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Revisão da literatura sobre o comportamento espaciotemporal dos turistas:

Capítulo 3. Turismo backpacker: um fenómeno complexo e heterogéneo

4.2. Revisão da literatura sobre o comportamento espaciotemporal dos turistas:

4.2.1 Análise histórica e evolução

As investigações realizadas no âmbito do comportamento espaciotemporal dos turistas têm vindo a chamar a atenção de um número crescente de investigadores, sobretudo nos últimos anos em que têm sido utilizadas novas técnicas de recolha de informação georreferenciada, com grande precisão e fiabilidade. Uma revisão sistemática da literatura permitiu concluir que alguns trabalhos são de natureza teórica/concetual, incidindo sobre a modelação da configuração espacial dos movimentos turísticos, como o estudo de Mings & McHugh’s (1992), citado por Caldeira (2014) onde são identificados quatro itinerários de viagem ao Parque Nacional de Yellowstone (EUA): ‘rota direta’, ‘órbita parcial’, ‘fly-and-drive’ e ‘rota de órbita completa’.

Lew & McKercher (2006) identificam também um conjunto de fatores ligados às características do destino e às características dos turistas como influenciadoras do comportamento e tomada de decisões dos turistas, apresentando uma configuração espacial dos movimentos turísticos com base na territorialidade (quatro modelos) e linearidade (três modelos). Posteriormente, Mckercher & Lau (2008) efetuam uma padronização dos movimentos turísticos numa área urbana, identificando padrões de movimento tendo em conta a territorialidade e a intensidade de consumo. Lue, Crompton, & Fesenmaier (1993) no seu trabalho de concetualização das viagens de lazer multiatração, identificam cinco padrões espaciais (‘destino único’, ‘a caminho’, ‘acampamento base’, ‘tour regional’ e ‘viagem encadeada’) aos quais, Oppermann (1995), numa investigação realizada com turistas internacionais de visita à Malásia, acrescenta mais dois: ‘circuito open jaw’ e ‘circuito multidestino’.

Se no passado, várias pesquisas sobre o comportamento espacial e temporal dos turistas foram realizadas num contexto multidestino, ou seja, de vários destinos (Lue et

al., 1993; Oppermann, 1995, 1997; van der Knaap, 1999), mais recentemente, os

movimentos dos turistas em viagens intradestino, sobretudo em destinos urbanos, passou a ter o interesse de vários investigadores como Caldeira & Kastenholz (2018a, 2018b, 2019), Galí & Aulet (2019), Fennel (1996), Keul & Kühberger (1997), Koo, Wu, & Dwyer (2012), Mckercher & Lau (2008), McKercher, Shoval, Ng, & Birenboim (2012),

Shoval, Schvimer, & Tamir (2018), Xia et al. (2010), Zoltan & McKercher (2014), Grinberger & Shoval (2019), entre outros. Mas como Hunt & Crompton (2008) referem, a maioria das viagens turísticas não são realizadas a uma só atração no destino, pelo

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que se torna fundamental compreender os movimentos efetuados pelos turistas num destino multiatração, ou por outras palavras, como os turistas consomem o espaço urbano que visitam, de atração em atração e de atividade em atividade.

Alguns investigadores começaram também a analisar o comportamento espacial e temporal de visitantes em espaços fechados com limites definidos, ou seja, intra-atração

(“Intra-attraction”), onde o comportamento do turista é muito mais controlável (Xiao-Ting

& Bi-Hu, 2012) como em determinados eventos desportivos (Pettersson & Zillinger, 2011), festivais (Yun & Park, 2014) e outras atrações (East, Osborne, Kemp, & Woodfine, 2017; Xiao-Ting & Bi-Hu, 2012). Outros exploram mais as metodologias aplicadas e a fiabilidade dos métodos e técnicas de recolha de informação utilizados, sejam eles mais tradicionais, como questionários e diários de viagem, em que é pedido aos turistas que registem os seus percursos e o tempo despendido em cada atividade (Shechter & Lucas, 1978; Potter & Manning, 1984; Gimblett et al., 2003; Hallo et al., 2005 citados por Beeco et al., 2013; Fennel, 1996; Mckercher & Lau, 2008) ou tecnologicamente mais avançados, como aparelhos recetores de GPS (Caldeira, 2014; Shoval & Isaacson, 2007b), posicionamento passivo de telemóveis (Ahas, Aasa, Roose, Mark, & Silm, 2008; Tiru, Kuusik, Lamp, & Ahas, 2010; Zhao, Lu, Liu, Lin, & An, 2018), Bluetooth (Versichele, Neutens, Delafontaine, & Van de Weghe, 2012), fotografias georreferenciadas (Kádár, 2014) e comentários georreferenciados no Twitter (Hawelka

et al., 2014), cartões/passes de visita (Zoltan & McKercher, 2014), entre outros.

