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2 OS DIVERSOS OLHARES DO ESTADO DA ARTE SOBRE O OBJETO DE ESTUDO

2.2 O CONTEXTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES

Este estudo propôs a se debruçar sobre as práticas pedagógicas de professoras no AEE, reconhecendo que este termo não é de fácil definição, visto que o mesmo, segundo Franco (2012), é constituído por um conjunto complexo e multifatorial. Ademais, para compreendermos a definição de práticas pedagógicas, faz-se necessária também a compreensão de outros termos afins, como prática educativa e prática docente, até porque é comum serem considerados como sinônimos. Para traçar o paralelo entre esses termos, optei pelas reflexões da autora Maria Amélia Franco que há anos vem se dedicando aos estudos conceituais da pedagogia com realce nas práticas pedagógicas.

O termo prática educativa refere-se às práticas que ocorrem para a concretização de processos educacionais; já as práticas pedagógicas fazem referência às práticas sociais desempenhadas com a intenção de materializar os processos pedagógicos. Ou seja, as práticas pedagógicas se articulam intencionalmente para acolher a determinadas perspectivas educacionais solicitadas e/ou demandadas por dado grupo social que, neste estudo, são os alunos com deficiência intelectual e/ou múltiplas.

A prática docente é prática pedagógica quando esta se introduz na intencionalidade presumida para sua ação. Desta forma, a prática docente ordena o sentido da prática pedagógica a partir do momento em que o professor compreende a sua responsabilidade social, que se conecta e se empenha em relação aos aspectos preconizados pelo Projeto Político Pedagógico da escola, que confia que seus afazeres docentes são expressivos na vida de seus alunos, enfim, que tem uma prática docente pedagogicamente fundamentada (FRANCO, 2012).

É importante enfatizar que, ainda segundo a mesma autora, as práticas docentes não se modificam de dentro das salas de aula para fora, mas, ao oposto. Ou seja, pelas práticas pedagógicas, as práticas docentes podem ser transformadas

para melhor ou para pior. A sala de aula se prepara pelo encadeamento de práticas pedagógicas que a abrangem e com ela dialogam.

O professor, ao construir sua prática pedagógica, está em contínuo processo de diálogo com o que faz, por que faz e como deve fazer. É quase que intuitivo esse movimento de olhar, avaliar, refazer. Construir, desconstruir; começar de novo; acompanhar e buscar novos meios e possibilidades. Essa dinâmica é o que faz da prática uma prática pedagógica (FRANCO, 2012, p. 170).

Para pensar nas práticas pedagógicas no AEE é preciso levar em consideração também a confluência de muitos aspectos que repercutem na prática docente, isto é, as decisões que antecedem as práticas realizadas em sala de aula e as que extrapolam a sala de aula (como a participação dos pais no processo de ensino e aprendizagem), os materiais didáticos a serem utilizados, os métodos de ensino, o atendimento à diversidade de alunos.

Diante desta conjuntura, podemos nos referir mais uma vez ao fato de que as práticas pedagógicas abarcam vários fatores, ou seja, são multifatoriais. E como diz Sacristán (1999), são aninhadas, já que o ato de educar, a ação educativa transcende às ações dos professores e extrapola os limites físicos da sala de aula. O autor menciona um sistema de práticas aninhadas, no qual vários contextos estão incluídos uns nos outros, e contemplam:

a) Existência de uma prática educativa e de ensino, em sentido antropológico, anterior e paralela à escolaridade própria de uma determinada sociedade ou cultura.

b) Nesse ambiente cultural, desenvolvem-se as práticas escolares institucionais, entre as quais podemos distinguir:

- práticas relacionadas com funcionamento do sistema escolar, configuradas pelo funcionamento que deriva da própria estrutura;

- prática de índole organizativa estável nas utilizações próprias da organização específica das escolas;

- práticas didáticas e educativas interiores à sala de aula, que é o contexto imediato da atividade pedagógica, onde tem lugar a maior parte da atividade de professores e alunos.

c) Além disso, fora do sistema educativo, realizam-se atividades práticas que, não sendo estritamente pedagógicas, podemos considerar concorrentes das atividades escolares.

De acordo com Pimenta (2002), as práticas docentes contêm a problematização, a intencionalidade para encontrar soluções, a experimentação metodológica, o enfrentamento de situações de ensino complexas e as tentativas de uma didática inovadora.

Neste sentido, podemos mencionar o que Sacristán (1999) define como práticas aninhadas também para o conceito da prática educativa, pois abarca as ações de responsabilidade do professor que, normalmente, ocorrem em sala de aula.

A prática docente não se restringe no visível da prática pedagógica em sala de aula, e não é exterior às condições sociais, emocionais, profissionais e culturais do professor, como também não se realiza unicamente nos procedimentos didático- metodológicos utilizados em classe. Para além das referidas práticas aninhadas, há todo um sistema de representações coletivas e configurações pessoais que determinam as decisões do docente frente às demandas institucionais e organizacionais.

Popkewitz (1986 apud SACRISTÁN, 1999) menciona que o conhecimento da prática pedagógica e a possibilidade de modificá-la sugerem a apreensão da influência mútua entre três níveis ou contextos distintos, a saber: 1) o contexto eminentemente pedagógico, constituído pelas práticas cotidianas da classe que definem os papéis que, de maneira mais próxima, dizem respeito aos professores; 2) o contexto profissional dos professores, que abarca ideologias, crenças, conhecimentos e rotinas que também legitimam suas práticas; 3) e o contexto sociocultural que proporciona valores e conteúdos considerados importantes.

Segundo Sacristán (1999), a prática educativa está conectada nos processos de ensino e aprendizagem e a própria investigação reporta-se, sobretudo, à ação didática. Entretanto, a atividade docente não se reduz a esta prática pedagógica aparente / concreta, sendo preciso consultar outras dimensões menos evidentes. Para explicitar melhor esse aspecto, o autor apresenta um exemplo esclarecendo a necessidade de abranger o conceito de “prática” no sentido de não limitá-la ao

domínio metodológico e ao espaço escolar, já que a mesma não se restringe às ações dos professores.

Pegando num exemplo prático, verifica-se que o ensino de uma língua: implica usos metodológicos, avaliações psicológicas de diferentes processos de aprendizagem, partilha de competências; tem a ver com o que os professores consideram útil ensinar aos alunos de um determinado grupo social; exprime avaliações epistemológicas do professor sobre a importância de um conteúdo; demarca normas de comportamento na aula, reflete valores sociais sobre a importância das línguas e pressões de grupos de especialistas; etc. Tudo isto configura a prática, que é tudo isto ao mesmo tempo (SACRISTÁN, 1999, p. 68)

Sobre a prática pedagógica, Cunha (2013) ressalta que três etapas são importantes:

1) Observação: necessária para conhecer o aluno, suas limitações e