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Impacte ambiental e sustentabilidade do turismo backpacker

Capítulo 3. Turismo backpacker: um fenómeno complexo e heterogéneo

3.8. Impacte ambiental e sustentabilidade do turismo backpacker

As atividades humanas ao alterarem o equilíbrio natural dos lugares onde se desenrolam, afetam direta ou indiretamente, favorável ou desfavoravelmente, a qualidade dos seus recursos ambientais e o bem-estar das populações locais, ou seja, têm um impacte sobre o ambiente. A atividade turística não é exceção.

Apesar da crescente importância, o turismo backpacker não tem sido objeto de estudo em investigações ligadas ao turismo sustentável (Iaquinto, 2015) pelo que se considerou pertinente realizar uma análise sistemática da literatura sobre o tópico “impacte ambiental e sustentabilidade do turismo backpacker”. Esta análise, permitiu verificar que alguns estudos têm-se focado exclusivamente no encorajamento de comportamentos e práticas mais amigas do ambiente (Iaquinto, 2015; Mohsin & Ryan, 2003; Moscardo et al., 2013; Ooi & Laing, 2010; Rodrigues & Prideaux, 2012; Westerhausen & Macbeth, 2003). No entanto, Pearce (2008) sugere que os backpackers, enquanto consumidores globais, podem ser encarados como um grupo de referência que reflete um conjunto de atitudes em prol da sustentabilidade. Paradoxalmente, alguns investigadores têm descrito os backpackers como ambientalmente insensíveis (Scheyvens, 2002; Wu et al.,

12 Parte da investigação realizada para este subcapítulo/secção permitiu a sua publicação ao longo do

Programa Doutoral em Turismo, em: Martins & Costa (2016). Environmental impact and sustainability of

backpacker tourism: a critical review of the literature and directions for future researches, Proceedings of

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2016) alertando para os seus comportamentos irresponsáveis que resultam na destruição de vegetação natural, na degradação do solo, poluição e perturbação da vida selvagem (Wu et al., 2016). Numa investigação realizada numa ilha brasileira frequentada por muitos backpackers, Wunder (2000) refere que os principais impactes ambientais observados são idênticos aos de outras regiões turísticas, salientando a produção de lixo, a insuficiência ou inexistência de saneamento básico e água potável, a erosão provocada pelos trilhos, entre outros, destacando os barcos utilizados pelos turistas mais ricos como tendo um maior impacte ambiental devido à poluição da água.

Estas contradições poderão resultar da diversidade e heterogeneidade dos backpackers. Se os flashpackers começam a evidenciar alguns comportamentos idênticos aos dos turistas institucionalizados (Butler & Hannam, 2014; Hannam & Diekmann, 2010b; Paris, 2012), outros, como os volunteer backpackers têm um grande potencial para a realização de viagens mais sustentáveis e ambientalmente responsáveis (Moscardo et al., 2013; Murphy & Brymer, 2010; Ooi & Laing, 2010). Por conseguinte, conhecer em profundidade as motivações e os seus comportamentos poderá contribuir para a mitigação do seu impacte ambiental.

A atividade turística tem contribuído para a criação de riqueza e emprego um pouco por todo o mundo sendo referenciada pela UNWTO (2015) como dando um importante contributo a todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), nomeadamente o crescimento económico sustentável e inclusivo, produção e consumo sustentável e o uso sustentável dos oceanos e recursos marinhos, no entanto, apesar dos benefícios económicos, também tem contribuído para a degradação ambiental (Davenport & Davenport, 2006; Sun & Walsh, 1998; Turton, 2005) e tem tido impactes socioculturais negativos em muitas comunidades (Green, 2005; Scheyvens, 2002) que resultam por vezes em conflitos (Moscardo et al., 2013; Wilson, 1997 citado por Scheyvens, 2002). Estes efeitos colaterais têm levado ao aumento das preocupações com a conservação e preservação ambiental dos recursos, com o bem-estar das comunidades bem como a sua viabilidade económica a longo prazo (Akis, Peristianis, & Warner, 1996; Cater, 1993; Haralambopoulos & Pizam, 1996).

