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Na interação social subjetiva, face a face, dos encontros cotidianos, o indivíduo categoriza socialmente o outro, o parceiro da relação. Em um primeiro contato os sujeitos da relação já estabelecem a categoria que cada um pertence, por meio dos atributos considerados como comuns e procedentes de cada

categoria construída socialmente. Na relação social quando o indivíduo é desconhecido do observador, este através da conduta e aparência do sujeito observado obtém informações que lhe concedem empregar a experiência anterior que desfrutou com indivíduos aproximadamente parecidos. Dessa forma, o observador atribui características e estereótipos que não comprovam pertencer ao indivíduo observado (GOFFMAN, 2005). A categoria e atributos configuram a identidade social do indivíduo. A identidade social proporciona o reconhecimento social do sujeito, a qual é formada coletivamente e individualmente. As ideias preconcebidas referentes a uma pessoa são convertidas em expectativas normativas e em exigências rigorosas. As expectativas e exigências que são imputadas aos demais, ou seja, que o sujeito imagina, interpreta sobre o outro indivíduo é a identidade social virtual. Porém a categoria e atributos que o indivíduo revela possuir descreve a sua identidade social real (GOFFMAN, 1988).

Ainda, sobre as interações sociais Moscovi (2009) postula que elas emergem dos contatos entre duas pessoas ou grupo que se configuram em representações sociais. Por mais que o indivíduo que recebe uma informação procure atribuir um significado, ele está sob o controle das representações sociais. As representações sociais são constituídas internamente, mentalmente dentro do pensamento do sujeito por meio de um processo coletivo, o qual influencia o comportamento daqueles que estão inseridos socialmente no contexto. Elas derivam das ações e comunicações dos indivíduos com o coletivo, “adquirem vida própria, circulam, se encontram, se atraem, se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem” (p.41). Sendo assim, as formas, os conteúdos, os significados do ambiente físico e social estão fixados em representações, as quais moldam as atitudes e comportamentos das pessoas.

A vista disso, a percepção e a relação de pessoas de um determinado ambiente social, referente a deficiência estará imerso em uma variedade de preconcepções construídas ao longo dos anos, mas transformando-se com o desenvolvimento da ciência e da sociedade. Mas, ainda a percepção sobre a deficiência está permeada por generalizações, mitos, aspectos religiosos, lendas, desinformação, linguagens que distorcem e dificultam a inclusão social.

No ponto de vista psicológico, Amaral (1995) assevera que as relações estão interlaçadas por emoções, sejam conscientes ou inconscientes, admitidas ou inconfessas. Nesse sentido, quando uma pessoa sem deficiência se relaciona com uma pessoa com deficiência sentimentos como medo, cólera, desgosto, pena, atração, repugnância, entre outras emoções podem interpor a relação. Esses sentimentos podem emergir juntos ou isoladamente, com mais ou menos intensidade.

[...]a deficiência jamais passa “brancas nuvens”, pelo contrário: ameaça desorganizam, mobiliza. Representa aquilo que foge ao esperado, ao simétrico, ao belo, ao eficiente, ao perfeito... e, assim como quase tudo que se refere à diferença, provoca a hegemonia do emocional (AMARAL,1995, p.112).

Quando a pessoa se encontra em uma situação ameaçadora a sua constância emocional, ela utiliza mecanismos de defesa do ego. De acordo com Laplanche e Pontalis (2001), os mecanismos de defesa do ego são estratégias psicológicas empregadas pelas pessoas para a manutenção do equilíbrio intrapsíquico. Apresenta como finalidade afastar um evento que gera ameaça, insegurança, ansiedade, tensão a estabilidade emocional do sujeito. Buscam suprimir situações dolorosas e estão presentes no ajustamento e desenvolvimento da personalidade. Cabe frisar, que os mecanismos de defesas estão presentes em muitas situações vivenciadas pelas pessoas, e não se configuram apenas em processos patológicos. Logo, todas as pessoas utilizam ou já utilizaram algum mecanismo defensivo.

