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CAPÍTULO IV E-LIDERANÇA

IV.2 E-Liderança ou Liderança Virtual

IV.2.1 Definição

Na última década vários autores têm efetuado estudos sobre o paradigma emergente da e- Liderança. Têm tentado definir e conceptualizar e-Liderança face à necessidade de compreender e alinhar as várias definições e conceitos, revistos na literatura, de forma a estabelecer uma ideia global que enquadre o que pode ser definido, ou não, por e- Liderança a nível organizacional.

Uma das primeiras definições do termo e-Liderança, aparece «para incorporar o novo contexto emergente de liderança», (Avolio et al., 2000). Este termo, e-Liderança, aparece associado ao processo de influência social mediada pelas Tecnologias da Informação Avançadas (AIT),

«… para produzir mudanças em atitudes, sentimentos, pensamentos, comportamentos, e/ou desempenho em indivíduos, em grupos de indivíduos e/ou organizações. E-Liderança pode ocorrer em qualquer nível hierárquico numa organização e pode envolver interações um-para-um e um-para-muitos dentro e ao longo de grandes unidades e organizações.», (Avolio et al., 2000:617).

Associada à definição encontra-se a convicção, a ideia que os líderes organizacionais, através de tecnologia AIT colaborativa, podem providenciar estruturas facilitadoras e promotoras de confiança nos membros das equipas virtuais (Avolio et al., 2000:653). As pesquisas indicam ainda, que a tecnologia cria estruturas da organização das quais a liderança é parte e que estas estruturas continuam a ser transformadas, pelo impacto do comando (liderança) e da tecnologia. Assim a e-Liderança e a tecnologia desfrutam de uma relação recursiva, cada uma afetando e sendo afetada pela outra, cada uma transformando e sendo transformada pela outra.

Embora não se tenha encontrado relação entre o investimento em AIT e os lucros, as opiniões generalizadas relativamente à e-Liderança, revista no espírito de utilização das AIT, é que ela pode representar a diferença entre o sucesso ou o insucesso na exploração das tecnologias emergentes nas organizações, (Avolio et al., 2000).

Gurr (2004:116), refere que o termo e-Liderança tem vindo a causar confusão conceptual, pois tem sido utilizado com frequência para se referir «à atual visão de liderança», nomeadamente entre empresas de consultoria e negócios, dando como exemplo discussões sobre a liderança atual e futura em trabalhos como «Cowan & Linkson, 1999; Deloitte Research, 2000; McCarthy et al, 2000». O autor diz-nos que, surpreendentemente, muitas das conceções do termo, ignoram os «novos ambientes criados pelas TIC …» e continua referindo que:

«… o desenvolvimento da e-Liderança é comparado com o tipo de liderança que

existe nas pequenas empresas dot.com que emergiram nos últimos anos. No entanto, como estes pensadores fazem notar, estas empresas, focadas em novos produtos e serviços, podem não ser estruturalmente diferentes das outras novas e pequenas organizações. Eles argumentam, portanto, que as conceções de liderança atuais são igualmente aplicáveis nestas novas empresas. Embora a sua visão de liderança seja contemporânea e centrada nas pessoas, o artigo não reconhece que cada vez mais muitas pessoas estão a trabalhar em ambientes que não existiam à uma década», Gurr, (2004:116), citando Deloitte Research (2000).

Gurr (2004:116-117) cita Avolio & Godge, 2000; Kayworth & Leidner, 2002, para lembrar que estes autores, nos seus estudos, concluíram que «mais da mesma visão de liderança» se pode revelar prejudicial para as organizações, dado existirem evidências que liderança eficaz, em ambientes mediados pelas AIT, requer habilidades diferentes. Realça o autor - exemplificando com o programa «E-Liderança para o governo local», desenvolvido em janeiro de 2003 pelo Gabinete do Governo no Reino Unido - que anunciou um projeto destinado a criar um programa de liderança em linhas estratégicas para os gestores do Governo Local, programa esse que oferecia treino online de liderança mas que, no entanto, não estava adequado à preparação dos líderes para lidarem com ambientes mediados pelas AIT. Assim, conclui Gurr, que o termo e-Liderança é frequentemente usado para se referir à atual visão de liderança, na sua conceção mais contemporânea, e que são necessários mais estudos que explorem e teorizem o significado de liderar novos ambientes decorrentes de ambientes AIT.

