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2 OS DIVERSOS OLHARES DO ESTADO DA ARTE SOBRE O OBJETO DE ESTUDO

2.1 O CONTEXTO DA DIVERSIDADE E A ESCOLARIZAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: IMPACTOS NO SER PROFESSOR

2.1.4 O professor do AEE: dilemas e desafios atuais

Esta seção se dedica a traçar algumas reflexões acerca do trabalho que é realizado pelo professor que atua no AEE. Entretanto, é importante destacar que não se trata em especificar apenas sobre as professoras que atuam na instituição pesquisada, pois a discussão versada neste tópico é mais ampla, abarcando de uma forma geral os dilemas e desafios dos professores que atuam no AEE, sejam eles atuantes nas instituições especializadas ou nas salas de recursos das escolas de ensino regular.

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Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC-III), Wechsler Adult Intelligence Scale (WAIS-III), Stanford-Biner-IV e Kaufman Assessment Battery for Children.

De acordo com as reflexões de Monteiro (1998), o professor do AEE necessita conhecer o desenvolvimento do aluno e de que forma ocorre sua aprendizagem para auxiliá-lo no processo de inclusão. Santos (2005) enfatiza que os professores devem ter a compreensão de que os alunos estão na escola para aprender, e que todos eles sabem fazer alguma coisa muito bem; e as coisas que não sabem, necessitam ser estimuladas.

O professor do Atendimento Educacional Especializado deve propor atividades que contribuam para a aprendizagem de conceitos, além de propor situações vivenciais que possibilitem esse aluno organizar o seu pensamento. Esse atendimento deve se fundamentar em situações- problema que exijam que o aluno utilize o seu raciocínio para a resolução de um determinado problema (GOMES; POULIN: FIGUEIREDO, 2010, p.8).

A LDB de 1996, em seu Artigo 59, Inciso III, determina professores com especialização adequada em nível médio e superior para atendimento educacional especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns (BRASIL, 1996).

Pelo que é preconizado na legislação os professores que atuam no AEE devem ter especialização e capacitação para tal tarefa. A Política Nacional de Educação na perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, faz referência à formação do professor que atua na educação especial, afirmando que o mesmo deve contemplar em sua formação, incluindo a inicial e a continuada, os conhecimentos essenciais para a destreza da docência e as especificidades da área da educação especial. Ademais, menciona que esta formação deve possibilitar a atuação no AEE, nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos multifuncionais, nos núcleos de acessibilidade das instituições de ensino superior, nas classes hospitalares e no atendimento domiciliar, todos com foco na oferta de serviços da educação especial.

Cabe aqui questionar se a maneira como a formação inicial e continuada tem sido articulada e materializada conduz para a constituição de um professor que esteja preparado para atuar nos referidos lugares citados no documento de 2008, pois, apesar de ter a garantia legal desse embasamento, temos percebido que os cursos de formação das licenciaturas têm destinado disciplinas bem difusas que discutem as questões da escolarização da pessoa com deficiência. E em relação à formação continuada, será que a discussão que permeia a atuação nas classes

hospitalares e no atendimento domiciliar tem se concretizado a partir de vivências nesses ambientes? Ou apenas depois da formação é que se deparam pela primeira vez com as demandas específicas desses espaços?

É importante frisar que a Secretaria de Educação Especial e a Secretaria de Educação a Distância oferecem o Curso de Aperfeiçoamento de Professores para o Atendimento Educacional Especializado. Este curso é realizado através do

Programa de Educação Inclusiva: Direito à Diversidade13 e a ênfase é nas áreas da deficiência física, sensorial e mental, tendo uma carga horária de 180 horas (distribuídas em aulas presenciais e a distância), com os seguintes componentes curriculares: AEE, AEE em deficiência mental, AEE em deficiência física, AEE em deficiência auditiva, AEE em deficiência visual trabalho final do curso (BRASIL, 2006).

