• Nenhum resultado encontrado

AFASTOU-SE PARA A CASA DO PAI UM DEDICADO SACERDOTE POLÔNICO

Zdzislaw MALCZEWSKI SChr*

No dia 28 de outubro deste ano, na Casa Provincial da Sociedade de Cristo em Curitiba, com a idade de 78 anos, faleceu, após mais de dois meses de doença e sofrimento, o Pe. Paulo Piotrowski SChr, que por muitos anos prestou assistência à comunidade polônica brasileira.

No dia 31 de outubro do ano corrente, na igreja paroquial de Nossa Senhora de Nazaré em Curitiba, realizaram-se as solenidades de sepultamento do Pe. Paulo. Antes da missa, com recolhimento e piedade, os fiéis recitaram pela alma do sacerdote o rosário. Após os ritos iniciais da Eucaristia, o Pe. João Nowinski SChr, pároco local, dirigiu aos sacerdotes e fiéis presentes as suas palavras de saudação. Lembrou que o Pe. Paulo foi o primeiro cura dessa paróquia, por um período de nove anos. A seguir o Pe. Casimiro D³ugosz SChr, provincial da Sociedade de Cristo, saudou os hierarcas presentes, o clero e os fiéis. Apresentou também aos presentes a biografia do Pe. Paulo. A solene missa concelebrada foi presidida pelo arcebispo metropolitano emérito Dom Pedro Fedalto. Com ele concelebraram: o bispo Dom Rafael Biernaski – auxiliar da arquidiocese de Curitiba, o bispo Dom Antônio Wagner da Silva SCJ – ordinário da diocese de Guarapuava e outros 25 padres. Participaram da Eucaristia numerosos fiéis da paróquia local, bem como delegações de comunidades onde o Pe. Paulo exerceu o ministério sacerdotal (Balsa Nova e Quedas do Iguaçu). Dom Pedro Fedalto pronunciou também o sermão ocasional. No final da missa, expressaram os seus agradecimentos diante do sacerdote falecido: o arcebispo Dom Pedro Fedalto, o bispo Dom Rafael Biernaski, o bispo Dom Antônio Wagner da Silva, o reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, representantes da paróquia local, bem como um delegado da paróquia de Quedas do Iguaçu. No final o provincial da Sociedade de

Crônicas

Cristo agradeceu a todos pelas orações, pela solidariedade e pela participação na Eucaristia comum.

Após a santa missa o corpo do falecido foi transportado ao cemitério paroquial em Bateias, onde os padres da Sociedade de Cristo possuem uma capela em que descansam os corpos de três sacerdotes falecidos: Pe. Luís Gazda, Pe. Boleslau Liana e Pe. Geraldo Pilich. Os ritos de despedida foram presididos pelo Pe. Casimiro Długosz SChr – provincial da Sociedade de Cristo. Ele também leu o texto de uma mensagem que foi enviada da Polônia pela família do falecido Pe. Paulo, com o seguinte teor:

“O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2: 9).

Muitas vezes ouvimos as palavras acima do nosso querido Paulo. Em sua boca, essas palavras não soavam apenas como a recordação de uma verdade fundamental da nossa fé. Sentíamos e víamos que eram a expressão do seu anseio por aquilo que na terra está oculto pelo véu da fé e da esperança, pelo Amor da sua vida, que foi e é o Deus Uno e Trino. Ansiando pelo encontro com Ele na eternidade, procurou com todas as forças ser um bom servo Seu durante a sua vida terrena, como filho, irmão, e depois como sacerdote e tio. Somos testemunhas do seu amor à Igreja, à Sociedade de Cristo, da qual – como ele mesmo repetia – tanto havia recebido, à Pátria, aquela da qual partiu e aquela à qual ofereceu a maior parte da sua vida, e à família, para a qual foi um verdadeiro protetor espiritual.

Hoje, não podendo participar pessoalmente das solenidades do sepultamento, unimo-nos em oração com todos que ali se encontram presentes – bispos, sacerdotes, paroquianos e amigos do nosso falecido Irmão e Tio Paulo, e agradecemos pela presença de vocês. Encaminhamos palavras da nossa cordial gratidão igualmente a todas aquelas pessoas que nestas últimas semanas de vida do Padre Paulo, assinaladas pela doença e pelo sofrimento, envolveram-no de solícitos cuidados e amor. Que o bom Deus abençoe a vocês todos e os recompense pela dedicação e pelo amor demonstrados!

Com expressões de gratidão e lembrança na oração,

As irmãs Irmã Maria e Irmã Estanislava, da Congregação das Irmãs da Caridade de S. Vicente de Paulo, o irmão João com sua família, a irmã Iolanda com sua família.