«Liderança virtual envolve liderar pessoas de diferentes departamentos,

et al., 2009:439). Isto significa que e-Liderança pode ser definida também como

uma forma de «liderança onde indivíduos ou grupos estão geograficamente

dispersos e as interações são mediadas por tecnologia», (Avolio et al.,

2009:440).

Ao estudarem a liderança e as novas formas de liderança em ambientes globais, Zaccaro & Bader (2003) constataram que, os atuais líderes organizacionais, têm de saber lidar com duas forças inter-relacionadas: a dispersão global das divisões e unidades, clientes, stakeholders e fornecedores da organização; e a explosão exponencial, das tecnologias da comunicação. Isto conduz à necessidade premente do líder saber lidar com os grupos dispersos geograficamente.

Os líderes de negócios atuais, tipicamente, lideram equipas cujos membros não estão no mesmo escritório, edifício, mas espalhados pelo país ou até por diferentes regiões do globo. Hoje em dia muitos líderes e membros das equipas estão em contacto através de telefone, fax, correio e ferramentas de groupware como e-mail, bulletin boards, chat ou vídeo-conferência.

Face a estas alterações, os cientistas e investigadores organizacionais passaram a utilizar o termo «e-Liderança» para se referir à liderança através de canais eletrónicos. Lembram que, perante o crescimento exponencial da tecnologia e ao seu alcance global, num futuro próximo, a e-Liderança passará a ser rotina e não exceção, no nosso conceito de liderança organizacional, (Zaccaro & Bader 2003:377).

Avolio e Kahai (2003) tentam compreender em que medida a tecnologia está a afetar a liderança. Realçam que a e-Liderança não é apenas uma extensão da liderança tradicional mas, fundamentalmente, uma mudança do modo como os líderes e seguidores se relacionam entre si, quer dentro das organizações quer entre elas.

Para estes autores os fundamentos da liderança mantêm-se mas a introdução das AIT, veio alterar o sistema de liderança organizacional, nomeadamente, através da alteração dos padrões de como a informação é adquirida, armazenada, interpretada e difundida, o que, por sua vez, altera a maneira como as pessoas são influenciadas e como as decisões são tomadas nas organizações, (Avolio & Kahai, 2003:327).

Nestas condições, um e-Líder, para ter sucesso, deve ter capacidade de construir os relacionamentos e a confiança com e na sua equipa virtual e, provavelmente, terá de o fazer mais rapidamente que em equipas baseadas no face-to-face, (Avolio & Kahai, 2003:331).

Os autores enfatizam que a e-Liderança38 pode apresentar exatamente o mesmo conteúdo e estilo que a liderança tradicional f2f. Referem que, a e-Liderança, bem como a liderança face-to-face, também pode ser inspiradora, por exemplo, através da partilha do orgulho nas realizações das várias equipas, reforçando periodicamente estas ações com histórias divulgadas/partilhadas por toda a organização, através de e-mail ou qualquer meio eletrónico. No entanto, alertam que, a facilidade de comunicar em tempo real, por qualquer membro da equipa, coloca sob pressão a liderança e que o e-Líder deve estar preparado para justificar e clarificar a sua posição, as suas opiniões, opções e razões, a qualquer momento.

Kerfoot (2010) defende que e-Liderança, além de diferente da liderança física, é caracterizada pela gestão de equipas de trabalho distribuídas geograficamente, em que elementos da equipa, comunicam e coordenam o seu trabalho maioritariamente através de meios eletrónicos. Os líderes virtuais têm a função de gerir as fronteiras relacionais bem como concentrar-se na interface com o ambiente. Nos estudos que este autor realizou, focados no setor da saúde, constatou que cada vez mais a liderança tradicional está a ser substituída pela liderança à distância (e-Liderança) porque as tecnologias permitem com o seu avanço suportar novos modelos de comunicação. Reforça ainda que passa a ser uma exigência para os líderes virtuais terem que aprender a ultrapassar as dimensões tempo e espaço, bem como as barreiras culturais, tendo ainda estes a necessidade de adquirir novas competências para a criação e manutenção de grupos virtuais de alto desempenho. Neste enquadramento o e-Líder deve depender de «treino» em vez de «supervisão».

