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4 O MERCADO DE ARROZ NAS PRINCIPAIS REGIÕES PRODUTORAS E

4.3 O DESEMPENHO DOS PRINCIPAIS PAÍSES E REGIÕES NO MERCADO DE

4.3.1 Afinidades e Diversidades entre os Países e Regiões em Estudo

Inicialmente são analisados o comportamento da produção e da produtividade do arroz entre 1991-2000 e as diferenças regionais determinadas pelas condições edafo-climáticas (fert ilidade e sazonalidade). Ao final é discutido o processo de diferenciação de produtos e de segmentação de mercados que podem ser divididos em grupos, subgrupos e tipos de arroz.

Uma das diferenças , observadas entre os produtores de arroz nas regiões de estudo, é a diversidade em termos de tecnologia na agricultura. A tecnologia influencia não somen-te a produção, mas também o nível de preços e a participação de mercado de cada região no cenário mundial. Em termos gerais, os países e regiões podem ser agregados em três grandes grupos. O primeiro deles inclui os países mais desenvolvidos (uso intensivo de capital na agricultura) , representados pelo NAFTA, UE e Europa Oriental, que utilizam maiores quantidades de fertilizantes e possuem um elevado número de tratores por hectare (FAO, 2002).

O segundo grupo, os países asiáticos, que utiliza um uso intensivo de mão-de-obra e emprega grandes quantidades de fertilizantes associadas a um elevado número de traba-lhadores por hectare; possui um menor número de tratores por área. Por último, os países da América Latina, incluídos os países do MERCOSUL, apresentam uma tecnologia in-termediária em termos de uso de capital e mão-de-obra. Neste cenário os países do MER-COSUL, por exemplo, apresentam níveis intermediários de consumo de fertilizantes e de tratores por área (FAO, 2002).

Este uso diferenciado de insumos condiciona diferentes comportamentos do cres-cimento da produção e da produtividade nas regiões de estudo. Os acréscimos nas quanti-dades de fertilizantes utilizadas e no número de tratores por área podem induzir o cresci-mento nos rendicresci-mentos por hectare e na produção total de arroz. Essas mudanças,

normal-mente, ocorrem devido a novas técnicas de produção e/ou novas técnicas de administração dos recursos disponíveis na propriedade.

O gráfico 4 apresenta a taxa de crescimento da produção e da produtividade em re-giões selecionadas (informações completas estão na tabela B. 1 em anexo). A taxa de cres-cimento é obtida a partir da média dos três primeiros anos (1991-93) e dos últimos três anos (1998-2000). As regiões que apresentam as maiores taxas de crescimento na produti-vidade física estão justamente nos países da América Latina (MERCOSUL e CAN) onde as produtividades são intermediárias em relação às dos demais países de estudo. Nos países da América Latina, a taxa de crescimento da produtividade alcançou 25,3% no MERC O-SUL, 14,9% na CAN e 11% nos países da América Central durante aquela década, alca n-çando, no ano de 2000, uma produtividade média de 4,5, 4,2 e 3,6 toneladas por hectare, respectivamente.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

MERCOSUL

CAN NAFTA

UE China

ASEAN SAPTA

tx. crescimento

produção produtividade

Gráfico 4- Taxa de crescimento da produção e da produtividade em regiões selecionadas – 1991-2000

Fonte: FAO, 2002.

No geral, estes ganhos em produtividade são impulsionados pelo processo de abe r-tura comercial implementado pelos países desta região, pelo uso de novas tecnologias e pela menor intervenção dos governos locais, como será tratado na seção que aborda as po-líticas domésticas. A abe rtura comercial possibilita uma maior competição entre os produ-tores das diversas regiões , incentivando a adoção de novas tecnologias. Por outro lado, a

menor intervenção dos governos locais minimiza as distorções nos mercados agrícolas permitindo uma melhor alocação dos recursos disponíveis, quando não existem falhas de mercado33.

