundos são mais aventureiros e propensos ao risco, procuram a novidade e viajam para destinos mais longínquos entrando em contacto com novas culturas. Os midcêntricos correspondem aos turistas que se encontram entre os extremos descritos anteriormente. Mas um dos primeiros autores a dedicar a sua atenção ao comportamento do turista e o seu grau de envolvimento no destino foi Cohen (1972), tendo proposto, de uma maneira geral, a existência de duas grandes tipologias de turistas enquadradas em:

i) formas institucionalizadas de turismo; ii) e formas não institucionalizadas de turismo.

A primeira inclui os turistas que viajam em visitas organizadas (“organized mass tourist”) e os turistas que não viajando em grandes grupos, planeiam a sua viagem (“individual mass tourist”). Em ambos os casos, os riscos são devidamente calculados de forma a reduzir ao máximo, quaisquer imprevistos, não havendo um grande envolvimento com o destino. A segunda inclui os turistas do tipo exploradores (“the explorer”) e os turistas “errantes” (“the drifter”), caracterizando-se estes por não planearem com pormenor a sua viagem e se envolverem bastante com as comunidades que vão conhecendo, sujeitos portanto, a situações mais arriscadas.

Debbage (1991), citada por Caldeira (2014, p.142) conclui que enquanto “os turistas alocêntricos viajavam mais cedo e mais frequentemente para fora da ilha, os turistas psicocêntricos atrasavam a sua saída da estância turística e restringiam os movimentos a localidades próximas”. Caldeira (2014) encontrou apenas uma relação significativa, embora inconsistente, com o perfil psicográfico e a tipologia de atração (miradouro). O seu trabalho de investigação revelou que os turistas que fizeram viagens de longo curso revelaram-se mais alocêntricos que os turistas que realizaram viagens mais curtas e que os turistas acompanhados de crianças revelaram-se mais psicocêntricos. Apesar de se presumir que o aventureirismo tivesse um impacto positivo sobre a amplitude de movimentos e multiatração, Caldeira (2014) apenas identificou uma associação e de

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forma inconsistente, em que os turistas mais alocêntricos se dispõem porventura a maior esforço físico e dispersão, incluindo na visita a miradouros.

Incidindo esta investigação sobre um segmento de turistas backpacker, seguir-se-á a perspetiva adotada por Cohen (1972), uma vez que os turistas que viajam ao estilo backpacker são, na sua essência, turistas não institucionalizados, quer do tipo exploradores (“the explorer”) quer do tipo turistas “errantes” (“the drifter”), enquadrando- se, de acordo com o perfil psicográfico de Plog, no grupo de turistas alocêntricos.

As características do destino, nomeadamente as suas características físicas (fatores físicos 'pull') como a configuração do destino, a rede de transportes e a localização das atrações (quadro 17), são apresentadas por Lau & McKercher (2006) como tendo influência na escolha dos itinerários por parte dos turistas, afetando por isso os seus padrões de movimento.

Quadro 17. Características do destino Características do destino - Origem da viagem/Localização do alojamento

- Destino da viagem/Localização das atrações (número, diversidade, tipo, hierarquia) - Acessibilidade (rede de transportes/modo de transporte)

- Geomorfologia/orografia

- Configuração espacial do destino - Estado do tempo/Clima

Fonte: Caldeira (2014); Caldeira & Kastenholz (2019); Dejbakhsh et al., (2011); Espelt & Benito (2006); Keul & Kühberger (1997); Lau & McKercher (2006); Mckercher & Lau (2008); McKercher et al.,(2014); Shoval et

al., (2011); Zoltan & McKercher (2014).

A literatura faz ainda referência à localização dos alojamentos (Dejbakhsh et al., 2011; Shoval et al., 2011) e às condições climáticas/estado do tempo (Caldeira & Kastenholz, 2018a; Espelt & Benito, 2006; McKercher et al., 2014) como outros fatores condicionantes do comportamento espaciotemporal. Espelt & Benito (2006) salientam o facto de que diferentes condições meteorológicas/estados do tempo determinam o comportamento espacial dos turistas, já que chuva ou calor excessivos poderão encurtar os itinerários e aumentar o tempo gasto nos nós de ligação (espaços fechados), no entanto, não encontraram na sua investigação qualquer relação estatística entre o grau de congestionamento e o comportamento dos visitantes. O impacte do estado do tempo nos fluxos de turistas em áreas rurais foi analisado por Falk (2015) tendo encontrado relações estatisticamente significativas entre a procura turística e mudanças na temperatura do ar no final do verão início do outono. Os residentes domésticos são mais propensos a passar as suas férias no seu país durante os meses de verão mais quentes e mais ensolarados. Num outro estudo, intradestino e multiatração, McKercher et al. (2014) chegaram à conclusão que o estado do tempo tem um impacte muito reduzido no comportamento espaciotemporal dos turistas em visita ao destino urbano de Hong

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Kong, salientando que num estudo realizado por Shoval & Raveh (2004), em Jerusalém, os turistas com orçamentos temporais mais reduzidos selecionaram atempadamente as atrações a visitar mudando raramente os seus planos no destino. Contrariamente, numa investigação efetuada em Lisboa, Caldeira & Kastenholz (2018a) verificaram que a temperatura máxima do ar tem um considerável efeito negativo na satisfação geral dos turistas, salientando que as condições meteorológicas verificadas durante todo o dia têm um impacte significativo tanto nas atividades realizadas como nos movimentos efetuados pelos turistas.