No que respeita à atividade turística, o seu impacte ambiental depende do nível, tipo, frequência e duração das mais diversas atividades (Liddle, 1997; Newsome et al., 2002 citados por Turton, 2005) e por vezes, os danos causados são de tal ordem, que autores como Butler (1980), Prosser (1994), Ceballos-Lascurain (1996) e Glasson et al. (1995) citados por Mbaiwa (2003, p.460) afirmam que o turismo “contém as sementes da sua

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própria destruição”, salientando mesmo que “o turismo pode matar o turismo” (Idem, ibidem).

Evitar esta situação implica percorrer o trilho do desenvolvimento sustentável que teve a primeira abordagem no relatório ‘Os limites do crescimento’, pulicado em 1972 pelo ‘Clube de Roma’, onde consta um conjunto de previsões bastante pessimistas sobre temas tão diversos como a energia e escassez de combustíveis fósseis, a saúde, poluição, crescimento demográfico, entre outros. Em 1981, O Worldwatch Institute, fundado em 1972 por Lester Brown, começou a publicar anualmente um relatório sobre o estado do mundo, onde foi fornecida a primeira definição de sustentabilidade. O conceito de Desenvolvimento Sustentável aparece apenas em 1987, no relatório “World Commission on Environment and Development, Our Common Future”, mais conhecido por relatório Brundtland e que compreende a “satisfação das necessidades das atuais gerações sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (ONU, 1987, p.24), refletindo a convergência entre os problemas de natureza científica, económica e ambiental (Wood, 1993 citado por Hardy & Beeton, 2001), surgindo também como alternativa, segundo Choi & Sirakaya (2006), ao tradicional modelo neoclássico de desenvolvimento económico. Desde então, este conceito tem vindo a ser amplamente utilizado por inúmeros cientistas das mais diversas áreas do conhecimento como o comprovam os mais de 115 mil documentos existentes na base de dados Scopus com referência ao mesmo.

Fonte: Adaptado de Choi & Sirakaya, 2006; Jerez, 2014; ONU, 1987.

Figura 9. Relação entre as dimensões do “Desenvolvimento Sustentável” e o “Turismo Sustentável”.

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Do relatório Brundtland emanam duas ideias-chave: 1) o conceito de necessidades e bem-estar, sobretudo dos mais pobres e 2) a ideia de limites impostos pelo desenvolvimento tecnológico e da organização social sobre a capacidade do meio ambiente em satisfazer as necessidades presentes e futuras (ONU, 1987). É nesta linha de pensamento que surge o conceito de “turismo sustentável”, baseado não só na sustentabilidade ambiental mas também na equidade social e na eficiência económica, fazendo com que os benefícios gerados com esta atividade económica revertam diretamente para a comunidade do destino. Segundo Jerez (2014), turismo sustentável é uma forma de turismo que atende às necessidades atuais dos turistas, das comunidades anfitriãs e dos prestadores de serviços, protegendo e fortalecendo oportunidades para o futuro (figura 9).

O ecoturismo, caracterizando-se por ser praticado em áreas naturais e operado por pequenas empresas de propriedade local; por ter um reduzido impacte negativo sobre o meio ambiente; por contribuir para a proteção de áreas naturais; por gerar benefícios económicos para as comunidades ou organizações de conservação que oferecem emprego e rendimentos alternativos para as comunidades locais e por aumentar a consciencialização sobre a conservação dos recursos naturais e culturais dos lugares onde é praticado (UNWTO, 2002) enquadra-se perfeitamente dentro do conceito de turismo sustentável.

