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4 DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERPESCTIVA DA

4.2.2 Acessibilidade e as Suas Barreiras

4.2.2.3 Acessibilidade atitudinal e as suas barreiras

Considera-se neste trabalho, que a acessibilidade atitudinal é de extrema importância para que ocorra a permanência de alunos com deficiência no ensino médio integrado do IFBA. Cogita-se, que a acessibilidade atitudinal transpassa entre as demais acessibilidades, assim como, em todas ações, relações cotidianas em que as pessoas com deficiência estejam presentes. Isto posto, não poderia ser diferente nos ambientes escolares, logo, os elementos atitudinais estão manifestados nas ações, práticas escolares, documentos institucionais. Tal como dialogado no capítulo IV desta dissertação, as atitudes são predisposições de intenção de realizar algo, assimilado por intermédio dos processos históricos, culturais e sociais.

Fortalecendo essa concepção, em que a acessibilidade atitudinal perpassa por todas as questões que intercorrem o contexto escolar, a chefe do departamento de permanência estudantil admite que “[...]o meu olhar está muito voltado para a superação de barreiras atitudinais, porque, eu acho, que se você consegue romper essa barreira atitudinal, as outras vem por consequência.” Para isso acontecer, faz-se primordial a ruptura da ideia de deficiência estabelecida na sociedade, ou melhor, ressignificar as representações sociais acerca da deficiência. Principalmente, aqueles elementos delas que se construíram por intermédio dos contextos históricos de entendimento em relação a deficiência, como algo negativo, sem valor, isto é, a personificação da fragilidade humana. Gerando espaços para novos elementos das representações sociais da deficiência, como de: Potencialidades, possibilidades, respeito a diferença, alteridade, ética.

Jodelet (2005) testifica que nas relações sociais do dia a dia ocorrem mecanismos comuns que se confrontam com grupos diferentes e surge uma forma de se afastar da alteridade. As representações sociais mediante aos seus processos simbólicos e materiais constitutivos, instrumentalizam as relações de um grupo com alteridade. A alteridade como vínculo social é uma qualificação atribuída do exterior, elaborada na relação social com a diferença.

Uma das principais barreiras atitudinais encontradas em relação a permanência de alunos com deficiência no ensino médio integrado do IFBA, pode-se nomeá-la como burocratização da inclusão. O serviço público em si, muitas vezes aplica legislações de maneira que burocratiza demasiadamente as atividades institucionais. Essa concepção se encontrava em amadurecimento por meio das atividades laborais da pesquisadora, contudo, as informações obtidas com esta pesquisa contribuem para com esse ponto de vista. Reflexiona- se que a burocratização institucional utilizada nas ações de inclusão do IFBA, revela o preconceito inserido “entre linhas” na relação entre a deficiência e sociedade, representado pelo medo daqueles que já estão estabelecidos socialmente, em desvelar suas fraquezas pessoais, limites. Segundo Jodelet (2005) existem muitas formas de relação com a alteridade, traçadas pelas linhas da divisão social. A alteridade do outro lugar (de fora, de outra cultura dada), atua na desvalorização e estereotipia do diferente (do outro). E a alteridade de

dentro, ou seja, marcada pela diferença ou pertencimento a um grupo que se diferencia do conjunto social, desse modo, torna-se uma ameaça, funcionando como uma proteção identitária.

Chiavenato (2010) postula que a burocracia é uma barreira as mudanças institucionais, “uma camisa-de-força que bloqueia e impede o ajustamento da organização às mudanças ambientais (p.71)”. Pactuando com essa ideia, ressalta-se que atualmente no campo de estudos desta pesquisa, o burocrático não acompanhou o desenvolvimento social. Ele impera contra a eficiência do serviço público, e no caso da inclusão, ele se torna um impeditivo. Entende-se que o burocrático, ele está vinculado as atividades do serviço público. A burocracia é importante para o perfil de organização dos órgãos públicos, no entanto, os servidores públicos devem empregá-la como meio do “fazer as atividades”, e não como fim. O burocrático no serviço público deve auxiliar as atividades para que possam garantir a isonomia do público ao privado, e não ser um entrave institucional para que o desenvolvimento organizacional aconteça. Mais uma vez, quando se dialoga acerca da inclusão de pessoas com deficiência nas escolas públicas, percebe-se a burocratização como uma barreira atitudinal, na qual as suas motivações estão encobertas pelo discurso da mesmice do serviço público, do natural. E não, no tocante em utilizar a burocracia como uma desculpa para mudanças estruturais, como a representação social do preconceito a pessoa com deficiência no ensino regular. Reforça-se que as atividades em prol da permanência do público alvo da educação especial no ensino médio integrado do IFBA, deveriam ser pautadas no resultado e não nos entraves institucionais, justificados por meio da burocracia, a qual cada vez mais paralisa a aceitação da diferença e justifica o preconceito que está velado nas relações cotidianas no ambiente escolar.

