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Resenhas Resenhas que mais uma vida fora salva Quem, além de Jack e de mim, soube desse

fato? Quantos outros arriscaram anonimamente suas vidas para socorrer cri- anças ou adultos judeus?

Evidentemente houve também atos de antissemitismo, mas o que não se deve fazer é generalizar e afirmar, como o jornalista, que disse que o filme de Andrzej Wajda “A terra prometida” é antissemita, “porque o que pode-se esperar de um filme feito na Polônia?”. Diga-se de passagem que esse jor- nalista nem chegou a ver o filme.

Antes da guerra, havia cerca de 500 mil judeus na Alemanha e mais de 3.000.000 na Polônia. Possivelmente, a ser confirmado por um estudo, não foi tanto do antissemitismo do povo alemão, e sim da mente doente de Hitler que nasceu a ideia do Holocausto. A presença dos judeus na Alemanha era socialmente bastante diluída. Já na Polônia, em razão da acolhida que lhes deu o Rei Casimiro o Grande, demograficamente os judeus ocupavam um lugar de destaque. E não somente em termos demográficos. Eram também atuantes na cultura, na arte e na economia do país. Durante muito, muito tempo mesmo, a convivência entre cristãos e judeus poloneses foi eminen- temente pacífica. E gratos por essa acolhida, enquanto eram perseguidos no resto da Europa, o Rabino Moisés ben Israel Isserles pronunciou a seguinte frase: “Se Deus não tivesse dado aos judeus a Polônia como refúgio, o des- tino de Israel teria sido realmente insuportável”. A situação se deteriorou a partir da partilha da Polônia pelos nossos vizinhos: a Rússia, a Prússia e o Império Austro-Húngaro. Sobretudo na Rússia a situação dos judeus era particularmente tormentosa.

Estima-se que o grau do antissemitismo polonês era comparável ao de outros países da Europa. Infelizmente, essa praga persiste em vários quad- rantes. Ainda não aprendemos a lição de João XXIII: “Procuremos sempre o que nos une e não o que nos separa”.

Bem, o que ia ser uma resenha se transformou num “tratado” ou ensaio sobre as relações judaico-polonesas. Afinal, qual foi a revelação que o livro da Liliana me trouxe? Penso que foi a seguinte: o mal feito por um inimigo impessoal dói menos do que a afronta que sofremos de alguém que julga- mos próximo. Amigo, vizinho. As manifestações de antissemitismo de que Liliana foi vítima ao longo de sua vida a magoaram profundamente. “Veio para o que é seu e os seus não o receberam”. Esse lamento, que lemos no

Evangelho de São João, continua ecoando através dos séculos. Cito, a seguir, dois episódios do livro da Liliana:

(...) Certo dia, o time de vôlei do nosso colégio foi convidado pelo time do colégio público para uma competição. Eu era a capitã do time. Chegando à quadra de vôlei do Ginásio Nacional, fomos barradas por um padre com cara de passarinho, que proibiu categoricamente que o time das alunas jo- gasse contra o da escola polonesa de estudantes judias. Foi uma decepção e uma bofetada muito dolorosa.” “(...) Mas quando o trem acabara de cruzar, enfim, a fronteira polonesa, a ainda gorda senhora Obuchowska, viúva do tabelião de Pinsk, que havíamos alojado durante três meses em nossa casa e tratado com carinho quando ficara doente, apareceu no nosso vagão, de dedo em riste, e começou a expor as suas ideias antissemitas (...) Foi quando comecei a me dar conta de que nossa vida na Polônia, depois de tudo o que se sucedera, não seria mais viável.

Liliana, sua mãe e sua irmãzinha, puderam vir ao Brasil graças a ajuda de um padre polonês, que, na Suécia, lhes deu um documento afirmando que elas tinham sido batizadas. Naquela época, pelo menos institucional- mente, o Brasil também se colocava contra os judeus. Dessa maneira, o gesto bom de um padre pôde atenuar o gesto hostil de outro.

A conversa que tive com um amigo judeu me revelou um drama semel- hante de dolorosa rejeição. Senti, então, o impulso de escrever sobre o que presenciei e intuí e o fiz em forma de verso:

(Auto) exclusão

Para um amigo judeu A língua materna

os costumes daquela terra os antepassados

esta e não outra arquitetura esta e não outra flor

Resenhas

O que amei desde o sempre o meu sangue agora o nega nega-o a minha origem

Bem queria que fosse diferente, mas mesmo sendo de casa não o sou

Opto, então, por não mais lhe pertencer Para aliviar essa dor insana

conto piadas rabínicas

Para quem já leu as minhas memórias sabe que na nossa família está muito presente o diálogo inter-religioso. Meu pai era católico, minha mãe luterana, minha prima judia por parte do pai e o meu padrasto russo-orto- doxo. Não compartilhamos evidentemente de preconceitos de qualquer na- tureza. Os meus amigos poloneses também não são antissemitas e, pelo que li, o grau de antissemitismo na Polônia foi bastante reduzido. Dizem as más línguas que isso ocorre porque já não há mais judeus em terras polonesas.

Em seu livro, Liliana cita vários exemplos de judeus salvos heroicamente por poloneses. Liliana, sendo quem é, ou seja, uma pessoa verdadeiramente santa e justa, não poderia ter feito de outra maneira. É por isso que eu a admiro tanto.

12 de dezembro de 2011.

RESUMO – STRESZCZENIE

Autor recenzji Tadeusz Łychowski, omawiając książkę – pamiętnik Lil- ian Syrkis, polskiej Żydówki, którą określa jako świętą, ukazuje jej wielki humanizm, tolerancję i wielką miłość do drugiego człowieka. Kobieta ta nie umiała żywić nienawiści do tych którzy ją prześladowali. Wyemigrowała po „pogromie” kieleckim do Brazylii jako młoda dziewczyna z całą rodziną. Łychowski przy okazji recenzji, porusza temat antysemityzmu, tak w Polsce,