Como se pode verificar, e tal como referido por Ferrante, De Cantis, & Shoval (2016), o comportamento espaciotemporal dos turistas tem vindo a ser analisado sob diferentes perspetivas, tendo em consideração:

 a escala de análise dos movimentos efetuados - entre vários destinos (interdestino), entre várias atrações dentro do mesmo destino (intradestino) e ainda dentro de uma atração (intra-atração);

 a escala geográfica da área visitada - uma região, uma área urbana ou apenas uma atração, como uma feira temática ou zoológico;

 e os principais fatores determinantes da mobilidade dos turistas.

Relativamente aos principais fatores determinantes da mobilidade dos turistas, Grinberger, Shoval, & McKercher (2014) salientam aqueles que incidem sobre as escolhas do destino, a experiência dos turistas, a segmentação dos turistas e o consumo do destino por parte dos mesmos, referindo ainda vários outros fatores, como a origem cultural dos turistas (Dejbakhsh et al., 2011), turistas que visitam o destino pela primeira vez e repetentes (Caldeira & Kastenholz, 2018; McKercher et al., 2012; Oppermann,

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1997), interesses especiais dos turistas (Fennel, 1996), o primeiro e último dia de visita (Mckercher & Lau, 2008) e as características sociodemográficas dos turistas, como a idade, sexo, rendimentos e instrução (Driver & Tocher, 1979; Hanson & Hanson, 1981 citados por Dejbakhsh et al., 2011; Caldeira, 2014). Outras investigações focam a sua atenção na satisfação dos turistas (Caldeira, 2014), no impacto da distância percorrida desde o país de origem (Caldeira & Kastenholz, 2015) e na sustentabilidade ambiental (Dickinson et al., 2013; Edwards & Griffin, 2013). Por conseguinte, nenhuma investigação se debruçou ainda sobre o comportamento espaciotemporal dos turistas

backpackers durante a sua visita a um destino urbano.

De acordo com a literatura existente, as investigações que incidem sobre o comportamento espaciotemporal dos turistas podem dar vários contributos:

a) Influenciar o planeamento e a gestão dos destinos (Beeco et al., 2013; Ferrante et al. 2016);

b) Desenvolver infraestruturas de apoio e transportes, desenvolver produtos turísticos, estratégias de marketing e viabilidade comercial das atividades turísticas e melhorar a imagem dos destinos (Caldeira, 2014; Ferrante et al., 2016; Lew & McKercher, 2006; Shoval & Ahas, 2016; van der Knaap, 1999); c) Ajudar a promover a dispersão de turistas dentro de uma região, contribuindo

para gerar e redistribuir os rendimentos do turismo na economia local, gerir os fluxos de tráfego e reduzir os impactes ambientais negativos do turismo (Hall, 2005 citado por Le-Klähn, Roosen, Gerike, & Hall, 2015);

d) Contribuir para a gestão de impactes sociais, ambientais e culturais da atividade turística (Caldeira, 2014; Lew & McKercher, 2006; Shoval & Ahas, 2016); e) Analisar a experiência do turista (Caldeira, 2014; Lew & McKercher, 2006); f) Melhorar a adequação do destino à visita turística, maximizando a oferta de

oportunidades junto do turista e incrementar a sua satisfação relativamente a atrações, serviços turísticos, espaços públicos, transportes, rede viária, sinalização e informação estratégica (Ferrante et al., 2016; Lew & McKercher, 2006);

g) Planear e ordenar o território, no que diz respeito à localização de novas atrações e alojamentos (Caldeira, 2014; Lew & McKercher, 2006; Mckercher & Lau, 2008; van der Knaap, 1999);

h) Contribuir por um lado para uma maior dispersão dos turistas e, por outro, para conhecer os seus principais e tradicionais redutos, desenvolvendo medidas eficientes para gerir ou canalizar melhor os fluxos de visitantes e limitar o acesso

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a áreas urbanas específicas (Bauder & Freytag, 2015; Shoval & Isaacson, 2007b);

i) Identificar pontos fortes e/ou pontos fracos da atividade e estrutura turística à escala local, regional ou nacional, identificando as atrações mais populares, quanto tempo os turistas gastam em cada lugar ou atração e quais as rotas mais utilizadas (van der Knaap, 1999; Xia et al., 2011);

j) A utilização de um aplicação de smartphone baseada em tecnologia GPS poderá no futuro, permitir planear e gerir os movimentos dos turistas de forma otimizada pelo que as ofertas e pacotes turísticos poderão ser devidamente previstos e ajustados (Thimm & Seepold, 2016);

k) As informações altamente precisas e confiáveis, em tempo real, representam também um grande salto em frente para a investigação - tanto aplicada como teórica (Shoval & Ahas, 2016).