Já nos países como a China e os membros do NAFTA, da ASEAN e do SAPTA , o desempenho em termos de produtividade é inferior ao dos países latino-americanos com uma taxa de crescimento de 9,8%, 1,9%, 7,7% e 9%, respectivamente. Ao contrário das regiões que mais cresceram em termos de produtividade, na China, na ASEAN, no SAPTA e no NAFTA existe uma maior participação dos governos locais na fixação dos preços ao produtor (renda) e no incentivo à exportação de arroz (subsídios e créditos), conforme é discutido na próxima seção. Atualmente, com exceção da China e dos EUA que possuem uma produtividade média de 6,5 t/ha, países como a Tailândia e o Vietnã (ASEAN), e a Índia e o Paquistão (SAPTA) , os principais exportadores, apresentam rendimentos por hec-tare em níveis semelhantes aos dos países do MERCOSUL e da CAN.

As posições modificam quando se analisa o crescimento da produção durante o mesmo período, em que se destacam a CAN (37,3%), a UE (21,4%), a ASEAN (22,1%), o SAPTA (17,7%) e o NAFTA (17,4%). O aumento da produção deve-se a um aumento da área plantada e ao aumento da produtividade , embora o aumento da área plantada venha sendo de maior relevância do que a produtividade, exceção feita aos países da CAN. Os resultados positivos em termos de crescimento da produção nestas regiões dependem de vários fatores, entre eles destacam-se: o aprofundamento do comércio entre os países atra-vés de acordos regionais e multilaterais , as políticas domésticas e de comércio exterior adotadas por cada país e a adoção de novas tecnologias.

Em termos gerais , pode-se dizer que as maiores taxas de crescimento da produção e da produtividade ocorrem nos países do CAN e MERCOSUL, enquanto os países que tra-dicionalmente apresentam maior produção (nos principais pa íses exportadores) possuem taxas de crescimento dos rendimentos físicos por área mais modestas. Conforme Alvim (1998) ao analisar o mercado de arroz no Brasil, a abertura comercial e a menor interve n-ção governamental incentivam a adon-ção de novas tecnologias, o aumento da produtividade por hectare e a redução dos custos médios de arroz em função da maior concorrência entre os produt ores.

33 As falhas de mercado são fenômenos que impedem que a economia alcance a condição de ótimo de Par eto, ou seja, o estado máximo de bem-estar social obtido a partir do livre comércio (sem interferência do go-verno) em que nenhum agente pode melhorar de posição sem piorar o estado dos demais (ELLERY Jr., 2002).

Outro aspecto relacionado com a produção e que pode favorecer (dificultar) o co-mércio entre as regiões é a distribuição das épocas de colheita de arroz nos países e regiões de estudo. Quando os países apresentam épocas distintas de colheita de arroz, pose de-senvolver uma relação comercial em função da complementaridade entre as regiões. Assim sendo, determinados países podem exporta r em período de safra a menores preços para outros países que estão no período de entressafra. A variável climática possui uma partic ipação importante no processo produtivo e no mercado de arroz. Entretanto, há uma maior competição entre os produtores quando as épocas de colheita coincidem, o que contribui para que exista uma maior diferença entre os preços da safra e entressafra, desde que mantidos os demais aspectos constantes.

Nos países do sudeste asiático, como a China, a Tailândia e o Vietnã, ocorrem mai-ores concentrações da colheita no segundo semestre do ano. No caso da China , a ma ior parte da colheita é realizada entre os meses de agosto e setembro. Já, no caso do Vietnã, a colheita ocorre em dois períodos: o primeiro, nos meses de julho a outubro (período de verão e outono), representa apenas 24% da produção total do país, e o segundo, nos meses de março a abril (inverno-primavera), representa aproximadamente 76% da produção anu-al. O período de colheita dos demais países da ASEAN segue aproximadamente o mesmo período da colheita chinesa (USDA, 2001b).

Por outro lado, nos países do SAPTA, a Índia, Paquistão e Bangladesh, as épocas de colheita são mais distribuídas ao longo do ano. Por exemplo, em Bangladesh existem três períodos de colheita conforme a variedade de arroz (julho e agosto, novembro e de-zembro e abril e maio). Na Índia existem dois períodos predominantes: de fevereiro a maio para a Rabi e de final de setembro a dezembro para a Kharif. Apenas no Paquistão existe uma maior concentração da produção no segundo semestre, entre o final de setembro a meados de dezembro (USDA, 2001b).

