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2 OS DIVERSOS OLHARES DO ESTADO DA ARTE SOBRE O OBJETO DE ESTUDO

2.1 O CONTEXTO DA DIVERSIDADE E A ESCOLARIZAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: IMPACTOS NO SER PROFESSOR

2.1.2 AEE no contexto da APAE de Feira de Santana, Bahia

Nesta seção cabe fazer com que o leitor entenda a contexto da APAE como instituição que existe em todo o Brasil, e que também compreenda a conjuntura do Centro de Atendimento Educacional Especializado Mediar a partir das demandas surgidas na referida instituição.

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) é considerada como o mais abrangente movimento social com caráter de filantropia no Brasil, que apresenta o propósito de defesa de direitos e prestação de serviços para melhorar a qualidade de vida da pessoa que apresenta deficiência (FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAE’S - FENAPAEs, 2001).

É uma entidade civil, assistencial, de caráter filantrópico, que não defende políticas partidárias ou religiões, e mantém programas de assistência bio-psico-

social, educativos e de prevenção para pessoas com deficiência e seus familiares. Como missão, a instituição promove e articula ações de defesa de direitos, prevenção, orientações, prestação de serviços e apoio à família, direcionadas à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência intelectual e múltipla, e de autismo, de ambos os sexos, desde recém-nascido (APAE, 2012).

O Movimento Apaeano é o maior movimento social do país e do mundo na sua área de atuação, e é composto por pais, amigos, voluntários, profissionais e instituições parceiras, que podem ser públicas e privadas, e pelas próprias pessoas com deficiência. Nos dias atuais, esse movimento agrupa a Federação Nacional das APAES (FENAPAES), 23 Federações das APAES nos Estados e mais de duas mil APAES difundidas no Brasil, que oferecem atendimento a cerca de 250.000 pessoas com deficiência (FENAPAES, 2014).

Segundo a Federação, as áreas de atuação das APAE são: defesas de direitos; trabalho em comunidade; promoção da saúde para o envelhecimento saudável; apoio à família; apoio à inclusão escolar; escola especial da APAE; inclusão no trabalho; autogestão e autodefensoria.

Criada no Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro de 1954, logo se expandiu para outras capitais e depois para o interior dos Estados. Em Feira de Santana, a unidade foi fundada em 1967 por pais de alunos com deficiência, e desativada em 1974, sendo reaberta em 1984 por um grupo de profissionais da área de saúde que se preocuparam com a falta de atendimento para as pessoas com deficiência na cidade e região (APAE, 2012).

Sediada no centro do município de Feira de Santana, a APAE apresenta uma estrutura que possibilita oferecer atendimento a aproximadamente 1.000 pessoas com deficiência que residem em Feira de Santana e em cidades circunvizinhas. A população atendida é constituída de ambos os sexos, a partir de 0 ano, sendo que 95% pertencem a uma classe socioeconômica de baixa renda e os demais a uma classe média baixa. A instituição realiza mais de 12.000 procedimentos ambulatoriais por mês junto à comunidade em geral de Feira e Municípios Pactuados (APAE, 2012).

A APAE de Feira de Santana é mantida através de convênios com a Prefeitura Municipal de Feira de Santana/Secretaria Municipal de Educação e Secretaria

Estadual de Educação para a concessão de professores, zeladores e vigias; com a Secretaria de Assistência Social, através da ação continuada; e outros convênios temporários com órgãos governamentais, além de doação de sócios e eventuais particulares (APAE, PPP, 2011).

A instituição, além de ter a parte administrativa, conta com mais dois setores: o ambulatorial e o escolar. Os serviços oferecidos no ambulatório são: prevenção da excepcionalidade infantil (triagem neonatal – “Teste do Pezinho”); neurofisiologia (eletroencefalograma); neuropediatria; psiquiatria; psicologia; serviço social; fonoaudiologia; fisioterapia; terapia ocupacional; estimulação precoce e integração sensorial; psicologia; psicopedagogia e atividades neuromotoras.