Sendo o turismo uma atividade económica, Choi & Sirakaya (2006) salientam a necessidade do turismo sustentável ser também 1) economicamente viável, pelo que a sustentabilidade económica implica a otimização da taxa de crescimento tendo em conta os limites ambientais do destino e a distribuição dos benefícios económicos pelas comunidades; 2) ambientalmente sustentável, reconhecendo que os recursos naturais da comunidade são recursos finitos, devendo ser protegidos pelo seu próprio valor intrínseco e como um recurso para as gerações presentes e futuras; A sustentabilidade sociocultural implica o respeito pela identidade e cultura das comunidades e um reforço da coesão social. Por conseguinte, o turismo sustentável deve ter como objetivo melhorar a qualidade de vida da população residente, otimizar os benefícios económicos locais, proteger a natureza e fornecer uma experiência de elevada qualidade aos visitantes, tal como descrito por Bramwell & Lane (1993). Esta definição remete-nos para o conceito de ‘comunidade turística sustentável’, sistematizada na figura 10, referida por Choi & Sirakaya (2006) como fornecedora de uma ligação económica a longo prazo entre as comunidades de destino e a indústria turística, minimizando os efeitos negativos do turismo no ambiente e melhorando o bem-estar sociocultural da população local.

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Apesar do turismo sustentável já ter sido objeto de estudo por vários investigadores não só em relação aos potenciais impactos das alterações climáticas na atividade turística (Weaver, 2011) como também em relação aos impactos do turismo nas alterações climáticas, a indústria do turismo e os cientistas têm feito poucas recomendações práticas como promover e fortalecer o turismo ambientalmente sustentável (Dolnicar, Laesser, & Matus, 2010). Com o intuito de desenvolver um conjunto de indicadores de sustentabilidade para serem utilizados na gestão e desenvolvimento do turismo ao nível das comunidades, Choi & Sirakaya (2006) propuseram a utilização de vários indicadores mensuráveis, incluídos em seis dimensões distintas: económica, social, cultural, ecológica, política e tecnológica.

Fonte: Choi & Sirakaya (2006).

Figura 10. Indicadores de sustentabilidade na gestão e desenvolvimento do turismo ao nível das comunidades

Os investigadores têm tentado explicar e prever os impactos do turismo através de modelos de desenvolvimento do turismo e teorias associadas às motivações dos visitantes (Clifton & Benson, 2006). Em relação ao turismo backpacker a literatura existente tem evidenciado e associado um conjunto de motivações que reflete a

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heterogeneidade e complexidade deste segmento como observado numa secção anterior deste capítulo. Algumas destas motivações, detalhadas no quadro 8, estão diretamente relacionadas com a prática de um turismo mais sustentável, como por exemplo, o interesse por paisagens naturais, o conhecimento cultural e o recurso a viagens económicas que implica muitas vezes a escolha de meios de transporte mais eficientes energeticamente e a estadas em alojamentos de menor dimensão, como os hostels, onde o consumo energético por hóspede é mais reduzido como consequência do número mais elevado de pessoas por quarto. Mas como vimos anteriormente, o turismo sustentável não está apenas dependente da sua dimensão ecológica, implicando necessariamente a garantia de qualidade de vida da população residente, crescimento económico equilibrado e o fornecimento de serviços que garantam uma experiência de elevada qualidade aos visitantes.

Sendo o impacte ambiental do turismo backpacker o eixo estruturante deste subcapítulo, procura-se preferencialmente destacar a dimensão ecológica deste segmento turístico, procurando evidências sobre as alterações que favorável ou desfavoravelmente afetam o equilíbrio natural e a qualidade dos recursos ambientais dos destinos.

A atividade turística, ao implicar a deslocação e permanência de visitantes em outros lugares fora do seu lugar habitual de residência implica necessariamente o consumo e/ou destruição de recursos naturais alocados aos transportes, alojamento, alimentação, entre outros. Os backpackers também são turistas e nessa condição têm um impacto sobre o ambiente. Apesar de alguns autores revelarem que os backpackers têm um potencial para a prática de um turismo mais sustentável (Iaquinto, 2015) também é verdade que nem todos os backpackers têm preocupações ambientais e como Richards & Wilson (2004) referem, os problemas poderão aumentar à medida que o turismo backpacker alcança lugares ambientalmente mais frágeis.

