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ACONTECIMENTO, DISPOSITIVO E JOGOS DE VERDADE: PROBLEMATIZAÇÕES GENEALÓGICAS

Chama a atenção na leitura foucaultiana de Nietzsche a importância atribuída à noção de acontecimento. Como sabemos, esta se fará presente nos diferentes alvos investigados na genealogia de Foucault. De passagem, frisamos que o acontecimento, como categoria de análise, já aparece nos estudos arqueológicos, como acontecimento discursivo. Ou seja, ao fazer o inventário da trama dos saberes, recuperando o jogo do qual esses fazem parte, a arqueologia procura empreender a descrição minuciosa dos acontecimentos discursivos.25 Isto, claro, sem se debruçar sobre a questão das origens tanto dos saberes quanto dos acontecimentos.

Como revela o célebre artigo “Nietzsche, a genealogia, a história”,26 a metodologia nietzschiana – em oposição às concepções teleológicas e universalistas da história – efetua um deslocamento no campo de análise ao propor como pesquisa a interpretação e a avaliação dos acontecimentos históricos. Isso pode ser mais bem compreendido na análise que Foucault faz dos conceitos de Herkunft e Entstehung. A seu ver, em detrimento de Ursprung (origem), Herkunft (proveniência) e Entstehung (emergência) são, na genealógica nietzschiana, recursos de análise que possibilitam, concomitantemente, inventariar, inquirir e diagnosticar os acontecimentos históricos. Herkunft não deve ser confundido com a busca pela origem fundadora supostamente alicerçada numa unidade universalizante. Diferentemente disso, a proveniência visa agitar o que, em termos metafísicos, se percebia como imóvel; procura fragmentar o que se considerava, do ponto de vista de diferentes consensos, unido; bem como evidenciar a heterogeneidade do que normalmente se crê em conformidade consigo mesmo, por exemplo, pelo princípio de identidade. Entstehung, por sua vez, define-se pelo ponto de surgimento dos valores e costumes. “É o princípio e a lei singular de um aparecimento”, ou seja, é o campo no qual as relações de força se constituem. As emergências, dessa forma, viabilizariam a identificação do intrincado estado de forças que dá condições ao aparecimento dos acontecimentos históricos (FOUCAULT, 2000, p. 264-270). Nos termos de Foucault, a metodologia nietzschiana pode ser

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Na arqueologia: “Preguntarse por la historicidad del discurso significa descubrir que existe un passado vivo en los documentos, monumentos, reglamentos. Preguntarse por la accidentalidad de las prácticas discursivas es buscar las reglas de formación de los discursos. Reglas históricas, políticas, sociales, culturales.” (COLOMBANI, 2008, p. 43).

definida como análise das proveniências e história das emergências dos acontecimentos (MARTON, 2001, p. 202-204).

Mutatis mutandis, a genealogia foucaultiana é também uma crítica à vontade de verdade – não é sem propósito que o primeiro livro da História da sexualidade tenha como subtítulo “A vontade de saber” – e como tal usa estas categorias da proveniência e da emergência na interpretação de acontecimentos. Pelo viés interpretativo, a genealogia interpela os acontecimentos investigando as contingências, os acidentes, os acasos, procurando pelas singularidades tangíveis, porém nem sempre detectadas pela historiografia. Dessa forma, sem objetivar a revelação de significados ocultos num subsolo de fundamentos últimos, a genealogia, como crítica interpretativa, procura (por meio da cartografia, do inventário e do diagnóstico dos acontecimentos) realizar uma história das interpretações.27 No artigo de 1971, caracterizado (como vimos) por uma abordagem instrumental do léxico nietzschiano, o pensador francês esclarece:

Acontecimento: é preciso entendê-lo não como uma decisão, um tratado, um reino, ou uma batalha, mas como uma relação de forças que se inverte, um poder confiscado, um vocabulário retomado e voltado contra seus utilizadores, uma dominação que se enfraquece, se amplia e se envenena e uma outra que faz sua entrada, masca- rada. As forças que estão em jogo na história não obedecem nem a uma destinação nem a uma mecânica, mas ao acaso da luta. [...] Mas o verdadeiro sentido histórico reconhece que vivemos, sem referências nem coordenadas originárias, em miríades de acontecimentos perdidos (FOUCAULT, 2000, p. 272-273).