Nas Américas e na Europa, os períodos de produção são mais bem-definidos con-forme o hemisfério em que a produção de arroz é desenvolvida. Nos países da América do Sul, a produção concentra-se mais nos meses de fevereiro a maio (colheita brasileira). Nos países da América do Norte, representados pelos EUA, a colheita conce ntra-se do final de agosto ao início de novembro. Na UE a produção de arroz mais importante é na Itália e na Espanha , onde a colheita concentra-se nos meses de setembro a início de novembro (US-DA, 2001b).

Em resumo, observa-se que a produção de arroz concentra-se predominantemente no segundo semestre nos países do NAFTA, da UE, da ASEAN e na China. Por outro lado, a produção de arroz concentra-se mais no primeiro semestre nos países da América do Sul, África e Oceania. Com as épocas de colheita melhores distribuídas ao longo do ano estão os países do SAPTA. Todavia , como os países do hemisfério norte representam a região de maior pr odução de arroz do mundo, é possível supor que exista uma maior oferta de arroz no segundo semestre do ano. Apesar das diferenças observadas em termos de sazonalidade entre regiões e países, a análise empírica desenvolvida nos capítulos 6 e 7 considera os preços médios anuais e, portanto, não capta os ganhos e as perdas associados às difere nças em termos de sazonalidade.

Além da sazonalidade, existem as especificidades regionais, em termos de diferen-tes grupos e tipos de arroz, que dificultam o comércio dos países asiáticos em direção aos demais continentes e vice-versa. Neste sentido, o mercado de arroz é estratificado por gru-po, tigru-po, grau de beneficiamento e qualidade, com uma pequena substituição na produção e no consumo. Primeiramente pode -se agrupá -lo em três subgrupos: o arroz indica que cor-responde a 80% do arroz comercializado no mundo, produzido preferencialmente em regi-ões tropicais e subtropicais (long-grain); o segundo grupo é representado pelo arroz japo-nica que corresponde a aproximadamente 12% do arroz comercializado no mundo, sendo produzido preferencialmente em regiões de clima temperado (medium e short-grain); e o terceiro grupo classificado como glutinous que cresce exclusivamente no sude ste asiático e tem uma participação de aproximadamente 8% do total de arroz comercializado no merca-do internacional (sweet rice) ( Childs, 2001).

Em segundo lugar, existe a diferenciação quanto ao tipo de arroz dada a caracterís-tica aromácaracterís-tica do arroz, que pode ser de arroz indica e japonica. Este tipo de arroz repre-senta 9 a 10% do arroz comercializado no mercado internacional, e os principais produto-res são a Índia (Basmati), o Paquistão (Basmati) e a Tailândia (Jasmine). Quando o arroz apresenta esta característica aromática na comercialização é dado um pr êmio sobre o valor de venda. Em termos gerais , observa-se que , apesar da existência de um mercado de arroz segmentado em diversas classes e tipos, a maior parte do arroz comercializado no mundo é o arroz indica nas suas classes (arroz em casca, integral, beneficiado e quebrado); os dife-rentes tipos de arroz, como o japonica, glutinous e suas variações aromáticas, são come

r-cializados, na maioria das vezes , próximos aos locais onde são produzidos34 (Childs, 2001).

Em resumo, as especificidades regionais, devido a aspectos de ordem social e cult u-ral, estão associadas às diferentes preferências dos consumidores. Isto ocorre, normalmen-te, em países de grandes dimensões com população predominantemente rura l, como a Índia (71,4%), a China (66,5%) e o Paquistão (63,3%) (FAO, 2002, Banco Mundial, 2001a). Por serem produzidas pequenas quantidades de arroz aromático e glutinoso, estes tipos obtêm maiores preços do que o arroz convencional. Contudo, deve-se considerar na análise geral do mercado de arroz que este tipo de produto voltado a nichos de mercado possui reduzido efeito sobre os preços médios internacionais de arroz.

Por último na figura 7 a seguir, são mostrados os diversos graus de beneficiamento.

Neste sentido, a árvore de produtos originários do arroz em casca resume o pr ocesso de industrialização, enfatizando os principais subprodutos e as pe rdas.