Ao estudar os impactes ambientais dos backpackers em duas comunidades do Laos, Jerez (2014) observou em Vang Vieng uma constante superação da capacidade de carga turística, ou seja, do número máximo de visitantes que um destino turístico pode ter, colocando em perigo os seus recursos naturais, referindo que a poluição da água dos rios por efluentes domésticos que colocam em causa o sustento de muitas famílias que vivem da pesca, a poluição do ar e poluição sonora causada pelos veículos turísticos e o desordenamento e descaracterização da malha urbana são os principais impactes ambientais negativos. Defende ainda a ideia que quando a capacidade de carga é ultrapassada, o turismo backpacker nem sempre é fonte de desenvolvimento local e, consequentemente, de desenvolvimento sustentável (Jerez, 2014). A literatura

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também tem vindo a descrever alguns turistas mais jovens como uma ameaça aos costumes e tradições autóctones, abusando da hospitalidade e introduzindo influências e comportamentos ligados à experimentação de drogas e sexo (Maoz, 2006; Paris et al., 2014).

Quadro 11. Referências a impactes ambientais positivos dos turistas backpacker Impactes ambientais positivos observados Autores Área de estudo

Pegada ambiental mais reduzida devido ao menor consumo de recursos.

Scheyvens (2002); Ooi & Laing (2010);

Melbourne (Austrália)

Ajudam a restaurar e proteger os ambientes naturais e a vida selvagem através de esforços de conservação

Ooi & Laing (2010) Moscardo et al., (2013)

Melbourne (Austrália) North Eastern region (Austrália)

Adotam práticas que minimizam o consumo de recursos e o desperdício (como duches de água fria)

Scheyvens (2002); Iaquinto (2015)

Melbourne, Alice Springs, and the Fraser Coast (Austrália)

Maior probabilidade de adotar práticas ambientalmente mais sustentáveis (mesmo entre aqueles que habitualmente não se preocupam com as questões ambientais)

Iaquinto (2015) Melbourne, Alice Springs, and the Fraser Coast (Austrália)

Preferência em viajar em grupo, utilizando transportes terrestres

Iaquinto (2015) Melbourne, Alice Springs, and the Fraser Coast (Austrália)

Uso de transportes públicos e utilização de boleias Iaquinto (2015) Melbourne, Alice Springs, and the Fraser Coast (Austrália)

Compram mais por necessidade do que lazer Iaquinto (2015) Melbourne, Alice Springs, and the Fraser Coast (Austrália)

Os alojamentos destinados a backpackers consomem consideravelmente menos energia por ano e por hóspede

Iaquinto (2015);

Becken et al. (2001)

Melbourne, Alice Springs, and the Fraser Coast (Austrália)

West Coast of the South Island (Nova Zelândia) Alguns hostels colocam habitualmente à disposição dos

backpackers:

 máquinas de lavar roupa sem a opção de água quente;

 iluminação e ar condicionado com temporizadores;

 prateleiras com restos de alimentos que são partilhados;

 dormitórios onde há um reduzido consumo de energia por hóspede;

 cozinham em grupo;

 Toleram facilmente a utilização de lençóis, almofadas e outros utensílios velhos e desgastados prolongando a sua utilização, reduzindo o consumo de novos recursos e o desperdício.

Iaquinto (2015) Melbourne, Alice Springs, and the Fraser Coast (Austrália)

As atitudes e comportamentos dos turistas backpacker são caracterizadas como sendo delicadas com o ambiente e com interesse em conhecer e aprender com a população local

Rodrigues & Prideaux (2012)

Amazónia (Brasil)

O turismo backpacker pode ser uma alternativa em prol da conservação da floresta tropical e dos seus habitantes.

