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CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA SOBRE LIDERANÇA

II.3 Abordagens de Liderança

II.3.3 Abordagens Transformacionais

II.3.3.1

Novo Género (Novas Teorias) versus Liderança Tradicional

Desde o início dos anos 20, do Século XX, que os estudos sobre liderança focam aspetos do que constitui a liderança carismática, inspiradora e visionária.

Nas décadas de 70, 80 e 90, surgiram novas teorias de liderança, associadas à mudança do foco de pesquisa (Burns, 1978; Bass, 1985; Bryman, 1992). Da predominância dos modelos transacionais baseados em «como os líderes e seguidores se relacionam entre

si», passou-se para a predominância dos modelos transacionais, etiquetados de carismáticos, inspiracionais, transformacionais e visionários (Avolio et al., 2009: 428; Avolio et al., 1999: 459).

Embora a liderança transacional esteja associada a valores como a honestidade, a reciprocidade e a responsabilidade, entre líderes e liderados e assente na autoridade formal, no poder legítimo e no respeito pelas regras e tradições organizacionais, (Burns, 1978), as teorias de liderança «Novo-Género»25, (Avolio et al., 2009), designadas por

Novas Teorias de Liderança, contrariamente aos modelos tradicionais, enfatizam o comportamento do líder visionário, inspirador, com sentimento emocional, com valores morais e ideológicos, dando atenção individualizada e estimulando intelectualmente, fazendo emergir teorias da liderança carismática/transformacional, Bryman (1992: 21). A teoria carismática/transformacional sugere que os líderes incutem nos seguidores os seus valores de visão/missão (altruísmo), de tal forma, que estes se passam a identificar com esses valores e tomam-nos como seus, empenhando-se em atingi-los e fazendo sua a missão do seu líder. Esta atitude, faz igualmente com que os seguidores se sintam bem com o seu trabalho e fortaleçam o espírito de grupo, (Avolio et al., 2009: 228-229; Avolio et al., 1999; Conger & Kanungo 1998; Bass 1985).

As componentes nucleares da liderança carismática, que mais influenciam os seguidores, (Choi 2006), são: a antevisão; a empatia; e o empowerment26. São estas as principais promotoras, nos liderados, do seu bom desempenho, da sua satisfação profissional, da compreensão do seu papel, da função que desempenham na criação de uma identidade coletiva e da coesão de grupo, dos seus comportamentos enquanto cidadãos e da sua autonomia (Rouco & Sarmento 2012; Avolio et al., 2009).

Nesta base de pensamento, Rouco & Sarmento (2012:30) apresentam uma esquematização das características e competências associadas à liderança carismática (Figura I-1).

25 New-genre leadership – Leadership emphasizing charismatic leader behavior, visionary, inspiring,

ideological and moral values, as well as transformational leadership such as individualized attention, and intellectual stimulation, Avolio et. al., (2009:428).

26 Empowerment , ou delegação de autoridade, baseia-se na delegação de poderes de decisão, autonomia

Figura II-1 Características e competências associadas à liderança carismática (adaptado de Rouco & Sarmento, 2012).

II.3.3.2

Liderança Transformacional

O conceito de liderança está associado a um processo identificável como, «um conjunto de relações interpessoais em que os líderes apelam constantemente às motivações dos seguidores e alteram comportamentos», Burns (1978:440) citado por Rouco & Sarmento (2012:31).

«Para Burns, a liderança pode ser desagregada até à noção de troca, em que os seguidores recebem uma qualquer recompensa pelo seu contributo, enquanto, que o resultado da liderança transformacional procura elevar os níveis de consciencialização dos seus seguidores.», Faria (2012:35).

Os contributos de Bass (1985), na construção de um modelo de liderança transformacional, em termos de impacto do líder sobre os seguidores, referidos por Yukl (2002:253), agregam aspetos como, a confiança dos seguidores no líder, a admiração e respeito para com ele e a lealdade, o que, «per se», exprime na prática, uma maior motivação para a realização das suas tarefas, traduzindo-se esta no fazer mais do que inicialmente previam.

É pois espectável que, a liderança transformacional, consiga obter «resultados além das expectativas», por via da «alta motivação» que produz «resultados extra», superando os desempenhos da liderança transacional ativa, Avolio & Bass, (1995). A relação entre a

Liderança carismática Características Demográficas; Posição; Contexto social; Organizacional; Situação de crise; Cultura. Competências Aptidões cognitivas; Traços de personalidade; Atitudes; Emoções e humor; Inteligência emocional.

liderança transacional e a liderança transformacional, modelo proposto por Bass (1985), sugere que a liderança transformacional vai além da liderança transacional, produzindo satisfação e «resultados além das expectativas» (Figura II-2).

