• Nenhum resultado encontrado

KANT ACERCA DA CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA

O QUARTO CONCEITO DE DEMOCRACIA RADICAL DE AXEL HONNETH

1. KANT ACERCA DA CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA

Immanuel Kant (1724-1804) é considerado como o maior filósofo da modernidade, reputado por muitos pensadores, como maior representante deste período. Kant nasceu e, Königsberg, Prússia Oriental. Era filho de um modesto artesão que trabalhava com couro e fabricava selas; Kant iniciou seus estudos no Colégio Fridericianum e na Universidade de Könisberg, tornando-se professor catedrático. Kant nunca se casou, não teve filhos, consagrando sua vida ao conhecimento, podendo assim elaborar um método filosófico abrangente, tendo como ponto inicial à crítica à razão, e aos sistemas filosóficos vigentes em sua época: racionalismo e empirismo. (JÚNIOR, 2017)

Immanuel Kant, em suas reflexões sobre a educação, parte da premissa de que “o ser humano é o único animal que precisa ser educado”, ou seja, Kant parte do pressuposto de que o homem não nasce pronto, não lhe bastam apenas os instintos, cabendo ao homem e unicamente a ele o processo de educação. (CARVALHO, [20--?])

130

Kant entende que todas as predisposições naturais de uma criatura devem ser desenvolvidas a fim de chegarem a um processo de completude segundo seu fim. Neste contexto entra o processo de educação, que seria o meio que fará com que tais disposições possam progredir e chegar ao grau máximo de completude; sendo pois umas das funções máximas da educação na visão Kantiana. (CARVALHO, [20--?])

O homem não basta apenas aos seus instintos, ou seja, o homem não basta a sua animalidade, devendo avançar no processo de saída de tal perspectiva para assim chegar ao grau máximo de humanidade, para tanto o homem é dotado de razão e vontade de liberdade; sendo pois por meio da razão – aqui cabe esclarecer que a razão denominada por Kant não se configura como simples razão instrumental, mas como uma razão que abrange a totalidade do homem, tendo como ponto pungente a ética – que o homem alcançara tal objetivo.

Kant ao escrever sobre o contexto e prática pedagógica, afirma categoricamente que ‘o homem é o único animal a ser educado’. Entende-se por educação kantiana, segundo CARVALHO (20--?):

Tanto os cuidados para com a infância – a conservação, constituída pelas “precauções que os pais tomam para impedir que as crianças façam uso nocivo de suas forças” (1996, p.11), e a alimentação – como também a disciplina e; por fim, a formação e a instrução. Essas três potencialidades presentes nos homens os diferenciam dos animais. Os cuidados não fazem parte da ação animal – a força despendida serve apenas para que não prejudiquem a si mesmos. O mesmo acontece quanto à disciplina. Se, para os homens, ela representa o meio que o impede de desviar-se do seu destino, de sua humanidade, para os animais, ela é desnecessária, pois eles são possuídos de instintos e, por isso, já são “tudo aquilo que [podem] ser.[...] A instrução, por sua vez, é a parte positiva da educação. Ela vai garantir à espécie humana o cumprimento de sua finalidade, que é chegar a um estado melhor no futuro. É preciso cuidar da disciplina e da instrução para que, se descuidadas, não permitam aos homens continuarem no estado de brutalidade e selvageria. (CARVALHO, [20--?]. p. 7)

Por cuidado entende-se a primeira infância, os cuidados biológicos necessários para a sobrevivência da criança, os cuidados que compreende desde à atenção para com a saúde, alimentação, proteção.

Por disciplina, Kant, entende a “saída da animalidade para a humanidade”, seria pois submeter o indivíduo as leis da razão e da humanidade, uma vez que sem leis o que há é a

131

selvageria, cabendo pois a disciplina o papel de “domar os instintos e desejos humanos que possam impedir que o homem saia da animalidade e possa prosseguir no processo de humanidade. É por meio da disciplina que o homem reconhece a primazia da razão sobre os instintos. (CARVALHO, [20--?])

Kant também estabelece à disciplina, a formação moral do indivíduo, como essencial a formação do homem e mesmo ao processo de elevação de sua humanidade, uma vez que o homem é “um ser que vive em sociedade, que se associa a uma determinada sociedade, e paradoxalmente, ainda que seja ‘natural’ o homem se associar em sociedade, é inerente a sua vontade à tentação de ir contra a esta sociedade, a buscar certo individualismo. (CARVALHO, [20--?])

Neste cenário, Kant alerta que apenas a disciplina (Kant entende a disciplina como parte negativa contudo necessária à educação) poderá levar o homem a domar seus instintos individuais, a limitar suas tentações e assim progredir no processo de humanização, o que inclui a educação para a vida social-política.

A última etapa da educação, faz referência a instrução (Kant entende a instrução como parte positiva à educação), que vem a ser a completude do processo de disciplina, e a apresentação ‘conteudal’, ou seja, o ensino de ferramentas, conteúdos, específicos para a formação intelectual do homem.

Segundo Carvalho (20--?) “É a instrução que vai garantir à espécie humana o cumprimento de sua finalidade, que é chegar a um estado melhor no futuro”. Dentro da perspectiva kantiana de educação, à mesma cabe desenvolver as sementes do bem, ao ato pedagógico incumbe estar de acordo com a finalidade da natureza, que é “cuidar do desenvolvimento da humanidade.” (CARVALHO, 20--?)

Na perspectiva da filosofia da educação kantiana, percebe-se que a educação tem a finalidade de desenvolver o homem em sua totalidade, sendo pois a natureza do homem algo não pronto, cabendo ao próprio homem criá-la, tranformá-la, e, isto por meio da educação.

Segundo Carvalho (20--?):

Vê-se, então, que a dignidade humana parte da educação do homem e está nas suas próprias mãos. Isso, de certa forma, representa os ideais do Iluminismo. A formação do caráter é um ato de liberdade. Cabe ao homem – sujeito moral – usá-la bem. Isto é feito, quando o homem coloca diante de si a ideia de

132

humanidade e, adotando-a como modelo, pode criticar a si mesmo. (CARVALHO, [20--?]. p. 9)

Kant em seu projeto pedagógico acena à necessidade de uma educação que contemple o senso moral, ou seja, a educação moral, uma vez que o homem não está só no mundo, o mesmo vive em sociedade. O homem em si não é bom e nem mau, sendo a moralidade algo deliberado pela autonomia, para tanto cabe a educação elevar a razão aos princípios da lei e do dever.

Os princípios pedagógico-educacionais Kantianos, “o ato pedagógico deve garantir que os interesses do homem estejam voltados para si próprio, àqueles que o cercam e, enfim, ao bem universal.” (CARVALHO, 20--?)

Todo o projeto de educação desenvolvido por Kant, levará o homem a sair de sua condição de menoridade, ou seja, de deixar-se reger por outrem, para atingir o estágio de Aufklärung-esclarecimento, ou seja o estágio de maioridade, no qual o sujeito faz uso público de sua razão, regendo-se por si mesmo.

Como afirma Kant, ao responder “O que é o Esclarecimento?” (1996):

[...] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento (KANT, 1974, p.100. In: CARVALHO, [20--?]. p. 12)

Énecessário que o homem assuma sua condição de ser racional, e fuja de toda e qualquer possibilidade de cerceamento do seu pensar. Através da razão, entendida como uma razão dinâmica, pois somente abandono as correntes que o prendem ao não-pensar, que o mesmo poderá tornar-se um sujeito esclarecido, capaz de fazer uso de sua razão e consequentemente capaz de promover o ideal de educação prentendido por Kant.

Documentos relacionados