Conforme Amaral (1994) uma pessoa sem deficiência ao relacionar-se com uma pessoa com deficiência aciona mecanismos de defesa, pois o diferente representa muitas significações internamente no indivíduo. “Representa a consciência da própria imperfeição daquele que vê, espelha suas limitações” (AMARAL, 1994, p. 30).

[...] o deficiente é a própria encarnação da assimetria, do desequilíbrio, das des-funções. Assim, sua de figuração, sua mutilação, ameaça intrinsecamente as bases da existência do outro. Seu existir põe em movimento uma gigantesca pá de moinho que, descontrolada subitamente, ameaça transformar a energia gerada costumeiramente com tranquilidade, torrente quase incontrolável, o caudal de águas turbulentas (AMARAL,1994, p.30).

Frente a uma situação de ameaça as pessoas podem apresentar dois tipos de comportamento o ataque e a fuga, esquiva do que compromete o

equilíbrio psíquico. Em conformidade com Amaral (1995), o ataque é um enfrentamento daquilo que é considerado uma ameaça à integridade do sujeito, da sociedade. Nesse caso, o diferente, o inconveniente, o que foge as regras sociais é atacado, com isso é liquidada a ameaça representada por eles. Esse mecanismo de ataque, pode ser observado na história da deficiência, por exemplo, quando as crianças nasciam com alguma deficiência e eram mortas.

No entanto, atualmente, devido a formação social baseada na moral judaico-cristã, é mais habitual as pessoas apresentarem comportamentos de fuga e esquiva em relação a pessoa com deficiência. Segundo Amaral (1995) uma das formas mais frequentes em fugir das questões que envolvem a deficiência é por intermédio da rejeição, que pode ser manifestada através do abandono, superproteção e negação. A explicitação da rejeição é o abandono, o qual foi evidenciado nas sociedades antigas e hoje é assinalado pela história da educação especial. Não obstante, o abandono das pessoas com deficiência não ocorre somente por uma forma literal. Ele pode suceder de modo implícito, indireto, principalmente na atualidade, por falta de investimento, seja emocional, de dedicação, seja de acessibilidade, de omissões de direitos, entre outros. No caso da superproteção ela pode ser uma manifestação do mecanismo de defesa formação reativa. Nesse mecanismo de defesa, a pessoa converte um afeto, sentimento, em o seu oposto. Logo, a forma encontrada pelo indivíduo em lidar com a rejeição da deficiência é superprotegendo a pessoa com deficiência. Já a manifestação da rejeição por meio do mecanismo de defesa negação é por três formas: Atenuação; Compensação; Simulação. É importante frisar que a negação pode ser empregada por qualquer sujeito que entre em contato com a deficiência, até mesmo pelas pessoas com deficiência. A negação é expressa por comportamentos, falas diárias às pessoas com deficiência, bem como, sobre si mesmo quando oriundas de pessoas nessa condição. A forma de negação de atenuação da rejeição é revelada por comportamentos que possuem a intenção de amenizar a situação em que se encontra a pessoa com deficiência. Essa forma de negação pode ser esboçada pelas frases “Poderia ser pior. Não é tão grave assim” (AMARAL, 1995, p. 116). Quando a negação é utilizada na forma de compensação a palavra-chave é a conjunção adversativa, “mas”, por exemplo, “Deficiente físico, mas é tão inteligente” (AMARAL, 1995, p. 117).

Nessa situação, a autora chama a atenção que a conjunção, “mas” nega a condição da pessoa com deficiência física ser inteligente. Verbalizações desse tipo colaboram para a redução das potencialidades da pessoa com deficiência para as suas limitações. Já a simulação é uma negação da condição da deficiência, uma das exemplificações são através de verbalizações do tipo “É cega, mas é como se não fosse” (AMARAL, 1995, p. 117).

