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Artigos Artigos um trenzinho elétrico, o brinquedo mais querido da infância deles, junto com

o catálogo da loja Franz Carl Weber, onde o brinquedo tinha sido comprado. Depois disso, o pai foi preso e ao voltar da prisão cometeu suicídio. O tal catálogo tornou-se para o protagonista o livro dos sonhos de sua infância. Os sonhos de viagens, amores e aventuras que agora iria realizar com o presente deixado pelo falecido pai. Os sonhos se iniciam com a ideia de não voltar para casa e fugir com Teresa, uma misteriosa italiana encontrada pelo caminho, e que fugia de seus perseguidores.

Quanto à questão dos livros e de seu papel nesse volume de contos, citamos o autor, que, ao ser perguntado sobre um depoimento seu, no qual afirmou: “como um refugiado do mundo descrito por Bruno Schulz, anseio pelo Livro”, respondeu:

Exatamente o Livro é o segundo elemento [ao lado da locação geográfica] que aparece em cada texto deste volume. Pode bem ser a Bíblia ou o livro do I-Ching, assim também como um catálogo com fotos de brinquedos. Aqui realmente concordo com a opinião dada por Bruno Schulz. Antigamente havia um livro real, universal, que codificava a nossa cultura, e agora não existe mais. Há apenas falsificados, o original pereceu. Sendo assim, cada um precisa criar ou recuperar os valores presentes no livro perdido. A cultura tradicional tinha a forma de um livro, como algo que é central e que dá sentido a todos os níveis da existência. O livro era o fundamento que durava, independentemente da história. Hoje esse centro está, ou minado de uma forma nítida, ou diluiu totalmente. O astrônomo moderno, ao ser perguntado pelo centro do mundo, responderá que existe apenas o ponto do qual observamos o universo. O conceito de centro foi substituído pelo de sistema de referências. (…) O conceito de centro, que até bem recentemente era transmitido de uma geração a outra, agora precisa ser conquistado por cada um, por si mesmo.12

O livro poderia ser visto como uma espécie de Onze contos peregrinos, só que ao invés de estar ligado aos migrantes da América Latina, está relacionado com os migrantes das redondezas do mar Báltico. No único conto que nos resta comentar, voltamos ao tema central desta discussão – imigrações vistas

pelos poloneses contemporâneos.

Ucieczka do Egiptu (A fuga para o Egito)

O conto começa com a imagem de uma refugiada da Tchetchênia com o bebê nos braços, que está atravessando a fronteira da Polônia, depois de passar um tempo num campo de refugiados em Inguchétia. A imagem é transmitida pelas televisões e jornais e é vista pelo narrador, inspirando-o a voltar para a pintura, depois de quinze anos de inatividade. Após pintar seu retrato o narrador isola-se na casa de veraneio para entregar-se à criatividade, grato à mulher do quadro:

Fazia tempo que não se sentia tão feliz. Às vezes, nos momentos menos esperados, sentia em si o olhar da mulher com o manto. Mostrava então a luz captada nos quadros. Era grato a ela. Se não fosse por ela, provavelmente não voltaria a ser ele mesmo.13

Ao voltar para sua casa em Gdańsk descobre que, num barraco situado abaixo de suas janelas, foi alojada uma família de imigrantes. Ao passar pelo local ajuda o homem, corrigindo erros ortográficos no letreiro Carpintaria e móveis, que este estava pendurando na edícula. Neste momento é apresentado à sua esposa – a mulher cuja imagem na televisão lhe inspirou a volta para a pintura.

Inicialmente a comunidade ajuda os imigrantes e com tempo eles até compram um carro velho. O narrador e a vizinha criam com eles laços de amizade e os convidam a lhes fazer uma visita. Durante a visita Almira e Asłan contam a sua fuga da Tchetchênia por entre franco-atiradores de um lado e execuções do outro. Quando o narrador lhes mostra o seu quadro, Asłan explode em indignação e os dois, junto com o filho, saem do apartamento de um modo pouco polido. Com o tempo aparentemente a situação volta ao normal, mas a reaproximação só acontece quando alguém no meio do frio outono polonês quebra todas as vidraças das janelas da habitação dos refugiados. O narrador vem trazer-lhes o dinheiro que os vizinhos juntaram

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para lhes ajudar. Almira então lhe explica que a saída fora provocada por crise de ciúmes de Asłan que foi apaziguada logo que lhe foi mostrada a foto do jornal, na qual a mulher estava na mesma pose do quadro. O marido conseguiu chegar à Polônia bem mais tarde que ela e estava imaginando que sua esposa e o narrador tivessem se conhecido antes. O narrador oferece então o quadro como presente para o casal.

Logo depois, durante o inverno, a casa onde moravam os dois é incendiada no meio da noite. O narrador quer lhes oferecer abrigo, mas suas mensagens não são transmitidas pela polícia aos refugiados. Logo depois, os dois partem com o que conseguiram salvar do incêndio: o carro velho e uma caixa de ferramentas. Com a chegada da primavera, o narrador procura no meio dos escombros e encontra pedaços do tecido do quadro no qual pintou a mulher. É enxotado pelos trabalhadores que limpavam o terreno:

Aqui, meu senhor, não sobrou ouro, que nem depois dos judeus - disse um dos trabalhadores. Outros dois o acompanharam com uma risada. Não os escutava. A imagem de um homem e uma mulher com criança, que solitariamente atravessam um deserto nevado, com seu velho carro produzido na Alemanha Oriental, iria persegui-lo ainda por vários meses.14