Com as pesquisas genealógicas em curso, Foucault volta o olhar repetidas vezes ao conceito de acontecimento, dando a impressão de que procura – nos seus livros, artigos e conferências, mas também nas aulas e entrevistas – refiná-lo, aprimorá-lo, cunhá-lo novamente.28 Não se

27 Sobre a interpretação em Nietzsche e Foucault, Cf: Rabinow e Dreyfus (1995, p. 119-120). 28 Neste processo de depuração, alertará, numa entrevista de 1976, para o equívoco que seria

pensar o acontecimento pelo viés da homogeneidade, semelhança e universalidade: “Não se trata de colocar tudo num certo plano, que seria o do acontecimento, mas de considerar que existe todo um escalonamento de tipos de acontecimentos diferentes que não têm o mesmo al- cance, a mesma amplitude cronológica, nem a mesma capacidade de produzir efeitos. O problema é ao mesmo tempo distinguir os acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a

pode esquecer que o seu escrutínio, na genealogia, pressupõe a investigação não só das práticas discursivas, mas também daquelas consideradas não discursivas. Essa reformulação do campo analítico foi viabilizada pela introdução da noção de dispositivo. Digamos que, para além das categorias arqueológicas da episteme e da prática discursiva, o dispositivo procura corresponder ao anseio de ampliação do campo investigativo, meta (como vimos) anunciada em A ordem do discurso.29

O dispositivo procura demarcar, na pesquisa, a natureza da relação existente entre diversos elementos heterogêneos. Para tanto, são consideradas as esferas do enunciado e das práticas institucionais e sociais não discursivas, pois o dispositivo é constituído, concomitantemente, por discursos e por práticas não circunscritas a esse âmbito. Isso indica, portanto, que na pesquisa ele é o “jogo” que pode ser estabelecido por diversos elementos que são, por sua vez, distintos e relacionáveis. O dispositivo, além disso, tem função estratégica e sua formação corresponde a uma urgência histórica. “Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. Ele é a rede que pode ser estabelecida entre estes elementos.”30

Com o dispositivo, a genealogia procura empreender o inventário histórico-crítico dos acontecimentos por meio da detecção das práticas discursivas e não discursivas. Trata-se, com os diferentes dispositivos (o disciplinar, o de sexualidade ou aqueles concernentes às governamentalidades como, por exemplo, o de segurança), de trazer à tona o multifacetado campo de forças no qual essas práticas surgem, ramificam-se, ligam-se, alinham-se, justapõem-se; ou, diferentemente disso, atritam e conflitam umas com as outras.

que pertencem e reconstituir os fios que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros.” (FOUCAULT, 1990b, p. 5).

29 É importante dizer, contudo, que embora a investigação arqueológica esteja circunscrita à

esfera da discursividade, a genealogia não deve ser tida como uma metodologia oposta (na medida em que proporcionaria, em relação à arqueologia, uma ruptura total e intransponível). Vejamos, por exemplo, como Foucault situa a arqueologia nas pesquisas conduzidas no Collège de France em 1976. Na primeira aula de “Em Defesa da Sociedade”, o pensador dirá: “A arqueologia seria o método próprio da análise das discursividades locais, e a genealogia, a tática que faz intervir, a partir dessas discursividades locais assim descritas, os saberes dessujeitados que daí se desprendem. Isso para reconstituir o projeto de conjunto.” (FOUCAULT, 1999a, p. 16).

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Atentemos para a explicação de Foucault: “Através deste termo [dispositivo], tento demarcar, em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogêneo, que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas.” (FOUCAULT, 1990b, p. 244).

Como mostramos acima, fica evidenciado: (1) que o conceito de dispositivo amplia o campo analítico dos acontecimentos para além das pretensões arqueológicas; (2) que na apropriação do léxico nietzschiano há o encadeamento da noção de acontecimento com a perspectiva crítica da genealogia foucaultiana. De certa forma, o estudo denominado “Qu’est-ce que la critique? Critique et Aufklärung”, no qual Foucault analisa a atualidade da crítica e sua relação com a Aufklärung, confirma e amplia o horizonte dessas asserções.31 Cremos que, nessa reflexão, o pensador francês discute o acontecimento num duplo movimento, o que o faz avançar na enunciação do conceito. Com isso, queremos indicar que, ao mesmo tempo em que explicita a singularidade do acontecimento, como categoria investigativa, indica a sua adequação com distintos objetos de análise, permitindo, de tal modo, melhor situá- lo como chave interpretativa da modernidade.