Hanna (2007), estudou a forma como a e-Liderança se aplica ao setor das instituições e administrações públicas. Identifica, num estudo do Banco Mundial, várias tendências globais seguidas por diversos governos em todo o mundo, associadas à evolução e revolução tecnológica, a nível da informação e da comunicação e ao aparecimento de economias reais mais competitivas, inovadoras e baseadas no conhecimento. As tendências gerais dos governos são segundo este autor:

38 Referem-se à e-Liderança, denominando esta forma de liderança por, «liderança mediada por AIT».

(i) A mudança da coordenação das finanças e economia para uma dependência direta do presidente, do primeiro-ministro ou de um diretor operacional de um ministério poderoso, o e-Líder no governo;

(ii) Os países abandonarem as estruturas de respostas ad-hoc, processos informais e relações temporárias, adotando estruturas institucionalizadas para responder aos desafios da economia do conhecimento e da constante evolução tecnológica;

(iii) Muitos países optarem por criar uma Agência Nacional para as Tecnologias da Informação e da Comunicação, forte e independente, que responda diretamente ao Presidente, ao Primeiro-Ministro ou equivalente;

(iv) Com o amadurecimento e evolução dos programas de e-government (governo eletrónico) muitos governos iniciaram o processo de integração e interoperabilidade dos sistemas dos diferentes setores (secções, departamentos, ministérios) e agências.

Shriberg (2009), refere que, inicialmente, a e-Liderança se encontrava associada a grupos internacionais, mas que hoje é fundamental em quase todos os modelos de negócio que pretendam evoluir e crescer, independentemente da sua dimensão. No entanto, atualmente, as empresas não necessitam ter escritórios noutras cidades ou países para alavancarem a gestão e as equipas virtuais. Em consequência, os e-Líderes necessitam garantir/construir sistemas capazes de fornecer apoio técnico ao nível das comunicações, sistemas e plataformas, assegurando espaços de partilha, em ambientes colaborativos, de modo a garantir o apoio humano necessário à sustentação das sinergias das equipas virtuais.

Considera este autor, que este tipo de suportes técnicos e humanos, são fundamentais e críticos para a sustentabilidade e complexidade da liderança de grupos de pessoas localizadas em diversos países, com os seus diferentes fusos horários e a falar línguas distintas.

Samartinho & Faria (2009:5), num contexto de Economia Social, falam da e-Liderança como potenciadora da construção de pontes estratégicas para o emprego e inclusão social. Face ao atual contexto de mudança organizacional, referem:

«… a importância estratégica das organizações poderem evoluir para novos

modelos de liderança, onde a e-Liderança será num futuro próximo uma realidade incontornável, em que os líderes devam estar preparados para os desafios que a globalização e os meios tecnológicos obrigam: numa perspetiva das competências em liderança; na identificação das competências necessárias

às equipas de trabalho; e numa perspetiva de formação especializada em aprendizagem ao longo da vida alicerçada em modelos de ensino colaborativo».

Outros autores abordaram a e-Liderança na perspetiva do negócio eletrónico (e- Business): Kissler (2001), questionou-se sobre o tipo de liderança necessária para a busca de uma estratégia de e-Business numa organização e analisou ações bem-sucedidas de líderes em grandes organizações, sugerindo formas de como essas ações podem agora ser adaptadas a modelos atuais de negócio eletrónico.

Walker (2000), analisou práticas para a construção do sucesso em organizações cujo principal meio de receita, são atividades baseadas na internet. Este autor aponta o e- Business como uma parte integrante de qualquer estratégia de negócio organizacional, identificando-o como uma vontade presente e poderosa dos líderes atuais.