Rodrigues & Prideaux (2012)

Amazónia (Brasil)

Os backpackers preocupam-se e respeitam a cultura local e o ambiente Luo et al. (2015); Rodrigues & Prideaux (2012) Lijiang (China) Amazónia (Brasil)

Fonte: Martins & Costa (2016)

É no alinhamento dos conceitos de ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘turismo sustentável’ onde são analisadas diferentes dimensões ligadas à sustentabilidade (ambiental, sociocultural e económica) que surgem alguns dos trabalhos mais recentes sobre backpackers (Becken & Simmons, 2008; Iaquinto, 2015; Moscardo et al., 2013; Ooi & Laing, 2010). Nenhum dos artigos considerados mais relevantes, devolvidos pela base

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de dados Scopus, é dedicado exclusivamente à avaliação do impacte ambiental do turismo backpacker e apenas oito evidenciam alguns impactes ambientais, tanto positivos como negativos (Becken et al., 2001; Becken & Simmons, 2008; Daldeniz & Hampton, 2013; Iaquinto, 2015; Moscardo i, 2013; Ooi & Laing, 2010; Rodrigues & Prideaux, 2012; Wu et al., 2016) como se pode observar nos quadros 11 e 12.

Com uma vertente mais económica, alguns dos estudos publicados sobre turismo backpacker sugerem que por permanecerem por períodos mais longos num destino, os backpackers gastam mais do que os restantes turistas e têm mais contacto com os locais, adquirindo-lhes mais serviços, contribuindo para um maior impacto na economia local (Becken & Simmons, 2008; Hampton, 1998; Iaquinto, 2015; Moscardo et al., 2013; Scheyvens, 2002; Wunder, 2000). Becken & Simmons (2008) analisaram, além do seu impacto no ambiente, o contributo económico e os seus custos para o setor público, tendo concluído que os backpackers e os campistas têm uma grande relevância económica por gastarem mais e por se dispersarem por uma maior área, embora frequentem um grande número de atrações públicas representando por isso, maiores custos para o Estado. Moscardo et al. (2013) ao descreverem também os impactes positivos e negativos dos turistas em três destinos australianos reconhecem que os backpackers constituem uma importante força de trabalho temporária crucial na agricultura, sobretudo durante as colheitas. Uma vez que um grande número de backpackers é “holiday-maker” (Ho et al., 2012) a estada prolongada destes turistas torna-os também importantes financiadores da economia local, ideia defendida recentemente por Iaquinto (2015) que conclui que quando os backpackers exercem uma atividade laboral no destino, a sustentabilidade económica, social e ambiental sai mutuamente reforçada. Uma outra forma dos backpackers contribuírem positivamente para a sustentabilidade dos destinos é a criação e desenvolvimento do turismo voluntário. O potencial alinhamento entre estes dois segmentos de mercado, que partilham motivações, foi explorado por Ooi & Laing (2010) sugerindo a criação de atividades destinadas especificamente a este segmento.

Destaca-se também um conjunto de investigações relativas ao impacte ambiental dos transportes e alojamentos na atividade turística em que são comparados os consumos de energia e correspondentes emissões de dióxido de carbono (C02) entre diferentes tipos de turistas (Becken & Simmons, 2008; Becken et al., 2001; Becken & Patterson, 2006). A partir das emissões de dióxido de carbono (CO2) dos transportes utilizados e o total das distâncias percorridas por vários segmentos de turistas, Becken & Simmons (2008) concluíram que os turistas que viajam de autocarro produzem grandes

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quantidades de CO2 devido às viagens aéreas até à Nova Zelândia e apesar de serem os turistas que mais gastam por dia, concentram-se num reduzido número de destinos, enquanto os backpackers e campistas/caravanistas são responsáveis por gerarem grandes rendimentos e se dispersarem por uma maior área, frequentando por isso, um maior número de atrações públicas com custos maiores para as entidades governativas.