Resumidamente, em sua exposição à Société Française de Philosophie, Foucault dirá que Kant foi responsável por erigir dois modos de tratar a questão da Aufklärung e a sua relação com a atitude crítica. Com essa proposição, aponta o pensador setecentista como fundador das duas grandes tradições por meio das quais a modernidade fora problematizada. A primeira dessas perspectivas ficaria circunscrita especificamente ao campo dos problemas de Teoria do Conhecimento; já a segunda ampliaria o espaço investigativo na medida em que proporia a leitura do vórtice Aufklärung e a crítica pelo viés do intrincado campo das relações de poder. É nessa segunda acepção da crítica que o acontecimento entra em cena. O neologismo d`événementialisation (Événement pode ser traduzido como Acontecimento) indica, portanto, uma análise histórico-filosófica não circunscrita ao âmbito da teoria do conhecimento, e a possibilidade de estudar o fenômeno da Aufklärung (sua emergência, transformações, implicações) como constitutivo do campo das relações de poder (FOUCAULT, 1999c, p. 8). Seria um equívoco, contudo, pensarmos que a introdução do poder na trama analítica revelaria o desinteresse do genealogista pelas implicações do conhecimento nos dilemas da Ilustração. O que Foucault faz, na verdade, é reposicioná-lo,

31 Referimo-nos ao texto apresentado por Foucault no encontro realizado na Société Française

de Philosophie, em maio de 1978, sob o título de “Qu’est-ce que la critique? Critique et Aufklärung”. Embora o pensador desejasse revisá-lo antes da publicação, esse veio a público sem que isso pudesse acontecer. Em relação à tradução brasileira de Selvino José Assmann, intitulada “Iluminismo e crítica”, esclarecemos que foi feita com base na tradução italiana, que traz um título diferente do original. Por isso, optamos por manter em nossa análise o título em francês.

redirecioná-lo; e nesse intento, ao incluí-lo na ordem dos saberes, evidencia a sua relação com as práticas de poder.

Bem sabemos que as implicações do nexo poder-saber são uma questão recorrente nas pesquisas genealógicas. Em Vigiar e punir, por exemplo, a relação poder-saber é analisada em sua positividade,32 a saber, como capacidade produtiva disciplinar (FOUCAULT, 1993, p. 172). As pesquisas genealógicas, assim, levam em consideração que o poder e o saber: (1) não são externos um ao outro e (2) formam uma espiral contínua de reforço mútuo. Como explica Foucault: “Não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de po- der.” (FOUCAULT, 1993, p. 30). Contudo, na história da violência nas prisões, essa relação fica ainda circunscrita, exclusivamente, ao campo das disciplinas e aos processos de objetivação dos sujeitos.33 Entretanto, com os novos lineamentos das pesquisas genealógicas, após 1975, percebe-se a presença do nexo saber-poder na investigação de outros objetos. Nessa perspectiva, Foucault esclarece:

A palavra saber indica todos os procedimentos e todos os efeitos de conhecimento que um campo específico está disposto a aceitar em um determinado momento. O termo poder estende-se a toda uma série de mecanismos particulares, definíveis e definidos, capaz de determinar comportamentos ou discursos (FOUCAULT, 1999c, p. 8).

32 Em Foucault, as noções de positividade e negatividade não são conceitos morais, ou seja,

positivo não é necessariamente sinônimo de bom nem mesmo o negativo de mau. Positivo significa a produtividade do poder, já negativo é o poder que se exercer por meio de uma “subtração”. Cabe enfatizar que, apesar de suas diferenças, tanto as práticas positivas quanto as negativas podem desencadear efeitos nocivos aos seres humanos.

33 A genealogia das tecnologias disciplinares analisa as condições pelas quais o homem

moderno constitui a sua identidade, seus valores e, assim, seus modos de ser e agir, dentro de sofisticados processos institucionais nos quais ele é feito, por assim dizer, como objeto de saberes e práticas institucionais de poder. Trata-se, na história da violência nas prisões, de trazer à tona o processo de constituição da verdade destas tecnologias objetivantes que incidem sobre o homem moderno: “Em suma, tentar estudar a metamorfose dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia política do corpo onde se poderia ler uma história comum das relações de poder e das relações de objeto. De maneira que, pela análise da suavidade penal como técnica de poder, poderíamos compreender ao mesmo tempo como o homem, a alma, o indivíduo normal ou anormal vieram fazer a dublagem do crime como objetos da intervenção penal; e de que maneira um modo específico de sujeição pôde dar origem ao homem como objeto de saber para um discurso com status ‘científico.’” (FOUCAULT, 1993, p. 194, 26-27).