Silva (2006) corrobora que um mecanismo de negação social é o preconceito às pessoas com deficiência, uma vez que as diferenças apresentadas por elas representam a falta, carência, impossibilidade, fragilidade. Em uma sociedade que cultua o corpo útil, aparentemente saudável, a pessoa com deficiência em um primeiro momento suscita um estranhamento, em razão de evocar sentimentos sobre a fragilidade humana, motivados pelo inconsciente e socialmente, situação a qual as pessoas que não têm deficiência desejam negar.

Não os aceitamos porque não queremos que eles sejam como nós, pois assim nos igualaríamos. É como se eles nos remetessem a uma situação de inferioridade. Tê-los em nosso convívio funcionaria como um espelho que nos lembra que também poderíamos ser como eles. Esse potencial, que é real, em vista das trágicas mudanças que nos podem ocorrer, é que nos faz frágeis, uma vez que queremos ser sempre completos e constantes. O que também parece perturbar nos contatos com pessoas com deficiência é o fato de não sabermos como lidar com elas, posto que a previsibilidade é uma forte característica das relações sociais da contemporaneidade (SILVA, 2006, p.4) Diante desse contexto, a autora citada acima assevera que as pessoas que não apresentam deficiência, buscam por meio do preconceito e da discriminação formas de se afastarem das pessoas com deficiência, ou seja, da condição em que se quer negar, fugir.

O preconceito é alicerçado a partir de atitudes associadas a um grupo delimitado, organizadas por intermédio de generalizações deformadas ou incompletas (ARONSON, 1999). Em outras palavras, o preconceito é uma “atitude hostil ou negativa com relação a um determinado grupo” (RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 2001 p. 162).

Antes de discorrer mais sobre o preconceito é importante caracterizar o que é atitude, visto que, muitas vezes esse termo é utilizado como sinônimo de comportamento. E para a psicologia social, o preconceito em sua essência é

uma atitude. Amaral (1995), diante de suas pesquisas, caracteriza que a atitude é uma disposição psíquica ou afetiva frente a um determinado evento, o qual desencadeia sentimentos que alinham o sujeito para uma ação. Dessa forma, a atitude antecede ao comportamento, é interno, subjetivo. Por outra forma, a atitude é “uma organização duradoura de crenças e cognições em geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um objeto social definido, que predispõe a uma ação coerente com as cognições e afetos relativos a este objeto” (RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 2001 p. 98).

O preconceito para Crochik (1997) é gerado pelo resultado da socialização do homem, e, transformado em função das diferenças culturais e históricas ao longo dos anos. É um julgamento sobre objetos, ideias, pessoas. Um dos elementos do preconceito é o estereótipo, que é múltiplos predicados fixos atribuídos por conteúdos culturais associados a mecanismos psíquicos a um grupo específico. O estereótipo desconsidera as outras qualidades daquele que recebe um rótulo. Apresenta a incumbência de naturalizar a crença que os papeis desempenhados na sociedade expressam diferentes níveis de valores, ou seja, o estereotipo converte uma realidade produzida pela cultura em uma situação natural. O preconceito, também explicita um outro elemento, que é a generalização de características supostas de um grupo a todos os seus integrantes.

Estereótipos, pois, podem ser corretos ou incorretos. E, positivos, neutro ou negativos. O fato de, num primeiro momento, facilitarem suas reações frente ao mundo esconde a realidade de que, na maioria das vezes, estereotipar pode levar as generalizações incorretas e indevidas, principalmente quando você não consegue ver um indivíduo com suas idiossincrasias e traços pessoais, por trás do véu aglutinador do estereótipo (RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 2001 p.153). Em síntese, o preconceito é uma atitude que apresenta três componentes: o afeto (sentimentos ou emoções em relação a um grupo de indivíduos, ideias, objetos), a cognição (os estereótipos) e o comportamento (a discriminação) (RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 2001). Nesse sentido, preconceito não é sinônimo de discriminação. A discriminação é a concretização do preconceito. Logo, uma pessoa pode apresentar internamente um preconceito em relação a algo ou alguém, mas não o discriminar.