O lugar de origem da viagem/localização do alojamento têm também influência nos movimentos efetuados pelos turistas no destino visitado (Dejbakhsh et al., 2011; Lew & McKercher, 2006; Mckercher & Lau, 2008; Shoval et al., 2011; Zoltan & McKercher, 2014). Mckercher & Lau (2008) verificaram que 21% de todas as viagens diárias realizadas por turistas independentes e de lazer, em Hong Kong, foram percursos realizados a menos de 500 metros do hotel em que estavam alojados. Shoval et al. (2011) descobriram também que apesar das atrações mais icónicas de Hong Kong parecerem ter a capacidade de atrair turistas independentemente da localização do hotel, a visita a outros destinos da cidade é fortemente influenciada pela localização do hotel. Este estudo demonstrou ainda que além da existência de uma atividade espacialmente concentrada em torno do hotel, a localização do alojamento influencia os lugares que os turistas são ou não suscetíveis de visitar bem como os padrões de visita diurna. Dejbakhsh et al. (2011) encontraram ainda uma relação entre a localização do alojamento e as características culturais dos turistas, nomeadamente, o poder da distância (PDI) e o individualismo/coletivismo (IDV). Os turistas identificados de acordo com as dimensões culturais propostas por Hofsted como tendo um baixo poder de distância ou pelo individualismo, têm tendência a escolherem um hotel no centro da cidade e a não se afastarem muito dele.

Lynch (1960) citado por Xia (2007) classificou as formas físicas de uma cidade em caminhos (trajetos ao longo dos quais os objetos se movem), limites (fronteira entre dois caminhos, caminho e região, ou duas regiões), distritos (secção de uma cidade), nós (pontos de interseção de caminhos/trajetos) e marcos/pontos de referência (edifícios mais salientes, nomes de ruas, um rio, entre outros). A configuração espacial dos destinos influencia, de acordo com Lew & McKercher, (2006) os padrões de comportamento dos turistas, facilitando ou dificultando, por exemplo, os movimentos efetuados entre atrações. Por conseguinte, a compatibilidade de atrações num destino urbano multiatração, analisada por Hunt & Crompton (2008), tem vantagens quer no

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número de visitas quer na duração das mesmas, contribuindo para a redução do risco e da incerteza.

Como referem Lau & McKercher (2006, p.43), “a singularidade, variedade, número e a distribuição das atrações afetam os padrões de movimento dos turistas” pelo que o destino da viagem, a localização das atrações, o tipo e hierarquia das mesmas são variáveis a ter em consideração, pelos diversos impactes relacionados com a diversidade e complexidade dos itinerários executados pelos visitantes, como a identificação de zonas temáticas, a personalização de produtos e serviços e ainda pela importância da localização dos alojamentos turísticos (Lew & McKercher, 2006). A notoriedade das atrações, baseada na sua capacidade de induzir a procura (Christaller 1963; Mill&Morrison 1985 citados por Lew & McKercher, 2006) tem consequências nos movimentos efetuados pelos turistas devido ao seu poder de atração, uma vez que os turistas sentem-se obrigados a visitar atrações primárias, mesmo que se localizem relativamente fora dos percursos habituais. Como a compulsão de visita diminui à medida que se desce pela hierarquia das atrações existentes no destino, as visitas a atrações de ordem mais baixa dependerão de decisões baseadas na conveniência ou por encontros de casualidade (Lew & McKercher, 2006). Shoval & Raveh (2004) examinam a relação entre as características da viagem dos turistas (principalmente a duração da estada e o número de visitas anteriores) e as atrações que visitam em Jerusalém evidenciando que a heterogeneidade religiosa parece contribuir para a clara diferenciação entre os diferentes tipos de atrações.

Na sua investigação em Lisboa, Caldeira (2014) confirmou que os turistas dirigem a sua visita a múltiplas atrações sendo as mais visitadas, por ordem de importância, as atrações patrimoniais, as zonas históricas/urbanas e os museus, o que reflete uma preferência pela vivência da cidade. A visita a atrações mais periféricas está também associada a turistas com estadas mais longas enquanto as atrações de vida selvagem, como o jardim zoológico, e os centros comerciais, são mais visitados por turistas