Como já sublinhamos, na esteira de Nietzsche o plano de pesquisa de Foucault pode ser lido como uma genealogia da verdade. Isso revela, de início, sua clara intenção (como pesquisador e intelectual) de afastar-se da condição de arauto da verdade.34 Diverso de tal perspectiva, procura problematizá-la trazendo à tona a forma como essa se constitui nas práticas de poder e saber. Prova disso, a problematização genealógica da trama (do jogo) que atravessa as esferas da ciência, política e ética, não visa, a pretexto de um exame metódico que rejeitaria outras respostas possíveis, erigir uma “solução” que supostamente seria a verdade. A propósito, dirá Foucault: “Problematização não quer dizer representação de um objeto preexistente, nem tampouco a criação pelo discurso de um objeto que não existe”. Em resumo, a genealogia propõe a crítica problematizando o conjunto das práticas discursivas e não discursivas que moldam o “verdadeiro”, ou seja, que fazem com que diferentes práticas entrem no jogo do verdadeiro e do falso, assumindo a condição de objeto para o pensamento, quer seja sob a forma, por exemplo, de reflexão moral, de conhecimento científico ou de análise política (FOUCAULT, 2004a, p. 242).

Problematizar a verdade significa trazer à tona a “economia política” pela qual é produzida. Partindo do pressuposto de que não existem verdades intemporais, trata-se de fazer o diagnóstico do seu processo de formação reconstituindo os diferentes pontos de ligação e dispersão que caracterizam os seus jogos – detectar as regras que os constituem impõe, assim, o exame dos regimes de verdade. Dito de outro modo, a genealogia da verdade procura localizar e analisar espaços de elaboração, abordagem e circulação das verdades; bem como os objetivos, as estratégias e as positividades institucionais a que estão articulados.35 Assim sendo, procurar as regras de produção da verdade, por meio da investigação das políticas que a constituem como tal em nossas sociedades, sugere que a verdade não seja analisada como um

34 Como veremos no último capítulo, a redefinição do papel do intelectual corresponde a essa

perspectiva investigativa.

35 Diga-se de passagem, Foucault dá pistas relevantes quanto à atitude crítica que pode ser

exercida em relação à produção da verdade: “A Filosofia é o movimento pelo qual, não sem esforços, hesitações, sonhos e ilusões, nos separamos daquilo que é adquirido como verdadeiro, e buscamos outras regras de jogo.” (FOUCAULT, 2000, p. 305). Trata-se da entrevista com Cristian Delacampagne, em fevereiro de 1980, publicada em Le monde, n. 10.945, 6 de abril de 1980: Le mond-dimanche, ps. I e XVII. Foucault aceita concedê-la, mas impõe a condição de que seja mantido o seu anonimato. Apesar da resistência do jornal, isso foi feito e a entrevista foi realizada, por assim dizer, com o “filósofo mascarado”. O seu conteúdo deixa claro as motivações do sigilo da identidade do pensador francês.

dado natural e/ou como um ente que encontra justificação numa oposição binária com o poder.36 Em razão disso, o diagnóstico dos regimes de verdade, conforme propõe a crítica genealógica, indica que:

A 'verdade' é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que a produzem; a 'verdade' está submetida a uma constante incitação econômica e política (necessidade de verdade tanto para a produção econômica quanto para o poder político); a 'verdade' é objeto, de várias formas, de uma imensa difusão e de um imenso consumo (circula nos aparelhos de educação ou de informação, cuja extensão no corpo social é relativamente grande, não obstante algumas limitações rigorosas); a 'verdade' é produzida e transmitida sob o controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos ou econômicos (universidade, exército, escritura, meios de comunicação); a 'verdade' é objeto de debate político e de confronto social (as lutas 'ideológicas') (FOUCAULT, 1990b, p. 13).

Bem sabemos que nos estudos posteriores a Vigiar e punir a problematização da modernidade ganhará novos contornos, até porque a relação entre verdade, poder e sujeito deixará de ser pensada exclusivamente pelo viés das práticas de objetivação. Isso viabilizará, por exemplo, a abordagem da noção de governo e, assim, a discussão dos processos políticos e éticos de governamentalização da vida (FOUCAULT, 1999c, p. 7). Contudo, antes de discutirmos os aspectos metodológicos dessas genealogias, cumpre melhor explicitar a genealogia foucaultiana do poder.

36 Reconstituir a rede dos jogos de verdade não quer indicar que toda experiência humana – nos

âmbitos do pensar, do agir, do fazer – seja produto de uma construção. Na intenção de dirimir dúvidas quanto a sua posição, Foucault explica: “Há jogos de verdade nos quais a verdade é uma construção e outros em que ela não o é. É possível haver, por exemplo, um jogo de verdade que consiste em descrever as coisas dessa ou daquela maneira: aquele que faz uma descrição antropológica de uma sociedade não faz uma construção, mas uma descrição – que tem por sua vez um certo número de regras, historicamente mutantes, de forma que é possível dizer até certo ponto, que se trata de uma construção em relação a uma outra descrição. Isso não significa que não se está diante de nada e que tudo é fruto da cabeça de alguém.” (FOUCAULT, 2004a, p. 283).

1.4 A GENEALOGIA DO PODER E OS LINEAMENTOS DA