Quadro 12. Referências a impactes ambientais negativos dos turistas backpacker Impactes ambientais negativos observados Autores Área de estudo

Destruição de corais Hamzah & Hampton

(2013)

Perhentian islands (Malásia)

Multidão e congestionamento Moscardo et al., (2013); Wunder (2000)

North Eastern region of Australia; Ilha Grande, Rio de Janeiro (Brasil) Deterioração ambiental Moscardo et al., (2013); North Eastern region of

Australia São responsáveis por elevadas emissões de CO2

(249Kg) devido às grandes distâncias percorridas.

Becken & Simmons (2008)

Nova Zelândia

Os flashpackers têm menos propensão à utilização de transportes públicos

Butler & Hannam (2014) Noruega

A maioria tem consciência da proteção ambiental mas tem uma capacidade limitada de adotar

comportamentos ambientalmente responsáveis

Wu et al., (2016) Taibaishan National Nature Reserve in the Qinling Mountains, Shaanxi Province (China) Montagem de tendas, abandono de lixo, barulho e

criação de trilhos contribuem para a degradação dos ecossistemas

Wu et al., (2016) Taibaishan National Nature Reserve in the Qinling Mountains, Shaanxi Province (China) Perturbação do habitat de animais selvagens raros

como por exemplo o panda gigante

Wu et al., (2016) Taibaishan National Nature Reserve in the Qinling Mountains, Shaanxi Province (China)

Fonte: Martins & Costa (2016)

Devido à sua maior dispersão e número de atrações visitadas, os campistas e os backpackers são responsáveis pelas maiores emissões de CO2 na Nova Zelândia com 267Kg e 259Kg de CO2 respetivamente. Sendo assim, tendo em conta as mais-valias financeiras e ambientais dos segmentos de turistas estudados, é difícil identificar o tipo de turista “ótimo” (Becken & Simmons, 2008). Dolnicar et al. (2010), num estudo realizado na Nova Zelândia, concluem que melhorar a rede de transportes públicos e encorajar a sua utilização, ajuda os turistas a escolherem modos de viajar mais eficientes em relação ao consumo de energia, além de que a escolha de meios de transporte mais amigos do ambiente está intimamente ligada com pretensões de viajar por distâncias mais curtas (Dolnicar et al., 2010). Citando Becken’s (2002a), os mesmos autores (2010) referem que as intensidades mais baixas por passageiro e por quilómetro foram encontradas em motos e autocarros utilizados por backpackers. Note-se que o cálculo da intensidade está fortemente dependente da ocupação do veículo, pelo que um autocarro totalmente preenchido por backpackers é o mais eficiente e, portanto, mais sustentável. Os ferries, os voos domésticos e a utilização do automóvel foram, sem surpresa, considerados os modos mais prejudiciais ao ambiente.

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A mobilidade para os backpackers é fundamental, e tendo em conta a grande disponibilidade de tempo e o baixo orçamento diário, os backpackers utilizam com muita frequência os transportes públicos, no entanto, o subsegmento constituído por flashpackers, por terem maior disponibilidade económica têm também tendência a alugar automóvel para viajar no destino (Butler & Hannam, 2014), pelo que estes autores (2014), sugerem que este facto, tal como já acontece com a utilização de um conjunto de tecnologias, deverá também ser utilizadas para diferenciar este subsegmento de backpackers. Por conseguinte, os flashpackers poderão ser vistos como tendo um maior impacte ambiental.

Numa outra investigação, Becken, Simmons, & Frampton (2003) ao analisarem as opções dos turistas internacionais de visita à Nova Zelândia, agregaram-nos em sete clusters tendo em conta os seus padrões de viagem e o seu consumo diário e total de energia. Concluíram que os turistas que viajam de autocarro, por fazerem percursos