O principal princípio da teoria da liderança transformacional, segundo Bass (1985), citado por Faria (2012:35), é a de que um líder pode transformar/motivar os seus seguidores, exercendo comportamentos como: alertá-los e torná-los mais conhecedores da importância e do valor dos resultados das tarefas; induzi-los a transcender os seus interesses em prol da equipa em particular e da organização em geral; e estimular-lhes as suas necessidades de nível mais elevado.

Figura II-2 Modelo de superação da liderança transacional e transformacional (adaptado de Rouco & Sarmento, 2012; Avolio & Bass 1995).

«O modelo de liderança transformacional de Bass (1985) é construído em redor do líder que articula uma visão, que motiva/excita os seguidores e que os envolve em comportamentos assentes em níveis elevados de lealdade e confiança.

Alta motivação Resultados extra

Resultados além das expectativas

Influência idealizada Atributos/comportamentos Motivação inspiradora Estimulação intelectual Consideração individualizada LIDERANÇA TRANSFORMACIONAL Esforço esperado Desempenho esperado

Gestão por exceção ativa e passiva

Recompensas contingenciais

Neste modelo, o comportamento do líder é descrito em termos de dois tipos de categorias de comportamentos: transformacional e transacional e, embora constituam processos distintos, não são contudo mutuamente exclusivos, dado que o mesmo líder pode usar os dois tipos de liderança em diferentes tempos e/ou situações e ao contrário de Burns (1978), que sugere que as lideranças transformacional e transacional se situam em campos opostos de uma escala, Bass (1990:220), conclui que «a liderança transformacional pode mesmo aumentar os efeitos da liderança transacional».», Faria (2012: 35-36).

II.3.3.3

Liderança Carismática

Conger & Kanungo (1998), desenvolveram um modelo de liderança carismática alicerçado na observação, descrição e análise do papel carismático de um líder, enquanto processo comportamental observável.

Segundo Faria (2012:32), o modelo de liderança de Conger & Kanungo, foi construído tendo por base a ideia que, a liderança carismática «é uma atribuição em resultado das perceções dos seguidores, no comportamento do líder. São atribuídas qualidades de liderança à influência percecionada de um indivíduo, pelo que nesta perspetiva, carisma deve ser visto como uma atribuição por parte dos seguidores, donde o fenómeno de liderança é um processo relacional e atribuicional».

A conceptualização do modelo de Conga & Kanungo (1998), inclui três fases: A primeira resulta na avaliação da situação e identificação das deficiências no «status quo» e oportunidades; a segunda representa a formulação e articulação, por parte do líder, dos objetivos organizacionais, suportados em visão estruturada, que seja compreensível e que represente uma perspetiva partilhável pelos seguidores; a terceira e derradeira fase, representa a implementação da visão do líder, utilizando para isso o seu exemplo pessoal, assumindo riscos e «rompendo» com a cultura organizacional dominante. Para o conseguir deve capacitar os seguidores e utilizar práticas de gestão de grande visibilidade e dirigidas para os resultados, reforçando a confiança e a motivação, indicando, aos seus seguidores, como é que os objetivos podem ser alcançados, Faria (2012: 32-33).

«O líder carismático evidencia comportamentos não convencionais, entusiásticos, motivadores e procura que as suas ações sejam consistentes e comprometidas com a visão, com os objetivos formulados e com os objetivos organizacionais no seu todo», Faria (2012:34).

De acordo com Bass & Riggio (2006), o carisma é um constituinte, quer das teorias carismáticas, quer das teorias transformacionais, na confiança, motivação, consideração individualizada e estímulo.

Segundo Rouco & Sarmento (2012) a teoria transformacional estende-se à carismática, incluindo «a consideração individualizada e o estímulo intelectual» (Lowe & Gardner, 2000). Vários autores defendem que as duas teorias se confundem ou são complementares, o que poderá representar um novo paradigma da liderança (Rouco & Sarmento, 2012; Avolio & Bass, 1995; Lowe & Gardner, 2000).

Faria (2012:37), refere que a transversalidade das várias áreas de investigação, está em consonância quanto ao conceito que, «o carisma é resultado de um processo de interação (…) entre as perceções e atribuições influenciadas pelas características e comportamentos do líder, pelo contexto e aspetos situacionais e pelas necessidades individuais e coletivas dos seguidores», (Faria 2012; Yukl, 2002; Conger & Kanungo, 1998).

No entanto, as teorias carismáticas valorizam os traços e comportamentos do líder e as teorias transformacionais valorizam mais a descrição dos resultados dos efeitos de um líder nos seus seguidores, Conger & Kanungo (1998).

«… as formulações iniciais de liderança carismática que emergiram do campo da sociologia e da ciência política estavam principalmente preocupadas em perceber como é que os comportamentos do líder e o contexto induzem respostas nos seguidores. Em essência, as formulações de carismático e transformacional na literatura organizacional, são altamente complementares e estudam o mesmo fenómeno, só que de pontos de vista diferentes.», Conger & Kanungo (1998:69)