Destaca-se, a título de elucidação, neste trabalho, dois entraves proporcionados pela burocracia frente as ações de inclusão no IFBA. O primeiro a citar refere-se ao contrato com a empresa que presta serviços de terceirização de pessoal ao IFBA. Responsável, atualmente, pela contratação dos intérpretes de LIBRAS. Aproximadamente, por um ano a Instituição como um todo, vivenciou angústias frente a não renovação do contrato com a prestadora de serviços,

apresentando a possibilidade de não haver intérpretes de LIBRAS no meio do ano letivo para interpretar as aulas aos alunos surdos.

O contrato do SESBA completou 5 anos em 2017. Então, ele não podia mais ser renovado, e o contrato só poderia ser 5 anos de licitação uma coisa assim. E aí, quando foi no final do ano passado começou essa correria para tentar renovar, porque a gente tava no meio do ano letivo. [...] a gente iria perder a quarta unidade toda sem intérprete, ou com intérprete totalmente de fora de todos os sinais utilizados. E aí o contrato, houve uma autorização da Reitoria por 3 meses, mais 3 meses. E aí 3 meses depois, óbvio, a gente estava numa agonia, porque inclusive no final desses três meses, né, quando acabou muitos intérpretes não quiseram mais continuar, não sei se foi por essa indefinição ou por questões pessoais, também, específica de um grupo e eles saíram (ASCCCS).

Então assim, como eu tô falando, aquilo que depende do campus a gente consegue, né, viabilizar, mas o que depende da instituição como um todo, que depende da Reitoria, que depende de recurso, que depende da procuradoria jurídica, a burocracia, é, que tem uma burocracia muito grande, isso aí ficar além das nossas forças (ASCNCB).

E nós estamos temporariamente impedidos de contratar por terceiros, ainda que exista um contrato vigente, por conta exatamente por questões relacionadas a, digamos assim, a preservação dos direitos de pessoal do Estado. Em outras palavras, nós não poderíamos contratar terceiros, quando teoricamente, deveriam ... poderiam existir profissionais concursados. Só que essas vagas de concurso não existem e nós tão pouco podemos contratar (ASPRE).

Nessas três verbalizações de gestores distintos, constata-se o burocrático como resultado, que posterga as atividades de inclusão do IFBA. Na primeira fala da coordenadora do CAPNE do campus de Salvador, verifica-se que o prazo máximo de exequibilidade do contrato firmado com a SESBA estava excedido. Mas, faltou por parte da Instituição o acompanhamento do contrato para que a Instituição não passasse por um momento complicado, com incertezas de continuidade das atividades dos intérpretes que contribuem para a permanência de alunos surdos. O segundo discurso, da coordenadora do NAPNE do campus de Barreiras, ratifica o quanto a burocratização age como uma barreira atitudinal no IFBA para inclusão. Fato que poderia ser minimizado por intermédio de uma licitação para uma nova empresa que prestasse o serviço de contratação de intérprete de LIBRAS. Já na fala do Pró-Reitor de Ensino, percebe-se a projeção da responsabilidade do impedimento de contratação de terceirizados para o Estado. Sendo que a Lei nº 8.666/93 que disciplina acerca dos contratos de terceiros, dispõe das possibilidades de prorrogação dos contratos, e a incumbência de atentar para os seus dispositivos é da Instituição. Nesse caso,

a referida Lei permite a prorrogação do prazo do contrato até o final da próxima licitação. Com isso, infere-se que houve adversidades na articulação entre os setores da Instituição para o acompanhamento e resolução das contrariedades de entendimento da doutrina legal entre os gestores.

Outro entrave proveniente da burocratização no IFBA, é a elaboração, aprovação e implementação da Política de Inclusão na Perspectiva da Pessoa com Deficiência, discutida na subcategoria Política desta dissertação. Os contratempos mencionados referentes a sua elaboração e implementação demonstram os elementos burocráticos como finalidade da gestão, ao invés do resultado final, de promover a regulamentação do direito de permanecer na Instituição com êxito aos estudantes com deficiência.

Ainda, as barreiras atitudinais reveladas nesta pesquisa, também, compreendem a relação que os demais atores sociais do ambiente escolar conservam com a deficiência. Os docentes, apresentam resistências em transformarem suas posturas e metodologias de ensino frente a inclusão do aluno com deficiência. Essa questão, será discutida no subitem a seguir. Além disso, os próprios estudantes com deficiência apresentam comportamentos de isolamento no contexto escolar. Dois alunos dos entrevistados no campus de Barreiras indicaram apresentar comportamentos de afastamento dos demais colegas, por sentirem-se diferentes e não disporem de mecanismos emocionais e comportamentais para a reversão das crenças internalizadas em relação a si mesmo.

Na verdade, eu creio que muita gente passa isso, pra quem tem problema de audição por exemplo, muita gente vai pensar que é diferente dos outros. Ai, a pessoa do tipo, não quer se envolver, porque não consigo conversar, não consigo me comunicar com ele. Muitos deles, já passei por muita dificuldade, por exemplo, o professor passa um trabalho em grupo, eu tenho dificuldades em encontrar um grupo, porque você não sabe se comunicar com a pessoa, falar quero você no grupo ou você acha que alguém te chama, mas ninguém te chama e você fica por último, aí o professor escolhe um grupo pra você (ASADACB2).