Nasceu no dia 27 de junho de 1933 em Gniezno, filho de João e Irene. Após a conclusão do seminário maior da congregação, foi ordenado sacerdote no dia 20 de abril de 1958 na catedral de Poznań. Exerceu a prática pastoral nas paróquias da congregação na Pomerânia Ocidental. Veio ao Brasil no dia 14 de novembro de 1962. Inicialmente trabalhou nos núcleos pastorais da Sociedade de Cristo em Triunfo e Guarani das Missões, como vigário. Nos anos 1966-1969 exerceu a função de prefeito no seminário menor da Sociedade de Cristo em Camaquã (RS), e a seguir, a de ecônomo da congregação no Brasil. Numa enquete elaborada pelo Pe. Casimiro Długosz SChr – atual superior da nossa província, o Pe. Paulo escreveu: “Muitas vezes a minha permanência na paróquia tem terminado com a entrega dessa paróquia – Kluczewo, Mendes, Matinhos, Campo Largo, Ijuí (neste ponto convém assinalar que as duas últimas

paróquias mencionadas foram entregues em período posterior, não imediatamente após a transferência do Pe. Paulo desses núcleos – nota Z. M.). E a maior calamidade

foi Camaquã, onde eu dei o máximo do meu empenho”.

Durante os três anos seguintes foi provincial (1969-1972) da Sociedade de Cristo no Brasil. Nos anos 1972-1973 trabalhou como pároco na paróquia de Mendes (RJ). No segundo semestre de 1972 o Pe. Paulo foi nomeado reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil. Em outubro daquele ano fixou residência no Rio de Janeiro. Como reitor, preocupou-se em organizar cursos de língua portuguesa para os padres que vinham da Polônia ao Brasil. Graças a isso, os padres pallotinos estabeleceram-se no Rio de Janeiro. O pe. Piotrowski contribuiu também para que os franciscanos poloneses viessem ao Brasil. Eles se aconselhavam perguntando se deviam ir à África ou ao Brasil. O Pe. Paulo reuniu e enviou-lhes argumentos favoráveis ao Brasil, com o que deixaram convencer-se. Como reitor da MCP, passou com eles o primeiro Natal no estado de Goiás. No início de 1975 mudou-se do Rio de Janeiro para Curitiba. Para não perder o contato com o trabalho pastoral, prestou ajuda na paróquia de Campo Largo, onde era pároco o Pe. João Sobieraj SChr. Após exercer por alguns anos a função de reitor da MCP, o Pe. Paulo enviou ao Primaz da Polônia um pedido para ser dispensado da função ocupada. Nos anos 1976-1977 foi pároco em Matinhos (PR). Em 1977 assumiu a paróquia

Crônicas

pessoal polonesa de Nossa Senhora do Monte Claro no Rio de Janeiro, onde exerceu o ministério de pároco por 12 anos. Do Rio de Janeiro foi encaminhado à paróquia da Natividade de Nossa Senhora em Ijuí (RS), de onde alguns meses depois encaminhou-se ao trabalho pastoral na Ucrânia. Algum tempo depois voltou e tornou-se pároco em Campo Largo (PR). No dia 13 de outubro de 1991 assumiu as funções de pároco da paróquia de Bom Jesus naquela cidade. Comovente e ao mesmo tempo edificante é o pronunciamento do Pe. Paulo que encontrei no Arquivo da Província da Sociedade de Cristo numa carta do dia 24 de outubro de 1994 ao então padre provincial: “Ao trabalho nessa paróquia (em Campo Largo – Nota Z. M.) entreguei todo o meu entusiasmo e todas as minhas forças”! No dia 14 de novembro de 1994 foi encaminhado à paróquia pessoal polonesa no Rio de Janeiro para substituir o abaixo assinado, então pároco desse núcleo, num período de vários meses de permanência sua na Polônia. No dia 14 de janeiro de 1996 assumiu, como o primeiro pároco, a recém-criada paróquia de Nossa Senhora de Nazaré em Curitiba. Nessa paróquia ele se envolveu na organização dos setores pastorais. Sob a sua direção, foi construído junto à igreja paroquial um centro de pastoral e catequese. Um centro semelhante surgiu igualmente junto à capela de Nossa Senhora do Monte Claro. Com muita dedicação ele trabalhou ali até receber uma nova nomeação. No dia 1 de fevereiro de 2005 voltou como vigário à já mencionada paróquia em Campo Largo. No dia 2 de julho de 2007 tornou- se residente na paróquia do Bom Jesus em Balsa Nova. Após a volta de um período de férias na Polônia, no dia 26 de julho de 2007 foi transferido à paróquia de Quedas do Iguaçu, onde com dedicação e generosidade serviu aos fiéis até agosto de 2011, quando teve início uma doença em rápido progresso, que lhe causou muito sofrimento.

Na biografia acima inserida, uma grande parte da qual encontra-se no meu livro dedicado aos missionários poloneses no Brasil (Solicitude não apenas com

os patrícios, Curitiba, 2001, p. 96-97), falei do trabalho do Pe. Paulo na Ucrânia.

No dia 9 de janeiro de 1990 o jornal Słowo Powszechne publicou uma entrevista realizada por Romana Brzezińska com o Pe. Paulo e intitulada “Vou ajudar os poloneses na URSS”. Permito-me citar a parte inicial dessa entrevista:

à Polônia a fim de se preparar para o trabalho na União Soviética. Fale-nos da sua atividade até aqui.