Aqui já posso elucidar que o próprio Ministério da Educação traz em seus documentos que o professor do AEE necessita ter uma formação ampla para atuar em vários ambientes que ofertem serviços e recursos da educação especial e ainda elenca como alunos do AEE os com deficiência, os alunos com transtorno global do desenvolvimento e os com altas habilidades. Porém, oferece um curso de aperfeiçoamento que não contempla a dimensão que o próprio Ministério exige. Uma problemática deste programa é que o público alvo do referido curso é constituído pelos professores (especializados ou não) efetivos das redes de ensino básico dos 162 municípios-pólos do sendo que cada município-pólo pode selecionar apenas 10 professores para participarem do curso. E onde ficam os outros tantos professores para atender os outros tantos alunos com deficiência? De fato existe a necessidade emergencial de repensar a forma como as políticas públicas de formação estão sendo sistematizadas.

Em relação às funções desempenhadas pelo professor que atua no AEE, recomenda-se no documento do Ministério de Educação (BRASIL, 2010a, p. 04 e 05):

Elaborar, executar e avaliar o Plano de AEE do aluno, contemplando: a identificação das habilidades e necessidades educacionais específicas dos alunos; a definição e a organização das estratégias, serviços e recursos

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O programa promove a formação continuada de gestores e educadores das redes estaduais e municipais de ensino para que sejam capazes de oferecer educação especial na perspectiva da educação inclusiva (BRASIL, 2006).

pedagógicos e de acessibilidade; o tipo de atendimento (...); o cronograma do atendimento e a carga horária, individual ou em pequenos grupos; Programar, acompanhar e avaliar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade no AEE, na sala de aula comum e nos demais ambientes da escola;

Produzir materiais didáticos e pedagógicos acessíveis, considerando as necessidades educacionais específicas dos alunos e os desafios que estes vivenciam no ensino comum, a partir dos objetivos e das atividades propostas no currículo;

Estabelecer a articulação com os professores da sala de aula comum e com demais profissionais da escola, visando à disponibilização dos serviços e recurso e o desenvolvimento de atividades para a participação e aprendizagem dos alunos nas atividades escolares; bem como as parcerias com as áreas intersetoriais;

Orientar os demais professores e as famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno de forma a ampliar suas habilidades, promovendo sua autonomia e participação;

Desenvolver atividades próprias do AEE, de acordo com as necessidades educacionais específicas dos alunos: ensino da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS para alunos com surdez. Ensino da Língua Portuguesa escrita para alunos com surdez; ensino da Comunicação Aumentativa e Alternativa – CAA; ensino do sistema Braille, do uso do soroban e das técnicas de orientação e mobilidade para alunos cegos. Ensino da informática acessível e do uso de Tecnologia Assistiva – TA; ensino de atividades de vida autônoma e social; orientação de atividades de enriquecimento curricular para as altas habilidades/superdotação; e promoção de atividades para o desenvolvimento das funções mentais superiores.

Pôde-se contemplar aí uma infinidade de funções que estão atreladas aos professores do AEE. Talvez muitos professores que atuam nesse segmento educativo desconheçam o que está posto no documento do Ministério da Educação, embora alguns se esforcem para materializarem na sua prática pedagógica a maioria dessas funções.

Em relação à última função que foi preconizada no documento do Ministério da Educação, posso ousar dizer que esta realidade não é tão comum, haja vista que alguns professores dispõem apenas de alguns conhecimentos básicos acerca de libras, tecnologia assistiva e Braille. No caso específico da APAE de Feira de Santana, como a clientela atendida é composta por alunos com deficiência intelectual e/ou múltiplas, tendo alunos também com paralisia cerebral e transtorno global do desenvolvimento, é perceptível o conhecimento dos professores atrelado aos métodos de escolarização da pessoa com autismo (como método de Análise

Aplicada ao Comportamento14 e TEACCH15), comunicação alternativa16 e outros recursos que favorecem a aprendizagem do alunado.

Percebo que a apropriação das especificidades de conhecimentos está atrelada às demandas que surgem no AEE, pois, a partir do momento que lhe é apresentado um aluno com deficiência visual, o professor necessita dominar o sistema Braille, por exemplo. Uma formação que leve em conta o exercício docente e as demandas exigidas em cada ambiente escolar é uma alternativa para que o professor amplie o seu conhecimento teórico-prático e possa concretizar suas práticas pedagógicas.

2.1.5 Identidade profissional docente e o trabalho com pessoas com