Figura 7 - Árvore de subprodutos do arroz em casca

Fonte: FAO, 2001a.

É possível observar que, a partir do arroz em casca, se origina o arroz beneficiado que corresponde a 67% do peso do arroz em casca, sendo o restante transformado em

34 O arroz é comercializado principalmente em três formas: em casca, integral, ben eficiado e quebrado. O arroz em casca é aquele arroz submetido à secagem e class ificação, contudo não foi beneficiado, mantendo a casca e o germe. O arroz integral corresponde ao arroz que, além dos processos de secagem e classifica-ção, foi removida a casca mantendo o germe. E, ao final, o arroz beneficiado que está sujeito a secagem, classificação, descascamento e também a remoção do farelo. Quanto maior o grau de remoção do germe, maior o grau de beneficiamento e maior o preço de venda (tabela A.2 em anexo).

Arroz em casca

arroz beneficiado farelo casca Arroz integral casca

arroz quebrado arroz beneficiado

arroz beneficiado farelo casca Arroz integral casca

arroz quebrado arroz beneficiado

lo e casca (resíduo). Por outro lado, quando o arroz em casca é transformado em integral o peso equivalente do produto (arroz integral) equivale a 77% do peso do arroz em casca, sendo o restante equivalente ao peso da casca. Além destes produtos apresentados na figura 7, que representam a maior parte do destino da produção de arroz, existem outros subpro-dutos , como cereais para café da manhã, farinha de arroz (macarrão), bebida fermentada, produção de óleo e de farelo, margarina, etc., que compõem a árvore de produtos originá-rios de arroz, mas que representam uma parcela pequena do total comercializado de sub-produtos do arroz. Quanto à qualidade do arroz comercializado, esta depende bas icamente da quebra apresentada no beneficiamento, da capacidade de cocção e das impurezas exis-tentes no produto (FAO, 2001a).

Apesar da dive rsidade em termos de subprodutos, a maior parte do arroz comercia-lizado no mundo ocorre na forma de arroz beneficiado e integral, correspondendo a 81,1%

e 8,7%, respectivamente. Basicamente este perfil das exportações de arroz advém das polí-ticas doméstica s e de comércio exterior utilizadas pelos países exportadores em desenvol-vimento. Conforme discussão na próxima seção, os principais países exportadores, como a China, Tailândia, Vietnã e Índia, concedem incentivos para que o arroz seja beneficiado, agrega ndo valor às exportações. Aliado a este aspecto, os mesmos países concedem maio-res vantagens (créditos e prazos) à exportação de arroz beneficiado.

Nesta seção, identific am-se o comportamento da produção e da produtividade, bem como as diferenças quanto a grupos e tipos de arroz existentes nos principais países produ-tores e consumidores de arroz. Estas variáveis , apesar de não serem incluídas no modelo empírico (estático) nos capítulos 6 e 7, contribuem para uma melhor compreensão dos as-pectos dinâmicos pr esentes na comercialização de arroz no mercado internacional. Estes aspectos podem, por exemplo, contribuir para a elaboração de políticas de compensação de determinados países e grupos prejudicados pela criação das áreas de livre comércio, como, por exemplo, maiores incentivos ao desenvolvimento tecnológico ou o estímulo à produção de produtos diferenciados direcionados a nichos de mercado.

Na análise empírica realizada nos capítulos 6 e 7, o arroz é estudado na forma de equivalente beneficiado que inclui a produção, o consumo, o fluxo comercial e os preços médios , considerando o arroz um produto homogêneo. Esta simplificação justifica -se na medida em que , apesar das diferenças existentes entre os grupos, tipos e graus de benefic i-amento de arroz, 80% do arroz comercializado no mundo são do tipo indica e 81,1% são comercializados na forma de beneficiado. Estas diferenças e semelhanças entre as regiões

estão intimamente relacionadas com as políticas domésticas e de comércio exterior utiliza-das por cada região, as quais, por sua vez, determinam a intensidade utiliza-das variações em te r-mos de produção, consumo e bem-estar, quando implementados os novos acordos de livre comércio, simulados no capítulo 7.