Por nove anos trabalhei no Rio Grande do Sul, dois anos no estado do Rio de Janeiro. As etapas seguintes foram Curitiba e a cidade litorânea de Matinhos (60 quilômetros de praia e lindas areais...), e novamente o Rio – por 12 anos.

No começo eu tive sorte, porque ia visitar localidades de população polonesa para confissões no período do Advento e da Quaresma. Nessa ocasião conheci muitos núcleos poloneses. Organizei ali um seminário menor, que funcionou por algum tempo. Talvez estivéssemos menos preocupados com a vocação, e mais em ajudar na formação dos meninos das famílias polonesas em Camaquã, não longe de Porto Alegre. A longo prazo verificou-se, no entanto, que seria necessário um pedagogo, que nós não tínhamos. As difíceis condições financeiras fizeram com que em breve tivéssemos de abandonar esse trabalho. Trabalhei também em paróquias onde por diversas razões não havia poloneses, mas por mais tempo numa paróquia pessoal polonesa no Rio de Janeiro.

Por que o senhor voltou de um país tão exótico e tão bonito, onde um sacerdote polonês tem muito a fazer?

Voltei, porque acreditava que na realidade o padre polonês é necessário no Brasil, no entanto todos aqueles poloneses que passaram por tudo aquilo que sabemos, que sobreviveram na União Soviética, têm dele mais necessidade e eles devem ter a primazia. Voltei e estou me empenhando pela partida para a União Soviética...

Lá no Leste o polonismo ajudou a perseverar. A Polônia olhava para o Ocidente, e eles olhavam para a Polônia. Por isso vou lá com o meu ministério pastoral. Como ele vai ser na prática – não sei. (...) Sinto a necessidade de ajudar essas pessoas, que vivem na expectativa de uma ajuda da Pátria¨.

Como mencionei na biografia do Pe. Paulo, após um breve período ele voltou até nós no Brasil. Nas conversas sobre a estada na Ucrânia, ele pouco falava a respeito. Nós, mais jovens – então –, não tínhamos a coragem de perguntar a respeito do verdadeiro motivo da volta dele ao país do Cruzeiro do Sul. Nas conversas nós o víamos como uma pessoa muito discreta, fechada, que não queria falar daquela decisão de viajar para o Leste, cheia de entusiasmo,

Crônicas

de otimismo..., e depois, da volta ao Brasil. No Arquivo da Sociedade de Cristo em Curitiba, na pasta que contém a documentação do falecido Pe. Paulo, há um significativo número de cartas escritas da Ucrânia. Em algumas dessas cartas repete-se a frase: “Tenho saudade do Brasil”...

Não cabe a mim a avaliação da pessoa do falecido Pe. Paulo. Tive a possibilidade de permanecer algum tempo com ele no Rio de Janeiro, quando assumi depois dele a pastoral polônica nessa mais bela cidade do mundo. No período em que exerci o ministério no seio da comunidade polônica carioca e comecei a redigir uma monografia a respeito desse específico núcleo polonês de uma cidade grande, tive contato com pessoas e documentos que me familiarizaram com a pessoa do Pe. Paulo. Vou ser breve. Ele foi um grande patriota polonês. Serviu à causa polonesa com grande dedicação do coração e do espírito, com entusiasmo e dedicação do seu precioso tempo. Para fornecer um exemplo concreto, lembrarei apenas os anos do estado de sítio na Polônia, de cuja proclamação se passaram exatamente 30 anos. O Pe. Paulo celebrou uma missa pela Polônia, engajou-se então entre os poloneses e os brasileiros para coletar dinheiro a proporcionar aos compatriotas na Polônia a ajuda humanitária. Eram comprados alimentos e remédios e enviados à Polônia. Em sinal de solidariedade com a nação polonesa, no trigésimo dia após a proclamação do estado de sítio, o Pe. Paulo organizou uma manifestação dos poloneses no Parque do Flamengo, onde em 1980 o papa João Paulo II havia celebrado uma missa durante a sua primeira visita apostólica ao Brasil. Imitando os compatriotas, que depositavam flores em forma de cruz na Praça da Vitória em Varsóvia, os poloneses do Rio fizeram um gesto semelhante diante do monumento aos soldados brasileiros que pereceram na II Guerra Mundial. Uma manifestação semelhante ocorreu no primeiro aniversário da proclamação do estado de sítio. Dessas manifestações participaram representantes da Romênia, Hungria e Lituânia em trajes regionais. Essas manifestações públicas, que demonstravam a solidariedade com a Polônia, eram percebidas pela imprensa e pela televisão locais. No dia 19 de fevereiro de 1982 foi registrada oficialmente a “Associação Brasileira de Solidariedade com a Nação Polonesa” e os seus estatutos. Entre os fundadores dessa associação estava o Pe. Paulo, que se tornou o seu primeiro presidente. Naquele período