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4 TRAJETÓRIA DA PESQUISA: ARCABOUÇO METODOLÓGICO

4.4 PROTOCOLO DE ANÁLISE DE DADOS

Para dar um tratamento analítico aos dados, foi realizada uma análise qualitativa que tem como ponto fundante buscar uma apreensão de significados na fala dos sujeitos, interligada ao contexto em que eles se inserem e delimitada pela abordagem conceitual (teoria) do pesquisador, trazendo à tona, na redação, uma sistematização baseada na qualidade. Mesmo porque, um trabalho desta natureza não tem a pretensão de atingir o limiar da representatividade.

Mais especificamente, utilizou-se do discurso para compreender os sentidos e significados das relações experienciais, afetivas e pedagógicas estabelecidas no

NEFD, expressas pelas professoras através de suas narrativas, valores, crenças, atitudes e afirmações no contexto da instituição. Sabe-se que o discurso produz significações que sustentam uma visão de mundo e de compreensão dos fenômenos que nos cercam. Assim, optei por utilizar o Método de Explicitação do

Discurso Subjacente (MEDS) para dar profundidade ao que está implícito no

discurso manifesto. Diria, então, que esse protocolo foi o holofote para compreender as influências do NEFD nas práticas pedagógicas de professoras de alunos com deficiência intelectual e/ou múltiplas.

De acordo com Nicolaci-da-Costa (2007), um pressuposto do MEDS é a transcendência da linguagem, na qual a língua em uso expressa o todo social, sendo fator importante para a construção e reconstrução da percepção da realidade, e o discurso pode revelar valores atribuídos. Parte, portanto, da pressuposição de que “qualquer característica linguística ou paralinguística34 que seja recorrente nos discursos dos participantes de uma pesquisa pode ser uma importante via de acesso a aspectos de nossa configuração interna – desejos, aspirações, conflitos, etc. – que nós próprios muitas vezes desconhecemos” (NICOLACI-DA-COSTA; LEITÃO, ROMÃO-DIAS, 2004, p. 53).

Portanto, durante todo o percurso da pesquisa, levaram-se em consideração as narrativas das professoras, sejam elas individuais ou coletivas, que sempre estavam carregadas de emoção, certezas, dúvidas, intencionalidades, e que talvez não tivessem tido, ainda, a oportunidade de se manifestarem.

É importante demarcar que na análise levou-se em consideração o fato de que o que foi importante para as professoras a respeito das experiências e aprendizados construídos, inevitavelmente permeou o discurso espontâneo delas. Enquanto pesquisadora, sempre as ouvia da forma mais livre possível e também de forma sistemática, através das entrevistas já destacadas no tópico anterior. Muitas vezes, os discursos não são verbalizados explicitamente nos momentos das entrevistas mais formais; porém, durante o cotidiano, expressamo-nos e agimos de maneira que deixamos clara a concepção sobre determinado fenômeno que estamos implicados, bem como sentimentos e crenças sobre os mesmos, inclusive através de gestos e comportamentos nos encontros pedagógicos.

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É a parte da linguística que estuda os aspectos não-verbais que acompanham a comunicação verbal.

Para Nicolaci-da-Costa (2007, p.70), “as entrevistas não podem ser comparadas item por item, são comparados conceitos e temas que nelas apareceram”. Ainda para a mesma autora, o MEDS apresenta duas etapas importantes no processo de análise dos dados: 1) análise das respostas dadas pelo grupo de forma coletiva, ou seja, levar em consideração o grupo como um todo, a análise inter-participantes ou inter-sujeitos; 2) a análise minunciosa das entrevistas de cada um dos participantes caracterizada como análise intra-participantes ou intra- sujeitos. Assim sendo, no primeiro momento foi realizada a análise inter-participante que permitiu ter uma visão geral das narrativas das 12 professoras a partir do agrupamento das respostas. No segundo momento, foram analisados os discursos individuais, na tentativa de buscar conflitos, contradições, inconsistências e acessar o discurso subjacente. Vale destacar que essas análises inter e intra participantes também podem acontecer num processo iterativo. Abaixo podemos contemplar uma visão esquemática dos procedimentos do MEDS com a dinâmica que foi utilizada no capítulo seguinte:

Figura 05 – Esquema dos procedimentos de análise do MEDS

Fonte: Nicolaci-da-Costa, Leitão e Romão-Dias (2004)

A figura acima permite compreender que as respostas dos sujeitos participantes do estudo, analisadas de forma inter e intra-sujeitos, trazem recorrências em suas narrativas, permitindo ao pesquisador propor categorias de análise para sistematizar seus resultados. Para a interpretação dos depoimentos coletados (de maneira formal e informal), optou-se pela abordagem êmica, em que as categorias emergem das falas dos participantes. Já que, de acordo com Taylor (2001), também existe a abordagem ética, em que as categorias são estabelecidas previamente com base nas teorias que sustentam a pesquisa.

Ao realizar a etapa da análise inter-sujeitos, foi possível visualizar as características internas geradas pela experiência do grupo social, neste caso, o coletivo de professoras. Já na etapa de análise intra-sujeitos, foi possível visualizar as recorrências discursivas de cada uma das 12 professoras e das 03 coordenadoras pedagógicas, fazendo identificar os aspectos que são importantes particularmente. Neste percurso, buscou-se perceber também alguns contrastes entre informações concretas e afirmações abstratas presentes nos discursos das participantes e nos diversos momentos interativos e relacionais nos encontros pedagógicos.

Como se tratou de uma pesquisa participante, a proposta não foi analisar os dados de forma isolada enquanto pesquisadora, mas como pesquisadoras, entendendo que as professoras assim se fazem nesta pesquisa. E à medida que o tratamento analítico foi sendo realizado, as professoras foram também se entrecruzando nos dados. Por isso, as categorias temáticas que emergiram das suas falas, bem como trechos de seus discursos, foram apresentados em alguns encontros pedagógicos e se tornaram também conteúdos de formação.

Inicialmente, sistematizei categorias de análise e apresentei trechos de falas que me permitiram chegar à categoria êmica. Essa dinâmica foi processual, pois foram realizadas três coleta de dados. A partir do momento em que eram identificados aspectos que deveriam ser trabalhados com as professoras, os mesmos passavam a serem conteúdos dos encontros pedagógicos.

Nessa conjuntura, as próprias falas das professoras e as histórias de cada uma ganharam importância ainda maior porque tratavam de suas realidades, de seus anseios e, por isso, eram carregados de sentidos e significados. Agora, nesta tese, a intencionalidade são as trajetórias formativas das professoras do AEE, organizadas através do NEFD.

5 AS TESSITURAS DO NÚCLEO DE ESTUDOS E FORMAÇÃO DOCENTE E AS