O setor escolar é constituído pela Escola Normando Alves Barreto11, que tem como objetivo garantir o direito de educação para todos, promovendo ações por uma educação integral, expressa em compromissos claros e definidos em sua proposta pedagógica. A referida proposta consiste no atendimento educacional de crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual e autistas, associado ao envolvimento de suas famílias, em uma perspectiva que contempla a escolarização e os princípios da inclusão social em sua plenitude (APAE, 2012).

A APAE de Feira de Santana oferece atendimento educacional a alunos não apenas com a deficiência intelectual, mas também com deficiência múltipla, transtorno global de desenvolvimento e paralisia cerebral. Porém, todos os alunos, apresentam também um déficit cognitivo e têm o diagnóstico de deficiência intelectual. Isso justifica o foco desta pesquisa ter sido com professoras de alunos com deficiência intelectual e múltipla.

O setor educacional da APAE está dividido em dois núcleos: o Núcleo de Educação Básica (NEB) – hoje chamado de Centro de Atendimento Educacional Especializado Mediar – que atende alunos de 05 a 14 anos de idade. Antes da implantação do AEE oferecia aos alunos desse núcleo estimulação sensorial, educação infantil, alfabetização e 1ª série. O outro é o Núcleo de Educação Profissionalizante (NEP) para alunos a partir de 15 anos de idade, que se destina à Educação de Jovens e Adultos, atendimento especializado para alunos com características do autismo e oficinas pré-profissionalizantes, tais como: confeitaria,

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reciclagem de papel, artesanato, serigrafia, pinturas especiais, jardinagem (APAE, 2012). Como o estudo foca apenas no AEE, será detalhado a seguir a dinâmica de funcionamento do mesmo.

O Centro de Atendimento Educacional Especializado Mediar foi implantado no ano de 2011, vinculado ao NEB. Os alunos do AEE da APAE frequentam os atendimentos especializados duas vezes por semana, no horário oposto ao da escola regular.

A APAE de Feira de Santana elenca alguns objetivos no seu projeto de implantação do AEE, são eles:

Complementar e/ou suplementar o desenvolvimento global da pessoa com deficiência intelectual, múltiplas e transtornos globais do desenvolvimento através da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que possibilitem sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem;

Contribuir no processo de aprendizagem de alunos com deficiência intelectual, múltiplas e transtornos globais, matriculados na rede regular de ensino;

Favorecer o desenvolvimento dos processos intelectuais, através da estimulação cognitiva e sócio-afetiva em atividades que permitam a descoberta e a criatividade;

Estimular através de atividades em grupo, experiências diferenciadas para aprendizagem de linguagens, códigos específicos, comunicação, sinalização e tecnologias assistivas;

Proporcionar atividades diversificadas, de forma a complementar o currículo nas áreas de interesse e/ou de habilidades do aluno;

Capacitar os professores da rede regular de ensino para o trabalho no processo de inclusão de pessoas com deficiência;

Apoiar as escolas regulares de forma a garantir o acesso e permanência das pessoas com deficiência através de um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais (APAE, 2011, p. 22)

Os objetivos, portanto, demonstram a preocupação e interesse da APAE em cumprir o que está regulamentado na lei acerca dos propósitos deste atendimento para os alunos com deficiência.

O documento que regulamenta o AEE na instituição prevê a organização do atendimento através da sistematização de oito Salas de Ambiente Temática (SAT), que são: 1) linguagem e comunicação; 2) raciocínio lógico matemático; 3) jogos e brincadeiras; 4) artes cênicas; 5) artes plásticas; 6) natureza e sociedade; 7)

informática e 8) atividades aquáticas, que serão detalhados a seguir, de acordo com seu projeto. Todas as ações desenvolvidas pelas SATs possibilitam o desenvolvimento de processos mentais como: percepção, memória, raciocínio, imaginação e criatividade, socialização e concentração do aluno. Essas ações se encaixam numa programação elaborada nas observações das áreas do conhecimento de forma a subsidiar os conteúdos e conceitos defasados no processo de aprendizagem, para atingir o currículo da classe comum. (APAE, PPP, 2011).

A SAT de linguagem e comunicação tem o objetivo de estimular o desenvolvimento da linguagem oral e escrita, ampliação do vocabulário e meta- cognição, foca também no desenvolvimento da capacidade de produção oral e escrita, fortalecendo a autonomia do aluno em decidir, opinar, escolher, tomar iniciativas.

