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3 POLÍTICAS INTERNACIONAIS E AS DISTORÇÕES NO MERCADO

3.2 FORMAÇÃO E FORTALECIMENTO DOS BLOCOS REGIONAIS

3.2.2 O Acordo de Livre Comércio da Amér ica do Norte (NAFTA)

O NAFTA apresenta-se como o segundo maior bloco do mundo em termos de vo-lume de comércio ; em primeiro lugar está a UE com 39,8% das exportações totais (1999) no mundo (OMC, 2002). O NAFTA é formado pelos Estados Unidos da América (EUA), Canadá e México que assinaram o acordo de livre comércio em 1994. Na sua implementa-ção foram eliminadas imediatamente as tarifas de uma parcela dos produtos agrícolas, es-tabelecendo um prazo de redução gradativa tarifária para os demais produtos considerados sensíveis. Neste sentido, os prazos para eliminação das tarifas comerciais entre os EUA e o Canadá esgotaram-se em 1998, enquanto o prazo da eliminação das tarif as para o México só se esgotará em quinze anos, a partir do início do tratado em 1994. Ao contrário da UE, o NAFTA não estabeleceu uma harmonização das políticas públicas e comerciais, como também não definiu tarifas externas a terceiros países, caracterizando este bloco regional como a forma mais simples de integração regio nal, uma Área de Livre Comé rcio (SILVA, 1995).

Conforme Embaixada do Brasil (2000), entre todos os países do NAFTA, os EUA destacam-se como o mais protecionista. Em relação às principais práticas protecionistas que distorcem os preços domésticos e internacionais, destacam-se: o sistema de pagamen-tos direpagamen-tos ao produtor (sustentação de renda), o programa de empréstimos e garantias à comercialização (exportação) e as barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas aos produtos importados.

Os produtores americanos de algodão, arroz, feed grains e trigo possuem um sist e-ma de pagamentos diretos garantidos pelo governo (direct payment). Os benefícios são limit ados anualmente a 50 mil dólares para os agricultores elegíveis e a 40 mil dólares para os demais. Além disto, o governo mantém linhas de empréstimos para comercialização, permitindo a opção de venda dos produtos ao governo.

Já no programa de garantia de exportação existem dois pontos impor tantes a salie n-tar: o programa de acesso a mercado (marketing dos produtos americ anos) e uma linha de créditos subsidiados com o objetivo de tornar o produto americano mais competitivo no mercado internacional; o montante de recursos para o ano de 2001 era de aproximadamen-te 478 milhões de dólares.

Em relação às barreiras externas, destacam-se as tarifárias subdivididas em tarifas ad valorem, as tarifas específicas, quotas-tarifárias e o regime de preferência tarifário. Os norte -americanos apresentam uma estrutura tarifária subdividida em sua maior parte na combinação de tarifas ad valorem e específicas. A tarifa específica permite uma maior pr o-teção do que a tarifa ad valorem, de maneira que a proteção aumenta à medida que os pre-ços dos exportadores diminuem. De uma forma geral, a tarifa ad valorem média situa-se ao redor de 5%, com um desvio padrão de 11,8% e uma tarifa máxima de 350% (o pico tarifá-rio21 equivale a 52,2%). Os EUA aplicam as tarifas específicas a aproximadamente 14%

dos itens tarifários, pr incipalmente aos produtos de origem animal e vegetal, produtos das indústrias alimentícias, bebidas, fumo, como também aos produtos das seções de produtos químicos, têxteis e de instrumentos e aparelhos de ótica (FONSECA et al. , 1999).

Já as quotas-tarifá rias englobam o leque de produtos que antes da Rodada Uruguai eram praticamente impedidos de serem importados devido às barreiras quantitativas. Com a criação das quotas -tarifárias, as barreiras aos produtos continuam praticamente as mes-mas, cont udo, o ganho se deu na transparência de como são definidas as quotas. Nos EUA são 171 produtos sujeitos a esta regra , incluindo, na sua maioria, produtos de origem ani-mal e vegetal (FONSECA et al., 1999).

21 O pico tarifário foi definido como quatro desvios padrão acima da média.

As barreiras que mais protegem os produtores americanos contra os produtos im-portados são as não-tarifárias, como as medidas de antidumping e compensatórias, as me-didas de salvaguarda e os regulamentos sanitários e fitossanitários. Especif icamente no caso do comércio de produtos agrícolas, os regulamentos sanitários e fitossanitários ameri-canos são os responsáveis pelas maiores barreiras aos produtos do Brasil e dos demais paí-ses em desenvolvimento. Além de o processo de autorização das importações ser demora-do e custoso, é necessário também uma avaliação demora-dos produtos no país exportademora-dor, como ta mbém nos portos americanos (EMBAIXADA DO BRASIL, 2000) .

Conseqüentemente, os EUA são um dos principais responsáveis por distorções nos preços internacionais, principalmente através das políticas internacionais voltadas à prote-ção do mercado interno (barreiras externas) e pela proteprote-ção concedida aos agricultores em termos de transferências de recursos (subsídios às exportações e à produção). Reforçando esta tendência protecionista, a nova lei agrícola americana (Farm Bill 2002) estabelece três modalidades de preços garantidos que se sobrepõem: os pagamentos diretos, os preços mínimos e a volta dos preços-meta, desvinculados de qualquer controle de oferta. Segundo Jank (2002) , a previsão de gastos com estas medidas é da ordem de 104,5 bilhões de dóla-res em seis anos (2002-2007), culturas como a do arroz, por exemplo, tem o montante de subsídios aumentado em 61,5%.

Contraditoriamente, apesar de os EUA liderarem em termos mundiais as frentes de liberaliz ação de comércio junto à OMC, nota-se, principalmente em relação à agricultura, um forte caráter protecionista capaz de ocasionar distorções no mercado mundial, afetando em maior parte os países da América Latina que , de uma maneira geral, são exportadores de produtos agrícolas. Além disso, outro ponto a ser considerado é que o poder de barga-nha dos EUA no comércio internacional aumentou com a criação do NAFTA, com a part i-cipação dos segundo e terceiro maiores países das Américas (Canadá e México).

De uma maneira geral, o Canadá e o México seguem uma estrutura tarifária seme-lhante e aplicam mecanismos não-tarifários similares aos dos EUA, sobretudo em função da Rodada Uruguai que buscou harmonizar esta questão, mas também pelo processo de aprofundamento das relações comerciais aceleradas após a formação do NAFTA. À seme-lha nça dos EUA, os produtos sujeitos às maiores tarifas são os produtos de origem vegetal e animal, produtos industriais alimentares, bebidas, fumo, têxteis, calçados e chapéus (pro-dutos mais afetados pelas tarifas específicas). Da mesma forma, as quotas-tarifárias são

utilizadas, em geral, para limitar as importações de produtos agrícolas, sendo que as maio-res quotas são concedidas aos americanos (FONSECA et al., 1999).

Seguindo o mesmo caminho, os países do MERCOSUL também obtiveram result a-dos semelhantes aos obtia-dos pelo NAFTA, como o aumento a-dos fluxos comerciais entre os países, uma certa padronização das políticas de comércio exterior e um maior poder de barganha junto a terceiros países.