Além do estereótipo como componente cognitivo do preconceito, encontra-se o mito. O mito é uma forma de explicar o princípio de algum

contexto, coisa, objeto, por meio de uma narrativa formada por conteúdos simbólicos, religioso, histórico, culturais. O mito representa uma realidade ilusória, simulada, que é consolidada e reproduzida por intermédio do senso comum (CHAUÍ, 2000). No que se refere as pessoas com deficiência, Amaral (1998) caracteriza quatro mitos que reforçam o preconceito a esse público, são eles: A “generalização indevida” é transformação da limitação específica da pessoa com deficiência em uma insuficiência global. Por exemplo, um aluno surdo é percebido como se tivesse também deficiência intelectual; A “correlação linear”, se uma prática, atividade é satisfatória para uma pessoa com deficiência, então é adequada para todas as pessoas na mesma condição, sem considerar as características individuais. A título de exemplo, um aluno cego demonstra êxito em atividades com música. Logo a música será uma atividade exitosa para todos os alunos com deficiência visual; O “contágio osmótico”, é o amedrontamento de adquirir a deficiência por meio do convívio com a pessoa com deficiência. Tendo como exemplo, um aluno com deficiência intelectual em uma classe regular, os pais dos demais alunos sem deficiência acreditam que seus filhões desfrutarão de um ensino mais aquém por estarem em uma turma com um colega com deficiência intelectual. Sendo assim, as crianças que não apresentam a deficiência serão “contaminas” por estudarem com alunos nesta condição; A “culpabilização da vítima”, as pessoas sem deficiência, compreendem que a pessoa com deficiência é culpada por apresentar a deficiência.

Além dos componentes do preconceito, uma outra forma de se realizar a distinção entre a pessoa com deficiência e a pessoa sem deficiência é por intermédio da estigmação do sujeito que de alguma maneira se distancia da “norma”, ou seja é “desviante” (Foucault, 2002) dos atributos considerados comuns e naturais estabelecidos pela sociedade. Diante do modelo de indivíduo construído pela sociedade, também, é concebido um sujeito que apresenta atributos incomuns, diferentes, que será sinalizado como destituído de potencialidades. Estes atributos podem estarem evidentes nas características físicas do indivíduo, quanto permearem o simbólico daquele que é pertencente da norma social. Isso é o que Goffman (1988) descreve como estigma, o “atributo profundamente depreciativo” (p. 13). O estigma acarreta um amplo

descredito na vida do sujeito, estabelece uma discrepância entre a identidade social virtual e a identidade real, produzindo uma identidade deteriorada. Os estigmatizados adquirem um papel essencial nas relações sociais, pois demarcam as diferenças entre os atributos desejáveis e indesejáveis edificados pela sociedade. Nas interações sociais as características do estigmatizado podem ser evidentes, percebida de imediato, mediante a traços notórios, como etnia, marcas físicas, posturas. Essa condição foi nomeada por Goffman (1988) de desacreditado. Por outro lado, há os estigmatizados que não apresentam os traços perceptíveis em um primeiro contato pelos presentes, esses foram denominados de desacreditáveis. Essas categorias dos estigmatizados são estruturadas a partir de três tipos de estigma.

Em primeiro lugar, há as abominações do corpo - as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebida como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas em inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família (GOFFMAN, 1988 p.14).

Isto posto, o autor inteira que em qualquer dos tipos de estigma, desde os retratados em referências históricas, até a manifestação deles atualmente, configuram -se nas mesmas características sociológicas. Estas, buscam o desmantelamento de outros atributos que os estigmatizados detenham, uma vez que, eles não dispõem das características sociais imputadas por aqueles que satisfazem as expectativas do contexto social, categorizados e nomeado como “normal” (GOFFMAN, 1988).