A SAT de Raciocínio lógico-matemático preconiza o trabalho de contagem, formas, orientação espacial, operações numéricas. O objetivo é a realização de atividades que estimulem números e operações (aritmética e álgebra), espaço e formas (geometria), grandezas e medidas (aritmética, álgebra e geometria),ficando evidente a necessidade de se pensar e de se organizar as situações de ensino e aprendizagem, privilegiando as chamadas intraconexões das diferentes áreas da Matemática e as interconexões com as demais áreas do conhecimento.

A SAT de Jogos e brincadeiras beneficia a ampliação das coordenações motoras global, fina e óculo-manual; trabalha com as valências psicomotoras, tais como: esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial e temporal, e discriminação visual e auditiva. Ademais, enfatiza aspectos afetivo-emocionais como frustração, perda, erro e competitividade.

A SAT de artes cênicas estimula o alargamento da expressão corporal e oral, e do esquema corporal dos alunos a partir de um trabalho realizado com os aspectos afetivo-emocionais e da subjetividade. Objetiva fazer com que o educando reflita sobre temas e ações e crie formas de arte com ênfase na expressão corporal e emocional do discente, visando apresentações em palco ou local de representação para um público. Já a SAT de artes plásticas possibilita explorar as expressivas manifestações artísticas do aluno utilizando-se de técnicas de produção que manipulam materiais para construir formas e imagens que revelem uma concepção estética e poética em um dado momento histórico.

Natureza e sociedade constituem outra SAT que prioriza o trabalho a partir de atividades reflexivas em relação ao conhecimento de si mesmo e da realidade na qual o aluno se insere, levando em consideração valores, autoconhecimento, meio ambiente e cidadania. Já a SAT de informática tem fundamental importância, pois propõe um encontro com o mundo digital complementa os trabalhos realizados nas demais salas, trabalhando principalmente os conhecimentos de raciocínio lógico, comunicação e linguagem.

A SAT de atividades aquáticas promove atividades recreativas na piscina, possibilitando o desenvolvimento do comportamento motor aquático e a socialização entre os alunos.

É importante mencionar que a metodologia utilizada nas SAT ocorre a partir da realização de atividades lúdico-didáticas em ambientes que possibilitam a construção do conhecimento por meio de vivências de forma grupal e/ou individual, partindo das necessidades e dificuldades de aprendizagem específica de cada um (APAE, 2011). As atividades de apoio didático-pedagógico nas Salas Temáticas obedecem ao currículo requerido pela LDB Nº 9.394/96, com as adaptações necessárias ao respeito e ao ritmo individual de cada aluno, mas investindo num referencial que contemple o “saber”, o “saber fazer” e o “saber ser” (APAE, PPP, 2011).

Dessa forma, o AEE buscar organizar a prática pedagógica em Salas Temáticas para possibilitar a individualização do ensino de acordo com as particularidades de todos os alunos. Pressupõe um trabalho de planejamento coletivo e de colaboração entre os profissionais, centrando-se no contexto do grupo, atendendo os alunos com necessidades educativas especiais e contribuindo, dessa forma, com o processo de inclusão escolar. As adaptações curriculares, tanto no que se refere às adaptações dos objetivos e dos métodos, como também da avaliação, ocorrem como uma das formas mais específicas de contemplar as necessidades individuais do aluno.

O documento do AEE expressa ainda que a avaliação deva ser entendida como resposta ao desenvolvimento do aluno e compreendida como suporte do processo de ensino e aprendizagem. Assim, é preciso que a avaliação seja diagnóstica, processual e mediadora, envolvendo toda a comunidade escolar. O relatório de avaliação é realizado pelo professor constituindo-se na síntese do

acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem ao longo do semestre. Nesse sentido, a prática dos relatórios de avaliação exige do professor observação atenta às manifestações dos alunos e registros desse processo, realizando reflexão teórica sobre tais manifestações, bem como intervenções adequadas. A expressão do processo e dos resultados alcançados é apresentada no relatório através de menções (A – atingiram os objetivos, EP – em processo e NA – não atingiram os objetivos) e de um parecer descritivo (APAE, PPP, 2011).