Já o próprio título do conto nos remete à situação bíblica. O autor compara a situação dos refugiados à de Maria e José que fogem do massacre dos inocentes. A força da comparação em si mesma, num país tão católico quanto a Polônia, abre espaço para o público perceber o drama dos refugiados. A sensibilização vem junto com a imagem tanto de solidariedade humana com sua situação, quanto com a de agressão gratuita e desnecessária, que obriga os refugiados a seguirem o seu caminho de exílio. Um aspecto bastante interessante é também o fato de a refugiada inspirar o narrador, que há quinze anos não pintava, a voltar a criar. Podemos ver esta metáfora como afirmação de que o outro, o estranho e semelhante é o estímulo que faz brotar a inspiração, que dá o colorido à situação desestimulante do cotidiano, permitindo que a sensibilidade e a humanidade adormecidas despertem. O narrador volta a ser ele mesmo, volta a exercer a criatividade, volta a se sentir feliz, pois foi capaz

de se abrir a outro ser humano, enxergá-lo em sua integridade e deixar que essa imagem o fecundasse. Em outras palavras, o autor diz que a realização de si mesmo também pode se dar em abertura para com o outro, saindo de sua casca e entrando em contato com sua humanidade.

O ato de agressão contra a família é mostrado como uma ação covarde de uma minoria, já que a grande maioria da comunidade abertamente ajuda os refugiados. A comparação ao Holocausto no final do conto também mostra que existem entre nós aqueles que não conseguem ver o próximo e a sua tragédia, vendo apenas como a única possível inspiração para a ação do ser humano a vontade de enriquecer materialmente, mesmo à custa do sofrimento alheio.

O problema dos imigrantes aos poucos começa a fazer parte do cenário artístico polonês. A capacidade de vislumbrar os problemas dos menos favorecidos, estranhos que precisam de ajuda, é um dos desafios para a arte neste momento. Como fazê-lo para ao mesmo tempo conseguir ser universal e também sensibilizar o receptor das obras de arte a um problema particular? Como fazer para chegar essa mensagem a um maior número de leitores, espectadores e ouvintes? Creio que os exemplos acima discutidos mostram que há uma preocupação com essas perguntas e com todos os aspectos da discussão do problema. De algum modo, o problema aparentemente tão recente já faz parte da experiência da arte polonesa há muito tempo. Podemos ver como prova dessa preocupação com o outro, em várias circunstâncias e tempos, o poema de Antoni Słonimski, com que fecharemos esta reflexão. O poema é datado de 1943 e não perdeu nada de sua atualidade.

Ten jest z ojczyzny mojej

Antoni Słonimski Ten, co o własnym kraju zapomina.

Na wieść, jak krwią opływa naród czeski, Bratem się czuje Jugosłowianina, Norwegiem, kiedy cierpi lud norweski, Z matką żydowską nad pobite syny Schyla się, ręce załamując żalem, Gdy Moskal pada - czuje się Moskalem,

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Z Ukraińcami płacze Ukrainy,

Ten, który wszystkim serce swe otwiera, Francuzem jest, gdy Francja cierpi, Grekiem - Gdy naród grecki z głodu obumiera,

ten jest z ojczyzny mojej. Jest człowiekiem (1943)

Este da pátria minha é

- Antoni Słonimski15

Este que do seu país esquece,

Ao ver os tchecos em sangue banhados, É norueguês, se a Noruega padece, Irmão se sente entre iugoslavos, Com a mãe judia junto a seus filhos Mortos, se curva e com pena chora, Se cai um russo, se sente um deles Com ucranianos, a Ucrânia implora Este com a alma a todos aberta Se a raça grega se extingue de fome É grego, francês quando sofre a França, Este da pátria minha é, pois é um homem.

REFERÊNCIAS

ELIAS, NORBERT; SCOTSON, JOHN. L.; OS ESTABELECIDOS E OS OUTSIDERS: SOCIOLOGIA DAS RELAçőES DE PODER A PARTIR DE UMA COMUNIDADE. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR EDITOR, 2000.

HUELLE, Paweł. Kaszëbë. National Geographic Polska. Warszawa: v. 61 (10/2004), outubro 2004.

HUELLE, Paweł. Opowieści chłodnego morza. Kraków: Znak, 2008.

KLIMKIEWICZ, Katarzyna. Reżyserka o filmie. Disponível em: http://www.hanoi-warsaw. com/?prasa/26/&lang=pl, acesso em: 29.05.2011.

SŁONIMSKI, Antoni. Ten jest z ojczyzny mojej em: MATUSZEWSKI Ryszard. Wiersze polskich poetów współczesnych. Warszawa: WSiP, 1977, p.39.

SZABŁOWSKI, Witold. Zabójca z miasta moreli. Reportaże z Turcji. Wołowiec: Czarne 2011.

WÓJCIŃSKA, Agnieszka. Reporterzy bez fikcji. Rozmowy z polskimi reporterami. Wołowiec: Czarne, 2011.

ZAWADA, Łukasz, HUELLE, Paweł, Północ to magiczna prowincja. Tygodnik Powszechny, 16.09.2008. Disponível em: <http://tygodnik.onet.pl/1,14700,druk.html>, acesso em 29.05.2011.

RESUMO – STRESZCZENIE

Autorzy artykułu przedstawiają tolerancyjną stronę historii Polski. Poprzez polskich pisarzy i artystów pokazują, jak stosunek do drugiego człowieka utrwalił się pozytywnie w polskiej tradycji. Polska do niedawna była krajem emigrantów. Współczesne przemiany, jak wejście do Wspólnoty Europejskiej, sprawiły, że Polska staje się też krajem imigrantów. Współczesna literatura i sztuka jest przykładem zainteresowania się tym nowym problemem.

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A GEOGRAFIA HISTÓRICA DA COLONIZAÇÃO