Nesse trecho, observa-se a hesitação do aluno com deficiência auditiva em lidar com algumas restrições da sua condição. O comportamento demonstrado por ele, pode-se inferir que é o esperado em um cenário das interações do cotidiano em que se vivencia pela primeira vez, principalmente

para aqueles que carregam um estigma em relação a si mesmo, o qual gera uma tensão. A tensão produz um medo de rejeição, a qual promove insegurança e ansiedade frente a atitude do outro a respeito da sua condição (GOFFMAN, 2005).

Durante o período de observação, constatou-se que a aluna com deficiência física do campus de Barreiras, evitava sair da sala de aula no intervalo entre as disciplinas e no intervalo. Por mais que ela não tenha verbalizado diretamente que vivencia fragilidades emocionais em relação a sua condição. No decorrer da entrevista em muitos momentos em que a aluna explanava acerca da sua condição, ela se sensibilizava, enchia os olhos de água, chorava e a voz encontrava-se tremula. Diante desse comportamento demonstrado pela aluna, de extrema sensibilização emocional frente à sua condição, a pesquisadora atentou para as questões éticas da pesquisa, assentadas na Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) 466/12 que trata da pesquisa envolvendo seres humanos e também da Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP Nº 016/2000) que dispõe sobre a realização de pesquisa em Psicologia com seres humanos. À vista disso, a pesquisadora elaborou um relatório a respeito do apresentado pela aluna no decorrer da entrevista, ao mesmo tempo, precedeu com algumas orientações ao NAPNE, quanto a situação da estudante.

Além dessas barreirais atitudinais manifestadas pelos próprios alunos com deficiência em relação a si mesmos, destaca-se o relato da aluna surda do

campus de Salvador que vivenciou esses entraves atitudinais por parte do grupo

de alunos surdos que ingressaram com ela no IFBA.

[...]infelizmente, também, aconteceu de eu ter sido desanimada em permanecer no IFBA, por parte de outros surdos que achavam a escola muito difícil. Mas, pelo fato de ter encontrado esse suporte psicológico aqui para continuar, eu não desisti e permaneci, fui a única que continue de um grupo de 5 surdos (ASASCS5).

No contexto das relações sociais, as pessoas com deficiência internalizam os estereótipos imputados a elas pelos demais integrantes da sociedade. Tal rótulo social, histórico é introjetado como verdade, e resultam em crenças disfuncionais a respeito de si mesmas, que em muitas situações, as impedem de

se reconhecerem como sujeitos que possam transpassar as restrições de sua condição, em busca de seu desenvolvimento, diante das suas potencialidades e possibilidades. Na verbalização anteriores, identifica-se a importância do suporte psicológico aos alunos com deficiência para permanecerem na Instituição.

Ademais, identifica-se nesta pesquisa, como periferia das representações sociais quanto à permanência de alunos com deficiência no ensino médio integrado do IFBA, a incorporação de elementos, por parte dos estudantes entrevistados, de atributos referente a sua continuidade na Instituição que condizem com as atribuições dela para garantir a permanência deles. Os alunos entrevistados revelam que para permanecerem no IFBA, faz-se necessário que eles tenham força de vontade, vontade de aprender e determinação. No entanto, entende-se que, quando eles escolhem ingressar na Instituição, já são detentores de tais características, e essas motivações manter-se-ão, por intermédio das ações de inclusão que o IFBA oferece, e não somente por estímulos internos desses alunos. É importante, ressaltar que os alunos entrevistados, bem como, a maioria dos estudantes que ingressam no ensino médio integrado, além da categoria social de aluno, e ou de pessoa com deficiência, estão inseridos na categoria social adolescência. Essa fase do desenvolvimento humano aduz com ela, características inerentes dessa etapa, as quais carecem de um olhar atendo da escola.

A adolescência ocasiona ao sujeito transformações fisiológicas e psicológicas. Essas mudanças, encaminham-se na busca por uma identidade, o qual para ocorrer necessita que o adolescente elabore eventos e características da infância, tais como: Luto pelo corpo e identidade infantil, pelas relações estabelecidas na infância com os pais. Para constituir a sua identidade, ele procura novas referências em grupos de amigos, assim como, em contextos sociais por meio da aproximação de militâncias sociais, políticas e religiosas. Esse cenário é vivenciado de forma ambivalente entre períodos de intensa atuação e isolamento, experiências as quais são necessárias para a organização de sua identidade e autoestima (ABERASTURY, 1970). Perante esse acontecimento de transformações que o adolescente atravessa, é que se enfatiza a indispensabilidade da escola atentar-se a essas peculiaridades. E a partir desse olhar atento, cuidadoso possa contribuir para o desenvolvimento

pessoal e educacional, pautados no diálogo, respeito a diferença, ao próximo e ética. E principalmente, no que remete aos alunos com deficiência, promover a eliminação das barreiras atitudinais tanto no ambiente escolar, quanto pessoais. Fomentando o reconhecimento de suas potencialidades e possibilidades, em prol do seu empoderamento.