As pessoas categorizadas como normais no contexto social, procuram suavizar as atitudes e comportamentos em relação a pessoa com um estigma. Entretanto, a percepção compartilhada socialmente é que a pessoa estigmatizada não seja completamente humana, sendo assim, em muitas circunstâncias, os normais utilizam a discriminação, a qual várias vezes é sem pensar, reduzindo as chances de outras oportunidades na vida. Isso ocorre, porque as pessoas normais necessitam construírem uma ideologia para explicar a inferioridade dos estigmatizados e serem capazes de lidar com o perigo que o estigma representa para a integridade da identidade social dos demais. Diante

dessa situação, é empregado “termos específicos de estigma como aleijado, bastardo, retardado” (p. 15) nas expressões do dia a dia “como fonte de metáfora e representação, de maneira característica sem pensar no seu significado original” (GOFFMAN, 1988 p. 15). Também, é atribuído ao estigmatizado imperfeições a partir da sua condição original, da mesma forma, peculiaridades desejáveis, mas não almejados, com o prisma sobrenatural “tais como “sexto sentido” ou “percepção” “(GOFFMAN, 1988 p. 15).

Nas interações sociais, cada integrante representa um “papel” socialmente estabelecido frente a uma “plateia” (para quem é representado o papel social) em um grande “palco” (sociedade) (GOFFMAN, 2005). Quando intercorre uma discrepância entre a identidade social real e a identidade virtual do estigmatizado, ele apresenta ansiedade intensa que produz sofrimento psíquico. Nesse momento, o estigmatizado procura meios para manipular a realidade, com o objetivo de amenizar o sofrimento psíquico. Em tal situação, a pessoa estigmatizada usufrui do encobrimento dos atributos do estigma e técnicas de controle de informação. Sobre o encobrimento do estigma Goffman (1988), discorre:

O ciclo pode começar com o encobrimento inconsciente que o interessado pode não descobrir nunca; daí, passa-se a um encobrimento involuntário que o encobridor percebe, com surpresa, no meio do caminho; em seguida há o encobrimento de “brincadeira”; o encobrimento em momentos não rotineiros da vida social, como férias em viagens; a seguir, vem o encobrimento em ocasiões rotineiras da vida diária, como no trabalho e instituições de serviço; finalmente, há o desaparecimento - o encobrimento completo em todas as áreas de vida, segredo que só é reconhecido pelo encobridor (GOFFMAN, 1988 p.91).

O encobrimento é desempenhado pelas pessoas que querem esconder o seu estigma, no caso, os desacreditáveis. A fim de manipular as informações que evidenciam o estigma, eles encobrem ou eliminam os signos que sinalizam o estigma. A título de exemplo uma pessoa que necessita de um equipamento físico para minimizar alguma desvantagem da sua condição, recusa o uso, pois não o utilizando, ela acredita que está ocultando seu estigma. Citando um caso parecido, uma pessoa com deficiência intelectual passa por doente mental, dado que essa última condição é mais aceita socialmente.

Além disso, há uma outra forma de manipular o estigma, o acobertamento, que é aplicado pelos desacreditados. O acobertamento é um recurso em que o

estigmatizado emprega estratégias cognitivas ou físicas para minimizar a presença do estigma. Verifica-se essa técnica de manipulação da informação do estigma, quando uma pessoa com deficiência visual, também, apresenta desfiguração no rosto e utiliza os óculos escuros para acobertar tal condição. “Nesse caso revela-se a cegueira, ao mesmo tempo em que se oculta a deformidade” (GOFFMAN, 1988 p. 114). Ainda, as cirurgias plásticas para esconder alguma deformação ou características de uma síndrome ou etnia.

Nesse processo de controle de informações, o estigmatizado manipula o conhecimento do seu estigma pelas pessoas normais, a fim de suavizar os danos causados pelo mesmo, na deterioração da sua identidade pessoal e identidade social. O encobrimento e o acobertamento apresentam a mesma finalidade de proteção da identidade do estigmatizado. O primeiro é uma forma de impossibilitar a revelação do estigma. E o segundo é uma investida do estigmatizado de atenuar o constrangimento propiciado pelo estigma. É importante frisar que durante o processo de controle das informações, o estigmatizado permanece em um estado de tensão, uma vez que, ele apresenta o temor de que o seu segredo seja revelado.